VAMOS ACABAR COM AS IMBECILIDADES
Segunda-feira, 30 de Abril de 2012

Quarto de hotel

(Isto é um post sobre a indústria hoteleira. Qualquer semelhança com outras realidades é pura coincidência…)

 

Um quarto num hotel de cinco estrelas é muito caro. Se o pudermos pagar, é natural que exijamos a melhor retribuição possível. Porque se não houver excelência, a relação qualidade-preço ficará inapelavelmente comprometida. Suponhamos que haveria uma lista de 11 coisas que eram imprescindíveis para tal (limpeza diária, mini-bar cheio, plasma, etc.). Na nossa primeira semana nesse quarto, tudo correu às mil maravilhas e estávamos deliciados com a nossa estadia. Mas na segunda semana, uma dessas coisas (imaginemos que era o plasma) deixou de funcionar. Foi corrigido na terceira semana depois de várias chamadas de atenção da nossa parte, mas para cúmulo do azar houve outra que passou a ser negligenciada (a limpeza da casa-de-banho, por exemplo). Nós voltámos a alertar para a situação, mas só no último dia dessa semana é que essa limpeza foi efectuada. Como se o quarto nos estivesse a desafiar: “já que tu ficaste tão satisfeito na primeira semana, vamos lá a ver se nas duas seguintes eu te consigo agradar só com 10 coisas da lista em vez das 11”…

 

Independentemente deste facto, nós sabemos que o quarto desse hotel só será nosso enquanto tivermos a capacidade para o pagar. A não ser que sejamos um Abramovich e o pudéssemos reservar para toda a vida. Sabemos que o nosso pior inimigo até poderá vir a ficar nele nos tempos mais próximos. Portanto, tomá-lo como “nosso” seria pouco inteligente. O quarto será de quem pagar mais por ele, porque é essa a sua função. E, se formos inteligentes, não criaremos laços emocionais com esse quarto precisamente por causa disso: está ao nosso serviço só temporariamente, enquanto pagarmos por ele (diferente, por exemplo, dos laços que se criam com o quarto da nossa casa em que, mesmo que não nos tenha prometido, como o do hotel, que fôssemos lá dormir duas ou três vezes melhor do que dormimos no ano anterior – coisa que até foi verdade na primeira semana –, pelo menos temos a certeza de que o nosso maior inimigo nunca lá dormirá).

 

A decisão sobre se ficaremos ou não nele na quarta semana não deve ser baseada, quanto a mim, nesse receio de que o nosso maior inimigo poderá lá ficar. Até porque sabemos que isso vai inevitavelmente acontecer, porque ele já o visitou, gostou dele, apesar de nunca lá se ter hospedado, e tem meios para o pagar. Portanto, se nos concentrarmos nesse acessório (cuja concretização na realidade é apenas uma questão de tempo), perderemos de vista o essencial: será que esse quarto nos satisfaz? Será que fomos felizes nele no conjunto das três semanas? Será justo o preço que pagámos perante o rendimento que obtivemos dele? Será que é desculpável o facto de na terceira semana o quarto ter sido melhor limpo no único dia em que estávamos de smoking, contrariando o que nós lhe dissemos que o importante era estar limpo nos outros dias todos, em que estávamos vestidos normalmente? Será que o hotel tinha potencialidades para nos oferecer mais e melhor, e só não o fez porque o quarto decidiu que dentro dele só entravam os produtos que era queria (e teimou que no seu mini-bar só haveria Charles House mesmo que o Cardhu estivesse na garrafeira)?

 

Independentemente da decisão que tomarmos, é bom termos em mente uma coisa: aquele até pode ser considerado o melhor cá no burgo, mas não é o único quarto de hotel de cinco estrelas que existe.

publicado por S.L.B. às 14:45
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38 comentários:
De Pedro a 30 de Abril de 2012
Soberba análise à indústria hoteleira. Mas um grande problema é estar a pagar por por um quarto de hotel de 3 estrelas o preço de um de 5 estrelas...tb convêm evitar bem esse tipo de erros comuns.
De Morphine a 30 de Abril de 2012
Repararam que só passou a usar Capdevila e Saviola quando viu que o nosso inimigo teria o campeonato praticamente ganho ?
Mas no entanto, ontem inexplicavelmente, quando mais precisávamos outra vez do Saviola ( estava a ficar em forma), voltou a colocar no banco.
Enfim......são estas pequenas coisas que nunca percebi no jesus.

Isto é como as mulheres, .......partir para outra.
Álvaro, Mozer ou Alves se calhar fazem melhor figura e são mais baratos.
De Bogalho a 30 de Abril de 2012
Meu Caro, o problema não é o quarto, nem o hotel. É quem faz as fechaduras, e quem faz as fechaduras é o mesmo serralheiro há 30 anos, e para todos os hotéis. Talvez por isso é que o Charles House e o Cardu está sempre a desaparecer ou a ser trocado pelo um VAT 69. Por mim o mini-bar pode ter as teimas que quiser, desde que o whiskey seja bom. Talvez pudéssemos começar por arranjar o nosso próprio sistema de vigilância e deixar de confiar na empresa que tem as câmaras de filmar por esse pais fora...
De hcl a 30 de Abril de 2012
Acho que o problema é que mesmo que não fiquemos no quarto temos que o pagar.
De NrowS a 30 de Abril de 2012
Subscrevo as palavras do Pedro. Estamos a pagar por SPA, serviço de quartos, refeições e ténis (que é o que queremos, realmente) e, no fim de contas, só estamos mesmo a usufruir da dormida. Parece-me lógico que ou temos de pagar substancialmente menos ou teremos de ir procurar um quarto noutro hotel. Se o nosso inimigo vem ou não para este... é problema dele.
De Manuel Afonso a 30 de Abril de 2012
Se o quarto é de cinco estrelas, mas por experiência própria já sabemos que tem um colchão de palha, a cama range, os estores não abrem, a canalização está entupida, as luzes não acendem, e está cheio de pulgas e baratas, eu até diria que gostava de ver o meu pior inimigo a dormir lá.
Claro que no caso as cinco estrelas foram decretadas, porque na prática o quarto nunca passou de uma pocilga imprópria de uma pensão do Cais do sodré, paga à hora...

Ainda no âmbito do tópico, podemos ter o melhor gestor de restaurantes do mundo, mas se insiste na manutenção de um Chef que não sabe a diferença entre um ovo cozido e polvo à lagareiro, é por demais evidente que não vai atingir os objectivos desejados. No fim quem sai é ele, e provavelmente o restaurante vai ficar pior servido nessas funções.

E é tudo o que me ocorre dizer sobre a indústria hoteleira.

De dezazucr a 30 de Abril de 2012
Por onde anda o presidente do Sport Lisboa e Benfica?
De James a 30 de Abril de 2012
Eu quero é um quarto de hotel que me dê tudo o que preciso. Que tenha uma central de alarme para disparar ruidosamente SEMPRE que alguém me rouba descaradamente. Mas também preciso de um gestor de hotel que não passe a vida a dizer que o país é seguro e que as centrais de alarme são desnecessárias porque já não há ladrões nas redondezas.

Este ano houve um quarto de hotel que apesar de ter menos qualidade, teve melhor avaliação e isso é que é triste, porque tenho sempre a sensação de que o nosso quarto de hotel tem de ter jacuzzi, torneiras de ouro e fruta exótica para poder ter alguma hipótese.
De moleculasdeamor a 30 de Abril de 2012
Eu acho que o melhor é mudar de hotel... e ver bem quem é o dono - se é pessoa de confiança, caso necessitemos de pedir alguma coisa e sermos servidos de forma atempada... imaginem que temos uma empregada de limpeza que não sabe fazer bem o trabalho e mesmo assim a mandam todas as semanas? Ela até é boa pessoa, mas tem que mudar de actividade... ou então o chefe que a manda todas as semans depois de chamado á atenção deve ser despedido ou então prontos mudamos de hotel... mas e se não pudermos mudar de hotel... mas que cena do carafes...
De Carlos Marques a 30 de Abril de 2012
Excelente "Quarto de hotel.."
Cá para mim, se o quarto já está pago durante mais uma semana, devemos ficar com ele .Continuar com a nossa exigência de que, os serviços mínimos para um quarto de cinco estrelas se mantenham, mas ao mesmo tempo que não se voltem a verificar as faltas de qualidade das semanas anteriores. Se por outro lado acreditamos temos capacidade para mudar para um hotel de sete estrelas, então a coisa muda de figura. Embora me pareça difícil , mas não impossível . Em relação a este puder mudar de dono... desde que a nossa decisão seja bem calculada, não me importa que mude de dono.
Mas somando os números todos eu, acho que o melhor é ficar-mos com o mesmo quarto que já está pago e procurar exigir mais. Mas que a decisão é difícil é sim senhor, até eu na minha certeza estou cheio de duvidas.
Saudações benfiquistas.

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