Sem sobressaltos, o Benfica quase que passeou e passou a eliminatória na Turquia, tendo ficado como único amargo de boca a sensação de termos desperdiçado uma boa oportunidade para vencer o jogo. No mínimo, porque na melhor das hipóteses, até teria dado para um resultado robusto.
O Benfica entrou em campo com onze jogadores... do Benfica. E escrevo isto porque à custa de tanto alarido sobre as nacionalidades do onze que iria alinhar, às tantas comecei a ficar com receio que o Benfica acabasse por entrar com menos do que onze jogadores, ou com algum jogador do Trabzonspor lá metido pelo meio. O Jorge Jesus optou por inovar um pouco em termos tácticos, colocando a equipa a jogar com apenas um avançado de raiz, num esquema que na época passada eu achei que tanto jeito nos daria em alguns jogos - mas para o qual não tínhamos jogadores no plantel. O Saviola foi o jogador mais avançado, com apoio directo do Aimar, e o Witsel entrou no onze para dar mais consistência ao meio campo. Natural também a presença do Nolito, no lugar do lesionado Pérez.
Se alguém esperava algum inferno em Istambul, então o que viu foi um inferno muito frio. O estádio estava muito longe de ter os tais cinquenta ou sessenta mil fervorosos adeptos turcos, e logo nos primeiros minutos o Benfica fez questão de arrefecer os ânimos aos que lá estavam e tranquilizar os benfiquistas, porque depressa se viu que seria muito difícil que deixássemos fugir o controlo do jogo. Começámos por pressionar muito alto - grande esforço do Aimar neste aspecto - raramente permitindo ao Trabzonspor jogadas organizadas e em posse de bola, porque o nosso meio campo reforçado ocupava os espaços e fazia as marcações quase na perfeição. E quando recuperávamos a bola, às vezes até parecia demasiado fácil a forma como conseguíamos abrir buracos na defesa turca. E o golo surgiu com toda a naturalidade, já depois de algumas ameaças, quando estavam decorridos vinte minutos. Num lançamento lateral o Saviola apareceu 'esquecido' na área, e depois passou a bola ao Nolito, que rematou entre dois defesas para o golo. Se dúvidas havia sobre quem passaria, terão terminado todas aqui. O Trabzonspor conseguiu empatar cerca de dez minutos depois, num lance em que explorou um buraco deixado pelo Maxi na direita da defesa, mas foi um lance perfeitamente fortuito e contra a corrente do jogo - foi o único remate que os turcos fizeram à baliza em noventa minutos de jogo, durante os quais o Artur foi pouco mais do que um mero espectador. O Benfica não acusou o golo e continuou com o controlo do jogo, só não chegando ao intervalo em vantagem porque o Gaitán, numa noite muito displicente, conseguiu não acertar com a baliza quando tinha tudo para marcar.
A segunda parte começou com o Benfica a mostrar que nada iria mudar: logo no primeiro minuto o Nolito perdeu mais uma oportunidade soberana para marcar, num lance precedido de penálti sobre o Saviola. Antes de terminado o primeiro quarto de hora, o cenário ficou ainda mais negro para os turcos, que se viram reduzidos a dez após expulsão do Mierzejewsky por cotovelada na cara do Maxi (o maior especialista no uso dos cotovelos, o número dezassete Burak, conseguiu no entanto aguentar-se em campo os noventa minutos sem ver um amarelo sequer). E a partir daqui só foi aumentando a minha irritação por não marcarmos pelo menos mais um golo, que nos daria a vitória no jogo. Oportunidades para isso não faltaram, mesmo com o Benfica a jogar quase em ritmo de treino (e o Gaitán a jogar quase como se estivesse numa peladinha entre amigos). A mais flagrante de todas surgiu a dez minutos do final, com o Witsel a conseguir acertar na trave (o que era mais difícil do que marcar) depois de se ver cara a cara com o guarda-redes após uma boa iniciativa do Matic. Mas a verdade é que, depois da expulsão, a sensação com que fiquei é que bastaria o Benfica forçar um bocadinho para desbaratar completamente aquela defesa.
O jogador de que mais gostei foi o Witsel. É tacticamente muito certo, insistente na luta pela posse de bola, e sobretudo não inventa: faz aquilo que deve ser feito, na altura certa, e de forma simples. Merecia claramente que aquela bola que terminou na barra tivesse entrado na baliza. Gostei também do Nolito, em especial na primeira parte, porque à medida que o jogo caminhou para o final pareceu-me que foi perdendo o fôlego. Mas foi sempre um dos mais perigosos, e é outro jogador que ajuda muito a começar a pressão logo à saída da área adversária. Gostei também do Aimar, sobretudo pelo muito que trabalhou, e o Matic teve um entrada boa no jogo. O único jogador que me conseguiu irritar foi o Gaitán, simplesmente porque chegou a um ponto em que quase me pareceu estar a ser displicente na forma como jogava. Se não tentasse obter nota artística em alguns lances, o mais provável era que tivesse acabado o jogo com um (ou mais) golos marcados. Gostaria que ele tivesse tido uma atitude mais competitiva, e que tivesse levado o jogo mais a sério.
A obrigação de deixar os turcos pelo caminho foi cumprida, e esperemos agora para ver o que é que a sorte nos reserva para o play-off. A minha preferência é quase sempre a mesma para sorteios de competições europeias: equipas italianas não, por favor. Por isso, desejo qualquer equipa menos a Udinese.
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