VAMOS ACABAR COM AS IMBECILIDADES
Segunda-feira, 18 de Março de 2024

Persistência

Foi preciso persistência e uma boa dose de paciência, especialmente depois de um arranque em falso numa primeira parte pouco conseguida, mas acabámos por conseguir os importantes três pontos na visita ao Casa Pia.

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Uma alteração na equipa, saiu o David Neres e entrou o João Mário. Natural, porque o João Mário não poderia ficar de fora dois jogos seguidos. A primeira parte do Benfica não foi boa. Tentámos ter a iniciativa do jogo, mas encontrámos pela frente um Casa Pia muito fechado atrás e que quando conseguia recuperar a bola contra-atacava em transições rápidas - logo nos primeiros minutos foi apenas por aselhice de um jogador do Casa Pia que não ficámos em desvantagem numa jogada destas, pois ele surgiu completamente solto em posição frontal à baliza e conseguiu rematar de forma disparatada para fora. Quanto a nós, revelávamos as dificuldades muitas vezes vistas esta época para ultrapassar equipas a defender com um bloco muito baixo: muita circulação de bola sem progressão, constantemente à procura de rasgos individuais do Di María - o que resultou em mais um jogo com muitas perdas de bola por parte deste, já acaba por estar constantemente a recorrer a arrancadas individuais ou tentativas de passes de risco. Na frente, o Marcos Leonardo nunca conseguiu antecipar-se aos defesas do Casa Pia sempre que a bola era cruzada para a área, e apenas uma vez conseguiu escapar à marcação para fazer um remate cruzado que saiu muito frouxo. Tivemos um golo anulado ao João Neves por posição irregular deste, num lance eu que eu tenho algumas dúvidas sobre o critério de considerar a bola do Otamendi um 'remate'. Para mim foi um cruzamento para a área (altura em que sim, o João Neves está adiantado) onde o António Silva disputa a bola com o guarda-redes, com este a afastar a bola de forma deficiente e a deixá-la para o João Neves finalizar. Enfim, foi decidido contra o Benfica, está sempre bem decidido. Com o Casa Pia a jogar num bloco tão baixo, havia também pouco espaço para explorar pelo Rafa, que assim teve pouca intervenção no jogo  - e quando isto acontece, normalmente é mau sinal para nós - e quando apareceu foi para rematar de fora da área, o que é muito pouco usual nele.

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Aparecemos completamente diferentes, para melhor, na segunda parte. Muito mais agressivos e rápidos, conseguimos dominar completamente o Casa Pia e o jogo passou a ter apenas um sentido, sempre disputado no meio campo do Casa Pia e sem permitir sequer qualquer tipo de transição mais perigosa para a nossa baliza - o Trubin foi um mero espectador. O Rafa teve a primeira grande ocasião, mas depois de lançado pelo Di María e de fugir à defesa, adiantou demasiado a bola e acabou por finalizar já quase sobre a linha final, com o guarda-redes em cima dele, fazendo a bola cruzar toda a baliza a centímetros da linha de golo. Com a pressão a intensificar-se, ao fim de um quarto de hora fizemos duas substituições que vieram a revelar-se decisivas. Entraram o Neres e o Cabral, saíram o Marcos Leonardo e o Florentino. O Neres deu maior largura ao nosso ataque, e nem sequer vou dizer que o João Marío melhorou quando passou para o meio, ele literalmente apareceu, porque até aí acho que nem tinha reparado que estava em campo. Quando ao Cabral, foi uma presença muito mais ameaçadora no ataque, mostrando mobilidade e força física para disputar os lances com os defesas - ao contrário do que o Marcos Leonardo fazia, que era esperar atrás dos defesas por uma falha destes. Logo a seguir, o António Silva falhou uma ocasião flagrante para marcar: bola cruzada pelo Aursnes da esquerda e o António conseguiu antecipar-se a toda a defesa e guarda-redes, mas cabeceou para fora quando tinha a baliza à sua mercê. A pressão do Benfica acabou por dar resultado a um quarto de hora do fim. Numa transição, o João Mário colocou a bola no Cabral sobre a direita, que progrediu até à área e tirou o defesa da jogada puxando a bola para dentro, para o seu pé esquerdo, para depois rematar cruzado. Bom golo do nosso ponta-de-lança, a desatar finalmente um nó que estava cada vez mais complicado. Tal como em Glasgow, depois do golo o Benfica conseguiu com sucesso pausar o ritmo de jogo e controlar completamente até ao apito final - o Casa Pia não conseguiu esboçar qualquer tipo de reacção ao golo. Apesar da sobrecarga de jogos, mantivemos a nossa imagem de marca de não utilizarmos todas as substituições e apenas perto do final fizemos a terceira, trocando o Bah pelo Tomás Araújo.

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Num jogo que não foi exuberante, acho que acabo por escolher como destaque o Cabral mesmo. Entrou quando o jogo pedia mesmo alguém com as suas características, resolveu-o, e se calhar se não tivesse entrado não teríamos conseguido deitar abaixo a resistência do Casa Pia. É repetitivo mencionar sempre o João Neves, mas ele não sabe jogar mal e acaba por se destacar sempre pelo menos pela entrega. Gostei do António Silva e da profundidade que o Bah conseguiu dar pela direita.

 

Depois de termos estado quatro jogos consecutivos sem vencer fora de casa (Vitória, Toulouse, Sporting e Porto), conseguimos agora duas vitórias importantes nos últimos dois. No fundo o regresso à rotina: nada de particularmente entusiasmante mas cumprimos a nossa obrigação, vencemos e mantivemo-nos na luta. Temos agora também que lidar com o caso criado pela entrevista do Kökçu, que em nada ajuda. Eu confesso que compreendo e até concordo com muito daquilo que ele diz, pelo menos no que diz respeito às opções tácticas do nosso treinador em relação a ele, mas a oportunidade desta entrevista é completamente errada e não deixa outra opção ao clube senão agir disciplinarmente. Espero apenas que isto não tenha ramificações no balneário, porque a sensação que tenho é a de que o turco não deverá ser o único descontente com as opções do treinador.

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publicado por D'Arcy às 10:41
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Sexta-feira, 15 de Março de 2024

Cumprida

Acho que todos nós tínhamos a noção de que o Benfica era uma equipa superior ao Rangers e por isso mesmo, apesar do empate em casa na primeira mão, havia a expectativa legítima de que um Benfica minimamente competente conseguiria ir ganhar a eliminatória a Glasgow. Tarefa cumprida, portanto.

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Houve quatro alterações no onze em relação àquele que tinha vencido o Estoril: Otamendi, Di María, Rafa e João Neves voltaram, por troca com Tomás Araújo, Tiago Gouveia, Kökçu e João Mário. Pela frente apanhámos um Rangers motivado pelo resultado da primeira mão, uma estádio cheio a apoiá-los (com um cantinho vermelho que, desta vez, parece ter-se portado bem) e ainda uma intempérie que se abateu sobre Glasgow, que foi tornando o relvado cada vez mais pesado. Esperava por isso uma entrada forte por parte dos escoceses, que de facto até se verificou. Eles estiveram mais por cima na primeira fase do jogo, mas raramente criaram ocasiões de grande perigo - a situação mais complicada acabou por ser um remate à figura do Trubin, que ele acabou por deixar escapar entre as pernas e que saiu ao lado da baliza. O Benfica revelou sempre uma boa organização defensiva, com o António Silva a ser um esteio na defesa e a limpar tudo o que lhe aparecia, pelo ar ou pelo chão. O meio campo com o João Neves e o Florentino é também aquele que melhor cobertura dá aos nossos defesas que, ao contrário daquilo que tantas vezes vimos esta época, não têm que estar constantemente a apanhar com adversários embalados pela frente quase sem oposição. À medida que o tempo foi decorrendo o Benfica estabilizou o seu jogo e começou lentamente a conseguir explorar o espaço que tinha à frente, criando mesmo situações de maior aperto na área do Rangers - Di María, Rafa ou Marcos Leonardo dispuseram de situações em que poderiam ter dado melhor sequência ou finalizado melhor. Na altura em que soou o apito para o intervalo achei aliás que já estávamos mesmo por cima no jogo, e que havia maior probabilidade de sermos nós a marcar do que o Rangers.

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Ao intervalo trocámos de ponta-de-lança, entrando o Tengstedt. O Marcos Leonardo ainda não parece estar na melhor forma física e já revelava dificuldades em lutar com os defesas adversários num jogo com tendência para se tornar cada vez mais físico. Dada a forma como tinha acabado a primeira parte, foi surpreendente o início da segunda. O Rangers veio com tudo, e aquele primeiro quarto de hora foi complicado e deixou-me preocupado que o Rangers pudesse chegar à vantagem - naquela altura tinha a sensação que a primeira equipa a marcar daria um passo de gigante para o apuramento. É verdade que ainda assim o Trubin nunca teve muito trabalho, e a melhor ocasião dos escoceses foi um remate que foi desviado no limite pelo Aursnes, com a bola a passar perto do poste. Ainda mais um susto quando um desvio do António Silva fez a bola passar muito perto do poste, quase acabando em autogolo. Pouco depois do primeiro quarto de hora o Benbfica deu um grande aviso ao Rangers, quando uma boa transição que começou no Di María pela direita acabou com o Aursnes do lado oposto a ganhar a linha de fundo (ultimamente ele parece estar a conseguir fazer isto muito bem) e a oferecer literalmente o golo ao Tengstedt, que acabou por fazer um passe para as mãos do guarda-redes. Dado o aviso, cinco minutos depois veio o golo. Surge numa transição após um canto para o Rangers, na qual o Florentino acabou por finalmente conseguir colocar a bola na frente. O Di María tocou-a de cabeça para o Rafa mais sobre a esquerda, e a velocidade e classe deste fez o resto, fugindo aos defesas e vindo para a zona central para finalizar de forma perfeita. O lance foi inicialmente invalidado em campo, mas o VAR acabou por confirmar que no momento do toque de cabeça do Di María o Rafa ainda estava dentro do nosso meio-campo (aposto que na nossa liga o golo teria sido anulado). Este golo matou o Rangers, que nunca mais conseguiu voltar a ser o mesmo. Até final tivemos o jogo sempre completamente controlado e até poderíamos ter ampliado a vantagem, com destaque para um falhanço do António Silva que não conseguiu fazer o desvio quando estava à vontade à frente da baliza.

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Melhores do Benfica, para mim, o trio de meninos do Seixal. António Silva, João Neves e Florentino foram os esteios desta vitória, muito bem acompanhados pelo Aursnes. O António Silva esteve intransponível na defesa, lidando perfeitamente com o jogo tipicamente britânico que os escoceses tentaram implementar e sendo dominador pelo ar. Sobre o João Neves já vão faltando palavras para descrever o pequeno dínamo que alimenta todo o nosso jogo. Quanto ao Florentino, se um jogo destes não é suficiente para perceber a utilidade dele na nossa equipa, não sei o que será. O Aursnes é, objectivamente, o nosso melhor lateral esquerdo. Infelizmente, acrescento eu, porque poderia ser muito mais útil noutras funções e zonas do campo. Mas antes tê-lo a ele ali do que o Morato.

 

Estamos, pelo terceiro ano consecutivo, nos quartos-de-final de uma competição europeia. Todos nós, por sermos adeptos, achamos sempre que podemos e devemos fazer melhor, e raramente estamos satisfeitos com o que a nossa equipa produz. O jogo de ontem não será excepção, mas mesmo sem estarmos ao nosso melhor, creio que no conjunto das duas mãos ficou bem claro que somos melhores e fomos melhores do que o Rangers dentro do campo. No entanto toda a comunicação social parece ter muita vontade em destacar que o Benfica jogou mal, e que terá tido sorte na passagem - curiosamente, a imprensa escocesa considera que o Benfica mereceu passar, e uma visita rápida a fórums de adeptos do Rangers também me permitiu ver que eles nos consideram melhores e que ontem merecemos ganhar. Talvez porque nesta altura não há contabilidades a fazer como quantos golos o Benfica sofreu, há quantos jogos não ganha, ou há quantos jogos é que Rafa não marca, o melhor é carregar na tecla do mau jogo que o Benfica fez. A mesma comunicação social é aquela que perante dois jogos em que o Porto se enfiou na defesa contra o Arsenal, não se cansa de elogiar o épico desempenho deles. Ou que tendo o sapal sido claramente dominado pela Atalanta nos dois jogos, já tendo tido a sorte de seguir para Itália com um empate, se agarra às oportunidades por eles criadas nos últimos minutos para classificar a exibição deles como 'autoritária', com o jornal não-oficial do sapal (vulgo Record), liderando o pranto, a chegar ao absurdo de escrever que foram 'muito melhor equipa' numa negação e inversão completa da realidade. É vergonhosa a diferença de tratamento que existe. Dá a impressão que a única expectativa admissível para o Benfica é que domine todos os jogos do princípio ao fim e massacre todos os adversários. Qualquer coisa menos do que isso é motivo para crítica severa. Pois que fiquem com as suas magníficas vitórias morais, que eu me contento com mais uma má exibição e a passagem marcada para a próxima eliminatória.

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publicado por D'Arcy às 10:09
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Segunda-feira, 11 de Março de 2024

Chave

Dois golos em momentos chave ajudaram um Benfica com um onze muito renovado a regressar, de forma justa, às vitórias. O Estoril ainda chegou a assustar, mas a resposta dada pelo Benfica foi suficiente para justificar uma vitória sem grande margem para discussão, num jogo em que assistimos a um novo patamar de palhaçada na arbitragem.

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Foi uma mão cheia de alterações no onze inicial: Tomás Araújo na defesa, Kökçu e João Mário no meio campo, e Tiago Gouveia e Marcos Leonardo no ataque foram as entradas. Destaque para agora sim, uma verdadeira poupança em alguns dos jogadores mais utilizados esta época, com o Rafa, Di María e João Neves a começarem no banco. As alterações também significaram uma mudança em termos tácticos, porque se se pode dizer que o Kökçu jogou no lugar do Rafa, a verdade é que ele é um jogador completamente diferente, o que na prática significou jogarmos num esquema de três médios, com o turco a ocupar o vértice mais adiantado do triângulo. Os últimos resultados tiveram efeitos na confiança dos jogadores e da equipa, que não entrou de forma muito decidida no jogo. A sensação que dá é que há muito receio de falhar, e portanto raramente se arrisca um passe mais vertical, o que resulta em posses mais prolongadas nas quais a bola circula demasiado entre os nossos jogadores sem haver progressão, para algum exaspero dos adeptos. Ou em que vemos a bola chegar perto da área para depois voltar para trás e recomeçarmos o processo todo outra vez. Perante um Estoril que jogou da forma esperada, com linhas muito fechadas e juntas atrás, a procurar depois partir rápido para o contra-ataque a partir das faixas laterais, e que cedo procurou enervar com perdas de tempo e calma excessiva em todas as reposições de bola, tivemos o melhor remédio para isso com um golo ainda relativamente cedo. Sobre a direita, o Benfica recuperou a bola ainda numa zona adiantada e o passe atrasado do Neres para a entrada da área foi correspondido por um grande remate em arco do Kökçu, que colocou a bola junto ao ângulo superior do outro lado. Tudo a alinhar-se para uma noite tranquila, mas infelizmente não conseguimos evitar uma tendência cada vez mais frequente: sofrer um golo na primeira vez que o adversário chega à nossa baliza. Apenas sete minutos depois de estarmos em vantagem e sobre a esquerda da área, o António Silva resolveu imitar o comportamento habitual do Otamendi e entrou à queima sobre o Heri, que o bateu de forma demasiado fácil no um para um. Depois o Trubin apenas conseguiu sacudir para a frente o cruzamento/remate, fazendo com que a bola fosse cair mesmo à frente do Rodrigo Gomes, que fuzilou a baliza. Com o golo regressaram as inseguranças e o Benfica acusou o golpe. Durante largos minutos fomos incapazes de rematar sequer à baliza ou criar ocasiões de perigo, o que levou mesmo a manifestações de impaciência por parte dos adeptos. Até que num instante tudo mudou, pois conseguimos regressar à vantagem num momento chave, mesmo antes do intervalo. Cruzamento largo do Neres na direita, com o Tiago Gouveia a aparecer ao segundo poste para colocar a bola, de cabeça, na zona central, onde o Marcos Leonardo se antecipou aos defesas e empurrou a bola de cabeça para o golo. Extremamente importante para permitir um intervalo mais descansado e um regresso do intervalo sob muito menos pressão.

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E para dar sequência ao segundo golo, nada melhor do que começar a segunda parte com um golo para afastar dúvidas e dar ainda mais confiança à equipa. Passe do Kökçu da zona central a solicitar o Tiago Gouveia, que desta vez até estava de posição trocada com o Neres e apareceu sobre a direita, este enfrentou o Mangala e já dentro da área fez um bom remate cruzado que fez a bola entrar junto ao poste mais distante. A partir daqui a equipa conseguiu soltar-se e jogar de uma forma mais fluida, e assistimos a alguns momentos de bom futebol da nossa parte, também potenciados pelo facto do Estoril já não poder adoptar a posição negativa com que tinha entrado no jogo e ser agora obrigado a jogar o jogo pelo jogo de forma mais aberta. Construímos ocasiões para ampliar o resultado, que incluíram um momento que pode ficar para a história desta liga. Sobre a esquerda, e dando sequência a uma boa jogada do Benfica em que o remate cruzado do Kökçu do outro lado não levou a melhor direcção, o Benfica ainda recuperou a bola e o Aursnes ganhou a linha de fundo já dentro da área e perto da baliza. Fez o passe atrasado para a finalização do Marcos Leonardo, que o guarda-redes do Estoril defendeu por instinto, e depois o nosso avançado foi varrido pelo Mangala. Logo na altura ficou a sensação de que seria lance para penálti, que o árbitro Manuel Oliveira (que até aí já estava a ter uma actuação no mínimo 'inclinada') resolveu ignorar. Mas o VAR chamou-o mesmo para rever o lance, que mostrava de forma clara que o Mangala não só entra de pé em riste ao lance, atingindo com a sola o pé do Marcos Leonardo depois deste rematar, como com a outra perna acaba por varrer o pé de apoio do nosso avançado. Depois de um longo período a analisar as imagens, tivemos o privilégio de ouvir em directo e ao vivo a conclusão do árbitro de que o número 22 do Estoril não cometeu nenhuma infracção. Portanto agora não só temos a possibilidade de sermos roubados, ainda podemos ouvir a forma como o estamos a ser. Foi uma explicação muito útil. A quinze minutos do final começaram as alterações na equipa, com as trocas do Neres e do Marcos Leonardo pelo Rollheiser e o Cabral. O Manuel Oliveira nessa altura já estava com a corda toda e ignorou olimpicamente uma falta grosseira precisamente sobre o Cabral à entrada da área. Minutos depois, mais duas alterações e a inevitável entrada do Morato para lateral esquerdo, no lugar do Aursnes, e do João Neves para o lugar do Kökçu. Mas o toque de bizarro ainda estava para vir, pois logo a seguir entrou o Carreras. Face aos jogadores em campo, esperava que o espanhol fosse para a lateral esquerda, o Morato passasse para o meio, e o Tomás Araújo para a lateral direita, onde já jogou algumas vezes esta época. Mas não, o Carreras foi para a direita e preferimos jogar com duas adaptações na defesa. É uma imagem de marca. O jogo nessa altura ficou muito partido, e o João Neves ainda atirou uma bola à barra, enquanto que do outro lado o Trubin teve que se aplicar para evitar o golo do Estoril num par de ocasiões.

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Os jogadores a quem foram concedidas oportunidades na generalidade aproveitaram-nas. O Tiago Gouveia é um dos destaques óbvios, com um golo e uma assistência, e capacidade para pegar na bola e ir para cima da defesa, oferecendo largura e profundidade ao nosso jogo. O Tomás Araújo voltou a mostrar ser uma opção muito válida para o centro da defesa. É capaz de ser o nosso central com melhor saída de bola. O Kökçu, sem surpresa, revelou-se um jogador muito mais útil a jogar na sua posição, e num esquema de três médios. Bom jogo também do Aursnes, do Marcos Leonardo - que não esteve muito em jogo mas que revelou bom sentido de oportunidade, aparecendo quase sempre para criar perigo - e do Florentino.

 

Não foi uma exibição que nos enchesse o olho ou afastasse completamente as muitas dúvidas que nos assolam, mas fiquei satisfeito. Gostei da rotação feita, e que a equipa escolhida tivesse mostrado capacidade mais do que suficiente para dar conta do recado. O que é mais uma prova que não precisamos de estar constantemente agarrados aos mesmos jogadores, sobretudo quando estes aparentam contribuir para alguns dos problemas que nos afectam. Esperemos agora que consigamos ir a Glasgow resolver a eliminatória, conforme é nossa obrigação.

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publicado por D'Arcy às 10:47
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Sexta-feira, 8 de Março de 2024

Reflexo

Um resultado que não espelha aquilo que se passou dentro do campo, mas que acaba por ser o reflexo da nossa ineficiência na defesa e ineficácia no ataque.

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Houve alterações no onze, que surpreendentemente não teve o João Mário e teve apenas uma adaptação: o Aursnes na lateral esquerda. Uma raridade esta época. O Florentino regressou ao meio campo, o Neres e o Cabral ao ataque. Achei que tivemos uma das melhores entradas em jogo dos últimos tempos, mas literalmente na primeira vez que o Rangers foi à frente, marcou, o que acabou por marcar muito o jogo. Nem foi muito diferente daquilo que seria um jogo habitual da nossa liga entre o Benfica e uma equipa pequena. O Rangers tentou quebrar o ritmo de jogo e encostou-se atrás, fazendo uma linha de cinco com outra de quatro muito junta, deixando apenas um homem na frente. O Benfica foi o habitual: muita bola, muito passe de um lado para o outro, e uma cerimónia exasperante na hora de finalizar aliada a alguma dose de infelicidade, foram mantendo o resultado até perto do intervalo. Até que mesmo a fechar, beneficiámos de um penálti, que permitiu ao Di María anular alguma da injustiça no resultado e empatar o jogo. Só que conseguimos no período de compensação que se seguiu voltar a defender como uma equipa amadora, e com muita passividade permitir novo golo do Rangers. Creio que a bola cruzada a partir da nossa direita, rasteira, terá passado por uns cinco jogadores nossos sem que ninguém a tenha atacado, permitindo a entrada de um adversário à vontade na zona do segundo poste. Pareceu-me que havia um jogador na zona do primeiro poste em posição irregular que até tenta jogar a bola, mas o árbitro não se chamava Veríssimo e nós (felizmente) não jogamos no Lumiar e portanto o golo foi mesmo validado. A segunda parte foi de ainda mais domínio territorial por parte do Benfica, e de ainda mais exaspero pela má decisão e finalização no ataque. Conseguimos o empate num autogolo, após livre do Di María, mas é extremamente enervante ver a falta de confiança para arriscar a finalização, havendo sempre mais um toque ou um passe que acabam por fazer a jogada perder-se. As alterações feitas (apenas três) não mudaram quase nada: a troca do Cabral pelo Marcos Leonardo revelou-se inconsequente, e nos minutos finais refrescámos a ala esquerda com as entradas do Carreras e do Tiago Gouveia, mas continuámos quase sempre a insistir muito pelo outro lado. Rematámos muito, mas rematámos mal, quase sempre para fora da baliza. E tivemos diversas situações em que os nossos jogadores surgiram em boa posição na área - em que conseguimos ganhar a linha e fazer o passe atrasado para a entrada de um jogador vindo de trás, e incrivelmente não conseguimos concretizar nenhuma dessas situações, ou por má finalização, ou porque os jogadores não tiveram confiança para tentar finalizar de primeira e deram sempre um toque a mais. Por comparação, o Rangers teve apenas uma situação dessas e marcou.

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Já começa a ser um pouco repetitivo destacar o João Neves no final dos nossos jogos, mas o que é que posso fazer? Até acho que ele próprio teve alguns exageros, arriscando demasiado em iniciativas individuais, mas percebo que a frustração em certos momentos o leve a essa opção. O Di María está ligado aos dois golos, mas perdi a conta às perdas de bola que teve (julgo que deve ter batido um recorde qualquer), fruto de péssimas decisões. Também me levou quase ao desespero com a quantidade de pontapés de canto mal marcados, sobretudo quando teima em tentar marcá-los directos. Gostei sinceramente da dinâmica do nosso meio campo com o Florentino e o João Neves (sei que sou sempre suspeito quando escrevo isto), para mim bem melhor do que qualquer coisa que eu tenha visto recentemente com o Kökçu ou o João Mário a fazer dupla com o indispensável João Neves. O Aursnes para mim começa a acumular bastante cansaço e se calhar alguma saturação das constantes mudanças de posição, e hoje gostei muito pouco do que lhe vi na lateral esquerda.

 

Em termos de entrega tenho pouco a apontar à equipa hoje. Acho que o resultado é injusto, mas é normal que se pague caro pelos erros crassos cometidos. Dizer que estivemos melhor do que nos últimos jogos é pouco útil, porque o mais difícil seria continuar no registo anterior. Acredito que temos valor para ir a Glasgow ganhar esta eliminatória, mas é preciso recuperar animicamente esta equipa. A falta de confiança é visível e os jogadores parecem duvidar muito de si próprios. Gostava era que pelo menos o facto de não termos conseguido vencer este jogo não significasse termos que levar com nova revolução no onze já no domingo (e estou a pensar em particular na manutenção do Florentino a titular) e que tentássemos estabilizar minimamente a equipa titular.

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publicado por D'Arcy às 02:41
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Segunda-feira, 4 de Março de 2024

Desastrosa

Que vergonha, Herr Schmidt. Parabéns por ter conseguido igualar o JJ neste aspecto, e deixar o seu nome directamente ligado a uma mancha tão negra na história desportiva do Benfica. Uma exibição completamente desastrosa, com a agravante que no caso do JJ enfrentámos uma equipa altamente motivada numa das suas melhores épocas da história, enquanto que hoje defrontámos um Porto absolutamente banal, que consegue perder ou empatar com equipas pequenas e estava nove pontos atrás de nós. Não é vergonha do Benfica, porque só me orgulha ser benfiquista, é vergonha na forma como as pessoas não souberam estar à altura dos nossos ideais.

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A época passada vim ao Dragão com uma confiança quase absoluta de que conseguiríamos ganhar o jogo. Esta época regressei com a convicção de que só um milagre nos impediria de perder este jogo. Vim na mesma, porque eu vou ver jogos para ver a minha equipa, não apenas para nos ver ganhar, e se fosse possível e necessário amanhã estaria aqui no Porto outra vez. Mas depois de saber a constituição da equipa, e como tantas vezes tem acontecido esta época, levei mais um forte golpe na minha já escassa confiança e não só passei a achar que não aconteceria qualquer milagre, como também que o que acabou por acontecer era uma possibilidade forte. Não há muito para dizer sobre o jogo da nossa parte, porque fomos uma nulidade completa. Uma única ocasião de perigo, em que o Tengstedt fez aquilo que normalmente faz: aparece em frente à baliza e foge dela, para depois finalizar de ângulo mais difícil (para fora). Aguentámos vinte minutos num jogo em que o Porto fazia o que queria pelas alas, sobretudo na esquerda, onde o Morato, de forma absolutamente expectável para o mundo inteiro menos uma pessoa, era incapaz de parar o Conceição no 1x1, quanto mais quando levava com mais jogadores a surgirem-lhe por ali sem serem devidamente acompanhados. O primeiro golo surge num pontapé de canto, com a bola a ser desviada no meio (e logo pelo Morato, quem mais) para o segundo poste, onde o Galeno estava completamente sozinho para marcar.  Lá conseguimos fazer um par de remates, um do Rafa e outro do Di María, um defendido (se não estiver enganado, foi o único remate que o Benfica fez à baliza em todo o jogo) e o outro para fora. Para fechar da melhor forma a primeira parte, sofremos o segundo golo, em mais um dos muitos cruzamentos vindos da esquerda e com uma demonstração de falta de intensidade e permissividade defensiva, com os jogadores do Porto a ganharem as duas bolas divididas dentro da nossa área para o Galeno voltar a marcar - muito mal o António Silva, demasiado macio na abordagem à segunda bola. Não tive quaisquer dúvidas que o jogo estava acabado ali mesmo.

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Ao intervalo, Florentino e Carreras nos lugares do Kökçu e do Morato, nada de novo e o Porto a chegar ao terceiro golo aos dez minutos praticamente no primeiro remate que fez, com a bola rematada pelo Wendell (que veio completamente desacompanhado da nossa direita até à entrada da área) a desviar em alguém para bater o Trubin. Trocámos de imediato de ponta de lança, lançando o Cabral, e também o Neres para o lugar do Di María. Depois o nosso capitão, provavelmente a querer dar sequência à brilhante exibição de quinta-feira em Alvalade, onde foi um dos principais responsáveis pela derrota, voltou a fazer asneira, viu dois amarelos no espaço de dez minutos e foi para a rua. Não é que estivéssemos a jogar alguma coisa até esse momento (acho que não fizemos um único remate na segunda parte) mas sabendo que obrigatoriamente estaríamos completamente remetidos ao contra-ataque, consegui irritar-me ainda mais com a opção de retirar o Rafa para colocar outro central, o Tomás Araújo. No fundo, foi um convite ao Porto para subir ainda mais as suas linhas e não ter que se preocupar com algum espaço que pudesse deixar atrás, já que o Cabral encostou-se aos centrais e foi sempre presa muito fácil. A desculpa de poupar o Rafa num jogo que já estava perdido também não pega. Se não o poupámos antes em jogos contra equipas mais fracas que já estavam mais do que ganhos e ele continuou a fazer os noventa minutos ou quase em todos eles, não sei porque o faríamos agora. A goleada era agora quase uma certeza, era apenas uma questão de saber quantos golos o Porto conseguiria marcar frente a uma equipa que parecia ter aceite o seu destino, em inferioridade numérica e encostada atrás. Sobretudo quando era mais do que visível a forma como a nossa esquerda continuava a ser uma via aberta - para além do Conceição, o Pepê vinha sempre do meio para aquele lado, e surpreendentemente o supersónico João Mário não revelava ser grande ajuda defensiva. Portanto foram mais dois golos surgidos por ali, o primeiro pelo Pepê, que simplesmente fugiu por ali e com o Trubin pela frente colocou-lhe a bola no poste mais próximo (péssimo acompanhamento defensivo do Carreras, e Trubin mal batido), e o último pelo Namaso, aproveitando um centro vindo daquele lado (completa falta de agressividade da nossa defesa, incapaz de afastar a bola das imediações da nossa área por um largo período de tempo, e depois o Tomás Araújo ou o Aursnes nem sequer atacam a bola, com o avançado a surgir à vontade no espaço entre eles).

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E porque é que menciono directamente o treinador na abertura deste post? Porque acho que é preciso um talento muito peculiar ou uma teimosia inabalável, a ultrapassar a linha da casmurrice, para conseguir extrair tão pouco do plantel que lhe colocaram à disposição. Perante um dos Portos mais banais de que me recordo nos últimos anos conseguimos jogar pior do que uma qualquer equipa que lute pela manutenção e ser goleados. Estamos em Março. Nesta altura ainda não temos um onze base definido. Mudamos de jogo para jogo, quanto mais não seja para baralhar e voltar a dar, redistribuindo os jogadores por diferentes posições ou funções. Continuamos, de forma absurda, a jogar com adaptações, forçando jogadores a jogar fora das suas posições naturais em detrimento das opções naturais para as posições. Ristic, Juràsek, Bernat, Carreras, nenhum deles serviu ou serve para a posição de lateral esquerdo, e em vez disso continuamos a ter que levar com a aberração Morato, ou o Aursnes. Na direita, ainda bem que não gastámos dinheiro em mais um lateral neste mercado porque certamente não jogaria também. O Bah regressou da lesão, estava a subir de rendimento à medida que somava os necessários minutos, voltou para o banco para metermos um médio centro na sua posição. Temos dois médios que podem desempenhar as funções mais defensivas no plantel. Um anda ocupado a jogar a defesa direito, esquerdo, ou médio ala. O outro foi uma peça importante a época passada, mas este ano para jogar ali levamos sistematicamente com um número dez que custou 30 milhões ou ultimamente com o João Mário, que não tem a intensidade física necessária para essa posição, sobretudo em jogos mais exigentes. João Mário que também serve para jogar na direita. Ou na esquerda. Ou atrás do avançado. Tal como o Aursnes ou o Kökçu. Já os inúmeros alas que temos no plantel, são quase sempre segundas opções ou nem isso para o lado esquerdo. Até gastámos um pouco mais para trazer um ala já em Janeiro. Não joga, há sempre um médio centro que pode fazer a posição. Gastámos vinte milhões num ponta-de-lança, depois mais dezoito noutro. Não jogam também, e quando um até começava a dar sinais de alguma utilidade e a marcar golos com alguma regularidade, foi recambiado para o banco. Repito: estamos em Março, e parece que ainda andamos a fazer experiências típicas de uma pré-época. Eu já nem peço muito ao nosso treinador, simplesmente que estabeleça um onze base que consiga criar rotinas de jogo e que coloque os jogadores a jogar nas suas posições. Acho que não é estar a pedir demasiado.

 

Depois de uma derrota destas espero que haja alguém com o mínimo de noção para dar um murro na mesa, porque este pode ser um momento absolutamente fulcral nesta época. A capacidade ou não da equipa para reagir a isto determinará o resto da época. E espero também que haja um mínimo de noção para perceber que este resultado não veio do nada, muita gente previa esta possibilidade quando chegássemos a estes jogos. Houve razões para que isto acontecesse, e essas razões têm sido cada vez mais óbvias a cada jogo que passa. Acho que todos tínhamos pelo menos algum receio de que isto poderia acontecer contra uma equipa que jogasse com a intensidade suficiente e a esperteza para explorar as lacunas e fraquezas que a nossa equipa persiste em demonstrar desde o início da época. Temos andado a tentar a sorte constantemente e desta vez acabou por correr mesmo muito mal.

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publicado por D'Arcy às 00:12
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Sexta-feira, 1 de Março de 2024

Inócua

Depois de três quartos do jogo a ver jogar e a actuar de forma perfeitamente inócua, uma reacção na fase final do jogo permitiu-nos ir para a segunda mão das meias-finais da taça com a eliminatória em aberto. O pouco que jogámos deu para reduzir a derrota à margem mínima e não deu para mais do que isso porque arranjaram forma de nos sonegar um golo.

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Jogámos com o mesmo onze que tinha goleado o Portimonense. Depois do resultado é fácil começar por aqui para justificar a derrota, mas eu não vou por esse caminho. Nem acho que a estratégia escolhida fosse errada, o que eu acho é que foi mal implementada. De que serve apresentar uma frente de ataque móvel e rápida se depois não jogamos de forma a explorar essas características? O espaço estava lá, esteve sempre durante os noventa minutos, mas durante quase todo o tempo o Benfica não o conseguiu explorar. As transições não existiram e em vez disso optámos por um jogo sem risco, em que segurávamos a posse de bola e a tínhamos quase sempre que fazer passar pelos pés do João Mário, cheio de passes lateralizados e sem progressão. Ninguém arriscava um passe a explorar o espaço (e ao fim de algum tempo os jogadores da frente deixaram de correr à espera de algum passe que nunca surgiu). O resultado disso foi que apesar da posse de bola ser muito repartida ao intervalo, eu não contei um único remate da nossa parte, ou sequer uma aproximação à baliza adversária com o mínimo de perigo. Foi uma primeira parte literalmente deitada fora. A diferença para o Sporting era óbvia. Eu há muito tempo que considero o Sporting do Amorim uma equipa de processos bastante simples e eficazes. Fazer chegar a bola a zonas de finalização da forma mais rápida e menos complicada possível é uma das chaves. Com o Gyokeres, se for preciso ficam a trocar a bola no seu meio campo até conseguirem uma aberta para colocar a bola no espaço que o sueco vai atacar, e com isso esticam imediatamente o jogo (é semelhante ao que o Benfica fazia no tempo do Lage, com o Seferovic como ponta de lança). Tivemos portanto uma primeira parte entre uma equipa de futebol vertical, e outra de futebol lateral. Depois não ajudou que quase na primeira vez que o Sporting chegou à frente com perigo (só não digo que foi a primeira porque instantes antes um dos artistas da batota que eles têm, o Pedro Gonçalves, já tinha tentado sacar um penálti), aos nove minutos, chegou também ao golo. Incompreensível como deixamos que façam superioridade numérica sobre o Bah na zona do poste direito, e o Pedro Gonçalves cabeceou o cruzamento vindo do outro lado para fazer a bola entrar após embater no poste. Foi uma primeira parte completamente perdida da nossa parte, e o segundo golo do Sporting esteve sempre mais perto de acontecer do que um golo nosso.

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Se esperava alguma mudança na segunda parte, o que não esperava era que ela fosse a entrada do Morato. Pouco mudou em relação ao que tínhamos visto na primeira parte, mas logo nos minutos iniciais vimos o outro artista da batota em campo, o Edwards, a tentar sacar mais um penálti. O Fábio Veríssimo, apesar da simulação grosseiríssima por parte do inglês, solícito apontou imediatamente para a marca de penálti. Valeu que o Gyokeres estava em posição irregular no início do lance. Se o jogo continuava como na primeira parte, continuava portanto também muito mais provável um segundo golo do Sporting do que uma reacção nossa, o que voltou a acontecer aos nove minutos. E aconteceu num lance com a chancela do nosso capitão Otamendi. Se o António Silva fez durante praticamente todo o jogo uma marcação quase exemplar ao jogador mais perigoso do Sporting, o Otamendi com a sua mania de tentar antecipar-se e entrar à queima aos lances acumulou erros. Este foi mais um, e deixado sozinho ainda que descaído sobre a nossa esquerda o sueco fez aquilo que sabe, veio para o meio e marcou, com a bola mais uma vez a bater no ferro antes de entrar. Tornava-se agora imperativo marcar um golo, e com uma hora de jogo trocámos o Neres pelo Tengstedt, o que deslocou o Di María mais para a esquerda para actuar como extremo puro. Foi do pé esquerdo dele que, aos sessenta e oito minutos, saiu o cruzamento que permitiu ao Aursnes finalizar para golo, num lance em que surgimos em superioridade numérica na área. E este golo foi suficiente para fazer a confiança do Sporting abanar, e a nossa equipa descobrir que se calhar tentar jogar futebol em vez de simplesmente guardar a bola era capaz de dar mais resultado. A partir do golo o Benfica passou a estar mais por cima do jogo, com o Sporting a responder sobretudo através das bolas longas para o ataque ao espaço por parte do Gyokeres. Quatro minutos depois do primeiro golo, nova jogada pela esquerda, desta vez entre o Di María e o Kökçu, acabou com um remate de trivela do Di María para o golo, após passe do turco. Ninguém do Sporting sequer protestou, muito menos o guarda-redes, porque não havia nada para protestar. Mas o artista Fábio Melo na cabine do VAR encontrou uma desculpa para nos anular o golo, descortinando um fora de jogo posicional do Tengstedt, com a anulação a ser festejada ainda mais ruidosamente pelo povo da casa do que qualquer um dos golos - acho que deviam ter a noção do que seria o final do jogo se o golo tivesse sido validado. Apesar de termos estado por cima até final, com o jogo, ao contrário do que tinha acontecido até então, a ser quase sempre disputado no meio campo do Sporting, não conseguimos encontrar arte ou inspiração para voltar a marcar e nem conseguimos criar jogadas de grande perigo. Mas as coisas até poderiam ter acabado bem piores para nós mesmo no final, não fosse o Paulinho estar fora de jogo na marcação de um livre que resultou num grande golo do Nuno Santos, num remate de primeira de fora da área sem deixar a bola cair.

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O nosso melhor em campo foi para mim o António Silva. Já no jogo anterior tinha mostrado ser perfeitamente capaz de lidar com o Gyokeres, ganhando-lhe a grande maioria dos duelos individuais e conseguindo impedir que ele rematasse ou arrancasse em direcção da baliza. Mas tal como no jogo anterior, o sueco fugiu para a zona do Otamendi e encontrou aí o ouro. O número de desarmes, intercepções e remates bloqueados (uma boa parte deles precisamente ao Gyokeres) foram uma demonstração do seu valor. Para além dele, o Aursnes, na sua habitual missão de sacrifício a jogar onde calhar, também fez um bom jogo, sobretudo quando passou para a direita. Marcou um golo que pode vir a ser importante. Muito trabalho por parte do João Neves, e se é para termos obrigatoriamente o João Mário na equipa, consegue ser bem mais útil no meio do que na esquerda.

 

Não podemos deitar fora uma parte inteira e mais metade de outra sem jogar e esperar resultados de jogos destes. Não consegui perceber a atitude expectante do Benfica, com medo de arriscar, como se ganhássemos alguma coisa em guardar a bola longe de zonas decisivas. Mérito apenas como depois de tanto tempo tão mal, ainda fomos capazes de arranjar capacidade para ir buscar alguma coisa ao jogo e trazer a decisão da eliminatória para nossa casa. Mas num jogo para o campeonato não há segunda mão, e mais uma exibição nestes moldes pode deitar tudo a perder.

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publicado por D'Arcy às 02:55
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Segunda-feira, 26 de Fevereiro de 2024

Rajada

Chegou a parecer que derrubar a muralha que o Portimonense montou na Luz iria ser uma tarefa complicada, mas uma rajada de três golos em apenas quatro minutos garantiu a vitória e uma segunda parte muito tranquila para o Benfica.

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Acho que quase toda a gente deve ter torcido o nariz ao ouvir a constituição da equipa e reparar que não tinha uma vez mais um ponta de lança de início. Eu não fui excepção. Depois pensei que muito provavelmente isto seria já um teste ao onze que poderemos apresentar nos próximos dois jogos, mas mesmo assim, sendo bastante previsível que o Portimonense se apresentaria na Luz com uma estratégia ultra-defensiva, não me pareceu que fosse o jogo ideal para alinhar sem pelo menos uma referência na área. Depois das exibições desastrosas em Toulouse quer do Morato, quer do Carreras, foi o Aursnes quem regressou a essa posição. O outro jogador a regressar ao onze foi o Kökçu, saindo o Tengstedt. Mas a novidade foi que o Rafa avançou para a posição mais adiantada e tivemos a oportunidade de, julgo que pela primeira vez esta época, vermos o Kokçu a jogar na sua posição natural, atrás do avançado e com dois médios atrás dele. O jogo foi o que se previa, com um Portimonense ultra defensivo e a acumular jogadores à frente da sua área, e o Benfica a tentar encontrar soluções para furar aquela muralha de corpos e pernas que tinha pela frente. Até gostei da dinâmica da equipa na fase inicial do jogo. Houve a tentativa de fazer a bola circular com alguma velocidade e os jogadores estavam em movimento constante com diversas trocas de posição, chegando até os nossos centrais a envolverem-se no movimento ofensivo já que praticamente não tinham trabalho defensivo. A directiva do Portimonense era defender, defender, defender. Depois, e para variar, o guarda-redes Nakamura, que nos últimos jogos se tem destacado por dar alguns dos frangos mais inacreditáveis desta edição da Liga (é ver o que ele fez contra o Arouca ou o Estrela) estava neste fim de tarde inspirado e resolveu defender tudo o que lhe apareceu pela frente, a começar por uma ocasião flagrante do Kökçu ainda dentro dos primeiros dez minutos que deu o mote para mais uma mão cheia de boas defesas. À medida que o tempo foi passando talvez alguma frustração se tenha apoderado da nossa equipa, e a qualidade do nosso jogo foi piorando à medida que nos aproximávamos do intervalo. Fomos mostrando uma tendência para afunilar mais o jogo e persistir em tentativas de entrar pelo meio, com tabelas pouco objectivas que resultavam quase sempre em perdas de bola. A disposição com o nulo ao intervalo não era, portanto, a melhor.

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Sem alterações para a segunda parte (acho que muitos de nós esperaríamos já a entrada de um avançado), os minutos iniciais foram um prolongamento da nossa enervação, já que nem sequer conseguíamos encontrar espaço para rematar à baliza. Até que, ao fim de dez minutos, fizemos o primeiro remate e marcámos. Depois de mais uma tentativa de entrar pelo meio, onde de forma algo surpreendente tínhamos o Bah na meia lua, foi este quem encontrou o Rafa solto sobre a direita, que não pensou duas vezes e rematou de primeira e de trivela para fazer a bola entrar entre o guarda-redes e o poste, batendo finalmente o Nakamura. A partir daqui e nos minutos seguintes quase não deu para nos voltarmos a sentar. Com uma brecha finalmente aberta na muralha do Portimonense, depois tudo se desmoronou. Dois minutos depois, bola recuperada sobre a direita da nossa área, o João Mário colocou-a nos pés do Kökçu e este de imediato fez um passe fantástico para as costas da defesa onde o Neres ganhou em velocidade, aguentou uma carga e em frente ao guarda-redes teve uma finalização de classe, sentando-o para depois meter a bola na baliza deserta. Mais dois minutos passados e na esquerda o Neres solicitou a velocidade do Rafa, que chegando perto da área levantou a cabeça e viu a entrada do Di María do lado oposto, colocando lá a bola com um grande passe de trivela que depois o Di María finalizou de primeira com um toque subtil de enorme classe, com a parte de fora do pé a colocar a bola no poste mais distante. Três grandes golos em apenas quatro minutos, e tudo resolvido. De seguida trocámos o Neres e o João Neves pelo Tiago Gouveia pelo Florentino. Trocas directas portanto, e continuámos com o controlo total do jogo - o Trubin foi pouco mais do que um mero espectador e não me lembro de ter feito uma única defesa de maior dificuldade. A quinze minutos do final chegámos ao quarto golo, num lance em que o maior mérito é do Tiago Gouveia, que pela esquerda enfrentou o marcador directo numa iniciativa individual e conseguiu entrar na área e ganhar a linha de fundo para depois fazer o passe atrasado para o Kökçu. Este se calhar mais ou menos sem querer (fiquei sem perceber se foi uma tentativa de remate ou um passe deliberado) colocou a bola mais para a direita, onde perto do poste o Rafa se antecipou a um defesa para marcar. Só depois disto fizemos entrar um ponta de lança e ainda aproveitámos para proteger o António Silva de algum amarelo que o retiraria do próximo jogo. O Cabral ainda esteve perto de marcar, mas o Benfica enfrentou os minutos finais já em gestão de esforço.

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O melhor em campo volta a ser o Rafa, com dois golos e uma assistência de enorme classe. Acho que esta época, que deverá ser a sua última no Benfica, está a ser a sua melhor de sempre, e se se confirmar a sua saída irá deixar saudades mesmo entre alguns dos seus maiores críticos. Eu tenho alguma dificuldade em imaginar o nosso ataque sem a velocidade dele. O Kökçu é capaz de ter feito o seu melhor jogo desde que chegou ao Benfica. Quem diria que ele iria ter melhor rendimento a jogar na sua posição e nas funções em que a época passada se destacou no Feyenoord, ao ponto de ter sido eleito o melhor jogador da liga holandesa? Duas assistências e diversos pormenores de classe no passe (por exemplo, a forma como na primeira parte isolou o Otamendi para uma grande defesa do Nakamura) a mostrar a enorme utilidade que poderá ter a jogar mais adiantado - ele próprio admitiu no final a sua satisfação por ter podido jogar ali. O Neres é outro dos destaques, e com a sua presença retiramos alguma da carga sobre os ombros do Rafa e do Di María para desequilibrar as defesas adversárias, pois passamos a contar com mais um criativo para o fazer.

 

Acabou por ser uma jornada muito positiva para o Benfica, que ganhou pontos a dois dos adversários mais próximos. Um bom tónico para os jogos difíceis que se seguem e que espero que saibamos aproveitar. Não me chocará que neles acabemos por apresentar um onze muito próximo deste, e até acho que poderemos tirar daí algum proveito. Pelo menos gostei da dinâmica que vi, que foi uma agradável mudança em relação ao habitual circular de bola sem grande objectividade à espera de um rasgo do Rafa ou do Di María. Com o Kokçu mais perto da baliza podemos esperar dali um passe de rotura, para além de achar que um meio campo verdadeiramente a três nos dá maior solidez (até o João Mário parece ser mais útil à equipa ali) e com o Neres na esquerda deixamos de ser uma equipa completamente balanceada à direita, com os desequilíbrios a poderem surgir de qualquer um dos lados.

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publicado por D'Arcy às 11:39
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Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2024

Consistência

Acho que o melhor é começar este post por elogiar a nossa consistência: depois de uma exibição medonha na primeira mão, de forma consistente voltámos a apresentar um futebol do mesmo nível na segunda, e assim acabámos por conseguir arrastar-nos até aos oitavos de final da Liga Europa.

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O onze apresentado teve menos mudanças em relação ao jogo contra o Vizela do que eu esperava. Apenas duas mexidas, com as entradas do Di María e do António Silva para os lugares do Tiago Gouveia e do Tomás Araújo. Assumíamos portanto o risco de jogar com o Di María e o Neres nas alas, mas depois da exibição deste último contra o Vizela seria quase crime relegá-lo para o banco. A primeira parte nem foi particularmente má: a exibição não deslumbrou, mas o jogo foi relativamente repartido, com o Benfica a ter um pouco mais de bola, a não permitir grandes ocasiões de golo ao Toulouse, e a ter mesmo as ocasiões mais flagrantes para inaugurar o marcador. A primeira pelo Rafa, depois de uma boa iniciativa do Neres pela esquerda a ganhar a linha de fundo e a fazer o passe atrasado para um remate que saiu para fora; a segunda pelo Di María, após cruzamento rasteiro do Bah, que ele apenas conseguiu desviar à boca da baliza com a ponta do pé para fazer a bola passar junto ao poste; e a última e melhor de todas já a fechar a primeira parte pelo António Silva, que se isolou e acabou por rematar contra o guarda-redes. Não esperava portanto uma quebra tão acentuada da primeira para a segunda parte. Fizemos duas alterações ao intervalo, trocando o Tengstedt e o Morato pelo Cabral e o Carreras, e estas não resultaram de todo. O Cabral regressou em modo mono, e foi uma figura quase estática na frente, incapaz de ganhar ou segurar qualquer bola (acho que deve ter perdido todos os duelos aéreos). Quanto ao Carreras, que nem tinha propriamente uma herança pesada porque o Morato, mesmo numa primeira parte não muito conseguida pela equipa, tinha conseguido ser claramente um dos piores em campo, conseguiu ter uma exibição no mesmo patamar ou ainda pior. Coloco a actuação dele num nível quase épico em termos de desastre, porque perdi a conta às perdas de bola, aos maus posicionamentos defensivos, e aos passes errados - se não demorou uns vinte e cinco minutos em campo até acertar o primeiro passe, andou lá perto. Quanto ao jogo da equipa, caiu a pique em relação à primeira parte e a queda foi constante ao longo de toda a segunda parte, tornando-se progressivamente mais doloroso ver-nos jogar, ao ponto de acabarmos o jogo remetidos à nossa área e constantemente pressionados pelo décimo terceiro classificado da liga francesa, actualmente um ponto acima da linha de água. Não criámos uma ocasião de golo digna desse nome, e apenas não sofremos devido à aselhice dos jogadores franceses e à segurança do Trubin - nos lances em que ele nada poderia fazer, eram os adversários quem se encarregavam de não acertar na baliza. Passei quase toda a segunda parte a contar os minutos para o final e a desejar que aquilo chegasse ao fim o mais depressa possível.

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Acho que o Trubin, o João Neves e o António Silva, em parte acompanhados pelo Rafa na primeira parte, foram aqueles que se apresentaram num nível mais alto. O nosso guarda-redes mostrou sempre muita segurança e defendeu tudo o que havia para defender, evitando mesmo o empate já sobre o final do jogo com uma grande defesa. O João Neves andou como de costume a correr pelo campo todo a acudir a tudo, e o António Silva foi o patrão da defesa (pena que tenha falhado aquele golo). De destacar que os nossos dois miúdos tenham sido dos melhores e jogado desta maneira numa semana que deverá ter sido das mais difíceis para eles em termos pessoais. Grandes jogadores e grandes profissionais, e que muito orgulho me dão por vestirem a nossa camisola.

 

Está ultrapassado o playoff, e à hora a que escrevo isto já sabemos que a seguir teremos o Rangers pela frente. Que é uma equipa que, pelo menos em teoria, não só está perfeitamente ao nosso alcance como o Benfica terá mesmo a obrigação de passar. Mas isso também se aplicava ao Toulouse, e vimos o que aconteceu. O que eu sei é que será preciso jogarmos muito mais e melhor para cumprirmos a nossa obrigação não só na próxima eliminatória, mas também internamente nos jogos decisivos que se aproximam, porque a jogar assim é muito difícil ter perspectivas positivas para o que aí vem.

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publicado por D'Arcy às 11:41
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Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2024

Revolução

Uma revolução no onze inicial resultou num atropelo ao Vizela e na vitória mais expressiva do Benfica esta época. Ao intervalo já tínhamos o jogo resolvido e pudemos dar-nos ao luxo de fazer uma segunda parte em ritmo de treino.

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Foram meia dúzia de alterações no onze em relação ao jogo com o Toulouse: entraram Bah, Tomás Araújo, Morato, Tiago Gouveia, Neres e Tengstedt; saíram Aursnes, António Silva, Carreras, Kokçu, Di María e Cabral. Entre os cinco que mantiveram a titularidade, o João Mário mudou da esquerda para o centro do meio campo. As alterações no Benfica depressa mostraram uma enorme diferença no ataque: com uma frente de ataque bem mais móvel, fomos capazes de voltar a exercer uma pressão constante e bem mais subida, já que o Tiago Gouveia, Neres e Tengstedt são bem mais rápidos e disponíveis para pressionar do que o João Mário, o Di María ou o Cabral. Com esta primeira linha de pressão bem activa, 'empurrados' pelo João Neves, até jogadores mais recuados como o João Mário ou os laterais conseguiram ser mais participativos nesse aspecto e o Vizela cedo se viu em apuros para lidar com isso. O primeiro golo do Benfica, que surgiu à passagem do primeiro quarto de hora, é aliás um bom exemplo da forma como o Benfica pressionou. Começou com o Rafa a pressionar o guarda-redes, que se safou por pouco de ser desarmado sobre a linha de golo, e quando tentou aliviar a bola o Morato antecipou-se e voltou a devolver a bola para a frente, na direcção de um defesa do Vizela. Quando este tentou controlar e sair, foi pressionado pelo Tiago Gouveia, que interceptou a bola, surgindo depois o Tengstedt dentro da área também a pressionar e a antecipar-se aos defesas e guarda-redes para ficar com a bola. Sobre a esquerda, assistiu o Neres do outro lado que, à segunda tentativa, fez golo. Não tem sido normal vermos tantos jogadores nossos a pressionar de forma tão agressiva no último terço - e por curiosidade estive a ver alguns números deste jogo que comprovam isso mesmo: com meia hora de jogo o Vizela ainda não tinha conseguido sequer tocar(!) na bola no nosso terço defensivo, e ao intervalo o Benfica tinha quase o dobro das acções defensivas no meio campo adversário do que no seu próprio meio campo. Oito minutos depois do primeiro golo, e após uma lesão do guarda-redes do Vizela que obrigou à sua substituição, o Benfica fez o segundo golo: canto à maneira curta na esquerda e o Neres ganhou a linha de fundo para cruzar para uma entrada fulgurante de cabeça do Otamendi, que subiu mais alto do que todos. Outra grande diferença no nosso jogo, da qual já tinha saudades: verticalidade. A mobilidade e agressividade dos jogadores no ataque, com muito ataque ao espaço, permitiram isso. Bola recuperada e saída imediata em progressão (em vez daqueles passes laterais e para trás com construção 'paciente' a permitirem o reposicionamento da defesa adversária) a explorar o espaço vazio e o desposicionamento da defesa. O terceiro golo, à meia hora, um exemplo perfeito disso: bola recuperada pelo João Neves no nosso meio campo defensivo, imediatamente conduzida em progressão pelo Rafa que teve a acompanhá-lo todos os outros jogadores do ataque. Quando a bola chegou à área do Vizela já lá estavam também o Neres, o Tengstedt e o Gouveia. A bola foi passada ao Tengstedt que, solto, finalizou demasiado bem e acertou no poste, com o Tiago Gouveia a surgir mais rápido para fazer a recarga para golo. No período de descontos, mais dois golos, com o quarto deles a ser mais um exemplo de verticalidade que muito gostei de ver e do qual já tinha muitas saudades. O Benfica sai a jogar desde o seu guarda redes e sempre em progressão, pela esquerda: Trubin, João Neves, Otamendi, Gouveia, Rafa, e à entrada da área passe para a desmarcação do Neres e remate rasteiro a fazer a bola entrar entre o guarda-redes e o poste. No quinto golo, bola recuperada pelo Tiago Gouveia no círculo central, que foi parar aos pés do Tengstedt e este imediatamente desmarcou o Rafa, que fugiu aos defesas, isolou-se e em frente ao guarda-redes finalizou com enorme calma. Um completo arraso na primeira parte.

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Com o jogo mais do que resolvido o Benfica baixou completamente o ritmo na segunda parte. Aproveitou o Roger Schmidt, e bem, para fazer descansar o Rafa, apenas não achei tão compreensível a entrada do Di María para o seu lugar (foi colocar-se na direita, passando o Neres para as funções anteriormente ocupadas pelo Rafa). Tendo em conta que o resultado, mais golo, menos golo, já era uma mera formalidade, não entendi a necessidade de dar minutos a um dos jogadores mais utilizados até agora e que provavelmente também poderia aproveitar algum descanso. Mas foi bem visível a diferença de andamento com o Di María em campo. Ele dá muitas coisas boas à equipa, mas perdemos muita velocidade e capacidade de pressão. O relaxamento do Benfica foi talvez até demasiado excessivo, o que chegou a provocar algumas manifestações de descontentamento por parte do público, devido a alguma displicência da parte dos nossos jogadores. A começar logo pelo Trubin, que nos minutos iniciais, depois de receber um atraso um pouco mais apertado do Otamendi, em vez de optar pela solução simples e despachar logo a bola tentou colocá-la e acabou por acertar num jogador do Vizela, com a bola a sobrar para o Essende no meio, que depois de uma primeira defesa do Trubin por instinto, à segunda e já pressionado pelo João Mário ainda conseguiu marcar. Fomos muito menos perigosos no segundo tempo e disso se aproveitou o Vizela para finalmente ter bola e, sem nada a perder, vir mais para a frente à procura de amenizar o resultado tão pesado. O Benfica também aproveitou (mais uma vez bem) para dar algum descanso ao João Neves, mas desta vez teve mesmo que entrar outro dos jogadores mais utilizados, o Aursnes, porque não havia outra opção disponível para o meio campo. Ocasião flagrante para o Vizela reduzir novamente num penálti infantil cometido pelo Morato que, lento de reflexos, quando tentou acertar na bola já só encontrou a canela do adversário, e o Trubin redimiu-se do erro no golo adversário defendendo o pontapé do Essende - boa estirada para a sua esquerda, já que o penálti não foi propriamente mal marcado. Ainda voltou a ter que se aplicar mais uma vez alguns minutos mais tarde com mais uma boa defesa no chão a um remate à queima-roupa do inevitável Essende, depois de uma atrapalhação e intervenção pouco decidida do Morato e do Otamendi. Como até ficaria mal depois daquela exibição na primeira parte o Benfica 'perder' a segunda parte, já mesmo a acabar o jogo o Marco Leonardo (que tinha entretanto entrado para o lugar do Tengstedt) fez o sexto golo, depois de uma corrida do Neres desde o meio campo até à área adversária, com dois ressaltos ganhos pelo meio.

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O homem do jogo é o David Neres, porque marcar dois golos e fazer duas assistências não é para todos. É para mim, a par do Rafa, o maior desequilibrador que temos no plantel e custa-me vê-lo tanto tempo no banco, em especial em jogos que temos dificuldades para marcar. O Rafa é obviamente outro destaque, e em apenas meio jogo. Não sei até onde o resultado poderia ter ido se ele tivesse continuado em campo, porque é difícil que ele jogue noutra velocidade que não aquela. Chegou ao décimo golo e à décima assistência na Liga, o que mostra bem a influência que tem. O Tengstedt também merece destaque, e só ficou a dever-se a si próprio um golo, que bem merecia (que pena que aquela finalização da calcanhar, a centro do Bah, tenha sido defendida pelo guarda-redes). No plantel, é para mim o avançado que melhor consegue fazer as movimentações típicas que o Gonçalo Ramos fazia a época passada, mas falta-lhe o instinto finalizador dele - um exemplo concreto é uma bola que o Rafa lhe coloca em frente à baliza e em que ele em vez de finalizar de primeira prefere controlar a bola e vir para a linha de fundo. Mas a equipa beneficia muito das suas movimentações e ele está sempre disponível para jogar para a equipa, como o comprovam as duas assistências que fez ontem. O Tiago Gouveia deu-nos a profundidade e agressividade que nos têm faltado do lado esquerdo em quase todos os jogos esta época, isto mesmo quando teve atrás de si o Morato, que sem grande surpresa foi a exibição menos conseguida da equipa do Benfica. Outros jogadores que me agradaram foram o inevitável dínamo João Neves, o Bah, muito agressivo na direita, e por último, porque é justo (ainda por cima porque o critico frequentemente) gostei mais de ver o João Mário no meio do que na esquerda. Até cheguei a vê-lo por diversas vezes a usar o corpo e a meter o pé para ganhar bolas.

 

Foi a melhor resposta que poderíamos ter dado depois da fraquíssima exibição contra o Toulouse. E, depois de mudarmos mais de meia equipa, é importante sabermos que temos diversas opções disponíveis no plantel que nos oferecem garantias de qualidade, não sendo necessário ficarmos amarrados sempre aos mesmos jogadores, sobretudo quando eles parecem não nos conseguir dar soluções em alguns jogos. A dinâmica apresentada neste jogo foi uma agradável recordação de alguns dos melhores momentos de futebol que vivemos a época passada, e é bom saber que isso ainda existe e é possível com este plantel. Agora veremos se daqui sairão algumas mudanças para o que resta da época ou se, como diz o ditado, uma andorinha não faz a primavera.

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publicado por D'Arcy às 10:11
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Sexta-feira, 16 de Fevereiro de 2024

Medíocre

Apesar da exibição a roçar o medíocre, que eu considero ter sido uma das piores que fizemos esta época, graças a dois penáltis marcados pelo Di María conseguimos vencer um Toulouse que mostrou ser uma equipa com muito pouca qualidade, e que em condições normais deveria ter saído da Luz já sem qualquer esperança de discutir esta eliminatória.

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Não são muitas as vezes em que saio da Luz insatisfeito depois de uma vitória, mas a qualidade do futebol que apresentámos esta noite levou-me ao limite. Entrámos em campo com o Carreras na lateral esquerda, mas como existe uma regra não escrita que esta época não podemos actuar com dois laterais de raiz, lá regressou o Aursnes à lateral direita. E o inefável João Mário manteve a sua posição habitual. O jogo do Benfica na primeira parte, perante um adversário cujo futebol se pode descrever numa única palavra - zero - pode ser descrito em três palavras: devagar, devagarinho, ou parado. Chega a ser exasperante. A sensação que dá é que simplesmente não existe um plano de jogo. A gente vai para ali trocar umas bolas e pronto, depois pode ser que o Di María ou o Rafa inventem qualquer coisa e apareça um golo. Agora um plano definido sobre como ir à procura desse golo? Prefiro mesmo pensar que não existe, porque se existe e é aquilo que vimos neste jogo, estamos tramados. Para quê rematar à baliza quando se pode optar por fazer três passes e tentar duas tabelinhas em frente da área ou dentro da mesma? E o constante afunilamento do nosso jogo ofensivo em nada ajuda. O Di María não ganha a linha, vem sempre para dentro, e do outro lado o João Mário faz o mesmo. Isto só facilita a vida a adversários que acumulam jogadores em frente à sua baliza. Poderia fazer algum sentido se os alas arrastassem com eles os laterais adversários, para permitir o ataque à linha de fundo por parte dos nossos laterais, mas conforme disse, parece que nem sequer podemos jogar com dois laterais de raiz (e na primeira parte, quando o Carreras tentava dar profundidade pela esquerda, foi sistematicamente ignorado). Nulo ao intervalo certíssimo, porque o único momento que quebrou a monotonia foi um remate do Rafa que levou a bola à barra. Tacticamente nada mudou na entrada para a segunda parte, obviamente, porque estávamos todos satisfeitos com aquilo que estávamos a ver. Apesar de um pouco mais de velocidade, o futebol continuava medonho e foi mesmo necessário fazer umas alterações à hora de jogo. Entraram o Bah e o Neres, e como já estou bem ciente da regra de não podermos jogar com dois laterais de raiz, não fiquei surpreendido com a saída do Carreras para que o Aursnes fosse fazer a sua posição. Saiu também o João Mário, o que terá surpreendido muita gente, já que foi nessa altura que repararam que ele ainda estava em campo e não tinha ficado no balneário ao intervalo.

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Entretanto, quatro minutos depois um defesa do Toulouse cometeu um penálti absurdo (a emular perfeitamente a técnica do Tonel há uns anos) e o Di María converteu para nos colocar na frente, isto depois de quase cinco minutos, gastos entre a avaliação do VAR num lance mais do que evidente e o tempo para marcar efectivamente o penálti. Com uma tamanha vantagem no marcador, oportunidade para baixar ainda mais o já de si ritmo frenético e relaxar ainda mais, o que obviamente resultou imediatamente num golo sofrido apenas sete minutos depois, num lance que é uma verdadeira ode ao mau defender e à displicência. Com toda a gente parada e a marcar com os olhos, o Toulouse andou ali a trocar a bola nas imediações da nossa área durante um período relativamente prolongado, depois o cruzamento foi 'afastado' pelo Aursnes de forma a que a bola apenas subiu quase na vertical. Ainda e sempre com toda a gente a olhar (com especial destaque para o António Silva) como tudo o que sobe tem que cair, a bola caiu na área sem que ninguém a atacasse, sobrando para dois jogadores do Toulouse que, na sua tentativa de a jogar, acabaram por colocá-la no segundo poste onde um colega não teve grande dificuldade em antecipar-se ao Aursnes para rematar sem hipóteses para o Trubin. Foi uma brilhante demonstração de como uma equipa profissional não deve abordar um lance. Depois foi continuar a aturar o futebol medonho, com alguma vontade de jogar mais depressa mas sem grande capacidade para fazer muito mais do que após várias trocas de bola acabar por entregar a bola ao Di María e esperar que ele acabasse por tentar colocar a bola para a área. A substituição aos 87 minutos, em que trocámos de avançado, também já não é surpresa para ninguém porque já se tornou um hábito. Tal como não fazer todas as substituições, especialmente se não estivermos a ganhar. Se não formos a única equipa no mundo que por sistema não aproveita todas as substituições, devemos ser das poucas que o fazem. De qualquer forma o génio do nosso treinador revelou-se, porque o recém-entrado Marcos Leonardo sofreu um penálti ao quinto minuto de compensação, que o Di María converteu novamente para nos dar a vitória. Isto estava tudo pensado.

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Para destacar alguém só consigo mencionar o Di María, por ter marcado os dois penáltis. O João Neves lá andou a desgastar-se a correr quilómetros e a acudir a todos os fogos, e com isto começa a perder-se em alguns exageros também. É-me cada vez mais difícil estar a ver o desperdício que é o Kokçu naquelas funções, a persistência em nunca jogar com dois laterais, ou o fazer do Aursnes pau para toda a obra e andar a desgastá-lo em qualquer posição. Em Guimarães jogou a médio direito, médio esquerdo e lateral esquerdo, hoje jogou nas duas laterais, no próximo jogo quase de certeza que terá que jogar no meio porque o Kokçu e o Florentino estão suspensos. A versatilidade é louvável, mas isto não é bom para nenhum jogador. O António Silva nem estava a jogar mal, mas depois de já ter ficado mal na fotografia em Guimarães, hoje ficou ainda pior no golo dos franceses. É incompreensível como decide não atacar aquela bola de cabeça.

 

A eliminatória está ainda em aberto e face à diferença de qualidade entre as duas equipas o Benfica tem, pelo menos no papel, a obrigação de a passar. Mas terá que jogar bem mais do que isto se quiser evitar algum dissabor. Aquilo que vi hoje está abaixo dos mínimos exigíveis para um plantel com esta qualidade. Acho aliás que é preciso fazer um esforço especial para conseguir colocar estes jogadores a jogar um futebol tão pobre e sem imaginação.

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publicado por D'Arcy às 02:20
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