Honestamente, até acho que a equipa da FPF se portou melhor do que eu esperava neste jogo. Pelo menos na primeira parte, embora fosse visível a grande diferença de qualidade entre as duas equipas, soube anular de forma mais ou menos eficaz o meio campo espanhol. Na segunda parte as diferenças acentuaram-se, e depois veio o momento invariavelmente fatídico em qualquer equipa do Queirósz, que é quando ele decide entrar em acção e alterar alguma coisa. Fê-lo retirando um jogador que estava a causar algum incómodo à defesa espanhola e, mais uma vez, atirando com o Ronaldo para junto dos centrais - verdade seja dita que ele também não estava a fazer grande coisa encostado ao flanco. Pode ser só azar do homem, malapata, ou então é incompetência pura: o certo é que minutos depois a Espanha marcou. E aí ficou claro que estava praticamente tudo acabado, porque não havia Plano B. A estratégia era prolongar o empate enquanto fosse possível, e a equipa da FPF não estava preparada para estar em desvantagem no marcador.
A minha opinião sobre o Queirósz é por demais conhecida. Não foi a derrota com a Espanha que a alterou, e seria muito difícil que uma eventual vitória o fizesse. Por isso o que eu vou escrever sobre ele não é propriamente bater no ceguinho quando ele está em baixo, porque já digo isto há muito tempo. Continuo a perguntar: que palmarés tem este homem para ser seleccionador nacional? O que é que ele já ganhou como treinador principal sem ser nos escalões jovens? Foi por ter passado uns anos a distribuir coletes e a colocar pinos durante os treinos do Ferguson que ele merece o cargo? Ou terá sido por saber lamber as botas certas, ou por ter os amigos mais influentes, ou então por ser chamado de 'Professor' por toda a gente em Portugal (lá por fora nunca ouvi ninguém chamar-lhe 'Professor')?
Olhando friamente os números, Portugal qualificou-se para este Campeonato do Mundo sem conseguir vencer metade dos seus jogos no grupo de qualificação, sendo incapaz de vencer um único jogo às equipas mais cotadas do grupo. Conseguiu qualificar-se para o play-off, perdendo o grupo para uma decrépita Dinamarca que neste Mundial foi eliminada na primeira fase aos pés do Japão. Nesse play-off conseguiu eliminar a toda-poderosa Bósnia, o que de alguma estranha forma foi suficiente para inflar uma data de egos e começar-se a ouvir à boca cheia que Portugal era 'candidato'. Chegado ao Mundial, venceu um jogo em quatro disputados, sendo essa vitória obtida contra a equipa pior classificada no ranking da FIFA presente no torneio (e que, sem surpresa, foi a equipa que terminou virtualmente em último lugar nesta fase final, já que fez zero pontos e teve a pior diferença entre golos marcados e sofridos de todas as trinta e duas selecções presentes). Portugal conseguiu, aliás, marcar golos apenas contra essa mesma equipa, ficando em branco nos outros três jogos e apresentando por vezes um futebol que parecia uma tentativa de emulação da pior Grécia do Otto Rehhagel, com tácticas revolucionárias que se poderiam descrever como uma espécie de 6-4-0, ou 4-1-5-0 com boa vontade.
Recordo ainda que, durante a primeira passagem do brilhante Queirósz pela FPF, conseguiu não qualificar Portugal para o Euro'92 na Suécia (a culpa foi do Artur Jorge, que orientou a equipa durante os jogos anteriores à sua chegada) e igualmente não qualificar Portugal para o Mundial'94 nos EUA (a culpa foi da 'porcaria' que havia na Federação). Em relação ao carácter do senhor, e sem querer ir muito a fundo, basta-me apenas pensar que segue à letra a máxima do 'faz o que eu digo, não faças o que eu faço' para fazer o meu julgamento (recordo o que ele disse em relação ao Scolari nas questões da convocação de jogadores naturalizados ou de jogadores que não fossem titulares nos seus clubes, e o que fez assim que se apanhou sentado no lugar anteriormente ocupado pelo brasileiro). E quanto às suas qualidades de gestão de pessoas, lembro-me que um dos motivos para ser corrido do Real Madrid foi não ter mão no balneário, e olhando para esta selecção, e apenas no período desta fase final do Mundial, tivemos a rábula da dispensa do Nani (e não conseguem convencer ninguém que foi por causa de uma lesão no ombro); as declarações do Deco após o jogo com a Costa do Marfim; hoje ouço o Queirósz dizer que tirou o Hugo Almeida porque ele estava esgotado, e depois ouvimos o jogador dizer, cinco minutos depois, que não estava nada esgotado; e temos ainda a reacção do Ronaldo no final. Tudo isto faz-me pensar que se calhar o Queirósz não deve ter este balneário propriamente na mão... Já agora, e em relação ao Ronaldo, que eu sinceramente considero um tipo que merece admiração pelo facto de conseguir reunir uma quantidade incrível de defeitos de personalidade numa só pessoa, mas cujo valor como futebolista é inegável, acho que é fantástica a forma como o actual seleccionador nacional consegue eclipsá-lo dos jogos, levando-o a atravessar talvez o maior período da sua carreira sem marcar golos por uma equipa. Não é qualquer um que consegue isto.
Posto tudo isto, qual deverá ser o futuro do Queirósz à frente da equipa da FPF? É para continuar, obviamente. É que não é fácil encontrar alguém com tantas qualidades e um curriculum vitae destes.
P.S.- E quanto à argumentação que terá sido 'azar' Portugal apanhar com a Espanha, campeã europeia em título, logo nos oitavos-de-final, recordo que jogar contra a Espanha foi também, e em grande parte, uma escolha do próprio Queirósz. Desde o sorteio que se sabia que jogar contra a Espanha era uma fortíssima possibilidade. Pois no jogo contra o Brasil não vi qualquer indício de inconformismo por parte da equipa técnica da escreção em relação a esse destino. Pelo contrário, mesmo sabendo-se que era quase impossível deixar escapar a qualificação, até mesmo pelas notícias que iam chegando do jogo da Costa do Marfim, nunca Portugal arrisocu um milímetro que fosse, empenhando-se, isso sim, em segurar um empate que carimbava o encontro com a Espanha. Tiveram, portanto, aquilo que desejaram.
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