(Isto é um post sobre a indústria hoteleira. Qualquer semelhança com outras realidades é pura coincidência…)
Um quarto num hotel de cinco estrelas é muito caro. Se o pudermos pagar, é natural que exijamos a melhor retribuição possível. Porque se não houver excelência, a relação qualidade-preço ficará inapelavelmente comprometida. Suponhamos que haveria uma lista de 11 coisas que eram imprescindíveis para tal (limpeza diária, mini-bar cheio, plasma, etc.). Na nossa primeira semana nesse quarto, tudo correu às mil maravilhas e estávamos deliciados com a nossa estadia. Mas na segunda semana, uma dessas coisas (imaginemos que era o plasma) deixou de funcionar. Foi corrigido na terceira semana depois de várias chamadas de atenção da nossa parte, mas para cúmulo do azar houve outra que passou a ser negligenciada (a limpeza da casa-de-banho, por exemplo). Nós voltámos a alertar para a situação, mas só no último dia dessa semana é que essa limpeza foi efectuada. Como se o quarto nos estivesse a desafiar: “já que tu ficaste tão satisfeito na primeira semana, vamos lá a ver se nas duas seguintes eu te consigo agradar só com 10 coisas da lista em vez das 11”…
Independentemente deste facto, nós sabemos que o quarto desse hotel só será nosso enquanto tivermos a capacidade para o pagar. A não ser que sejamos um Abramovich e o pudéssemos reservar para toda a vida. Sabemos que o nosso pior inimigo até poderá vir a ficar nele nos tempos mais próximos. Portanto, tomá-lo como “nosso” seria pouco inteligente. O quarto será de quem pagar mais por ele, porque é essa a sua função. E, se formos inteligentes, não criaremos laços emocionais com esse quarto precisamente por causa disso: está ao nosso serviço só temporariamente, enquanto pagarmos por ele (diferente, por exemplo, dos laços que se criam com o quarto da nossa casa em que, mesmo que não nos tenha prometido, como o do hotel, que fôssemos lá dormir duas ou três vezes melhor do que dormimos no ano anterior – coisa que até foi verdade na primeira semana –, pelo menos temos a certeza de que o nosso maior inimigo nunca lá dormirá).
A decisão sobre se ficaremos ou não nele na quarta semana não deve ser baseada, quanto a mim, nesse receio de que o nosso maior inimigo poderá lá ficar. Até porque sabemos que isso vai inevitavelmente acontecer, porque ele já o visitou, gostou dele, apesar de nunca lá se ter hospedado, e tem meios para o pagar. Portanto, se nos concentrarmos nesse acessório (cuja concretização na realidade é apenas uma questão de tempo), perderemos de vista o essencial: será que esse quarto nos satisfaz? Será que fomos felizes nele no conjunto das três semanas? Será justo o preço que pagámos perante o rendimento que obtivemos dele? Será que é desculpável o facto de na terceira semana o quarto ter sido melhor limpo no único dia em que estávamos de smoking, contrariando o que nós lhe dissemos que o importante era estar limpo nos outros dias todos, em que estávamos vestidos normalmente? Será que o hotel tinha potencialidades para nos oferecer mais e melhor, e só não o fez porque o quarto decidiu que dentro dele só entravam os produtos que era queria (e teimou que no seu mini-bar só haveria Charles House mesmo que o Cardhu estivesse na garrafeira)?
Independentemente da decisão que tomarmos, é bom termos em mente uma coisa: aquele até pode ser considerado o melhor cá no burgo, mas não é o único quarto de hotel de cinco estrelas que existe.
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