Inexplicavelmente, vá-se lá saber porquê, acabei de me lembrar de uma publicidade ao Euromarche que era inserida nas transmissões televisivas, aquando das repetições dos golos.
Houve um dia em que a passaram, numa transmissão de um jogo do Benfica em Londres, por quatro (4) vezes… quatro!!
Notas soltas sobre o jogo do Glorioso contra a Naval Leça Sportem:
Aviso: este post tem uma hiper ligação para um site que pode conter imagens do Sá Pinto.
Alertado por um benfiquista atento e frequentador de sítios pouco recomendáveis, vou ao sítio da sucursal dos andrades em Lisboa e leio:
Aquilo que aqui leio sobre o conceito de “bola parada” não difere muito das palavras que o timoneiro Paulo losango Bento debitou no final do jogo.
Neste momento, começo a questionar a minha capacidade de percepção. Estou habituado a que alguns lagartos arraçados de Calimero chorem baba e ranho por cada lançamento lateral mal assinalado; estou habituado a que confundam a cabeça do Luisão com os braços do Ricardo e o Ricardo com um guarda-redes; estou habituado a que confundam o seu clube com o fócuporto; estou habituado a que no Lidl de Alavalixo se confunda a linha de golo com as redes da baliza; estou habituado a que confundam um garrafão de água do Luso com uma garrafa de whisky; estou habituado a que confundam o Tonel com um futebolista; estou habituado a que confundam o Vítor Pereira com um sócio do Benfica; e até estou habituado a que continuem a confundir-se de tal forma que insistam em considerar-se um dos dois grandes do futebol português (conceito discutível e que ficará para uma próxima oportunidade em que possa escrever sobre o Sport Lisboa e Benfica e o Sport Benfica e Castelo Branco).
Mas, sinceramente, como é que é possível considerar que o golo de Reyes é um “golo de bola parada”?! Eu estava na catedral e vi. E nessa jogada a única coisa parada que vi foi o nalgueiro do Rochembilha!!
Quanto ao chutar a bola sem ser para a frente... já experimentámos e o máximo que conseguimos foi não ser campeões. Eu sei que lá por aquelas bandas do spórtem, ver a sua equipa jogar para os lados e para trás é considerada mestria táctica do Paulo Ferguson dos Torneios do Guadiana Bento. Eu sei que, para a malta do Alavalixo, não jogar para a frente garante segundos lugares e Postigas em final de época. Mas também sei que, para um clube como o Benfica, não jogar para a frente é contrariar a natureza do Clube.
Quanto àquilo de serem a equipa superior... já estamos habituados: entre clube de ‘elites’, ‘superior’ e ‘diferente’ eles lá vão continuando a demonstrar que o seu conceito de ser superior, diferente e de elite consiste em ganhar torneios de Verão perto de Ayamonte, lutar denodadamente para ficar à frente do Benfica e bajular o clube do norte que lhes vai oferecendo as migalhas do segundo lugar na condição de não incomodarem em demasia.
Para finalizar, e continuando a observar as declarações no final do jogo, estranhei que nenhum deles (nem o Paulo tranquilamente eterno segundo Bento) tenha referido o grande escândalo de arbitragem que tanto prejudicou o Sporting: a grande penalidade que o árbitro não assinalou sobre o Yebda e que, dando a vantagem de um golo ao Benfica ao intervalo, motivaria os intrépidos jogadores orientados pelo Paulo musiquinha espanhola aprendida em Oviedo Bento a darem a volta ao resultado na segunda parte... nem que para isso tivessem de jogar para a frente, de preferência com a bilha do Rochembolha (boa, D’Arcy!) em movimento para que não houvesse bolas paradas.
Imagem que ilustra o tal lance da bola parada a correr à frente do Reyes, perante o olhar em movimento do Rochembolha.
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À margem:
Ontem, o nosso Benfica ajudou-me a festejar o meu trigésimo sétimo aniversário de vida. Depois de festejar a vida, festejar uma vitória do Glorioso, na nossa Catedral, foi o melhor dos presentes. Obrigado.
Antes do jogo começar pensei em colocar aqui um post a pedir a vitória como presente. Não o fiz, porque não seria justo: amar o Benfica deve ser incondicional. Pedir ao Benfica uma vitória como presente tem tanto de injusto como egoísta. Assim, o que há a fazer é agradecer o dom da vida e a honra de a poder viver com um benfiquismo incondicional.
Obviamente que uma vitória acaba por ser um bom complemento para o aniversário e um bom suplemento para a vivência do benfiquismo.
Olhem, sinceramente, tenho que começar por dizer que estou um bocado chateado com o Quique Flores. É que sempre me habituei a ver o Benfica como um clube que respeita os seus adversários, e que sabe manter uma postura elevada quer na vitória, quer na derrota. Por isso acho que é um extremo desrespeito pelo Recreativo Piqueniqueiro do Lumiar que ele tenha chegado a este jogo, e tenha decidido:
"Sportém? Contra esses basta metermos dois adolescentes no centro da defesa. E só para o desprezo ser ainda maior, vou manter o Léo no banco e o Jorge Ribeiro a titular. Coño!"
Mas pronto, para o karma não ser tão negativo, também houve boas acções da nossa parte. É sempre bom proporcionarmos a oportunidade a um par de rapazes de realizarem o seu sonho de infância: jogar no relvado de um Estádio da Luz cheio. É bonito, a criançada gosta, e o Veloso e o Moutinho ficam com memórias preciosas deste dia tão especial, para um dia poderem contar aos netos quando os levarem pela mão a ver o seu primeiro jogo na Luz.
Portanto, conforme se pode depreender dos parágrafos anteriores, o Benfica não mudou nada em relação ao jogo em Paços de Ferreira. Foi exactamente o mesmo onze que entrou em campo, o que me deixou um tanto ou quanto nervoso pela presença do Jorge Ribeiro na esquerda, e pela estreia do Miguel Vítor num jogo destes. Mas o Quique é que sabe, e é por isso que ele está sentado no banco do Benfica e eu estou sentado em casa a jogar Football Manager. O jogo começou animado: ainda antes do primeiro minuto ter decorrido, já o sportém tinha dado o mote daquilo que seria o seu jogo, e criado uma oportunidade: lançamento comprido para as costas da defesa, e depois o Djaló encarregou-se de falhar. Respondeu o Cardozo com um remate de muito longe, a tentar surpreender o guarda-redes adversário. Esta animação perdurou durante alguns minutos, e depois caiu-se na rotina que tem sido, nos últimos anos, ver um jogo do Benfica na Luz contra o pessoal do Lumiar. Eles a trocarem a bola calmamente cá atrás, aparentemente satisfeitos da vida com o empate, e a tentarem surpreender com lançamentos longos para as costas da nossa defesa. E nós demasiado lentos para conseguirmos surpreender o adversário. O que se passava nesta altura é que o Benfica jogava com as linhas demasiado próximas, e recuadas. Isto permitia que o sportém trocasse a bola mais ou menos à vontade mesmo à entrada do nosso meio campo, sem que houvesse muita pressão sobre os seus jogadores. Como eles não se mostravam com muita vontade de arriscar no ataque, e nós não mostrávamos muita vontade de pressionar na procura da bola, o jogo entrou numa toada enervante e pouco atractiva, em que a bola passava demasiado tempo nos pés deles e muito pouco acontecia. Houve um ou outro safanão (remate do Postiga; oportunidade do Nuno Gomes), mas o equilíbrio foi a nota dominante. O nulo ao intervalo aceitava-se perfeitamente, face ao que se tinha visto no jogo.
Ao intervalo, o Benfica ganhou o jogo. Eu ainda não sabia, o sportém também não, nem sequer o Benfica sabia ainda. Mas quando o Quique fez entrar o Katsouranis para o lado do Yebda, ganhou o jogo. O efeito foi imediatamente visível. Com as costas protegidas pelo Katsouranis, o 'tanque' Yebda teve mais liberdade para subir e pressionar os adversários. As nossas linhas subiram, e as deles, consequentemente, recuaram. Isto era particularmente óbvio quando se reparava na posição do Veloso (por quem passava 90% do jogo do sportém), que agora aparecia quase colado aos centrais. O jogo de contenção do sportém, em vez de ser feito à entrada do nosso meio campo, tinha agora que ser feito já dentro do meio campo deles, com as consequências óbvias do perigo que representava uma perda de bola aí, e ainda da maior dificuldade em fazer a bola chegar ao ataque. O Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento não soube responder a isto. O que aliás não é surpreendente, porque o Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento raramente sabe responder ao que quer que seja. Aquela equipa está constantemente amarrada a um sistema táctico imutável, em que ele é capaz de trocar os jogadores, mas aquilo parece uma espécie de jogo das cadeiras: eles rodam por ali até se encaixarem todos nas posições fixas do 4-4-2 em losango. Por exemplo: sai o Abel, entra o Pereirinha. Será que ele vai arriscar jogar só com três defesas? Não, o Pereirinha entra e vai ocupar exactamente a mesma posição do Abel, na direita da defesa. Sai o Ronhónhó e entra o Etíope Mergulhador. Será que ele está a colocar a carne toda no assador, e vai jogar com três avançados? Não, o Djaló recua para a posição anteriormente ocupada pelo Ronhónhó, no vértice avançado do losango, e o Mergulhador vai para o ataque, fazer o mesmo que o Djaló fazia. E fica tudo na mesma.
Não sei explicar, mas parti para este jogo com uma confiança inabalável de que iríamos vencê-lo. Não sei, talvez porque, na minha cabeça por vezes excessivamente analítica e racional, há constantes na vida. E quando eu olho para as equipas do Benfica e do sportém, o mais natural é que a equipa do Benfica vença a do sportém. Nós temos o Reyes, e eles têm um indivíduo com pinta de quem mora num atrelado que se chama Ronhónhó. Nós temos o Aimar, e eles têm um sujeito rotundo, com evidentes dificuldades de locomoção, que acho que se chama Rochembolha, e que conseguiu ser dispensado a custo zero do clube anterior. Nós temos o Sídnei e eles têm o Túnel, que um dia se foi mascarar de D.Afonso Henriques para a capa de um jornal. Nós temos o Cardozo e eles têm um gajo que foi um barrete no Tottenham, no fóculporto, no St.Etiénne, no Panathinaikos, e que depois foi impingido à lagartada em jeito de esmola por andarem caladinhos, e cujo maior mérito tem sido conseguir marcar golos em fora-de-jogo (pronto, fez uma boa época no fóculporto do Mourinho, antes de ser vendido ao Tottenham, e tem andado a viver às custas disso desde então - mas quem é que não faz boas épocas com o Mourinho?). Portanto, ou acontecia uma daquelas surpresas em que o futebol por vezes é fértil, e aquele paralelepípedo táctico recheado de artolas conseguia uma vitória improvável (só mesmo um calhau como o Jesualdo é que, por mais que tente, não consegue arranjar forma de dar a volta a isto e sistematicamente leva banhos tácticos do Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento), ou então as coisas passavam-se com naturalidade e o superior valor de um dos nossos jogadores resolvia a questão. Certa ou errada esta era, pelo menos, a minha lógica inabalável. Felizmente foi esta última hipótese que se verificou.
O jogador em causa foi o Reyes. Já durante a primeira parte, durante os períodos da mais exasperante monotonia que atravessámos, sempre que o Benfica tinha a bola eu passava a maior parte do tempo a berrar para que metessem a bola no Reyes. Ele nem sempre toma as melhores decisões. Por vezes agarra-se demasiado à bola, ou tenta furar por entre cinco adversários. Mas caramba, ele era quem mais tentava dar velocidade ao jogo, era quem levava a bola para a frente, partia para cima dos adversários, e era aquele em quem eu depositava mais esperanças para tirar um coelho da cartola. Já com o Aimar em campo (mais uma estocada táctica do Quique sobre o Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento - o público não gostou da saída do Nuno Gomes e assobiou, mas já o Trapattoni dizia que nós não percebíamos nada de bola), há um lançamento de linha lateral sobre o lado esquerdo. O Reyes recebe a bola, e toca-a para o Aimar, que devolve de primeira para a frente do Reyes. E eu confesso que este foi um dos golos que mais gozo me deu ver na Luz - e já foram muitos os que tive a felicidade de ver. Por causa da antecipação. Porque naqueles escassos instantes antes do Reyes chegar à bola eu, que estava numa posição privilegiada para ver este golo (exactamente na diagonal, vendo o Reyes pelas costas) adivinhei o que ele iria fazer. Se calhar um jogador 'normal', recebendo aquele passe do Aimar, tocaria a bola em direcção à linha final para depois tentar o centro. Mas, pensei eu, aquele é o maluco do Reyes. E dali, perfeito, perfeito é um pontapé cruzado, de primeira, feito com a parte de fora do pé, por isso é isso mesmo que ele vai fazer. Quando o Reyes chegou à bola eu comecei a gritar golo. É para isto que ele está lá, é por isso que ele é caro. Porque tem a capacidade de decidir jogos em pormenores.
O sportém respondeu a este golo com a habitual mestria táctica do Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento: tirou um avançado (Postiga) e meteu outro (Derlei), que foi fazer exactamente o mesmo que o anterior, apenas com o pormenor de conseguir dar um bocado mais de porrada no processo. Estranhamente, esta alteração radical não teve efeitos visíveis, e imediatamente a seguir (ainda eu estava a rever na cabeça mais uma vez o golo do Reyes) o Benfica marcou o segundo e arrumou a questão. Livre do lado direito marcado pelo Carlos Martins para o segundo poste, onde apareceu o Sídnei a ganhar de cabeça ao Polga (este já deve começar a ficar habituado a ser batido por um central do Benfica para sofrer um golo) e a fazer o 2-0. A julgar pelos festejos do Carlos Martins, julgo que ele também era capaz de estar a realizar um sonho qualquer dele (em particular, o de encavar o Paulo 'nunca perdi na Luz' Bento). A partir daqui foi só deixar o tempo passar, até porque o jogo estava de tal forma controlado que, confesso, nem reparei que a partir de determinada altura ficámos com menos um jogador. Vi o Carlos Martins sair, mas nem reparei que ele não voltou a entrar, porque não se deu pela falta dele (o Yebda chegava e sobrava para andar no meio e ainda ir à direita). Só quando um colega de bancada o mencionou, já em período de descontos, é que me apercebi do facto.
Não sei quem posso eleger como o melhor. Adorei os dois putos no centro da defesa. Pareceram começar um bocadinho nervosos (a fuga do Djaló logo no início deve ter assustado), e raramente arriscavam sair com a bola controlada ou até mesmo passes para a frente, optando muitas vezes pelo atraso para o Quim), mas depois acertaram o passo e raramente falharam. O Sídnei já se sabe que é craque, mas a 'surpresa' maior é o Miguel Vítor. A julgar pela exibição, não diria que se estava a estrear num derby. O Yebda continua a agradar-me muito; é para mim imprescindível no meio campo, e parece render mais com o Katsouranis ao lado. Claro que também tenho que mencionar o Reyes. Já o disse: durante a modorra da primeira parte, era aquele que mais parecia ser capaz de fazer algo para agitar o jogo. E depois aquele golo foi lindo, e decisivo. Quanto a exibições menos conseguidas, julgo que o Cardozo esteve hoje abaixo daquilo que lhe é exigível (daí o desagrado do público aquando da substituição do Nuno Gomes, já que esperavam que fosse o paraguaio a sair).
Já há quatro meses que não via o Benfica na Luz (desde Maio). Foi bom regressar a 'casa', foi bom voltar a estar entre os meus, reencontrar os colegas de bancada, ou melhor, amigos circunstanciais, cuja amizade dura normalmente noventa minutos de quinze em quinze dias, e ver a minha equipa jogar. Não havia melhor forma de celebrar este regresso do que com uma vitória sobre os piqueniqueiros do Lumiar. Pelo menos durante um par de dias devemos estar livres de os termos a azucrinar-nos o juízo. Quer dizer, ainda não vi qualquer resumo do jogo (de alguma forma, nao sei se quero ver uma repetição do golo do Reyes, acho que prefiro recordá-lo da forma que o vi no estádio), mas se calhar eles já conseguiram arranjar umas quantas expulsões, ou um par de penáltis não assinalados que justifiquem a derrota. É a natureza deles.
Hoje decidi plagiar-me a mim próprio, e recuperar um texto que escrevi há uns anos nas vésperas de um derby. Decidi fazê-lo por vários motivos: porque estamos, mais uma vez, nas vésperas de um derby, porque o post se mantém actual (a minha opinião sobre o pessoal do Lumiar não se alterou), e porque este post continua a fazer-me rir (e uma das coisas de que eu mais gosto é conseguir escrever algo que me faça rir). Por isso (e com um pedido de desculpa aos que ainda se recordam deste texto), aqui vai:
"Nota prévia: Segue-se um post extremamente faccioso, parcial, e polvilhado de imagens que desde sempre povoaram o meu subconsciente associadas aos nossos vizinhos que moram no Lumiar. É apenas uma pálida tentativa de exprimir o meu desprezo por aquele clube. Sinto que falhei rotundamente neste objectivo, porque não consigo encontrar palavras suficientes para o fazer.
Esta é a pior semana para mim durante cada época futebolística. Conforme os visitantes deste espaço saberão, nesta coisa das rivalidades eu sou um benfiquista 'à antiga'. Para mim o fóculporto é um fenómeno recente, e considero-os apenas nossos concorrentes na luta pelas provas que disputamos. Não morro de amores por eles, é verdade, mas não me incomodam por aí além, salvo em ocasiões intermitentes em que vejo sair alguma declaração assassina da boca do seu presidente que nos é dirigida, e que é logo classificada pelo séquito de pseudojornalistas acólitos do 'papa' sob a forma da 'mais fina e tradicional ironia'. Mesmo assim a minha irritação até é mais com a pessoa Pinto da Costa do que com o clube. Analisadas bem as coisas, consigo fazer uma separação das águas e dizer que em relação ao fóculporto apenas não gosto da claque organizada deles (a mais conhecida, aquela que rebenta com estações de serviço) e do presidente do clube. O resto é-me mais ou menos indiferente.
Agora digo que sou um benfiquista à antiga porque para mim o rival do meu clube é aquela associação que mora lá para os lados do Lumiar. Aí sim, não há separação possível: meto tudo dentro do mesmo saco e odeio tudo o que lhes diga respeito por igual. Há uma ou outra excepção, claro, porque tenho amigos que escolheram passar pela vida carregando a cruz de apoiarem aquele clube, e são pessoas decentes de quem eu gosto muito, mas regra geral o adepto lagarto típico é bem retratado pelo Dias Ferreira. Imagine-se um estádio cheio de barbudos com ar de talibã, cabelo ensebado, espuma nos cantos da boca e olhos flamejantes de rancor enquanto não prestam atenção ao que se desenrola no terreno de jogo porque estão atentos a algum som que possa vir do outro lado da 2ª circular, e temos uma assistência típica de um jogo do clube do Lumiar. Aliás é exemplificativo disto o facto de muitos dos adeptos daquele clube que conheço verem a candidatura do Dias Ferreira à presidência como uma coisa positiva, achando que ele é a pessoa certa para rumar o clube a porto seguro.
Como eu não tenho tendências masoquistas, e não gosto mesmo nada de andar a irritar-me propositadamente, a minha maneira de lidar com este ódio ao clube do avozinho é pura e simplesmente ignorar que ele existe. É verdade: não quero saber nada sobre eles. Não vejo os jogos deles, não quero saber se foram gamados ou beneficiados, não vejo resumos dos jogos, quando leio os jornais desportivos passo à frente as páginas que lhes dizem respeito, quando vejo alguém ligado ao clube a ser entrevistado na televisão mudo de canal, etc. Inclusivamente passo duas vezes por dia em frente ao estádio deles, a caminho e de volta do trabalho, e faço sempre questão de olhar para o lado oposto da estrada. Por vezes, após fins-de-semana em que esta minha táctica é particularmente bem sucedida, consigo mesmo chegar a segunda-feira sem saber qual foi o resultado deles na jornada do fim-de-semana. Consigo assim criar um mundo artificial em que, para todos os efeitos, aquele clube não existe. Ora isso é impossível de atingir pelo menos durante duas semanas por ano, em que o Benfica tem que jogar com eles. Durante estas duas semanas não tenho hipóteses de ignorar a existência da agremiação do Lumiar, porque mesmo os nossos jogadores e técnicos têm que falar sobre eles.
Isto é particularmente doloroso durante a semana que antecede a visita deles à Luz. O Estádio da Luz é para mim um santuário, uma zona livre de lumiarices. Quando eles cá vêm é como se estivessem a dessacralizar este refúgio, onde eu estou habituado a estar livre de qualquer referência que perturbe o meu mundo virtual onde o clube do Lumiar não existe. É que não tenho hipóteses: vou ter que ver aquelas camisolas horrendas pisarem o relvado da Luz; vou ter que cruzar-me com aqueles adeptos que passam metade das suas vidas a olharem por cima dos nossos ombros para verem o que é que andamos a fazer, e que são incapazes de nos reconhecer qualquer mérito; que têm aquela memória selectiva que é capaz de os fazer afirmar convictamente e com o maior desplante que as nossas vitórias nos anos 60 e 70 foram oferecidas pelo Salazar, e depois convenientemente ignoram que durante os anos 40 e 50, em que chegaram a ganhar 7 campeonatos em 8 anos, o Salazar já cá estava; são aqueles que conseguem idolatrar jogadores reles e repelentes como o Sá Rafeiro e o Beto; são aqueles que nunca perdem: são sempre derrotados por factores extra-futebol, por detrás dos quais está invariavel e maquiavelicamente o Benfica a puxar os cordelinhos de um 'sistema' qualquer; são aqueles que berram mais desalmadamente um golo de um adversário do Benfica seja ele qual for, seja em que competição for (mesmo que nem estejam envolvidos nessa competição), do que um golo do seu próprio clube, são aqueles que chegam ao cúmulo de desejar a derrota do seu próprio clube contra um adversário directo do Benfica, de forma a alimentarem a esperança que o Benfica não ganhe uma competição.
Desde muito pequeno que me lembro de ter este desprezo pelo clube do avozinho. Recordo-me de algures nos anos 80, ainda adolescente, ir ao antigo estádio de Alvalade com o meu pai (era mais eu quem arrastava o meu pai até lá, já que o meu pai é academista apenas com alguma simpatia pelo Benfica), e de me dar a volta ao estômago quando, a meio do jogo, se começava a ouvir uma espécie de rougo vindo de debaixo da pala: 'Cepór... tém! Cepór... tém!'. Assim mesmo, dito num ritmo muito lento, como se tivessem que tomar fôlego entre as duas sílabas. Aquilo não chegava a ser um grito de incentivo: era como se uma multidão de múmias empoeiradas de repente, numa espécie de estertor, soltasse aquele rougo, aquela espécie de lamento que na sua própria entoação encerrava toda a desgraça e tristeza que era ser adepto daquele clube, e entre as duas sílabas tivessem que tomar fôlego para evitarem desfalecer. Normalmente um lançamento perto da nossa área ou dois pontapés de canto seguidos eram a fagulha que provocava esta manifestação de fervor clubístico. 'Cepór... tém!' - lamuriava-se a turba, no meio de uma nuvem de poeira e traças entretanto levantada. E o Gil Baiano, motivado com o incitamento, passava a mão pela carapinha alourada e executava o lançamento na direcção do Tony Sealy. Depois se o árbitro marcava um lançamento ao contrário, soltava-se um prolongado ulular lamentoso, como se os próprios Deuses tivessem despejado sobre eles toda a sua ira sob a forma de pragas de proporções bíblicas. Desde miúdo que a palavra 'Ceportém' criava na minha mente imagens cinzentas, cheias de bafio e poeira e gente velha com fatos escuros a cheirar a naftalina. O Benfica e o vermelho pelo contrário faziam-me pensar em alegria, emoção, paixão e gente entusiasmada. Até na forma como os golos são festejados os adeptos são diferentes. Um 'Golo!' gritado por adeptos do Benfica é diferente de um 'Golo!' gritado por adeptos do Lumiar. O nosso 'Golo!' é um golo alegre, que encerra em si uma espécie de ênfase, como se estivéssemos a expressar o contentamento por as coisas se passarem com a naturalidade da lei da vida: o Benfica marca golos, e os outros sofrem, porque nós somos mais fortes. Isto é o que é natural. O 'Golo!' deles encerra algo de gutural, uma espécie de surpresa e desespero, como se eles estivessem a convencer-se a eles próprios que o que acaba de acontecer é normal, e a tentar afogar a sua própria surpresa. Como se tivessem a esperança que aquele momento pudesse servir de prova insofismável da sua própria valia.
Até a história da formação da agremiação de Alvalade é para mim ridícula, nascidos que foram de uma birra entre queques chateados por não se organizarem mais bailaricos no Campo Grande Football Clube, e amuados por não terem sido convidados para um piquenique. Vai daí foram pedir dinheiro ao avozinho de um dos queques e lá fizeram o seu clubezinho privado. Deve ser daí que ainda hoje tiram a mania que são um clube 'diferente', e se sentem muito ofendidos quando não são privilegiados de alguma forma (na óptica deles, quando isto não acontece eles são 'roubados'). Podia ficar aqui o resto do dia a escrever, e não conseguiria destilar nem uma décima parte do desprezo que sinto por aquele clube. Detesto tudo neles, a começar pelos dirigentes, passando pelo estádio, equipamento, jogadores, e a acabar na massa associativa e respectivas claques. Os dirigentes parecem uma massa uniforme cinzenta, produzida em série em gabinetes bafientos e empoeirados, e cada um deles parecendo fazer parte de uma qualquer confraria de agentes funerários. Todos eles têm em comum o facto de trazerem instalado um mecanismo que apenas lhes permite olhar na direcção do Estádio da Luz, e constantemente observar e comentar o que por lá se passa. São capazes de estar a ser violentados a sangue frio por um qualquer padrinho e respectivos comparsas mais a norte, que entre duas bordoadas ainda arranjam tempo para erguer uma mão ensanguentada, apontar um dedo na direcção da Luz, e balbuciar uma acusação patética qualquer contra o Benfica mesmo antes de apanharem outra cacetada de fazer perder os sentidos. Depois quando acordam no hospital, dizem ao polícia que os interroga: "Não vi quem me bateu, mas o Benfica não pagou um rebuçado na mercearia!". Aquele clube nasceu, cresceu e vive alimentado no rancor. Porque apesar de desde sempre terem tido as melhores condições, nunca conseguiram o mesmo sucesso que nós.
Por tudo isto esta semana é horrível para mim. Eu não consigo apreciar os jogos do Benfica contra o clube do Lumiar. Para mim são uma experiência horrível, o culminar de uma semana em que apanho uma dose de clube do avozinho superior ao acumulado do resto da época toda. Chego a ficar agoniado ao olhar para o campo e ver aquelas camisolas horripilantes ao lado das nossas papoilas saltitantes. É um martírio que dura noventa minutos e que parece durar uma vida inteira. Revolvo-me na cadeira, fecho os olhos, cerro os maxilares, suspiro profundamente... o desconforto é total. Eu na minha vida chorei duas vezes num campo de futebol, e foram ambas em jogos contra o clube do Lumiar. Foram lágrimas mais de raiva do que de alegria. Raiva enquanto o JVP demolia aquela equipa arrogante que andou a semana toda a prometer humilhar-nos. Cada golpe desferido pelo JVP naquele farrapo verde e branco que se arrastava pelo relvado naquela noite chuvosa libertava a minha raiva pelo sofrimento que me tinham feito passar durante essa semana, remetia-os ao lugar deles. E da segunda vez chorei ainda mais. Porque andei a semana toda a ouvir a festa anunciada, as promessas de goleada, a antecipação do tamanho das nossas cabeças na festa deles. Ouvi, comi, e calei. E acumulei cá dentro. Por Amor ao meu clube sujeitei-me a mais. Sujeitei-me a ir lá, ao covil deles, a misturar-me com eles e cruzar-me com eles enquanto carregavam os foguetes para a festa. Sujeitei-me ao sacrifício supremo de estar no meio deles, de não poder conseguir de forma alguma ignorá-los quando eles festejassem um título há tanto esperado, ainda para mais num jogo contra nós. E quando desde o topo Norte vi a bola chutada pelo Sabry descrever um arco perfeito, as lágrimas soltaram-se ainda antes da bola tocar nas redes.
Aqueles que me vêm com histórias de que eu deveria era considerar o fóculporto como o nosso grande rival não fazem ideia do que falam. Rivalidade é isto. É ilógica. É odiar (sem violência, atenção!) o mais ínfimo pormenor do nosso rival, mesmo que pareça não haver explicação lógica para isso. No meu caso é odiar tanto que prefiro tentar esquecer que eles existem. E fazer o sacrifício supremo por amor ao meu clube, que é reconhecer a existência deles durante duas semanas por ano. Por isso é que para mim entramos hoje na pior semana futebolística do ano."
Vieram a público notícias (ou melhor, nutícias dada a pouca vergonha das mesmas) de que o Acórdão do TAS tinha arrasado com a Liga, a FPF, com o Benfica e com o Vitória.
Essas nutícias vieram a público pelos pasquins do Sr. Oliveira. Ora, toda a gente aceitou como verdadeiras essas afirmações, até que, por sorte, aos poucos, certos curiosos resolveram ser eles próprios a lerem a dito Acórdão.
Ao lerem o Acórdão do TAS nem queriam acreditar no que liam. E começaram a vir a público os primeiros textos em que explicavam que, afinal, o acordão não dizia bem o que as nutícias do pasquim diziam.
Eu, alertado para isso, fui ler o dito Acordão e verifico que há pontos importantes que julgo ser necessário tornar públicos:
- É admitido pelo Acórdão do TAS que este tribunal não teve acesso à tradução da decisão da Liga na integra. Como tal, e perante os dados que tinham "tradução parcial da decisão" ,não podiam ter certezas de que o FCP ou o Pinto da Costa pudessem estar envolvidos em qualquer caso de corrupção.
- Acrescentam ainda as dúvidas quanto ao que se tinha passado na reunião do CJFPF e desconhecem as conclusões do parecer pedido pela FPF ao grande especialista em Direito Administrativo, Freitas do Amaral, para se concluir se aquela reunião e a decisão que dela surgiu podiam ser tidas em conta. À data do Acórdão do TAS o parecer de Freitas do Amaral ainda não tinha sido apresentado. Deste modo, não se sabia se a decisão do CJFPF ia ser aceite ou não. Como tal, nada podiam concluir em relação às suspeitas relativas ao FCP.
Concluindo, o Acórdão do TAS em nada ataca as decisões tomadas em Portugal e não se pronuncia sobre as mesmas, por manifesta falta de dados, tradução parcial e porque ainda existiam dúvidas quanto à formalidade da mesma. Ora bem, a decisão não aprecia em nenhum momento a fundamentação das decisões da Comissão Disciplinar (CD) da Liga e do Conselho de Justiça (CJ) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), nem o seu mérito. A falta de convicção do TAS existiu sim, mas por razões processuais.
Agora, gostava de saber com que lata o pasquim afirma que um órgão arbitral pode criticar uma decisão se não teve acesso à mesma na sua totalidade?
Deixo link do Acórdão para que o leiam:
http://www.tas-cas.org/d2wfiles/document/2148/5048/0/Final%20Award%201583-1584.pdf
Outros links de artigos onde a verdade é reposta:
http://www.record.pt/noticia.asp?id=805466&idCanal=3437
(sim, eu sei que é o Record, mas é um link para um artigo do Cartaxana bem interessante sobre este assunto)
E ao fim de quatro jogos, a primeira vitória. Mas foi preciso, e muito por culpa própria, suar e sofrer muito para consegui-la. Este tipo de jogos pode ser muito bonito sob o ponto de vista do espectáculo, muito emotivo e tudo mais, mas eu sinceramente dispenso tanto sofrimento desnecessário. E é desnecessário porque só podemos culpar-nos a nós próprios por termos oferecido ao adversário, ainda por cima várias vezes, a oportunidade de acreditar até ao fim.
Este jogo marcou o regresso à fórmula utilizada preferencialmente na pré-época, com o Rúben Amorim a ocupar o lado direito do meio campo. A única surpresa foi mesmo a chamada do Jorge Ribeiro para o lugar do Léo na defesa, mas os plantéis são para se gerir, e se ele está no plantel (com muita pena minha, acrescento já), então é para jogar quando necessário. A dupla inédita de centrais foi formada pelos 'putos' Sídnei e Miguel Vítor - não havia mesmo outra opção. O Benfica teve uma boa entrada no jogo, e logo aos seis minutos colocou-se em vantagem, numa jogada exemplar de contra-ataque, em que o Carlos Martins lançou o Reyes na esquerda e este fez um cruzamento certinho para os pés do Nuno Gomes, que marcou facilmente de primeira. Parecia lançado o Benfica, mas a exemplo do que aconteceu com o Nápoles, não demorou muito até que o adversário respondesse. Na sequência de um canto o Reyes falha o alívio, e o remate do jogador do Paços acabou por tabelar no Sídnei e não dar hipóteses de defesa. Andamos com pouca sorte nos ressaltos.
O Benfica abanou com este golo, e nos cerca de dez minutos que se seguiram a qualidade do nosso jogo deixou muito a desejar. Foi só com a chegada do segundo golo, pouco depois da meia hora, que voltámos a assentar. Um bom cruzamento do Rúben Amorim encontrou o Nuno Gomes desmarcado na esquerda, e à defesa do guarda-redes adversário seguiu-se a recarga vitoriosa do Maxi. Daqui até final da primeira parte, o Benfica controlou e dominou o jogo como quis, ameaçando chegar mesmo ao terceiro golo, o que acabou por acontecer perto do intervalo através um penálti claro, assinalado por mão na bola do defesa do Paços, e que o Cardozo se encarregou de converter. Mesmo em cima do apito, quase marcámos o quarto, tendo sido um defesa do Paços sobre a linha de golo a evitá-lo, travando o remate do Sídnei.
Pensei eu (obviamente mal) que o jogo estaria resolvido. O que eu não esperava era a forma frouxa, até mesmo quase displicente, como decidimos aparecer para a segunda parte e gerir o resultado. Foi exasperante ver-nos incapazes de circular a bola e manter a sua posse. O Paços agradeceu, cresceu e começou a tentar a sua sorte. Que chegou mesmo, num lance absolutamente estúpido. Primeiro é o Sídnei que concede um livre lateral ao decidir agarrar a bola antes do apito do árbitro (é certo que me pareceu que ele sofreu mesmo falta quando protegia a saída da bola, mas o que conta é o apito do árbitro). Depois, na sequência do cruzamento, é o Quim, completamente à vontade, a ter um ataque de mãos de manteiga e a deixar escapar uma bola que era sua, o que resultou no segundo golo do Paços. E pronto, lá ficaram eles ainda mais motivados, e nós a não mostrar vontadinha nenhuma de alterar as coisas, como se aquele golo de vantagem fosse a coisa mais tranquilizante do mundo. O que nos foi valendo foi mesmo que o Paços nunca conseguiu criar grandes oportunidades de golo em futebol corrido, porque tendo em conta o à vontade com que os deixávamos ter a bola, as coisas eram capazes de ter ficado mais complicadas caso eles mostrassem um pouco mais de inspiração.
Inspiração teve o Jorge Ribeiro, que praticamente do nada inventou um grande pontapé que resultou no 4-2 (não é por causa disto que eu passo a ficar feliz por tê-lo no nosso plantel - se ele marcar um golo destes que nos dê a vitória na final da Taça UEFA talvez haja a remota possibilidade de eu mudar de opinião). E pronto, lá fiquei eu mais uma vez convencido que agora é que era, que o jogo estaria finalmente resolvido, até porque o Paços acusou bastante o golo e o Benfica, agora mais calmo, tinha clareiras enormes no meio campo adversário para poder construir lances de ataque. Só que mais uma vez, lá resolvemos contribuir para a popularidade do desporto rei, e adicionar mais uma pitada de emotividade até final. A cinco minutos do fim, em mais um canto, um mau alívio do Maxi Pereira - para a entrada da pequena área - e uma passividade quase total dos nossos jogadores resultaram no terceiro golo do Paços. E depois foi sofrer até final, embora o Paços continuasse apenas a ser capaz de criar perigo na sequência de bolas paradas - só que através destas ainda conseguiu, nos cinco minutos até final mais outros cinco de desconto, criar duas boas ocasiões para marcar. Após a segunda dessas ocasiões - sobre o apito final, salva pelo Quim - lá consegui voltar a respirar, após ter sustido a respiração durante aqueles últimos dez minutos (acho que já estava a ficar azul, e o azul não é uma cor muito aconselhável).
Melhores/piores? Gostei muito da primeira parte do Nuno Gomes, a jogar como há muito não o via. Sem se esconder do jogo, a tabelar bem com os colegas, a desmarcar-se bem e a aparecer decidido em zonas de finalização. Continuo a gostar muito do Yebda; é um poço de força, e tem um raio de acção enorme, aparecendo, por exemplo, diversas vezes junto à linha a cruzar, sendo que no lance seguinte já está outra vez na sua posição de recuperador de bolas no meio campo. Bom jogo também do Rúben Amorim no regresso à titularidade. Pela negativa, a defesa. Ou melhor, nem será justo particularizar a defesa em si, mas sim a forma como a equipa num todo defendeu. Sofrer três golos - todos na sequência de bolas paradas - do Paços de Ferreira não é admissível para uma equipa como o Benfica. Em relação à defesa em si, até acabei por gostar mais da actuação dos dois centrais (raramente erraram), que supostamente são mais inexperientes, do que da dos dois laterais. Não percebo como é que os comentadores andavam a elogiar a exibição do Jorge Ribeiro, por exemplo, quando o que eu via era que o Paços entrava por aquele lado quase quando e como queria (e do outro lado o Maxi não esteve muito melhor).
Enfim, o que conta mesmo é a vitória, e a diversão que foi ver este jogo (esta 'diversão' só é perceptível a posteriori, com o conhecimento de que ganhámos o jogo - se este tivesse acabado 4-4 já não teria piada nenhuma). Agora é continuar a ganhar, de preferência já para a semana contra as carpideiras do Lumiar.
Não posso dizer que foi um mau resultado, tendo em conta que se trata de uma eliminatória a duas mãos e que marcámos dois golos fora. Mas sinceramente, sabe-me a pouco. Acho que o Benfica, e os jogadores que temos, conseguem fazer melhor. Também houve alguma falta de sorte à mistura (dois dos golos adversários resultam de ressaltos), mas isso também faz parte do jogo.
Achei um pouco surpreendente a forma como entrámos em campo em Nápoles. A equipa inicial era marcadamente ofensiva. Talvez a intenção original fosse jogar num 4-4-2, mas tendo em conta que os dois alas (Reyes e Urreta) pouco ou nada defendiam, na prática ficámos com um 4-2-4, em que quase todas as despesas de recuperação da bola no meio campo ficaram entregues a um único jogador (Yebda). Isto não me pareceu uma opção particularmente eficaz contra um Nápoles que alinhava num 3-5-2, com muita gente no meio campo. Na prática, o que se viu durante muito tempo foi o Benfica partido ao meio, com um espaço vazio enorme entre a defesa e o ataque, espaço esse que o Carlos Martins não conseguiu preencher. Foram diversas as vezes em que os nossos defesas recebiam a bola, e depois tinham que limitar-se a trocá-la entre eles por não haver opções de passe para a frente. Isto também foi ajudado pelo facto do Nápoles tentar fazer uma pressão bastante agressiva logo à saída da nossa defesa - coisa que os nossos jogadores da frente pouco ou nada fizeram sobre os defesas italianos.
O jogo foi-se revelando equilibrado desde o início. Do lado italiano, a preocupação parecia ser pressionar (de forma por vezes bastante agressiva, diga-se de passagem, com uma excessiva complacência do árbitro) na procura da bola, e depois colocá-la o mais rapidamente possível nos pés do Lavezzi (óptimo jogador). Quanto a nós, optávamos por um ritmo pausado de jogo, com bastante posse de bola, à espera de uma oportunidade. E acabámos por ser recompensados com a vantagem no marcador, quando o estreante Suazo cabeceou para golo na sequência de um canto. As coisas pareciam estar a compor-se, mas imediatamente a seguir ao golo veio um descalabro e em três minutos passámos a estar em desvantagem no marcador. Em ambos os golos foi visível a falta de capacidade defensiva do nosso meio campo. Julgo que já deveríamos estar avisados para o perigo que o Hamsik representa, mas a verdade é que no primeiro golo ele aparece completamente à vontade à frente da área a receber a bola e a rematar - depois o ressalto acabou por ir para os pés dos italianos, que assim fizeram o golo - e no segundo é o mesmo Hamsik quem entra na área sem que nenhum médio o acompanhe. Como é óbvio, acusámos estes dois golos de rajada, e durante mais alguns minutos andámos um tanto ou quanto perdidos em campo, mas depois tudo voltou à forma inicial. Muita posse de bola da nossa parte, mas sem conseguirmos criar muitas jogadas de perigo, e o Nápoles sempre a tentar os contra-ataques rápidos pelo Lavezzi.
Ao intervalo esperava que o Quique optasse pelo regresso à fórmula da pré-época, retirando um dos alas (em princípio o Urreta) e colocando em campo o Ruben Amorim. A escolha foi no entanto o Balboa, embora este tenha vindo jogar um pouco mais recuado que o Urreta, encostando-se diversas vezes ao centro. Cedo as coisas ficaram mais preocupantes, já que num lance feliz (um centro que tabelou no Léo) o Nápoles chegou ao 3-1. Logo a seguir o Quique fez uma substituição que, na minha opinião, se exigia, colocando o Katsouranis em campo ao lado do Yebda, e retirando o apagado Carlos Martins. Isto veio dar maior solidez ao nosso meio campo defensivo, e permitiu ao Yebda soltar-se e subir mais, já que foi o Katsouranis quem assumiu a posição mais defensiva. Pouco tempo depois da substituição marcámos o segundo golo, através do Luisão, que aproveitou um ressalto na sequência de um livre cruzado para a área (num lance em que me pareceu haver um penálti claro sobre o Sídnei). A tendência do jogo pouco ou nada se alterou com este golo, e foi mais ou menos constante durante os noventa minutos. O Benfica sempre com mais posse de bola, e o Nápoles sempre a tentar explorar o contra-ataque rápido. À medida que o jogo se foi aproximando do final, fiquei com a sensação de que ambas as equipas se foram conformando com o resultado, que deixa tudo em aberto para a segunda mão na Luz.
Gostei das duas estreias a titular. O Sídnei voltou a mostrar que é um defesa rápido, e que joga bem na antecipação. Quanto ao Suazo, mostrou ser reforço (o que não é surpresa nenhuma). Marcou um bom golo de cabeça, movimentou-se bastante pelo ataque e sabe segurar a bola. Gostei também do jogo que fez o Yebda e, para não variar, do Léo. No pólo oposto, para mim a grande desilusão foi o Di María, que fez um jogo pavoroso. Pela reacção dele ao ser substituído, parece-me que ele tem a noção disso mesmo.
Não fosse a maldição que temos com as equipas italianas, e eu estaria bastante confiante na passagem à próxima eliminatória. Assim sendo, daqui a duas semanas lá estarei na Luz a sofrer para que consigamos voltar a eliminar uma equipa italiana ao fim de mais de vinte anos (se não estou em erro, a última foi a Sampdoria em 1985).
Alguns dos homens a quem foi confiada a justiça portuguesa têm andado a enlamear e a arrastar um dos pilares da democracia por terrenos espúrios. No imediato, uns quantos pacóvios têm recorrentes entusiasmos com a boçalidade das práticas terceiro-mundista que alguns juízes insistem em exibir. A longo prazo, esses entusiasmos de ocasião e encomenda trarão graves (mais graves do que essas cabecinhas podem compreender) consequências para o país.
Quando a Justiça em Portugal conhece regras próprias e sui generis nas margens da foz do Douro, regras estas encomendadas e à revelia dos mais elementares princípios do decoro, a Justiça está fracturada. Transforma-se numa justiça enferma de deficiência, sem credibilidade, sem honradez, sem moral, sem isenção e, aparentemente, com preço.
Fiquei a saber que, de acordo com o Tribunal da Relação do Porto e com TAS (Tribunal de Assalto à Seriedade?) e observando o seus mais recentes momentos de genuflexão papal, as práticas do senhor Jorge Nuno de Pinto da Costa não só não são um atentado à higiene civilizacional do país como inclusivamente deve começar a ser preparado o processo de beatificação do referido cidadão para que, ainda em vida, se inicie e conclua o mais do que justificado processo de canonização.
Este é o estado lastimável a que chegou o arremedo de justiça que alguns insistem em praticar. Este é o mais recente exemplo de tratamento de polé dado às leis por quem confunde um tribunal com uma máquina de lavar. E assim, sujando um pilar da democracia, vão tentando lavar a imagem de uma nódoa social.
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Sobre este assunto, aconselho a leitura de este e de este post do "Blog da Bola", e também a leitura do post tapar o sol com a peneira do "SLBenfica - forever champions"
Nos jogos de futebol dos putos, de vez em quando há um que aparece com uma bola nova. Esse puto, quer jogue bem quer jogue mal, acha-se no direito, porque tem uma bola nova, de escolher as equipas, de escolher o campo, de escolher quem salta o muro para ir buscar a bola ao quintal e até, se for caso disso, de escolher as regras do jogo. Sempre houve um puto destes nos jogos de putos. Os outros putos rapidamente percebem que é apenas uma bola nova, e continuam a jogar. Aquilo de que o puto da bola nova não se apercebe, porque é puto, é que a atitude dele apenas o faz ficar de fora e que, estando sozinho, a bola não lhe serve de nada. Não se pode chamar a isto estupidez, é apenas criancice.
Lembrei-me disto a propósito da transmissão do jogo Nápoles-Benfica, por me parecer que a "parábola do puto da bola nova" é semelhante ao que a Sport TV parece andar a fazer. Como todos sabem, este canal comprou os direitos televisivos desse jogo, mas, estranhamente, o Nápoles-Benfica não faz parte da programação, ainda que, na Sport TV2 apareça, no horário do jogo, a referência FUTEBOL - UEFA (TAÇA UEFA) - DIRECTO. Sendo a Sport TV o puto da bola nova, onde é que o canal quererá chegar com esta criancice? Vejamos: sendo nós os outros putos, temos sempre a possibilidade de ver o jogo na internet ou ouvir na rádio, ou seja, nós continuamos a jogar. Não é, claro, como jogar com uma bola nova, mas quantas vezes não jogámos e jogamos nós com estas bolas? Se isto é birra por causa da Benfica TV, o que se vai conseguir é o mesmo que o puto da bola nova consegue: ficar mais afastado dos outros putos e, sem os outros, brincar sozinho. Não seria melhor, dado que inevitavelmente aparecerá outro puto com uma bola nova, o puto da bola partilhar a bola e oferecer-se logo para ir à baliza, numa jogada de antecipação? Se os benfiquistas andam manifestamente descontentes com as transmissões tendenciosas deste canal, não será a não transmissão do jogo mais uma acha para a fogueira?
A mim tanto me dá, pois não tenho nem nunca tive Sport TV, mas não acredito que o jogo não passe na televisão (neste ou noutro canal). Será que não se podia evitar este circo, este joguinho, esta criancice (ou estupidez, porque, não se tratando de putos, estes nomes são contextualmente sinónimos)?
No meio disto tudo, só espero que a bola nova vá parar ao quintal. É que assim o puto da bola nova já tem desculpa para comer fruta, poupando-nos ao deplorável teatro que é tentar convencer-nos de que a come sem querer.
bola nossa
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