E a época acabou finalmente, com o resultado que todos esperávamos e desejávamos. Somos campeões, de forma merecida e indiscutível porque durante quase toda a época fomos a melhor equipa. Apresentámos o melhor futebol e acabámos com os melhores ataque e defesa. Mas apesar deste 38º título de campeão me estar a saber muito bem, confesso que ainda me sabe a pouco. Porque o futebol que mostrámos e a superioridade exibida durante tanto tempo não mereciam ter que esperar pelo último jogo da época pela consagração. Mas é este o futebol que temos e sabemos que há sempre uma equipa que mesmo que se apresente em prova com plantéis constituídos por jogadores de qualidade média, será sempre empurrada, suportada e mantida perto do topo até ao fim (enquanto tenta sempre convencer toda a gente que é prejudicada e que os outros é que são beneficiados, a estratégia já tem dezenas de anos e nunca muda).
Em relação ao jogo do título, contra o Santa Clara, praticamente não teve história. A superioridade do Benfica foi completa e nem deu para começar a ficar nervoso porque aos sete minutos já o Gonçalo Ramos tinha finalizado o cruzamento perfeito do Bah para nos colocar em vantagem. O Benfica nunca forçou muito, pareceu sempre uma equipa confiante e muito consciente de não ter qualquer necessidade de ficar demasiado exposta para ir à procura de um resultado mais desnivelado. E ao contrário daquilo que é mais habitual, fomos eficientes no ataque, marcando sempre que a oportunidade aparecia. Quando aos vinte e oito minutos o Rafa finalizou uma jogada de contra-ataque construída entre ele e o João Mário, julgo que já não restaria qualquer dúvida mesmo nos mais cautelosos de que o título não nos fugiria. Na segunda parte praticamente nem procurámos marcar mais golos e limitámo-nos a gerir o ritmo e o resultado, com um futebol pausado e a privilegiar a posse de bola. Ainda marcámos mais um golo a meia hora do final, num penálti indiscutível por mão na bola de um defesa. Uma parte do público não gostou da opção pelo Grimaldo para marcar o penálti porque preferiria que tivesse sido o Gonçalo Ramos, para eventualmente ainda entrar na luta pelo título de melhor marcador, mas depois do festival de penáltis do Taremi a semana passada essa questão já nem se colocava - tanto que o Gonçalo Ramos acabou por ser substituído pouco depois. Marcou o Grimaldo a jeito de despedida do clube. Tem todo o direito de ir para onde lhe pagam o dobro daquilo que auferiria no Benfica, mas não consigo deixar de sentir desagrado ao ver um jogador importante decidir trocar o Benfica por um clube de menor dimensão - e não será nada fácil substituí-lo. Com o terceiro golo o jogo efectivamente acabou, e foi só mesmo uma espera descansada até que soasse o apito que confirmaria o título - às vezes houve até excessiva calma da nossa parte, e o Vlachodimos ainda teve que se aplicar para evitar um golo de honra do Santa Clara. Última nota de destaque para a oportunidade dada ao Samuel Soares de se estrear e assim sagrar-se também campeão.
Não houve propriamente motivo para grandes destaques individuais. Registe-se a confirmação da importância do regresso do Bah à equipa pela profundidade que dá por aquele lado - a assistência para o golo inaugural é prova disso mesmo. Aquela que se poderá considerar a pior fase da equipa esta época coincidiu com a sua ausência, desde que o Uribe se encarregou de o colocar fora de acção no jogo contra o Porto. Confirmação também (mais uma) do João Neves como uma opção muito válida para o nosso meio campo apesar dos seus dezoito anos. Iniciará a próxima época já não como uma revelação, mas sim como um potencial titular.
Esta conquista foi também muito importante porque assinala o regresso do Benfica ao lugar que lhe pertence naturalmente. Por mais voltas que tentem dar, por mais estratagemas que montem, a lei de mercado é inexorável. O futebol é um negócio e o Benfica, sendo por larga margem o maior clube português, tem também a consequente muito maior capacidade de gerar investimento e receitas. E é por isso que inevitavelmente regressará sempre ao topo e a hegemonia é uma inevitabilidade. Quando há uns anos atrás lá chegámos a resposta dos nossos inimigos foi dada fora do campo através da fábula dos e-mails, atrelada à qual veio a completa instrumentalização da justiça de forma a criar e manter um permanente clima de instabilidade, a única forma de adiar o inevitável. E só um grande clube é que conseguiria resistir a tudo o que têm atirado contra nós, e de forma particularmente desesperada esta época à medida que o título do Benfica se foi tornando cada vez mais uma realidade. A conquista deste título no fundo marca uma espécie de estocada fatal nesse esquema e o fracasso do mesmo, e daí o evidente desespero dos nossos inimigos em tentar evitar esta conquista a todo o custo. A nossa tarefa agora, muito difícil, será consolidar este estatuto. As armadilhas e obstáculos continuarão a ser colocadas, e os condicionalismos desta liga continuarão a ser os mesmos para a próxima época. O pior que poderíamos fazer seria dormir sobre os louros conquistados.
Evitámos a derrota quase no último suspiro, mas a questão do título acabou adiada para a última jornada. Num jogo de duas partes distintas oferecemos literalmente a primeira ao adversário para depois recuperar na segunda, mas a má primeira parte nem sequer se pode considerar muito surpreendente tendo em conta as opções tomadas. E isto não se trata de menosprezar aquilo que o Sporting fez na primeira parte, simplesmente era escusado facilitar-lhes tanto a vida.
Ao Benfica bastaria uma vitória para arrumar de vez com a discussão do título, mas já estava eu em Alvalade (com uma assistência baixa para um jogo destes - parece-me que muitos dos adeptos do Sporting ficaram com receio de que o Benfica pudesse lá festejar) quando soube que a equipa iria ser, como aliás era previsível, a mesma dos últimos jogos. Não era preciso ser um mestre da táctica para adivinhar o que era mais provável de acontecer. Com um meio campo constituído pelo Chiquinho e o João Neves, o Sporting ganhou claramente essa luta, o que lhe permitiu pressionar muito alto a nossa saída de bola. O João Mário, a exemplo daquilo que tem sido nos últimos dois ou três meses, parece completamente esgotado mas vai mantendo a titularidade, o que na prática equivale a jogarmos com menos um. Também sem surpresa, foi precisamente por esse lado que o Sporting mais insistiu. O Aursnes, remetido para lateral direito, passou a primeira parte toda a levar com o Trincão, o Nuno Santos, o Pedro Gonçalves e até mesmo o Morita em cima (que o Ugarte sozinho dava conta do recado no meio) com muito pouca ajuda, e portanto também pouco ou nada podia contribuir no ataque. O nosso jogo não teve qualquer tipo de profundidade e as bolas eram quase todas perdidas no meio campo, permitindo ao adversário ataques continuados e muito mais posse de bola. Para além do referido João Mário, todos os elementos do ataque - Rafa, Gonçalo Ramos, Neres - estiveram muitíssimo apagados, embora se compreenda que com tão pouca bola pouco mais pudessem fazer. No meio campo o Chiquinho foi completamente engolido e o João Neves, também fruto da pressão a que era imediatamente submetido, falhava muito mais passes do que é normal. Acho que surpresa só foi mesmo o Sporting ter demorado quase quarenta minutos a chegar ao golo, que surgiu como resultado de um erro de um dos jogadores mais regulares esta época. A jogada nasceu do lado esquerdo (obviamente) e um corte falhado do António Silva permitiu que a bola passada pelo Nuno Santos chegasse ao Trincão, que no meio dos nossos centrais conseguiu desviar a bola e obrigar o Vlachodimos a uma defesa de recurso. Não conseguiu agarrar a bola e ela ficou solta para que o mesmo Trincão, que reagiu mais rápido, a recolhesse e fizesse o golo. Cinco minutos depois, novo golo do Sporting, com muitas culpas para a nossa defesa. Não se percebe que tipo de organização defensiva num pontapé de canto resulta no Grimaldo a marcar directamente um dos centrais adversários. Disso não se queixou o Diomandé, que saltou praticamente à vontade para fazer o golo.
A perder por dois ao intervalo e sem mostrar sequer argumentos até então para inverter o rumo dos acontecimentos, acho que quase todos os benfiquistas sabiam pelo menos uma mudança básica que teria que acontecer: saída do João Mário para entrar o Bah (ou o Gilberto) e subida do Aursnes de forma a equilibrar a luta do meio campo. Felizmente o Roger Schmidt pensou o mesmo e nem esperou até aos sessenta e cinco minutos para o fazer, foi logo ao intervalo. A diferença foi evidente. O Aursnes depressa se encarregou de demonstrar o enorme desperdício que é tê-lo na lateral direita, em especial em jogos de maior exigência. Eu nem sequer consigo dizer onde exactamente é que ele se foi colocar, porque eu o vi em todo o lado. Na direita, na esquerda, no meio, a ajudar o ataque ou a servir o ataque. O Benfica passou a ganhar claramente a supremacia no meio campo e o Sporting já não conseguiu mais exercer a pressão alta da primeira parte, assumindo uma postura mais recuada e apostando mais no contra-ataque. Pelo contrário, o Benfica passou a ter muito mais bola e começou a fazer ao Sporting o mesmo que eles nos fizeram na primeira, com diversas bolas recuperadas ainda no meio campo adversário ou às vezes até logo à entrada da área. Na direita, o Bah veio dar profundidade àquele lado e o Nuno Santos deixou de poder subir com a liberdade que teve na primeira parte. As entradas do Musa e do Gonçalo Guedes a meio da segunda parte (para os lugares dos apagadíssimos Rafa e Gonçalo Ramos) trouxeram ainda mais dinâmica e o Benfica chegou ao golo pouco depois. Um primeiro cruzamento do Guedes na direita não encontrou sequência, mas a bola seguiu para a esquerda onde o Grimaldo a voltou a cruzar e o Aursnes apareceu solto para cabecear a bola para junto da base do poste mais distante. Ironicamente, os jogadores do Sporting ficaram a reclamar falta do Aursnes sobre o Diomandé, quando o único motivo pelo qual o Aursnes contactou com o defesa do Sporting foi porque ele foi literalmente abalroado pelo Esgaio no primeiro cruzamento, feito pelo Guedes - nem sei porque motivo aquilo não foi considerado falta (e penálti). O Aursnes levantou-se de imediato, o Diomandé preferiu ficar no chão, e o Benfica marcou. Com apenas um golo de desvantagem a pressão do Benfica intensificou-se, embora o Sporting tivesse disposto de uma ocasião flagrante para resolver o jogo. Isolado sobre a direita, o Paulinho tirou bem o António Silva da jogada e depois frente ao Vlachodimos fez aquilo que faz melhor: falhou (mas grande mérito para a defesa do Vlachodimos com o pé). A entrada do Florentino para os minutos finais ainda aumentou a vantagem do Benfica no meio campo, e nos minutos finais assistimos a vários lances em que o Sporting era incapaz não só de sair a jogar como até de afastar a bola eficazmente da sua área, sendo imediatamente recuperada pelos nossos jogadores. E foi no quarto minuto dos oito de compensação que chegámos ao empate, na sequência de um livre lateral marcado pelo Aursnes. O Musa ao segundo poste colocou a bola de cabeça para o meio, e no meio de muita atrapalhação dos defesas do Sporting para tirar dali a bola o Florentino conseguiu ganhá-la duas vezes e enviá-la na direcção da baliza, sendo esta sucessivamente devolvida até que o João Neves, à segunda tentativa, marcou golo. Para não variar os jogadores do Sporting ficaram a reclamar a legalidade do lance, o árbitro não lhes deu razão, mas o tempo que o jogo esteve interrompido quebrou completamente o ritmo e praticamente não se jogou mais até final, o que impediu que ainda fôssemos à procura de um golo que nos daria o título.
O melhor do Benfica para mim, é fácil adivinhar pelo que já escrevi até agora, foi o Aursnes. Um verdadeiro crime tê-lo amarrado na lateral direita. Assim que subiu no terreno mostrou que é no meio campo que ele é uma mais-valia. Andou um pouco por toda a parte e fez de tudo um pouco, marcando o golo que deu início à recuperação. O João Neves não esteve tão bem como nos últimos jogos, em especial na primeira parte. Foram mais perdas de bola e passes errados do que estamos habituados, mas subiu de rendimento na segunda parte e foi recompensado com o golo do empate.
Fica agora a faltar uma vitória contra o Santa Clara na última jornada para podermos finalmente atingir o objectivo desejado. Sim, eu sei que em teoria um empate até pode chegar, mas neste nosso futebol eu não sou capaz de acreditar plenamente que se o Porto tiver que ganhar por 11-0 ao Guimarães isso não acontece. Há uma equipa que joga com regras completamente diferentes das que servem para os outros. Uns exemplos: o lance do Nuno Santos sobre o Bah? Não foi penálti, e acho bem que não tenha sido. Mas se o Bah fosse jogador do Porto não tenho a menor dúvida de que seria penálti e no dia seguinte todos diriam que tinha sido muito bem assinalado porque 'houve um toque nas costas'. Quando o Porto entra na equação, a questão da famosa 'intensidade' não se coloca. É por isso que quando o Otávio em Famalicão se atira para cima do adversário de forma a provocar o contacto é obviamente penálti sem discussão porque, lá está, 'há toque do defesa'. O amarelo do Diomandé pela falta sobre o Gonçalo Ramos? Bem mostrado. Se o Gonçalo Ramos jogasse no Porto, o Diomandé ia para a rua sem discussão. Porque enterrou os pitons no tornozelo do adversário. Acima de tudo: o jogo é em casa contra o último classificado e temos a obrigação de ganhar, mas que não passe pela cabeça de ninguém qualquer tipo de triunfalismo antecipado ou menosprezo do adversário. Isso seria o primeiro passo para se escrever uma tragédia.
E agora falta apenas mais um passo. O Benfica deu sequência à boa exibição contra o Braga, à qual apenas ficaram a faltar mais golos, e desta vez nem esses faltaram. O Portimonense foi atropelado no caminho para o título e se calhar a mão cheia de golos que marcámos até nem foi a expressão mais justa para o caudal de futebol ofensivo que apresentámos. Foi muito agradável voltarmos a ver momentos de futebol que se tornaram tão familiares na primeira fase da época e que reaparecem na melhor altura.
Já sabemos que o nosso treinador não é adepto de mexidas na equipa, e por isso foi com naturalidade que entrámos com o mesmo onze que tinha defrontado o Braga. O Bah já está recuperado, mas ficou no banco ao lado do Gilberto, enquanto o Aursnes manteve o seu lugar na direita da defesa. Sobre a nossa entrada no jogo, os mais velhos ainda falam muitas vezes dos famosos 'quinze minutos à Benfica', a que eu nunca tive a oportunidade de assistir, mas imagino que fossem qualquer coisa minimamente parecida ao que vimos hoje. É que com quinze minutos de jogo o Benfica já tinha marcado um golo, tinha tido outro anulado, e tinha atirado duas vezes aos ferros, fora as inúmeras situações de perigo criadas. Durante esse período o Portimonense mal saiu do seu meio campo. Por partes, o João Neves deu início às hostilidades com um remate que depois de desviar num defesa acertou no poste, logo aos dois minutos. Aos quatro, o Grimaldo inaugurou o marcador depois de um cruzamento do Aursnes, com o guarda-redes a tirar a bola já dentro da baliza (e felizmente o auxiliar assinalou o golo, porque continuamos a não ter a tecnologia da linha de golo na nossa liga). Aos nove e na sequência de um pontapé de canto, grande passe do Grimaldo a isolar o João Neves sobre a esquerda, grande defesa do guarda-redes ao remate deste, a recarga do Gonçalo Ramos saiu enrolada e acabou por ir ter com o João Mário, que marcou o golo mas estava em posição irregular. Aos treze, o Neres sobre a esquerda partiu os rins ao marcador directo e rematou cruzado, com a bola a tirar tinta ao poste. E aos quinze, o Gonçalo Ramos viu a barra negar-lhe aquilo que seria um golo de levantar o estádio, num remate bem de fora da área que quase fez a bola entrar junto ao ângulo. O Benfica apresentava-se a jogar de forma solta e fluida, com as movimentações e desmarcações do Rafa, Neres e Gonçalo Ramos impossíveis de travar pela defesa adversária, sempre bem apoiados pelo Grimaldo e o Aursnes nas alas e com o João Neves a ser uma espécie de pivô por onde tudo passava. Muito boa reacção e agressividade à perda de bola, e facilidade em sair em transições rápidas assim que isso acontecia. Jogadores a oferecerem-se ao jogo e a pedir a bola, dando sempre múltiplas opções ao portador da bola. Tudo coisas que durante o período mais negativo da nossa época andaram ausentes do nosso futebol. Só depois dos vinte minutos é que o Portimonense conseguiu respirar um pouco e chegar à nossa área, mas o resultado disso foi sofrer um segundo golo ainda antes de chegarmos à meia hora. Pela direita, o João Mário fez um cruzamento rasteiro e tenso e um defesa do Portimonense conseguiu evitar que a bola chegasse ao Rafa, que surgia ao primeiro poste para emendar, mas fê-lo enviando a bola para a própria baliza. Jogo mais do que controlado e bem encaminhado, mas contra a corrente o Portimonense acabou por reduzir a sete minutos do descanso, na sequência de um livre lateral. O Morato foi pouco expedito a atacar a bola e esta acabou por ficar solta na área para um remate de primeira que não deixou tempo de reacção para o Vlachodimos. Este golo até poderia ter lançado algumas dúvidas e provocado instabilidade na nossa equipa, mas não foi isso que aconteceu, e a melhor resposta possível foi mesmo marcarmos o terceiro golo mesmo antes do intervalo. Bola recuperada no círculo central pelo Chiquinho e rapidamente colocada no Neres, que progrediu até perto da área sobre a esquerda e a deixou no Gonçalo Ramos. Este fez o corte para dentro tirando o defesa da jogada e marcou com um remate forte e colocado junto ao poste mais próximo. Um golo que já merecia não só neste jogo, mas também pelo muito que tem trabalhado sem ser recompensado nos últimos jogos.
O regresso para a segunda parte começou por mostrar que o Roger Schmidt já está avisado para os pastéis que o Soares Dias pode sempre atirar ao caminho: amarelado de forma incompreensível na primeira parte, o Chiquinho já não voltou para prevenir alguma expulsão que pudesse alterar o rumo de um jogo que tanto pendia para o nosso lado, e no lugar dele regressou o Florentino. O jogo foi disputado a um ritmo um pouco mais pausado, mas sempre completamente controlado pelo Benfica, que logo nos minutos iniciais numa boa jogada de equipa viu um remate do Neres já no interior da área ser interceptado por um defesa. Mas logo a seguir voltámos a chegar ao golo. Foi o Rafa quem introduziu a bola na baliza, aproveitando uma bola largada pelo guarda-redes depois de um remate do João Mário após tabela entre os dois, mas o golo foi invalidado por uma posição irregular de centímetros do Rafa. Se a entrada do Benfica no jogo tinha sido avassaladora, a reentrada na segunda parte também não foi nada má, com o Benfica a acumular ocasiões de perigo e a deixar bem vincada a ideia de que não vinha para se encostar à vantagem obtida e deixar que o Portimonense tivesse qualquer iniciativa no jogo. Ainda nos minutos iniciais, novamente o Neres e depois o Grimaldo viram o guarda-redes negar-lhes o que seria o nosso quarto golo. Só depois é que o jogo entrou numa toada mais morna, mas ainda e sempre sem que o Portimonense chegasse sequer a causar qualquer tipo de ameaça. Só nos minutos finais é que as coisas voltaram a animar. Primeiro, com mais uma obra prima de pastelaria, em que o Gonçalo Ramos é puxado de forma clara e ostensiva na área. Nem o Soares Dias, nem o VAR conseguiram achar que aquilo era motivo para assinalar penálti. Compreende-se, o puxão foi feito pelo filho do treinador do Porto e provavelmente ficaria mal assinalar a falta. Na resposta, o Portimonense conseguiu fazer provavelmente o primeiro contra-ataque perigoso na segunda parte, que só não deu golo porque o Aursnes conseguiu antecipar-se ao adversário no segundo poste e cedeu canto. Isto foi a cinco minutos do final, portanto se o Portimonense tivesse marcado provavelmente teríamos uns minutos finais complicados. Ainda antes do canto ser marcado, o Benfica trocou o Gonçalo Ramos e o Neres pelo Musa e o Gonçalo Guedes. Canto marcado, corte de cabeça do António Silva e a bola vai parar aos pés do Gonçalo Guedes na esquerda. Passe para o Grimaldo, passe longo a solicitar a corrida do Rafa, que apanhou metade do campo vazia para correr com a bola e já na área a meteu no meio nos pés do Musa, que só teve que a controlar e na marca de penálti atirar para onde quis. Foi mesmo impacto imediato. Não contente com isso, passados apenas dois minutos estava no sítio certo para aproveitar uma bola largada pelo guarda-redes a um cruzamento do Grimaldo e marcar um dos golos mais fáceis da carreira. Nos instantes finais, tempo ainda para o regresso do Bah e final de jogo apoteótico perante mais um estádio da Luz em miniatura, a exemplo do que tinha acontecido em Barcelos. Mais uma vez, ambiente incrível criado pelos nossos adeptos do primeiro ao último minuto, e o Benfica a jogar praticamente em casa.
Numa exibição e resultado destes há obviamente muitos destaques se podem fazer. Fantástico o David Neres, ao melhor que lhe vimos esta época. Tal como o Rafa, sempre fundamental quando joga a este nível. Muito bem o Gonçalo Ramos, a obter finalmente o golo que já merecia há muito - e provavelmente mereceria ainda mais um golo. Grimaldo e Aursnes também bem, mas sobretudo um destaque merecidíssimo para o João Neves. Muito desta espécie de renascer do Benfica nos últimos jogos tem a ver com a entrada dele no onze. Um médio incansável, que está sempre onde anda a bola, corre e faz correr os colegas, recupera bolas, distribui o jogo e define quase sempre bem as jogadas. Muito difícil escolher entre ele e o Neres para qual o melhor em campo.
Faltam agora três pontos, ou uma vitória, para conquistarmos o título. Esta vitória foi fundamental, mas precisamente por ainda faltarem esses tais três pontos não podemos entrar em euforias porque nada está ganho. E só não digo que faltam apenas dois pontos porque nesse caso a coisa decidir-se-ia pela diferença de golos, e não consigo eliminar a possibilidade do Porto nos recuperar catorze golos em três jogos - bastam umas expulsões clinicamente madrugadoras, uns penáltis e tudo se consegue. É que já são quarenta anos disto. Eles não vão desistir até que seja matematicamente impossível, e continuarão a atirar tudo ao nosso caminho. O ás de trunfo Soares Dias foi já gasto nesta jornada e foi anulado por uma exibição avassaladora do Benfica, é esperar pelo próximo golpe. A outra parte da aliança do Altis, com quem jogaremos a seguir, está cada vez mais longe da Champions (é bom, para terem mais uma vez a noção de que sempre que se aliam aos outros para nos lixar, acabam eles lixados) e também quer acreditar até ao fim que ainda lá chegam. Perderam a oportunidade com que sonhavam, que era oferecerem a liderança aos patrões, mas certamente que quererão evitar a nossa festa antecipada, e é previsível que o amigo Fontelas envie mais uma encomenda para o próximo jogo.
A justiça tardou mas não falhou. Um golo do Rafa acabou por dar-nos uma mais do que merecida vitória sobre o Braga, sendo apenas de lamentar que esta não tenha acontecido por uma diferença mais expressiva tal foi a diferença de qualidade entre as duas equipas. A única questão que fica no ar sobre o Braga é porque motivo vieram à Luz jogar declaradamente para um empate que não lhes servia de todo? Nem para uma eventual reentrada na luta pelo primeiro lugar, nem na luta pelo segundo lugar. Já vi esta época equipas com muito menores aspirações do que o Braga virem à Luz jogar com mais ambição.
Com o Aursnes a manter-se na direita da defesa a alteração no onze foi novamente no meio campo, onde desta vez foi o Florentino a ficar de fora e a titularidade a ser entregue à dupla João Neves e Chiquinho. O jogo explica-se de forma simples: Benfica muito superior ao Braga, sendo a única equipa a apresentar-se em campo com o objectivo de ganhar o jogo. O Braga empenhou-se em queimar tempo desde o apito inicial, tendo só durante a primeira parte conseguido interromper o jogo para assistências aos seus jogadores por quatro vezes. De cada vez que o Benfica aumentava um pouco mais o ritmo ou a pressão, imediatamente lá padecia um bracarense de dores insuportáveis e quebrava o ritmo. Jogar à bola foi coisa que o Braga não fez; as tentativas de ataque eram em transição com chutos longos para a frente, muitas vezes pelo guarda-redes e quase sempre à procura do Bruma, que jogava praticamente sozinho. A não ser que me tenha escapado alguma coisa, o Braga não fez um único remate na primeira parte. E se o fez, não terá sido mais do que um e certamente não levou a direcção da baliza, porque chegaram ao final dos 107(!) minutos de jogo sem terem obrigado o Vlachodimos a uma única defesa. Quanto a nós, mostrámos mais uma vez bons sinais de retoma e fizemos um jogo bastante bom, mas a padecer dos mesmos problemas crónicos: má definição final das jogadas e má finalização. Construímos situações de desequilíbrio e de perigo mais do que suficientes para irmos para intervalo a ganhar, mas a forma como acabámos por definir as jogadas foi péssima. Pareceu haver demasiada vontade em esperar por ou procurar um colega a quem entregar a responsabilidade da finalização, quase sempre com maus resultados. Um exemplo flagrante que me deixou à beira de um ataque de nervos foi uma bola metida nas costas da defesa em que o Gonçalo Ramos ganha no corpo a corpo com um defesa e se isola. Entra na área, e apenas com o guarda-redes pela frente acaba por ficar praticamente parado, como que a decidir como finalizar. Claro que o defesa conseguiu recuperar e desarmou-o por trás. O ar de graça do Braga na primeira parte foi dado mesmo no final, quando no espaço de um minuto o Ricardo Horta tentou simular dois penáltis, acabando amarelado apenas na segunda simulação. Com comportamentos destes, ninguém fica com pena que não tenha vindo para o Benfica. Aliás, com tanto jeitinho para as quedas simuladas na área, há outro clube no qual encaixaria que nem uma luva, e de certeza que o presidente dele facilitaria a transferência porque entre amigos é assim. Amarelados foram, ambos de forma ridícula, o João Neves e o Otamendi, com o segundo a completar a série e a ficar suspenso.
Na segunda parte obviamente que pouco ou nada mudou, porque o Braga continuava fortemente empenhado a defender o precioso pontinho que para nada lhe servia. A única equipa a quem o empate beneficiaria não estava em campo, por isso continuo a estranhar a atitude do Braga neste jogo. Talvez o bónus eventual incluído na venda do David Carmo possa ser distribuído pelos jogadores, isso já era capaz de ser uma boa motivação. O Benfica continuou a desperdiçar ocasiões e a desesperar os adeptos, que encheram mais uma vez a Luz e proporcionaram um ambiente de apoio à equipa absolutamente fantástico. Por norma esta época o ambiente na Luz tem sido quase sempre bom, mas hoje esteve muitos furos acima da média. Nem achei que o Grimaldo estivesse particularmente assertivo nas subidas pelo seu lado neste jogo, mas à hora de jogo foi dele o cruzamento tenso que proporcionou mais uma ocasião flagrante de golo ao Gonçalo Ramos, com este a rematar de forma a fazer a bola raspar no poste. Do outro lado, o Aursnes esteve bastante mais activo, e na segunda parte beneficiou de uma ligeira subida de rendimento do João Mário, que tinha estado mais uma vez inconsequente durante a primeira parte. Com sessenta e seis minutos decorridos, o momento decisivo no jogo. O Braga faz a primeira substituição no jogo (aproveitando obviamente o Medeiros para queimar mais tempo na saída de campo, sempre com a complacência do árbitro) e fez entrar o Pizzi - que foi aplaudido. Não sei se era alguma tentativa de jogada psicológica, mas o Pizzi entrou, a bola foi reposta em jogo perto da nossa área, pela esquerda, o Benfica recuperou-a e o Neres, ainda no nosso meio campo, fez um passe perfeito para as costas da defesa subida do Braga, colocando-a na frente do Rafa. Já sabemos que em velocidade poucos ou nenhuns conseguem acompanhar o Rafa, portanto a expectativa passou imediatamente a ser se o Rafa conseguiria finalizar com sucesso. Progrediu até à entrada da área, perante o Matheus fez golo colocando a bola entre o braço e o corpo dele, e a Luz veio abaixo. Só depois disso, a quinze minutos do final, fizemos a primeira substituição, trocando o Ramos pelo Musa. E logo na jogada seguinte o Musa proporcionou ao Rafa a oportunidade para resolver o jogo, mas isolado ele tentou fazer o chapéu ao guarda-redes, que saiu demasiado por alto. Poderia ter optado pelo toque para o lado, onde tinha o Neres em boa posição. Só nos minutos finais o Braga arriscou um pouco mais, mas o melhor que conseguiu foram dois cruzamentos perigosos, ainda e sempre pelo Bruma, que ninguém conseguiu desviar para a baliza. Para os instantes finais, e já com o Guedes e o Florentino nos lugares do Neres e do João Mário, o árbitro decidiu acrescentar oito minutos de compensação. Na primeira parte, com quatro assistências a jogadores do Braga e constantes perdas de tempo, tinha dado cinco. Nesta, com apenas duas interrupções para assistências, deu oito. E de repente também pareceu preocupado com qualquer demora do Vlachodimos nas reposições de bola, quando nenhuma delas chegou sequer perto ao que o Matheus sempre fez sem qualquer reacção da parte do árbitro. Para fechar em beleza, a quinze segundos do final dos oito de compensação o Bruma conseguiu provocar uma confusão perto do banco do Benfica, à qual acorreu todo o banco do Braga à boa maneira do clube que idolatram. O árbitro aproveitou a perda desses quinze segundos para dar mais quatro sobre os oito que já tinha dado. Não fez diferença nenhuma, o Braga continuou a ser inofensivo e o final veio inevitavelmente.
Mais do que destaques individuais, fiquei agradado com a atitude e exibição da equipa. Fomos mesmo muito superiores durante quase todo o jogo, e só a tradicional incapacidade para definir melhor acabou por impedir um jogo mais tranquilo. O Rafa já vinha dando sinais de melhorias nos últimos jogos e hoje continuou por esse caminho, obtendo um golo muito importante. Os problemas dele na definição já vêm de longe, e a anormalidade foi o quão bem ele esteve nesse capítulo durante a fase inicial da época. Pode ser que este golo possa contribuir para que regresse a essa forma, mas como sempre, a sua velocidade e mobilidade são armas importantíssimas. Bom jogo da dupla de centrais e até mesmo do Aursnes, mas continuo a querer que ele regresse a terrenos mais avançados. Gostei também do Neres, mas o Gonçalo Ramos esteve desastrado na finalização - não conseguiu acertar um remate na baliza. Por último, o João Neves. Sou o primeiro a admitir que nunca tive expectativas muito altas em relação a ele quando começou a surgir na equipa. Mas desde que foi chamado à titularidade que tem estado a cumprir com excelência, e hoje fez um jogo muito bom. Não gosto mesmo nada de fazer esta comparação, porque é um jogador que eu detesto pessoalmente, mas ele pode mesmo vir a ser uma espécie de João Moutinho. Um trabalhador incansável no meio campo, com boa capacidade técnica e de passe, boa leitura de jogo e pilhas que duram os noventa minutos. Hoje até o vi ganhar a maior parte dos duelos aéreos, e a jogadores bastante mais altos do que ele. Neste momento será difícil tirarem-no da equipa.
Foram uma vitória e um passo muito importante no caminho para o título, mas nada está ganho. O próximo jogo em Portimão, contra o clube lacaio do segundo classificado, vai ser decisivo. Acredito que irão atirar tudo o que têm contra nós, porque se o Benfica ganhar e puder ir a Alvalade sem a pressão de ter que ganhar o título muito dificilmente nos fugirá. Teremos que entrar com tudo e estar muito atentos a todas as manobras que se farão. Aliás, elas já começaram hoje, com o clube que sonha ser tão sujo como o segundo classificado a lançar o mote de um falso prejuízo de arbitragem (aqueles que depois do verdadeiro escândalo que foi a nossa eliminação da taça às suas mãos avaliaram peremptoriamente a arbitragem desse jogo como 'grande'). Amanhã os otários, perdão, o chamado tribunal do Nojo provavelmente aproveitará para pegar nisso e lá será lançada mais uma campanha de pressão sobre a arbitragem para o próximo jogo. Onde muito provavelmente estará um árbitro escolhido a dedo. Prevejo também uns jogadores do Portimonense, que não estão a jogar para nada, estranhamente motivados e a correr que nem cavalos de corrida. Máxima concentração e nada de euforias: é ignorar todos os títulos de campeão à vista e afins que certamente andarão por aí, porque ainda temos muito trabalho pela frente.
Mais um jogo de sofrimento, apesar das melhoras serem visíveis, e que foi resolvido por um herói improvável. Arrisco dizer que se o Benfica não estivesse neste momento a jogar com tanto nervosismo este jogo teria sido facilmente ganho, e com um resultado mais expressivo, mas o que queremos neste momento são vitórias mesmo, nem que seja pela margem mais magra.
Mesmo com o regresso do Bah aos convocados o Aursnes continuou a ser a aposta para a lateral direita, ficando os dois laterais direitos do plantel no banco. O João Neves também manteve a titularidade no meio e desta vez formou dupla com o Florentino, o que significou ser o Chiquinho a começar no banco. Normalmente não costumam ser necessários muitos minutos para perceber qual a disposição da equipa e de que forma abordamos um jogo. E por isso achei logo de início as coisas diferentes, para melhor. Há ainda jogadores em má forma e abaixo do rendimento exigível, mas gostei da atitude e a equipa pareceu-me mais solta. A parte dos nervos continua a surgir nas alturas de finalização/definição de muitas das jogadas, e também em termos defensivos sempre que os adversários se aproximam de forma mais consistente da nossa área. Isso aconteceu mais uma vez neste jogo, em que o Gil Vicente nem sequer criou muitas jogadas de perigo, mas quando o fez foi quase sempre através de remates exteriores porque a nossa equipa hesitava demasiado na altura de sair ao portador da bola, permitindo que os remates tivessem sido feitos com relativo à vontade. O Benfica teve sempre o domínio territorial no jogo e como, ao contrário do Chaves, o Gil Vicente pareceu tentar jogar futebol, houve sempre espaço suficiente para as transições e para construirmos ocasiões de perigo. Conforme disse, a definição continua pelas ruas da amargura, mas as movimentações constantes do Neres ou do Rafa no ataque criaram sempre problemas de posicionamento à defesa do Gil, até porque apostaram muito na estratégia do fora-de-jogo - funcionou a maior parte das vezes e tivemos dois golos bem anulados por isso (embora eu ache que houve também demérito nosso na forma como o passe demorou a sair), mas quando a estratégia falha pode ter resultados desastrosos. Foi assim que o Neres se viu completamente isolado pela direita, com tempo para progredir até à área e finalizar à vontade. Infelizmente, falhou de forma escandalosa. E foi mesmo um falhanço, nem posso considerar mérito de uma grande defesa do guarda-redes. Ele já estava até no chão, mas o Neres simplesmente chutou contra ele. Esse lance deu mote para uns minutos finais da primeira parte de pressão intensa da nossa parte, com o Gil Vicente incapaz de sair do seu meio campo. E mais uma ocasião desastradamente falhada, na qual o Aursnes pela direita colocou a bola redondinha na área para o remate do Florentino à vontade. Mas o Florentino apenas conseguiu fazer um remate muito enrolado, que ainda assim obrigou uma defesa muito apertada do guarda-redes. Na recarga, o Neres voltou a ter tudo para marcar mas o guarda-redes acabou por cair em cima da bola. O intervalo chegou portanto com um sentimento de frustração, sabendo-se que estes falhanços em nada deveriam contribuir para acalmar os nervos da equipa.
Mas o Benfica jogou literalmente em casa. O estádio em Barcelos estava lotado, e quase toda o público era adepto do Benfica, não se cansando de apoiar e incentivar a equipa do princípio ao fim do jogo. Muito útil contra crises de nervos, em vez dos assobios. O Benfica continuou a mandar no jogo, se calhar de forma ainda mais declarada porque o Gil Vicente ainda atacou menos do que na primeira parte, mas paradoxalmente não era tão perigoso como tinha conseguido ser durante a o primeiro tempo. O que acabou por ser a grande diferença deste jogo para anteriores veio do banco. Um João Mário em claríssima quebra de rendimento não foi obrigado a ficar em campo os noventa minutos, e com uma hora de jogo decorrida deu o seu lugar ao Gonçalo Guedes, entrando também o Gilberto para o lugar do Neres - o que significou a subida do Aursnes na direita. E dez minutos depois, mais duas mudanças que se revelaram decisivas: entradas do Chiquinho e do Musa para os lugares do Florentino e do Gonçalo Ramos. Foi preciso esperar apenas um minuto para a bola no meio seguir do Gilberto para o Chiquinho e deste para o Musa, que abriu para o Aursnes na direita. Este levantou a cabeça e colocou a bola bem no meio da área, onde surgiu o Chiquinho solto para marcar um improvável golo de cabeça. Na jogada intervieram três dos quatro jogadores vindos do banco. Quem diria que mexer na equipa durante um jogo que está a correr mal às vezes até dá resultado? Nas bancadas, explosão enorme e o libertar de toda a tensão que se vinha a acumular ao longo dos minutos. Confesso que mesmo com a vantagem magra, ao ver a forma como o golo foi festejado pelos nossos jogadores fiquei convencido que não só a vitória já não nos fugiria como que o resultado não ficaria por ali. Porque os jogadores vindos do banco, em especial o Chiquinho e o Musa, mexeram mesmo com o jogo e com a equipa. Mesmo em termos psicológicos era importante ganhar por mais, e esse golo tão necessário surgiu já dentro dos últimos dez minutos. Uma falta sobre o Gonçalo Guedes na esquerda deu origem a um livre perigoso. No cruzamento, a bola foi disputada no ar entre o Musa e um defesa, e depois de ser afastada foi ter aos pés do Aursnes, que fez um cruzamento largo para o segundo poste. Aí apareceu o Otamendi em óptima posição para marcar, mas infelizmente tinha uma Carraça agarrada a ele que não lho permitiu fazê-lo. Para o árbitro Fábio Veríssimo estava tudo bem, mas o VAR acabou por alertá-lo e foi assinalado penálti no lance entre o Musa e o defesa do Gil Vicente, por mão deste último. Para mim, sinceramente, não seria lance para penálti. Mas sobre o Otamendi era, e não só isso mas também seria o segundo amarelo para o Carraça. O que interessa é que a bola foi para a marca dos onze metros e o Grimaldo colocou um ponto final no assunto. Pena só que até final o Musa não tenha conseguido fazer um golo que merecia, porque finalizou bem ao picar a bola sobre o guarda-redes mas esta foi embater na trave.
O jogo foi ganho a partir do banco. O Chiquinho e o Musa são por isso destaques, porque estiveram nas jogadas dos dois golos e mexeram muito com o jogo. A saída do João Mário foi também importante. Na forma actual o João Mário ajuda pouco e acaba mesmo por emperrar muito as nossas jogadas de ataque. E é por isso que tenho sempre alguma dificuldade em aceitar pacificamente quando ouço os benfiquistas a colocar o João Mário e o Rafa no mesmo saco. Estão ambos longe da melhor forma, é verdade, mas o Rafa mesmo definindo mal está sempre a entregar-se ao jogo, a pedir outra bola, e a velocidade e movimentações dele colocam uma defesa em sentido. O Neres foi outro que não esteve mal, apenas pecou na definição. Aquele falhanço podia quase transformar-se num momento Bryan Ruiz desta época. O Aursnes melhorou quando subiu no terreno, e espero que isto seja suficiente para não o voltar a colocar na defesa. O puto João Neves não esteve tão em evidência como no jogo anterior, mas a entrega ao jogo e a energia que dá ao meio campo foram muito importantes.
Mais um passinho dado, faltam mais três num caminho cheio de pedras. Sobretudo quando assistimos às pedras a serem retiradas do caminho do maior adversário, enquanto tentam a toda a força estender-lhes uma passadeira azul para o título. Certamente invejosos pelo facto de há cerca de um mês ter saído uma estatística que mostrava estarem apenas no quarto lugar mundial no que diz respeito a penáltis a favor, meteram mãos à obra em desde aí até agora encetaram uma recuperação fantástica que já os colocou no primeiro lugar dessa mesma tabela. Quanto a nós, espero mesmo que este jogo signifique uma injecção de muito necessária confiança na nossa equipa, para podermos enfrentar o que se avizinha. Tenho curiosidade no artista que virá à Luz para o jogo com o Braga - acho que não será o pasteleiro, porque esse esteve cá há pouco tempo e já deve estar reservado para a visita ao Lumiar. Pode ser que venha o artista que nos retirou da Taça de Portugal, para ver se repete a graça.
Finalmente uma vitória para travar uma série negra, num jogo onde os nervos estiveram sempre presentes. Teria sido melhor uma vitória por números mais convincentes para afastar fantasmas, e a exibição do Benfica até mereceria algo mais, mas os importantes três pontos foram somados e é sobretudo isso que interessa.
Parece que o Aursnes a lateral direito veio para ficar, pelo menos até o Bah regressar da lesão, e hoje repetiu a posição de início. A outra (grande) novidade foi a titularidade do João Neves no meio campo, relegando o Florentino para o banco. O jogo foi o esperado, de um lado (o lado errado, porque o Estoril fez a rábula de escolher o campo ao contrário) uma equipa a querer ganhar mas a jogar sobre brasas. Do outro, uma equipa apenas interessada em defender, a jogar com um bloco muito baixo e a queimar tempo. Os principais dinamizadores do jogo do Benfica eram o Neres no ataque, e o Neves no meio campo, ambos a oferecerem-se sempre ao jogo e a estarem constantemente em acção. A primeira grande ocasião de golo foi mesmo do João Neves, que apareceu completamente sozinho à entrada da pequena área após a marcação de um canto e cabeceou para a bancada. Depois foi o Rafa quem não conseguiu aproveitar um mau corte da defesa do Estoril, e muito perto do poste da baliza acertou com a canela na bola e voltou a atirá-la para a bancada. O nervosismo do Benfica foi muito acentuado pela actuação do árbitro Rui Costa, que tornava muito complicado qualquer tipo de pressão mais efectiva sobre os jogadores do Estoril: lance em que um jogador do Benfica metesse o pé e recuperasse a bola era imediatamente interrompido por falta. Um lance na área sobre o Aursnes, que me pareceu ser mesmo penálti mas que não foi assinalado, só piorou a situação. E pouco depois da meia hora, foi mesmo marcado penálti por uma falta sobre o João Mário, mas o mesmo encarregou-se da marcação e fê-lo de forma pouco eficaz, com um remate rasteiro para o meio da baliza que o guarda-redes defendeu com os pés. E o nervosismo sempre a somar. Valeu ao Benfica que quase sobre o intervalo, na marcação de um canto à maneira curta sobre a direita, o Neres inventou uma jogada individual em que passou pelo meio de dois adversários, entrou na área e sobre a linha de fundo meteu a bola para o poste mais distante, onde o Otamendi cabeceou completamente à vontade para meter a bola no ângulo da baliza mais próximo de onde o Neres tinha feito o centro. A melhor maneira de acalmar os nervos, que em face daquilo que se ia desenrolando sobre o terreno em nada eram justificados: o Estoril era completamente inofensivo e durante toda a primeira parte apenas por uma vez chegou à nossa área, num cabeceamento que passou perto do poste mas que pareceu estar bem controlado pelo Vlachodimos.
A segunda parte continuou a ser controlada pelo Benfica, que insistia em não chegar a um segundo golo que nos traria a necessária e merecida tranquilidade. E provavelmente foi mesmo por falta da mesma que não conseguimos chegar a esse golo (uma espécie de pescadinha de rabo na boca) porque ocasiões para o fazer existiram, mas como ocorre frequentemente quando a cabeça não ajuda, a definição das jogadas deixou quase sempre muito a desejar. O Neres e o Rafa até iam desequilibrando a defesa do Estoril com a sua velocidade e movimentação, mas quando chegava a hora de definir o último passe ou a finalização, o disparate era quase sempre o resultado. Numa quase estranha demonstração de actividade, o nosso treinador mexeu 'cedo' na equipa, efectuando duas alterações logo aos sessenta e quatro minutos: entraram o Florentino e o Musa para os lugares do Chiquinho e do Gonçalo Ramos. O Florentino veio trazer um pouco mais de ordem e segurança ao meio campo, já que o Chiquinho esteve numa tarde particularmente desinspirada, e o Musa trouxe a sua habitual capacidade de luta. Pouco depois a bola ainda chegou mesmo a entrar na baliza do Estoril, mas eu nem sequer festejei o golo porque mesmo à minha frente foi logo visível a posição irregular do Aursnes no início da jogada. O João Mário demorou demasiado a fazer o passe, e quando o fez o Aursnes já estava a recuar da posição de fora de jogo, mas não suficientemente rápido para fugir dela. Da jogada retenho o bom trabalho do Musa a virar-se rapidamente na área para se libertar do defesa e finalizar, depois de receber o passe curto do Rafa. Ainda voltámos a estar perto do golo quando o Rafa recuperou uma bola em zona alta e numa iniciativa individual a levou até à zona de finalização, onde o João Mário apareceu para a fazer raspar o poste depois de a ter desviado com o peito. O jogo pouca história mais teve até final, exceptuando mais algumas decisões enervantes do árbitro no que diz respeito a faltas e apenas mais uma substituição feita perto do final, a troca do Neres pelo Gonçalo Guedes, ficando duas substituições ainda por fazer. Mas como o nosso treinador já disse, ele não é obrigado a fazer as cinco substituições todos os jogos - embora eu me pergunte por vezes que jogos é que ele está a ver quando deixa que certos jogadores façam os noventa minutos completos. O Estoril continuou a ser completamente inofensivo e apenas me recordo de um pontapé feito que fez a bola sair muito por alto, não representando qualquer perigo.
O melhor do Benfica foi para mim o Neres. Mesmo se não tivesse inventado a jogada do golo já o seria, por ser o jogador mais activo no ataque e aquele que mais tentou levar perigo à baliza adversária. O que não é surpresa porque de algumas semanas a esta parte já vinha mostrando estar num momento de forma pelo menos aceitável dentro da descolorida realidade da nossa equipa. O João Neves aproveitou bem a estreia a titular e entregou-se por completo ao jogo, correu, meteu o pé, fez aberturas para os colegas e esteve num nível bastante bom. Importante também o golo para o Otamendi naquele que eu acho ser, conforme o escrevi antes, o pior momento dele esta época. No ponto oposto, é um mistério para mim não só como é que o João Mário é titular, mas também como continua a fazer os noventa minutos. O Rafa pode andar a fazer quase tudo mal, mas pelo menos a velocidade dele ainda vai mantendo os defesas em sentido. O João Mário nem isso, perde quase todos os lances divididos ou em velocidade, pouco ou nada ajuda a defender, parece claramente esgotado e pouco inspirado, e hoje até o penálti falhou (só acontece a quem lá anda, é certo, e já marcou muitos esta época, mas para mim parece-me apenas mais um sinal do momento de pouco fulgor que atravessa).
Será preciso produzir mais e melhor para as últimas cinco jornadas se queremos manter-nos no topo até final. É que há equipas que pouco ou nada jogam e depois ganham mesmo assim porque têm outras forças a apoiá-los. Nós não temos essa sorte, se fraquejarmos nem que seja um pouco e dermos a menor oportunidade, as mesmas forças que apoiam os outros rapidamente aparecerão para nos empurrar para baixo. Foi bom e importante regressar às vitórias, mas o salto qualitativo a dar durante a semana terá que ser grande para regressarmos de Barcelos com mais três pontos.
Depois do resultado da primeira mão a tarefa era bastante difícil, e a eliminação acabou mesmo por se confirmar na segunda. Num assomo de brio ainda conseguimos evitar aquela que seria uma quase inédita quarta derrota consecutiva, mas fiquei sempre com a sensação de que raramente conseguimos deixar o Inter muito desconfortável na eliminatória.
Já não fico obviamente surpreendido quando olho para a constituição da equipa e vejo as escolhas habituais, mais ainda assim consegui achar uma escolha estranha do nosso treinador quando decidiu fazer o Neres regressar ao banco para promover o regresso do Florentino. Dados os momentos de forma actuais dos nossos jogadores, esperaria que o ele ocupasse ou o lugar do João Mário numa ala, ou até mesmo o lugar do Rafa no meio, função que já desempenhou esta época várias vezes com sucesso. Em vez disso voltámos a entregar as alas ao João Mário e ao Aursnes, o que já tínhamos visto na primeira mão ter dificuldades frente a uma equipa que sobrepovoa a zona central. Era importante, se não mesmo fundamental marcar primeiro se queríamos ter alguma perspectiva de ainda discutir o apuramento, mas a fase inicial mostrou-nos um Benfica muito pouco incisivo no ataque, que julgo nem sequer ter conseguido fazer um único remate durante largos minutos. Pelo contrário, a nossa defesa, mesmo sem ser submetida a uma pressão intensa, parecia tremer com cada ataque adversário. E era mesmo o nosso capitão e jogador mais experiente quem mais erros cometia. Aparentemente com excesso de vontade (ou nervos), o Otamendi insistia em entrar 'à queima' a quase todos os lances, perdendo-os frequentemente e deixando a equipa exposta. E o Inter chegou cedo (aos catorze minutos) ao golo que o deixava completamente confortável num lance assim, em que não só o Otamendi perdeu a bola dividida com o Dzeko como depois o Grimaldo tentou também ir ao lance e não conseguiu o corte. A partir daí ficámos completamente expostos e o remate colocado ao poste mais distante, já dentro da área, não deu possibilidades de defesa ao Vlachodimos. O Benfica continuou inócuo no ataque e só à meia hora finalmente conseguiu rematar à baliza adversária, num livre frontal do Grimaldo. Pouco depois chegou o golo do empate, num raro momento em que apanhámos a equipa do Inter descompensada numa transição. O Rafa recebeu a bola solto na direita, no limite do fora-de-jogo, e o cruzamento saiu direitinho para o meio da área, onde o Aursnes apareceu sem marcação para cabecear, com o Dumphries a chegar já tarde. A forma como decorreram os minutos a seguir ao golo e até ao intervalo, durante os quais o Inter já não pareceu uma equipa tão segura de si própria, fez-me acreditar que se conseguíssemos fazer o segundo golo a eliminatória poderia ficar em aberto.
Para a segunda parte regressámos com o Neres, que veio dar maior dinâmica ao ataque e deixar-me ainda mais perplexo com o facto de não ter sido aposta de início. A surpresa veio no facto dele ter substituído o Gilberto, o que significou que o nosso faz-tudo norueguês desta vez pôde estrear-se nas funções de lateral direito. E até achei que o Benfica, talvez por influência do Neres, veio melhor para a segunda parte. Vi mais posse de bola no meio campo adversário e aproximações à área. E tal como na primeira mão, voltámos a ver uma decisão infeliz da arbitragem - parece que já é um clássico sempre que atingimos esta fase da prova. Desta vez a equipa de arbitragem espanhola fechou os olhos a um penálti que pelo menos na repetição é por demais evidente, do Lautaro sobre o Aursnes. Tal como disse, se o Benfica tivesse feito o segundo golo antes do Inter, talvez a eliminatória pudesse ter outra história. Tal não aconteceu e por isso continuámos expostos às nossas desconcentrações defensivas e cinismo italiano. E aos sessenta e cinco minutos provámos disso mesmo, com o golo a surgir pelo lado do nosso lateral improvisado, e o cruzamento rasteiro a encontrar o Lautaro completamente sozinho no meio da área, depois de fugir à marcação dos centrais. A quinze minutos do final lá trocámos de Gonçalos (o Ramos devia estar estoirado, porque andou por ali a correr até à exaustão, mesmo que sem grandes resultados práticos) mas estranhamente continuámos a insistir no João Mário e no Rafa, que sinceramente nesta altura quase parecem atrapalhar mais do que ajudar. A troca de Gonçalos não surtiu grandes efeitos, mas o Inter, que na mesma altura fez três alterações de uma vez, teve a recompensa imediata. Acabadinho de entrar, o Correa, mais uma vez pela direita, deixou o Otamendi nas covas com um simples toque e disparou cruzado ao poste mais distante para o terceiro golo. O Inter neste jogo fez três remate à baliza do Benfica e marcou três golos, sem que o Vlachodimos pudesse fazer o que quer que fosse. Com a eliminatória mais do que resolvida, finalmente houve do banco uma resposta imediata a este golo e entraram o Musa e o João Neves para os lugares do Rafa e do Chiquinho, e a equipa pareceu ter um abanão positivo. Mesmo sem nada já para ganhar, fomos à procura de melhor sorte e a quatro minutos do final, depois de um livre da direita do Grimaldo,o António Silva cabeceou para o golo, isto já depois do Neres ter acertado em cheio no poste numa excelente ocasião para o Benfica. Ainda tempo para a tradicional substituição do minuto 89, na qual trocámos (finalmente!) o João Mário pelo Schjelderup e mesmo a acabar o jogo chegámos ao empate. Novamente o Grimaldo na origem do golo, entrando pela esquerda numa boa iniciativa individual em que fez um túnel ao Brozovic e colocando a bola no interior da área, onde depois de um ressalto sobrou para o remate de primeira do Musa.
Acabo por escolher o Grimaldo como o jogador a destacar, pelas duas assistências para golo que fez. Também o Neres merece ser mencionado, porque ao contrário de boa parte da equipa parece estar em boa forma e tem mexido sempre com os jogos quando entra. O motivo pelo qual começa no banco e optamos por dois médios sem grande capacidade de explosão nas alas, só o nosso treinador pode explicar. Quero falar também do Otamendi, que nesta altura parece ser uma parte importante do problema. Está num momento de forma bastante mau, e o pior é que tem estado directamente ligado a quase todos os golos que o Benfica tem sofrido nesta fase negra. O segundo golo do Porto tem intervenção directa dele, o do Chaves nem vale a pena falar, e ontem está em dois dos três golos do Inter. A forma como foi batido com tanta facilidade pelo Correa no lance do terceiro golo é difícil de aceitar. Eu acho sempre que ele se faz aos lances com demasiada sofreguidão e um adversário inteligente consegue tirar partido disso.
Objectivamente, isto foi uma campanha muito boa do Benfica na Champions. Nunca ganhámos tantos jogos ou dinheiro, e nunca jogámos com a convicção e personalidade com que o fizemos até aos oitavos. Mas a verdade é que julgo que a maioria dos benfiquistas se sentirá frustrada nesta altura, porque temos a sensação de que estaria perfeitamente ao nosso alcance fazer ainda melhor. Infelizmente o pior momento de forma da época surgiu precisamente nesta altura decisiva e isso para já custou-nos a eliminação da prova. Não há vitórias morais, mas julgo que pelo menos foi importante para a nossa equipa terem conseguido evitar a derrota no jogo de ontem. Ao contrário de outros jogos, eu não tenho muito a apontar-lhes em termos de atitude e gostei que não tivessem simplesmente baixado os braços mesmo com um resultado extremamente negativo. Agora é mostrar vontade no jogo contra o Estoril e regressar rapidamente às vitórias.
E vão três seguidas. Não há meio da equipa levar um abanão que a tire deste espiral descendente em que ela própria se enfiou. Estamos na fase em que tudo o que pode correr mal corre mesmo, e a descrença parece instalada e com vontade de ficar. Uma vez mais falhámos numa altura decisiva e perdemos de forma quase incrível um jogo que era absolutamente fundamental ter ganho. Depois de tanto e tão bom futebol apresentado durante meses, agora qualquer jogo parece ser um exercício de sofrimento para os adeptos e para a própria equipa.
Em termos de onze nunca há grandes surpresas. Do grupo nuclear de 13-14 jogadores jogam aqueles que estiverem disponíveis, e faltando hoje o Florentino saltou para a titularidade o Neres, recuando o Aursnes para o meio campo. Sobre o jogo, nem vou estar a perder muito tempo a dissertar sobre aquilo que se vai tornando rotina. Contra uma equipa que jogou quase sempre toda enfiada junto à sua área recorrendo às práticas habituais de perdas de tempo e dedicar-se quase em exclusivo a anular o adversário, o Benfica não soube mais uma vez encontrar soluções. Contra uma infinidade de jogadores acumulados no meio, afunilar nunca foi obviamente solução, e explorar as alas também não porque a qualidade dos cruzamentos deixou quase sempre muito a desejar. A percentagem de sucesso dos mesmo foi assustadoramente baixa, e um exemplo concreto disto fica bem reflectido na estatística dos pontapés de canto: o Benfica dispôs de dezanove e praticamente não conseguiu criar perigo a partir de um deles. Aliás, houve vários que tentámos marcar à maneira curta e nem sequer conseguimos chegar a meter a bola na área. Temos unidades nucleares que estão em claro sub-rendimento (casos mais flagrantes são o João Mário ou o Rafa) mas que continuam a ser sempre titulares e até a jogar os noventa minutos, enquanto o nosso treinador espera até aos últimos minutos dos jogos para tentar alterar alguma coisa. Para todo o domínio territorial e em qualquer outra estatística para que se olhe, em termos concretos o Benfica apenas conseguiu criar três ocasiões flagrantes de golo: uma pelo António Silva na primeira parte, que atirou para fora quando tinha tudo para marcar; uma pelo João Mário no início da segunda, em que conseguiu por duas vezes na mesma jogada falhar aquilo que parecia ser mais fácil de fazer; e uma pelo Otamendi mesmo no final, em que o guarda-redes defende quase sem saber como. O Chaves, fazendo muito menos, conseguiu ter duas ocasiões flagrantes, ambas como resultado de falhas grotescas da nossa defesa. Na primeira, em que um jogador do Chaves sozinho enfrenta três dos nossos defesas e acabamos por abrir-lhe uma passadeira vermelha para marcar, foi o Vlachodimos quem nos salvou. Na segunda, uma oferta em bandeja de ouro do Otamendi, marcaram.
O golo do Chaves aliás é um exemplo daquilo que escrevi antes: tudo o que pode correr mal, corre mesmo. Mesmo a acabar o jogo o Otamendi tem uma oportunidade flagrante para marcar. O guarda-redes defende quase sem saber como (e no lance fiquei com a sensação que depois acabou por haver penálti claro sobre o mesmo Otamendi, mas não houve coragem ou vontade do VAR para o assinalar - isto era um lance de VAR, não para o árbitro de campo). Praticamente na resposta, um chuto para a frente sem qualquer nexo, o Otamendi escorrega - aliás, não sei bem o que é que se passou para que tantos dos nossos jogadores tivessem escorregado durante o jogo - e uma equipa que jogou completamente para o empate e praticamente nada fez para ganhar o jogo, marca e ganha. Foi injusto? Tremendamente. Mas nas tradicionais palavras nestas situações, pusemo-nos a jeito? Completamente. Quanto ao nosso treinador, mais uma vez desilude ao não mostrar reacção no banco. Mexe tarde na equipa e parece mexer mal. A precisar de marcar, não arrisca, simplesmente faz troca por troca e tira do jogo o Gonçalo Ramos. Eu que nem sou fã do Musa achei que se havia jogo onde se justificaria a sua entrada era este. Acabou por entrar a um minuto do final. Não é que eu seja apreciador de reacções de pânico, mas a excessiva calma do Roger Schmidt perante os sucessivos cenários de descalabro que se vão desenrolando à sua frente é difícil de aceitar. E preocupa-me que fique com a sensação de que ele não tem noção do sentido de urgência que certos jogos têm. Abordámos o jogo com o Porto como se fosse apenas mais um jogo como qualquer outro, eles como sempre abordaram-no como uma guerra e como se as suas vidas disso dependessem. Vimos o resultado. Hoje era outro jogo que tínhamos que ganhar de qualquer maneira, mas olhando para a nossa equipa nunca me pareceu que tivessem noção disso. O resultado está mais uma vez à vista
Obviamente que não consigo fazer destaques. Posso apenas assinalar que, mesmo correndo mal as coisas, o Neres estava a ser dos mais interventivos e quem mais parecia querer tentar alguma coisa. Foi o primeiro a sair. O miúdo João Neves não entrou mal e acabou por mexer um pouco com o jogo.
No espaço de uma semana deitámos fora seis dos nossos pontos de vantagem no campeonato e hipotecámos o nosso futuro na Champions. Em relação a isto, de assinalar também que o Inter perdeu hoje contra o Monza em casa, e que tem apenas uma vitória nos últimos oito jogos. Precisamente a da passada terça-feira. Agora não é tempo de dizer para termos calma porque ainda estamos em primeiro com quatro pontos de vantagem, e que somos os únicos a depender apenas de nós próprios. É sim tempo de dar um safanão nesta equipa - se for preciso até um murro nas ventas - para que se enxerguem e percebam tudo o que está em jogo. Não é altura de pedir o apoio dos adeptos, porque esse sempre esteve lá, de forma incondicional, e vamos enchendo a Luz e os campos deste país jogo após jogo. É sim altura de corresponder a esse apoio e às nossas expectativas. O Benfica não pode perder três jogos seguidos e responder com apelos à calma como se nada de extraordinário se passasse. Tenham noção.
Mais uma exibição medonha, a terceira consecutiva. O nosso Benfica conseguiu atingir o ponto exibicional mais baixo da época precisamente na altura mais decisiva da mesma. No momento em que a história contemplou a nossa equipa nos olhos, a resposta foi... ficarem transidos de medo.
Não houve grande reacção à exibição vergonhosa da passada sexta, mas sim uma continuidade da mesma. Sem o Bah e o Otamendi, as opções (previsíveis) foram o Gilberto e o Morato. Já menos previsível, ou melhor, menos desejada por mim, mas se calhar previsível na mesma, foi a opção mais uma vez do João Mário e do Aursnes para as alas. Contra uma equipa que faz quase a recuperação do velho espírito do catenaccio, que se apresenta com três centrais e três médios centro de características defensivas, a opção do Benfica foi alinhar com dois médios centro de origem nas alas, que têm sempre tendência em vir para o meio. Tinha tudo para correr mal. E depois bastaram poucos minutos para perceber isso mesmo, dada a incapacidade do Benfica para desequilibrar a estrutura defensiva adversária, a pouca intensidade mais uma vez apresentada, jogando quase sempre a passo (o que acaba por ser uma consequência quase inevitável quando o nosso jogo é pautado pelo João Mário, que tem três velocidades: devagar, devagarinho, e parado) e a completa falta de ideias - e isto não foi exclusivo dos jogadores, a desinspiração estendeu-se ao banco, incapaz de ler o jogo e de reagir de forma a alterar o rumo do jogo. Porque nem era precisa muita perspicácia para se perceber que o mais provável era que ele acabasse como veio a acabar. Mais uma vez, os jogadores adversários exibiram muito maior poder físico do que os nossos, ganharam a maior parte dos duelos individuais e das bolas divididas, e à medida que foram ganhando confiança foram-se aventurando cada vez mais à frente, sendo previsível que o inevitável erro defensivo acabaria por aparecer. Bastava ver a forma como, por exemplo, o Gilberto perdia praticamente todos os lances defensivos, sobretudo por insistir em entrar quase sempre à queima nas jogadas. Ou a insegurança permanente do Morato. Passes errados foram em barda, ou directamente para os adversários, ou para terra de ninguém, os nossos jogadores estiveram sempre demasiado afastados uns dos outros, o que invalidava qualquer tentativa eficaz de pressionar, nada funcionou esta noite.
E se a primeira parte já tinha sido má, na qual apenas por uma vez o Benfica tinha criado verdadeiro perigo num remate do Rafa ao poste - após um grave erro da defesa do Inter - a segunda conseguiu ser muito pior. A sensação que tive foi a de que mais uma vez deixámos o adversário vir a nossa casa fazer o que muito bem quisesse, enquanto nós assistíamos de forma mansa. Exemplo: o Inter dedicou-se durante muito tempo a queimar tempo sempre que podia e a quebrar o ritmo de jogo em cada reposição de bola. Há um lance em que eles fazem uma falta ainda no nosso meio campo. Um jogador deles (Brozovic) pega na bola, e vai calmamente com ela na mão durante largos segundos a reclamar com o árbitro, retardando o recomeço do jogo. A reacção dos nossos jogadores? ficarem a olhar para ele de mãos na cintura. Ninguém fez sequer o esboço de reacção de ir lá tirar-lhe a bola das mãos para marcar rapidamente a falta. Para piorar tudo, ficámos em desvantagem relativamente cedo, num cruzamento largo da direita que foi encontrar três(!) jogadores do Inter completamente à vontade junto ao poste mais distante, com o cabeceamento a não dar hipóteses de defesa ao Vlachodimos. Ainda tivemos uma ténue reacção, não chegando ao golo do empate de forma quase caricata, numa confusão dentro da pequena área em que ninguém conseguiu fazer o remate com sucesso, mas o jogo caía cada vez mais para o lado do Inter, e mesmo a entrada do Neres (que acabou por ser a única substituição feita durante o jogo), que ainda animou um pouco as coisas, não foi suficiente para fazer a balança pender para o nosso lado. Achava que um segundo golo do Inter seria bastante mais provável, o que acabou por acontecer num penálti assinalado pelo VAR num lance em que o Inter já tinha ficado à beira de marcar (no estádio não me apercebi do motivo para o penálti, e ainda não vi nenhuma repetição). Do banco, uma completa ausência de reacção da parte do nosso treinador perante o descalabro que ia acontecendo à frente dos nossos olhos, sendo até provável que o Inter marcasse mais um golo. A reacção, se é que se lhe pode chamar isso, ficou-se por tentar fazer duas substituições ao minuto noventa (não encontro qualquer explicação lógica para isso) e que nem isso conseguimos fazer. Para fechar de forma exemplar o total desacerto da nossa equipa, no último lance do jogo o Gonçalo Ramos isolou-se e conseguiu permitir a defesa ao guarda-redes.
Mais uma vez não consigo achar que se aproveite qualquer um dos nossos jogadores. Foi tudo mau, e vazio de crer ou ambição. E tão mau ou pior do que os jogadores, foi o nosso treinador. Uma má abordagem ao jogo, seguida de uma total inoperância e ausência de reacção que chega a ser desesperante.
Tínhamos perdido um jogo durante esta época. No espaço de quatro dias perdemos dois, ambos decisivos. E pior do que perdê-los, foi a forma como os perdemos. Porque perdemos sem apelo nem agravo, sem qualquer tipo de pormenor redentor que se pudesse aproveitar deles. Um descalabro absoluto porque nem sequer parecemos lutar contra a nossa sorte, foi simplesmente aceitá-la de forma resignada, o que vai contra tudo aquilo que o Benfica representa. Exige-se uma reacção muito forte e imediata em Chaves - onde não tenho a menor dúvida que irão tentar aproveitar o nosso mau momento para lançar mais um forte ataque, provavelmente encabeçado por um Manuel Oliveira ou um Fábio Veríssimo - sob pena de deitar a perder completamente a época. Espero que pelo menos a única coisa que me deixou um bocadinho mais animado hoje, que foi o regresso do Gonçalo Guedes aos convocados, possa contribuir para isso.
Um jogo absolutamente deplorável da nossa parte e a oportunidade de dar o cheque-mate na questão do título atirada para o lixo. Nada a que não estejamos habituados: os anos passam, os treinadores, jogadores, dirigentes mudam, mas uma coisa mantém-se constante: a nossa absoluta falta de killer instinct nas alturas decisivas. A última exibição, em Vila do Conde, já não tinha sido famosa, mas esta conseguiu ir mais longe e foi inacreditavelmente pior. O Porto ganhou e ganhou bem, porque foi claramente melhor do que um Benfica completamente irreconhecível.
Eu coloco a questão de uma forma muito simples: se com dez pontos de avanço, a jogar em casa com a Luz esgotada, e a vencer logo a partir dos dez minutos não é suficiente para dar a tranquilidade suficiente aos nossos jogadores para jogarem aquilo que sabem e não parecerem um bando de meninos assustados, então não sei o que será necessário. Não entrámos particularmente bem, mas da primeira vez que chegámos à área do Porto marcámos num cabeceamento do Gonçalo Ramos após cruzamento do Bah, com a bola a ir à barra e a bater nas costas do guarda-redes para depois entrar. Tudo bem encaminhado, mas mais parecia que éramos nós quem estava a perder e a precisar de ganhar. Houve uma diferença aberrante de atitude entre os nossos jogadores e o adversário. Eles não davam um lance por perdido, se fosse preciso corriam o campo de uma ponta à outra a perseguir o portador da bola, a meter o pé, ou os braços e a morder os calcanhares. Os nossos, assim que a bola saía um bocadinho desviada, desistiam dos lances. Bolas divididas, quase todas deles. Segundas bolas, quase todas deles. Perante um adversário que pressionava sempre e não desistia, mentes brilhantes como a do João Mário recebiam a bola e ficavam parados com ela nos pés à espera de ter tempo para decidir o que fazer - perdiam invariavelmente a bola, obviamente. Contra uma dupla de defesas centrais com uma idade conjunta de 75 anos, a ideia mais brilhante que tivemos durante todo o jogo não foi meter bolas pelo chão nas suas costas ou explorar o espaço entre eles e os laterais, de forma a obrigá-los a correr, onde tinham uma clara desvantagem na velocidade. Não foi explorar as faixas laterais, por onde até construímos o nosso golo. Foram sim repetidas bolas por alto para a zona central, nas quais o Ramos e o Rafa eram presa mais do que fácil. Pelo contrário, as bolas longas para a frente resultaram na perfeição para o Porto, o que é óbvio quando se tem a garantia de ganhar quase todas as segundas bolas. Houve muito poucos remates de parte a parte durante o jogo, mas a forma atroz como defendemos, com erros absolutamente grotescos na zona central por parte dos nossos dois centrais, permitiram ao Porto marcar em praticamente todos os remates que acertaram na baliza. Não me recordo de uma única defesa do Vlachodimos, e o Porto meteu quatro bolas na baliza. Duas foram anuladas, outras duas não. Em vantagem à beira do intervalo (que era de todo injusta face ao que produzimos na primeira parte) nem sequer conseguimos meter o jogo no congelador até ao apito. Pelo contrário, o nosso jogo nesses minutos finais foi particularmente confrangedor, permitimos o empate e só não foi logo o K.O. (porque pelo menos eu não tinha a menor dúvida que assim que o Porto chegasse à vantagem o jogo para nós estaria acabado) por seis centímetros, que foi aquilo que invalidou o segundo golo. Mas voltámos para a segunda parte exactamente com as mesmas atitude e estratégia, e bastaram nove minutos para o Porto voltar a marcar. Mais uma exibição defensiva digna dos apanhados, uma cratera enorme no meio, e depois de um corte defeituoso do Otamendi, o Taremi marcou num remate colocado de fora da área. Haveria à vontade uns bons quarenta minutos por jogar, mas confesso que achei logo que o jogo estava perdido. O Benfica nunca conseguiu mudar a sua forma de jogar e deixou sempre o Porto extremamente confortável no jogo. E só não sofremos um terceiro golo mais perto do final porque o Porto definiu muito mal uma situação em que apareceu em superioridade de três para um na área.
Não se aproveitou um jogador em toda a nossa equipa. Nem um. Nem sequer consigo dizer qual foi o pior, porque foi tudo mau demais.
Este foi, para mim, o pior jogo que fizemos em toda a época. Eu já escrevi antes que consigo até aceitar dias menos bons, em que as coisas não saem bem e estamos menos inspirados. Mas a falta de atitude é uma coisa que me deixa fora de mim. Há um lance na segunda parte em que recuperamos a bola e temos oportunidade de sair para o contra-ataque, em que a equipa do Porto está toda desposicionada e tem metade dos jogadores perto da nossa área (foi aquele em que eles desperdiçam o 3-1 de forma incrível). Os nossos jogadores preferiram segurar a bola e andar a trocá-la entre si na defesa, à espera que os jogadores do Porto recuperassem as posições - não fui só eu que vi isto, certamente, porque a equipa foi assobiada. A coisa foi tão má que nem sequer foi necessário o mais do que previsível nomeado Soares Dias, apesar de ter mantido o seu habitual critério disciplinar inclinado nestes jogos, ter uma intervenção mais decisiva no jogo para nos derrotar. Não há qualquer explicação aceitável para uma exibição destas. A única coisa que podemos esperar agora é que isto não deixe consequências e que consigamos rapidamente retomar o rumo certo.
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