Meu caro Jorge Jesus,
Eu gosto de acreditar nas pessoas, de ver que o que elas dizem acontece de facto. Quando o senhor chegou ao Benfica, afirmou que consigo nós iríamos jogar o dobro do que com o seu antecessor. Foi um discurso mobilizador e que teve correspondência prática (ou que pecou por defeito, visto que jogámos o triplo ou o quádruplo do ano anterior…). No entanto, este tipo de discurso muito confiante nas suas capacidades é algo perigoso, porque se se falha a frustração é muito maior. Foi o que aconteceu na época passada, quando o senhor falou na Champions no início da temporada e depois foi o que se viu…
E, perdoar-me-á, foi o que se viu na semana passada, quando o senhor disse que quem deveria estar nervoso eram os outros clubes por estarem atrás do Benfica e a resposta prática não foi espetar quatro batatas em Coimbra (a única consequência possível para este tipo de discurso), mas sim… empatar o jogo. Sim, falhámos imensos golos de baliza aberta, sim, fomos roubados (apoia-se o Fernando Gomes para a Liga e posteriormente para a Federação, e depois está-se à espera de milagres… mas isto é outra história), porém empatámos um jogo que não poderíamos deixar de ganhar. Principalmente, depois daquele seu discurso e na véspera de recebermos o CRAC.
Veio o senhor dizer agora que esta partida com os assumidamente corruptos não é decisiva. É o discurso que se tem que ter para fora, eu percebo, porque ainda faltam alguns meses para terminar a época e “matematicamente”, na pior das hipóteses, quatro pontos (na prática) de desvantagem não é uma distância insuperável. No entanto, espero sinceramente que, para dentro do balneário, o discurso seja outro. É claro que este jogo é decisivo. Da mesma maneira que a vitória sobre eles em Dezembro de 2009, com uma quase equipa B, foi decisiva para a conquista do campeonato, ou como a humilhação sofrida em casa no ano passado foi decisiva para o penoso final de época. É que, meu caro Jorge Jesus, a última imagem é sempre a que fica. De nada nos serve recordes de vitórias seguidas, o melhor futebol desde a primeira passagem do Eriksson, grandes goleadas, se no fim não ganharmos nada. E, a minha convicção pessoal (eu sei que sou pessimista por natureza), é que se não ganharmos mais logo, dificilmente ganharemos alguma coisa (incluindo a Taça da Liga) até final da época. Sim, temos mesmo que ganhar, o empate não serve. Por uma questão de confiança ou, neste caso, de falta dela. Tal como a tal derrota na Luz na época passada minou a confiança de uma equipa que tinha conseguido 18 vitórias consecutivas e até fez com que, duas semanas depois, desbaratássemos em casa uma vantagem de 2-0 conseguida no campo deste mesmo adversário. Mas o senhor certamente saberá melhor isto do que eu.
Estamos no momento crucial da época, em que saberemos se iremos ter uma reedição do que se passou no ano transacto, ou se iremos ver um filme novo. Em qualquer um dos casos, nós, os adeptos, saberemos tirar ilações no final desta temporada. Espero que o senhor também as saiba tirar. É que este ano não temos desculpa. Até estamos a jogar com guarda-redes e tudo, veja lá. E nós, adeptos, por muito que não percebamos como é que se tem um campeão europeu e mundial na bancada, e se joga com um jogador que, ainda em Coimbra, esteve duas vezes à vontade na grande área contrária sob lado esquerdo, com todo o tempo do mundo para colocar a bola num dos nossos e ela fica no primeiro defesa, ou como é que se deixa ir embora em Janeiro o único substituto do plantel para o Maxi Pereira e não se vai buscar mais ninguém (sim, eu estive no Benfica-Santa Clara e vi os jogos da pré-época: não temos mesmo mais ninguém), pondo-nos a rezar a todos os santinhos para que o uruguaio não se lesione até final da época, nós, adeptos, dizia eu, só queremos é que independentemente de tudo o Benfica conquiste títulos. Algo que só acontecerá se ganharmos hoje. Digo eu.
Para terminar, meu caro Jorge Jesus, o senhor que se tem em tão boa conta (e justificada, porque é de facto um óptimo treinador) não quererá perder o campeonato para o ex-treinador do Espinho e Santa Clara (com o devido respeito) e estreante na I Liga, pois não?!
P.S. – Contra esta minha teoria de que mesmo se empatarmos hoje não seremos campeões, posso dizer que durante a época do Trapattoni nunca me passou pela cabeça que o poderíamos ser (até o mesmo ter passado pela cabeça do Luisão). A meu favor, posso relembrar que o fomos com três pontos de vantagem sobre o CRAC, que perdeu 24(!) em casa… E, antecipo-me já, nada me dará mais prazer do que vir aqui no final da época dizer que estava redondamente enganado!
P.P.S. – Se acho que podemos ganhar hoje? Claro que sim! Se até quando jogávamos com o Bossio, quando os centrais eram o Paulo Madeira e o Ronaldo, quando o Jamir estava plantado no meio-campo, ou o Pringle era mais um defesa contrário, eu tinha sempre esperança de ganhar…
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