A situação actual do futebol do Benfica é a seguinte: dezasseis jogos oficiais disputados, nenhuma derrota, liderança repartida da Liga, qualificação tranquila para a fase de grupos da Champions League, onde vai ocupando a liderança isolada do seu grupo, e presente na Taça de Portugal, tendo mesmo agora o sorteio ditado a Naval como adversário na quarta eliminatória. A equipa vai ganhando jogos com naturalidade, conseguindo até algo raro no Benfica - resultados positivos mesmo quando nem joga muito bem - e é perfeitamente capaz de arrancar uma exibição mais conseguida quando tal é necessário. Basicamente, o Benfica este ano parece quase sempre conseguir jogar q.b. para arrancar o resultado necessário ou desejado. Este cenário acaba por ser um tanto ou quanto aborrecido (e até, se calhar, surpreendente, tendo em conta a muita berraria a que uns poucos se dedicaram durante a pré-época), porque é preciso algo com que implicar, já passou muito tempo desde o empate com o Gil Vicente, e já cansa estar sempre a embirrar com o Jesus só por causa do penteado ou das declarações que faz. É preciso algo mais substancial.
Nada melhor, portanto, do que recuperar o assunto Capdevila. O Capdevila é apenas mais um na longa linha de jogadores que, por não serem opção regular para o Jorge Jesus, são considerados jogadores fabulosos, que nos permitiriam ganhar todos os jogos por pelo menos seis a zero com a sua simples presença em campo. O Urretamessivizcaya, o Shaffer ou o Nuno Gomes são mais alguns exemplos desta classe de jogador. Na situação actual, basta que o Emerson faça uma asneira qualquer para que se volte a falar do Capdevila. Acho que, no fundo, é o treinador de bancada que existe em cada um de nós, e que no íntimo acha que até era capaz de fazer algumas coisas melhor do que o Jesus. O Capdevila até é um argumento de peso: afinal, trata-se de um jogador campeão europeu e mundial pela sua selecção. Pessoalmente, no entanto, isso não me convence muito sobre uma superior valia dele em relação ao Emerson. A selecção espanhola foi campeã europeia e mundial e o Capdevila, fazendo parte dessa equipa, ganhou esses títulos. Mas honestamente, não me parece que tenha grande concorrência pelo lugar na selecção (alguém consegue nomear um actual defesa esquerdo espanhol de nível?), e isso em parte explicará o facto de, aos 33 anos, continuar a ser opção do seleccionador. Os principais clubes espanhóis têm estrangeiros no lugar de lateral esquerdo, e o próprio Capdevila fez toda a sua carreira em clubes de segunda linha (Deportivo e Villarreal, depois de uma passagem fugaz pelo Atletico), o que explica que tenha pouquíssimos títulos conquistados em clubes (uma Taça e duas Supertaças, se não estou em erro). Nas (poucas) oportunidades que teve esta época, não mostrou mais do que aquilo que o Emerson tem feito - e quem estiver familiarizado com os jogos da selecção espanhola, sabe perfeitamente o tipo de jogador que é: um defesa certinho, pouco dado a exuberâncias. Para mim, campeão do mundo ou não, o Capdevila é apenas mais uma opção no nosso plantel, e considero que o treinador tem toda a legitimidade para escolhê-lo ou não para titular.
Eu não acho que o Jorge Jesus esteja sempre certo. Comete erros, como toda a gente, e muitos deles por teimosia ou casmurrice. Acho mesmo que no caso do Capdevila cometeu um erro crasso ao não o inscrever na Champions, e a desculpa que deu para não o ter feito foi perfeitamente esfarrapada. Ao contrário do que ele afirmou, o Jardel não pode fazer mais nenhuma posição a não ser a de defesa central (aliás, tremo só de imaginá-lo a fazer qualquer outra posição), e para aí poderíamos ter o Miguel Vítor e, em caso de muita necessidade, o Javi García. Não faz muito sentido deixarmos a posição de lateral esquerdo entregue a um único jogador, tendo como opção de emergência um outro que ainda não fez um único jogo sénior na sua carreira. Mas apesar de não concordar sempre com ele, sou um apoiante entusiástico do Jorge Jesus. Porque o que eu quero, acima de tudo, é que o Benfica ganhe, seja com o Emerson ou o Capdevila em campo. E a verdade é que, com o Jesus, o Benfica ganha muitas vezes, surpreendendo-me por vezes a memória curta que muitos benfiquistas têm em relação a isto. Parece-me que no caso de um treinador cuja percentagem de vitórias no Benfica é apenas superada pelo inigualável Jimmy Hagan, os resultados falam por si.
Eloquentemente, diga-se.
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