VAMOS ACABAR COM AS IMBECILIDADES
Quinta-feira, 6 de Março de 2008

Infelicidade

Estou obviamente desiludido com a derrota, ainda para mais frente a uma equipa como o Getafe, que mostrou não ser propriamente um portento. Mas não consigo ficar furioso com a equipa, que acabou por tentar lutar como pôde contra várias adversidades: começar o jogo com praticamente meia equipa indísponível, ficar reduzida a dez quando ainda não eram decorridos dez minutos, sofrer um golo de ressalto, e ver ainda o Luisão sair lesionado. Muita infelicidade junta, a que se juntaram erros por culpa própria, e que ajudam a explicar o resultado negativo.

O Benfica, fiel ao 4-2-3-1 de Camacho, começou o jogo com o Sepsi no lado esquerdo, cabendo ao Rodríguez e ao Di María, alternadamente, apoiar o avançado. Ainda mal tinha dado para ver qual seria a tendência do jogo quando o Cardozo, numa atitude estúpida, conseguiu ser expulso antes da passagem dos dez minutos. O lance era inofensivo, já que a bola se encaminhava para o guarda-redes, pelo que não percebo o motivo pelo qual, na tentativa de ir pressioná-lo, o Cardozo utilizou os cotovelos para se libertar do defesa adversário. Foi expulso, e esta expulsão foi um choque muito grande para a nossa equipa. Mas parece-me que as repercussões tácticas desta expulsão acabaram por ser ainda mais nefastas para o Benfica do que a inferioridade numérica. Não sei se isto foi reflexo de apenas ter o Mantorras no banco como opção atacante, e de o angolano eventualmente não ter condições de aguentar um jogo quase inteiro, mas a verdade é que, surpreendentemente (para mim), após perder o único avançado que tinha em campo, o Camacho não optou por fazer imediatamente entrar um novo avançado. Para mim a solução mais lógica seria fazer isto, reorganizando a equipa em 4-4-1.

Em vez disso a opção passou por jogar com o Rodríguez e o Di María soltos na frente, a fazer as vezes de avançados, jogando-se numa espécie de 4-3-2. Só que nenhum dos dois sul-americanos é avançado, de forma que continuaram a ter tendência para se colarem às linhas, jogando numa posição que não era carne nem peixe: nem actuavam como avançados, nem ajudavam nas tarefas defensivas do meio-campo, sendo que muitas vezes iam até à linha e depois quando se olhava para a área não havia lá ninguém, já que o trio do meio campo não aparecia na área a tempo, pois não são jogadores que primem propriamente pela velocidade ou mesmo mobilidade. Ao suposto 4-3-2 acrescento um zero: 4-3-2-0, já que não havia mesmo ninguém na zona final do campo para receber a bola. Para além disso, quando se joga em inferioridade numérica, o mais importante é mesmo conseguir manter a equipa num bloco sólido, com os jogadores próximos uns dos outros, de forma a que as compensações possam ser feitas eficazmente. Para todos os efeitos,
o Di María e o Rodríguez acabaram por ficar um pouco à parte do jogo, quase sempre meio perdidos em termos de posicionamento. O resultado foi uma superioridade quase avassaladora na zona do meio-campo, que o Getafe explorou inteligentemente, fazendo a bola circular entre os seus jogadores e trocando-a sempre que possível ao primeiro toque e em triangulações. Não compreendi mesmo a atitude do Camacho ao deixar a equipa sem um avançado durante tantos minutos, ainda para mais vendo o que se estava a passar em campo. O golo do Getafe acabou assim por chegar aos 25 minutos, sem grande surpresa, isto apesar de ter surgido até numa fase em que o Benfica parecia melhor. Acabou por ser um golo feliz, já que a bola tabela no Edcarlos e passa por cima do Quim, mas tendo em conta a facilidade com que eles conseguiam sempre encontrar um jogador solto nas imediações da nossa área, mais cedo ou mais tarde o golo acabaria por acontecer. Depois disto os espanhóis, como que deslumbrados com o que se estava a passar, optaram por um futebol de contenção, sem arriscarem muito no ataque, tendo segurado a vantagem mínima até ao intervalo sem grande dificuldade.

Na segunda parte os nossos jogadores resolveram fazer das tripas coração, e tentaram ir para cima dos espanhóis. Mas estes foram quase sempre muito inteligentes na gestão do jogo, e em contra-ataques bem desenhados iam sempre ameaçando chegar ao segundo golo, que apareceu mesmo, já numa altura em que o Mantorras estava finalmente em campo, e através de um remate cruzado relativamente frouxo, mas bem colocado. Logo na resposta, o Edcarlos falha um golo incrível de baliza aberta, enviando a bola à trave (acho que deve ter chutado com a canela). E a treze minutos do final, o Mantorras optou pela simplicidade de processos, recebendo a bola ainda longe da área e optando pelo remate, que resultou em golo, aparentemente com algumas culpas para o guarda-redes adversário, já que a bola entra a meio da baliza. O grande mérito do Mantorras foi mesmo ter rematado, já que por diversas vezes os nossos jogadores poderiam tê-lo feito nas imediações da área, mas optavam sempre por mais um passe, mais uma lateralização, e o lance perdia-se. A partir daqui, e da parte do Benfica, o jogo foi uma autêntica pelada. Muitos dos jogadores, já sem pernas para correrem mais, subiam para o ataque e depois já não recuavam quando a bola era perdida (Rui Costa e Léo os casos mais flagrantes). Felizmente para nós o Getafe não soube aproveitar os enormes espaços deixados na nossa defesa, já que se atemorizou um pouco com o empolgamento do Benfica resultante do golo, e optou por encolher-se no seu meio-campo, segurando uma vantagem preciosa.

Os melhores no Benfica: Rui Costa e Léo, que apesar de serem os mais velhos em campo foram quem mais correu. Chegou a ser impressionante ver o esforço do Rui Costa em tarefas defensivas. Claro que isto teve um preço, e nos minutos finais eles já não recuperavam defensivamente, sendo nessa altura o Edcarlos mais defesa esquerdo do que central. Bom jogo também do Zoro, entrado a substituir o Luisão: teve vários cortes providenciais, muitos deles em antecipação, e esteve em geral seguro. Não é um portento técnico, como já sabemos, e alguns dos cortes foram mesmo para onde estava virado, mas o que interessa é que foi eficaz. Quanto ao pior, Cardozo, claro. As explicações são desnecessárias.

Agora a receita é simples: é irmos ganhar a Espanha por dois a zero. Mesmo sem o Cardozo, não me custa acreditar que isso é possível. Difícil, claro, mas ao nosso alcance.
publicado por D'Arcy às 23:52
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39 comentários:
De LMB a 7 de Março de 2008
D´Arcy estou desiludido contigo.

O ZORO merece ser referenciado. Grande grande jogo.....!

Destaco o ZORO porque ele não tem sido feliz.
De D'Arcy a 7 de Março de 2008
E o Zoro não é referenciado?
De Anónimo a 7 de Março de 2008
"E se as coisas por acaso correrem mal, não há cá azares"
Não, são infelicidades. Hilariante o facto de até teres mudado a palavra para tentar parecer que não te estavas a contradizer. Muito bom, a sério, continua.
De LMB a 7 de Março de 2008
Reparei agora que falaste nele. Mal de ler na diagonal.

De D'Arcy a 7 de Março de 2008
Sim anónimo, até parece que eu justifico a derrota com todos esses azares. E até parece que essa afirmação em que pegas nem foi escrita em tom sarcástico, aplicada aos jornaleiros e comentadeiros que analisam os jogos do Benfica. Muito boa, a tua iliteracia. Continua.
De ramalhofnm a 7 de Março de 2008
Nas boas exibições falta aí o spesi que fez um bom jogo, fartou-se de correr e lutar. e nas más falta o katso que fez um jogo miserável.

quanto ao lance do cardozo, ja comentei no post anterior acho que foi exagero do arbitro (deve ter visto o jogo do fim de semana (não, não estou a gozar) e acha que o cardozo é um assassino).

de assinalar que o rodriguez voltou a jogar e a correr, coisa que já não se via á meses, e o di maria a dar o litro também coisa que ainda não se tinha visto.

Acho incrível o camacho ter posto o luisão de inicio (isto disse-o antes do jogo começar), um jogador que teve parado e ainda não está totalmente recuperado não pode ser assim lançado aos "leões" , já deu mau resultado com o petit, mas o camacho não aprende.

Quanto á opção de jogar sem ponta de lança durante a maior parte do tempo entendo e acho correcta, ele tentou tirar partido da mobilidade dos jogadores e da tentativa de jogar em contra ataque, e o mantorras não pode jogar tanto tempo.

se a equipa jogar como jogou na segunda parte temos hipóteses de ganhar, mas não se iludam o Getafe é uma equipa de contra-ataque e para a semana em casa vão se sentir como peixe na agua a jogar em casa e em contra-ataque.
De Yur@n a 7 de Março de 2008
Hoje foi uma noite de azar, forma penso que ficou claro que o Getafe está perfeitamente ao nosso alcance, e nesta perspectiva estou confiante de que se não tivermos mais surpresas desagradáveis, podemos seguir em frente.
Só uma pequena nota em relação à expulsão do Cardozo, fui uma atitude absolutamente estupida, infantil e claro desnecessária, mas a expulsão é também uma sanção exagerada, o lance nem sequer é violento, foi uma precipitação do arbitro talvez envenenado pelas imagens do jogo com o sporting, que de certeza viu, e pelas multiplas repetições da cotovelada do Cardozo. De qualquer forma espero que o facto de o Getafe ser o unico representante espanhol na EUFA não tenha pesado na decisão, não teve o mesmo rigor perante a entrada por traz ao Rui Costa a qual foi punida apenas com amarelo. De qualquer forma também o Getafe ficou privado de 2 jogadores para o próximo jogo.
Para além do já habitual Rui Costa, gostava também de destacar as exibições do Zoro, Nelson, Rodrigues, Di Maria e o Sepsi que me tem vindo a surpreender pela positiva - o tal desconhecido para o Camacho. Depois temos o caso especial, talvez talismã, chamado Mantorras, a verdade é que por norma quando entra em campo consegue normalmente mudar o rumo dos acontecimentos, e isso mais uma vez aconteceu, e só não foi melhor porque depois do golo começou um chuveirinho da defesa para o ataque, e que só ajudou o Getafe, é claro que também o nosso meio campo nessa altura já não tinha pernas para mais. Aquilo que ainda não consegui entender é qual é a situação concreta do Mantorras, será que a lesão que teve não lhe permite jogar mais do que o habituais 10-15 minutos? ou é apena uma questão de falta de confiança do treinador?
Apesar de todos os azares deste jogo, este foi um dos que mais gostei de ver esta época, mais ainda o publico foi fantástico tendo a momentos ajudado a equipa a ultapassar a ausência de 1 jogador.
De Immortal a 7 de Março de 2008
Eu penso que temos que começar é a acabar com "tantas infelicidades ". Todos nós sabemos que o futebol contém um misto de sorte e azar, e que por vezes acontecem certas contrariedades ao longo de um jogo, mas muitas vezes estas questões são ultrapassadas com organização, disciplina e sentido de jogo. E mais uma vez isso não ficou patente no nosso jogo. Nada tenho a dizer quanto à capacidade de luta e de empenho, mas houve pouco futebol e objectividade . Continuamos a jogar pouco, sem grande ligação e hoje mesmo jogando com 10 (que pode explicar algumas coisas, mas não tudo) não criamos praticamente oportunidades de golo. É certo que ficar reduzidos a 10 foi um rude golpe para nós, que tacticamente a equipa ficou perdida, mas supostamente são para isso que servem os treinos. Para treinar e atenuar as tais condicionantes, de modo a que quando uma equipa fique sem um jogador ou que por exemplo perca uma peça importante do seu xadrez, que a equipa naturalmente tenha capacidade de resposta e que crie um plano B , C, ou o que lhe quiserem chamar. Neste momento não temos essa capacidade de resposta, nem mesmo quando temos 11 elementos em campo, quanto mais com 10!! Outras equipas, com outros treinadores mostraram que é possível ganhar mesmo jogando com 10 elementos, praticando um futebol eficaz e objectivo, mas isso não foi visível hoje.

Como anteriormente disse raça, querer e vontade sempre tivemos esta época . Foi assim que marcamos alguns golos nos últimos minutos. Vontade nunca faltou!!

Agora falta é cabeça, qualidade, engenho, cultura táctica , sabedoria, organização. Se existissem todas estas condicionantes, a equipa era mais adulta dentro do campo, com cada jogador a saber quais os terrenos que devia pisar e o que fazer enquanto organização da equipa. Existem poucos automatismos e isso é visível , o que nos leva por vezes a cometer erros que nem nos juniores se vê!!
De Anónimo a 7 de Março de 2008
Mas que ponta-de-lança é que queriam que o Camacho pusesse quando saiu o Cardozo? Eu só vi o Mantorras no banco, e acho que já toda a gente percebeu que o homem nem 45m dura.

O Camacho pôs o Mantorras no momento certo. Eu acho é que ele devia ter trocado o Katsouranis (que jogo horrível!) pelo Nuno Assis, por volta dos 75m. É que nessa altura já havia muitos jogadores espanhóis mal fisicamente, e o Assis podia ter mexido um pouco mais com o meio-campo. Mas o Camachito não quis arriscar.Aguardemos pela 2ª mão.
De Paulo a 7 de Março de 2008
D'Arcy, só não concordo quando referes que o Rui Costa e o Léo foram os melhores em campo. Claro que se evidenciaram pela sua classe e querer mudar o rumo das coisas, mas para mim o destaque da partida vai todo para Sepsi e Rodríguez, que correram o campo todo e apareciam a lutar em todo o lugar que a bola estivesse. Soberbo!
Tomara eu que a entrega e especialmente a entreajuda entre os nossos jogadores fosse em todos os jogos assim...

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