Jorge Jesus juntou-se, por mérito próprio, a uma longa galeria de notáveis treinadores do Benfica que, chegando a um jogo importante, resolvem inovar tacticamente. E falham rotundamente. Sim, escrevo estas linhas com a plena noção de que é muito fácil falar e criticar depois do desastre ter acontecido, mas não tenho grandes dúvidas que a maior parte dos benfiquistas terá, tal como eu, começado logo a torcer o nariz assim que soube qual seria o onze inicial.
E este onze incial foi quase que uma fotocópia do pior que vimos no tempo do Quique Flores, com David Luiz a lateral esquerdo ou Aimar como segundo avançado. No início da época perdemos a Supertaça para este mesmo adversário, num jogo em que fomos surpreendidos pelo avanço do Coentrão no terreno. Hoje isto voltou a acontecer. Dá para nos interrogarmos de que serve termos um dos melhores laterais esquerdos do futebol actual se, quando chega um jogo mais difícil, a primeira opção parece ser retirá-lo do seu lugar. Depois há a questão do Aimar. Sim, quer o Aimar, quer o Carlos Martins estão num bom momento de forma. Mas isto não significa que tenham obrigatoriamente que jogar sempre os dois, e há que escolher. O treinador optou pela solução mais fácil, que foi não ter que fazer uma escolha. Empurrou o Aimar para a posição onde conseguiu passar a sua primeira época em Portugal quase despercebido, e retirou da equipa o Saviola. Que está, sabemo-lo, em má forma. Mas é, na minha opinião, muito importante em toda a manobra ofensiva. E a sua experiência e sangue frio seriam, sem dúvida, importantes num jogo destes.
O resultado das alterações tácticas começou a ver-se logo ao fim de dez minutos, quando após uma incursão precisamente pelo lado esquerdo da nossa defesa, o porto marcou praticamente no primeiro ataque que fez, com o Varela, à vontade no meio da área, a empurrar para a baliza vazia após um centro do Hulk, que passou com facilidade pelo David Luiz. E não foi certamente por acaso que o porto continuou a criar perigo sempre por aquele lado. A opção do David Luiz para tentar travar o Hulk causou mais problemas que soluções. Uma das maiores armas do Hulk é a velocidade, e não é certamente o David Luiz que tem velocidade para o acompanhar. Por isso mesmo, acabou por demonstrar excessiva preocupação com o seu adversário directo, e mover-lhe uma marcação praticamente ao homem, subindo mesmo no terreno para o acompanhar sempre que ele recuava, e deixando uma auto-estrada nas suas costas. Auto-estrada que foi aproveitada, com uma eficácia terrível, pelo porto, que em mais duas jogadas por esse lado fez mais dois golos. Ambos pelo Falcao, aproveitando centros do Belluschi, que era quem explorava o espaço deixado nas costas do lateral. Antes da meia hora de jogo, o Benfica tinha o jogo perdido. No ataque, as coisas não funcionavam melhor: à tal meia hora de jogo, o Benfica tinha tantos remates quantos os do adversário (seis), sem nada para mostrar, e apesar de ter beneficiado de uma série de cantos e alguns livres, viu o Carlos Martins marcá-los praticamente todos mal.
Na segunda parte pouco restaria ao Benfica senão minimizar os estragos. A opção inicial foi revertida com a entrada do Gaitán para o lugar do Sidnei, e o jogo foi decorrendo de forma algo monótona, animado esporadicamente pelos golfistas de bancada que abundam naquele estádio. O Benfica não demonstrava - aliás, nunca demonstrou - capacidade para criar perigo (acho que me lembro apenas de uma oportunidade de golo, num remate do David Luiz após um canto - por acaso não marcado pelo Carlos Martins - que foi defendido com algum aparato pelo Hélton) e o porto não precisava sequer de se esforçar, pois tinha a certeza de que o jogo estava mais do que ganho, restando apenas saber por quantos. Como se as coisas não estivessem a correr suficientemente mal, até o nosso capitão e jogador mais experiente em campo perdeu a cabeça e foi justamente expulso, após dar uma cotovelada num adversário. E nos dez minutos finais foi construída a goleada, primeiro após um erro do Coentrão que permitiu ao Hulk arrancar um penálti, e depois num grande remate de fora da área do mesmo jogador.
Depois de um jogo destes não há forma de escolher melhores ou piores; todos estiveram mal. Mas critico a atitude do Luisão que lhe valeu a expulsão porque nunca a esperaria vinda dele. Nunca dele. É o nosso capitão, é um símbolo actual do clube, e mesmo considerando as circunstâncias à volta do jogo, e a forma como ele nos estava a correr, não consigo aceitá-la pacificamente.
Não é tanto o facto do Jorge Jesus ter decidido 'inventar' que me entristece. O que me entristece é a natureza dessa 'invenção'. Porque, pela primeira vez desde que ele chegou ao nosso clube, adivinhei-lhe medo nas suas acções. E isso é algo que, para mim, não pode existir no Benfica. Aceitaria melhor que o Benfica fosse goleado tentando ganhar o jogo, do que sê-lo tentando não perder. Sobretudo num jogo em que, em teoria, apenas uma vitória nos interessaria. A reconquista da Liga ficou agora muito longe do nosso alcance. Mas temos dois terços do campeonato para disputar, e a obrigação de dar e fazer o nosso melhor. Que é mais, muito mais do que aquilo que eu vi esta noite. Após uma das páginas mais negras da minha vida de benfiquista, resta-me levantar a cabeça, ocupar o meu lugar no próximo jogo na Luz, e gritar ainda mais alto pelo meu Benfica. Nem admito outra opção.
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