No final do jogo, quando saía do estádio, passei por duas velhotas que, equipadas a rigor com uma camisola do Benfica (uma com o número dez do Rui Costa nas costas, a outra com o número vinte e um do Nuno Gomes), tinham a seguinte conversa:
- Finalmente lá marcou um!
- Agora ninguém o pára!
Isto reflecte a confiança que nas últimas semanas se instalou entre os benfiquistas, jogadores e adeptos por igual. Se até estas senhoras de provecta idade, que concerteza já terão visto muitos jogos do nosso Benfica ao longo dos anos e como tal já deverão estar endurecidas pela carapaça de cinismo que inevitavelmente o passar dos anos fornece, neste momento acreditam que o Nuno Gomes se vai tornar num goleador letal, imparável terror das áreas adversárias, então acho que mais explicações são desnecessárias. A confiança é tanta que até o meu amigo Gwaihir arriscou desafiar a superstição, e ao intervalo desceu os degraus da bancada Sapo para vir conversar comigo - e ele tinha prometido que nunca mais voltava a fazer isto, porque das outras vezes deu sempre mau resultado (ou hoje sentias-te mais confiante porque deixaste o cachecol no canto superior esquerdo (como quem entra) da mesa da sala, dobrado em três (com o emblema para cima) e virado para a televisão?)
O Camacho cumpriu o que tinha anunciado, e deixou mesmo o Cardozo a descansar no banco. Para o seu lugar entrou no onze o Cristian Rodríguez, que se foi encostar à esquerda, passando o Di María para as costas do ponta-de-lança, Nuno Gomes (embora trocando frequentemente de posição com o Rodríguez). Na defesa houve outra alteração, com a estreia do Edcarlos no lugar do Miguel Vítor. O nosso treinador tem reclamado frequentemente das más primeiras partes do Benfica, e a verdade é que esta noite entrámos mal no jogo. Ou melhor, poder-se-á dizer que foi a Naval quem entrou bem, porque eles conseguiram manter sempre a equipa bem organizada, pressionavam os nossos jogadores logo à entrada do seu meio-campo, e assim mantinham-nos longe da sua baliza, conseguindo também uma boa dose de posse de bola. Mas os planos deles começaram a ir por água abaixo pouco depois dos vinte minutos, porque no primeiro remate digno desse nome que o Benfica fez, marcou. Foi um bom remate de longe do Rodríguez, que não deu hipóteses ao guarda-redes adversário. Este golo alterou completamente o jogo que tínhamos visto até então. A Naval desorganizou-se, e o Benfica começou a atacar mais e melhor. Não supreendeu por isso o segundo golo, que terá sido o momento alto da noite. Passe do Rui Costa para o Luís Filipe na direita, e cruzamento rasteiro deste para o mesmo Rui Costa aparecer na área a finalizar, controlando a bola com o pé direito, rodopiando sobre si mesmo, e finalizado com o pé esquerdo. São pormenores daqueles que mostram a classe de um jogador como o Rui Costa. É um privilégio para nós, benfiquistas, podermos ir à Luz de quinze em quinze dias e ver toda a inteligência e classe do nosso Rui ao vivo.
Com uma vantagem de dois golos ao intervalo (que até poderia ter sido dilatada antes do final da primeira parte), seria de esperar que o Benfica se poupasse um pouco, mas a verdade é que entrámos à procura de mais um golo. Isto é algo que a equipa agora parece fazer com naturalidade, ou seja, mesmo em vantagem não adormece sobre a mesma, e em vez de recuar continua a manter o ritmo de jogo e a procurar marcar. Além disso, nota-se que a simples forma como os jogadores ocupam os espaços em campo torna as coisas mais fáceis. Os adversários têm dificuldade em encontrar zonas do terreno em que não estejam jogadores do Benfica a estorvá-los, e quando recuperamos a bola normalmente há sempre pelo menos outro jogador por perto a quem a passar.
Não foi preciso esperar muito pelo terceiro golo. Mais um passe inventado pelo Rui Costa a descobrir o Rodríguez na ponta esquerda, e o uruguaio a centrar para um cabeceamento muito colocado do Nuno Gomes para junto do poste, a assinar o terceiro da noite. Sim, não é gralha. O Nuno Gomes marcou mesmo um golo, e um bonito golo por sinal. Ainda tive que esfregar os olhos para me convencer que a bola tinha mesmo entrado. À minha volta viam-se bocas abertas de pasmo e, de relance, pareceu-me ver passar nos céus sobre a Luz um porco a voar. Brincadeiras à parte, fiquei contente com este golo. O Nuno já não marcava há algum tempo, e os avançados precisam de golos para ganharem confiança. Apesar das vozes críticas, eu continuo a achar que o Nuno Gomes é um jogador que em forma faz falta ao Benfica, e temos todo o interesse em tê-lo motivado.
O jogo continuou mais ou menos na mesma toada, até ao momento negro da noite, que foi a lesão do Petit. Ainda por cima aconteceu numa altura em que o mais provável era que fosse substituído, já que o Romeu Ribeiro já estava pronto para entrar. Resta saber qual é a gravidade da lesão, mas parece que tem pelo menos para três jogos, todos eles importantes: Milan, Braga, e Clube do Lumiar. É uma grande perda, porque o Petit está num grande momento de forma, e hoje mais uma vez estava a demonstrá-lo em campo. Depois deste momento, aí sim, o Benfica abrandou, e nos minutos finais foi altura para o Quim brilhar, e demonstrar que a titularidade que mantém não é por acaso. Se a Naval não conseguiu o golo de honra (e diga-se sinceramente que fez por merecê-lo), foi por causa do Quim, porque aqueles minutos foram de pressão total à nossa baliza. Mas até nisto dá para ver que estamos em estado de graça, pois a bola não entrou mesmo - quando o Quim não estava lá, estava a barra da baliza.
Bons jogos do Léo (para não variar), Katsouranis, Petit, Rui Costa e Rodríguez. Este último estreou-se a titular, e fê-lo com um golo e uma assistência. Mas para além disso mostrou uma combatividade enorme, recuando e ajudando na defesa, o que resultou na recuperação de diversas bolas. Podia tentar escrever sobre o Rui Costa, mas não tenho muitas palavras para o conseguir fazer. Para além disso, falta-me objectividade para fazê-lo, tal é a admiração que tenho por ele e o prazer que me dá vê-lo com a nossa camisola em campo. Volto a dizê-lo: é um privilégio. Em relação ao estreante Edcarlos, a verdade é que não me impressionou muito. Mostrou velocidade, mas não gostei muito da forma como se posicionou e movimentou em campo em diversas ocasiões. Pareceu mostrar alguma (natural) falta de confiança, resguardando-se e evitando 'comprometer-se' em lances mais complicados. Na fase final já pareceu mais solto, mas ainda é muito cedo para tirar grandes conclusões. A título de comparação, o David Luíz ou o Miguel Vítor deixaram-me melhor impressão logo na estreia.
Enfim, conforme prometido pelo treinador a equipa não se poupou para Milão, e encarou o jogo conforme devia. O resultado é a segunda vitória consecutiva por três golos, e a confiança a subir. Até eu já começo a pensar que o Nuno Gomes está mesmo imparável.
P.S.- E mais uma vez, a 'nossa' Vanessa Fernandes está de parabéns, já que voltou a arrasar a concorrência em Pequim, em mais uma prova da Taça do Mundo.
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