Debaixo de uma chuva que parece não querer parar, e num campo que tornou impossível jogar futebol com qualidade, o Benfica conquistou esta noite uma vitória difícil frente ao Rio Ave, mas inteiramente justa, sobretudo pelo muito que os nossos jogadores lutaram para a conseguir.
Sem Katsouranis, Miguel Vítor e Suazo, avançaram para os seus lugares Carlos Martins, Sídnei e Cardozo. Dado o estado quase impraticável do relvado, que certamente não favoreceria o seu jogo, o nosso treinador optou também por colocar o Nuno Gomes no lugar do Aimar, jogando assim num esquema mais próximo do 4-4-2. Logo de início adivinhava-se que não seria um jogo fácil. Não tanto pelo nome do Adversário, que neste momento ocupa o fundo da tabela, mas sim pelas condições do tempo, que tornaram o relvado da Luz quase numa piscina (nunca tinha visto o nosso relvado com tanta água). Por isso futebol bonito, trocas de bola, ou mesmo tentativas de correr com a bola controlada, nem pensar. Alguns dos nossos jogadores perceberam logo isso, outros demoraram mais tempo a percebê-lo, e alguns até pareceram nunca o terem compreendido até ao final do jogo. Apesar do natural ascendente no jogo, grande parte da primeira parte foi passada sem que conseguíssemos criar lances de grande perigo, o que ia servindo na perfeição os interesses do Rio Ave. Depositava alguma esperança num livre do Cardozo, mas quando isso aconteceu o Carlos Martins (parece ter herdado do Petit o cargo de querer marcar todos os livres, independentemente de haver situações em que se pediria outro marcador) encarregou-se de marcar e chutar por cima. Só nos minutos finais é que o Benfica conseguiu finalmente estar próximo de marcar. Primeiro foi o Cardozo que trabalhou bem, aproveitando um remate falhado do Carlos Martins, virando-se e rematando ao poste, para depois o Di María fazer uma recarga completamente disparatada. Depois foi o mesmo Cardozo a cruzar para o Nuno Gomes, mas este não conseguiu acertar na bola. Finalmente foi o Carlos Martins, num livre, a proporcionar uma grande defesa ao guarda-redes do Rio Ave. Não foi muito, mas foi o suficiente para, tivessemos tido um bocadinho mais de sorte, chegarmos ao intervalo em vantagem. Parece que o jogo com o Braga foi a excepção nesta maldição que temos esta época de chegar em branco ao intervalo.
A segunda parte trouxe um Benfica a conseguir empurrar mais o Rio Ave para junto da sua área. As oportunidades de golo eram poucas, e difíceis de criar, mas os nossos jogadores, louve-se-lhes a atitude, nunca baixaram os braços. Mais uma vez pelo Cardozo, estivemos perto de marcar. Primeiro num cabeceamento que acabou por ir ter com o guarda-redes, e depois mais um cabeceamento, com a bola a bater mais uma vez no poste. Considerando o jogo que víamos, com as dificuldades acrescidas do estado do terreno, e consequente escassez de oportunidades, as duas bolas no poste já me faziam temer o pior e pensar que esta não seria uma noite feliz. Quando o Quique, a vinte e três minutos do fim, lança o Mantorras para o jogo, deu-me uma certa sensação de déjà vu Trapattoniano. E da segunda vez que ele tocou na bola, marcou. Aproveitando uma bola ganha de cabeça pelo Cardozo, esperou que ela caísse para depois rematar cruzado para a baliza. É isto o Mantorras. Não tem explicação, tal como eexplicação não tem o facto de eu celebrar ainda mais o golo, primeiro porque foi golo do Benfica, e depois porque foi também golo do Mantorras (para além disso eu andava a dizer desde o início do jogo que iríamos ganhar com um golo dele). Estava convencido que este jogo seria decidido assim, com um golo só, mas isso não me impediu de ficar nervoso até ao final (não percebo porque razão fico mais nervoso quando o Benfica está a ganhar por um do que quando está empatado). Mas até final, só dois lances dignos de registo: um do Luisão, que se isolou pela esquerda após um ressalto e viu o seu remate defendido pelo guarda-redes, e o outro em que o mesmo Luisão cometeu a única falha em todo o encontro, deixando a bola passar entre as pernas e permitindo a primeira grande oportunidade de golo ao Rio Ave, que felizmente se saldou por um remate ao lado.
Falando dos melhores do Benfica, tenho que começar pelo Cardozo. Lutou muito, ganhou diversas bolas aos centrais adversários, pelo ar e pelo chão, e criou quase todas as situações de perigo do Benfica. Acertou duas vezes no poste, para pena minha, porque se alguém merecia o golo era ele. A defesa toda esteve bem, mas destaco mais um enorme jogo do Maxi Pereira. O patinho feio do ano passado está feito um senhor lateral, que faz todo o flanco direito (exactamente aquilo que ele sempre fez no Uruguai, antes de vir para o Benfica jogar a médio ala) com um ritmo quase inalterável do primeiro ao último minuto. Do outro lado, também o David Luiz esteve bem, apesar de ter demorado algum tempo até perceber que jogar a bola junto ao relvado não era uma opção. Esteve insuperável pelo ar, conseguindo ainda subir algumas vezes pelo seu lado. Depois, tenho sempre que falar no Mantorras. O Mantorras não tem explicação. Confesso que mais de uma vez já pensei que é um tanto ou quanto exagerada a festa que fazemos de cada vez que ele entra. Mas depois, na hora de aperto, ele entra e eu aplaudo também. Porque, de alguma forma, o Mantorras consegue trazer com ele uma esperança que por vezes parece estar completamente perdida. Ele entra e nós pensamos que é possível que as coisas mudem. A empatia que existe entre ele e os adeptos é muito difícil de explicar. Julgo que não haverá mais nenhum jogador no nosso plantel cuja felicidade nós desejemos tanto. A verdade é que ele, nos poucos minutos que vai jogando, consegue quase sempre aparecer no sítio certo para causar perigo. Ou então é a bola que parece querer ir ter com ele. Seja como for, hoje ele entrou e decidiu. Que ele possa voltar a ser pelo menos o talismã que foi na época do último título. Passando aos piores, até me custa mencionar alguém, porque pelo menos no aspecto da entrega ao jogo toda a equipa esteve bem. Mas o Yebda pareceu não ter capacidade para raciocinar que, estando o relvado alagado, passes curtos rasteiros ou sair a jogar não eram uma opção. Continuou a insistir nisto durante todo o jogo, e assim perdemos uma infinidade de bolas no meio campo. Depois há o Carlos Martins. Que é o Carlos Martins, e por aqui me fico.
Mesmo sendo um jogo contra o último classificado, foi uma vitória muito importante, especialmente pelas condições em que foi conquistada. Perder pontos antes da visita ao Porto poderia ser um rude golpe. Foi preciso um 'milagre' do Mantorras para que isso não acontecesse, mas a justiça do resultado é incontestável. E a atitude demonstrada, aliás, a exemplo do que tem acontecido nos últimos jogos, dá-me muita confiança. Nestas primeiras jornadas da segunda volta, muito poderá decidir-se.
Fotos da autoria de Álvaro Isidoro
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