Foi um jogo morno, que terminou com o resultado mais morno possível: uma igualdade a zero. É sempre difícil jogar contra estas equipas que agora aprenderam que a melhor maneira para tentar sacar um empate ao Benfica é atafulhar o meio campo de jogadores. Se, por um lado, o empate acaba por ser um mal menor sob um ponto de vista pragmático em termos de campeonato, e mantém os nossos adversários desta noite a onze pontos, por outro não me deixa totalmente satisfeito, porque sei que perdemos dois pontos com uma equipa que nos é inferior, tendo ficado com a sensação de que a vitória estava ali bem perto.
O Benfica apresentou um onze sem surpresas. O Maxi e o Peixoto regressaram às laterais, enquanto que no ataque o Cardozo estava de volta. Do outro lado apareceu o sportém com um meio campo de cinco jogadores, com dois trincos, deixando o esfomeado sozinho lá na frente, na esperança que ele conseguisse fazer outro dos milagres que costuma fazer contra nós. O sportém pareceu querer ter uma entrada forte, tirando partido do sobrepovoamento da zona central, que lhe permitia recuperar bolas nessa zona. Mas esta vontade ficou-se por pouco mais de cinco minutos, já que rapidamente o Benfica se organizou e equilibrou as coisas. Após pouco mais de um quarto de hora, o Benfica mudou tacticamente, de forma a equilibrar o duelo no meio campo, e abandonou o 4-1-3-2 habitual, dispondo-se em 4-4-2, com o Ramires a auxiliar mais na zona do Javi, e o Aimar a cair para a direita. O jogo entrou assim numa toada morna e equilibrada, que foi o tom geral do resto da primeira parte, embora nos últimos dez minutos o Benfica tenha crescido um pouco, tendo levado o jogo a desenrolar-se mais no meio campo adversário, mas sem que houvessem grandes sobressaltos. A qualidade do nosso jogo ofensivo sofreu com o facto do Di María ter passado praticamente ao lado do jogo durante esta primeira parte, enquanto que o Aimar, encostado à direita, também não esteve ao nível a que nos tem habituado, sendo muito menos interveniente no jogo (curiosamente, enquanto esteve na direita, o Ramires pareceu ser capaz de causar mais desequilíbrios).
A segunda parte iniciou-se com o Benfica a parecer ter ascendente no jogo, mas após cerca de dez minutos o sportém respondeu com o seu melhor período no jogo, e durante aproximadamente cinco minutos instalou-se perto da nossa área, conquistando vários cantos e culminando com um grande remate do Veloso, a proporcionar a defesa da noite ao Quim, e um remate do Moutinho para fora. O jogo pareceu depois entrar na mesma toada de equilíbrio da primeira parte, mas quando faltavam pouco mais de vinte minutos para o final o nosso treinador fez entrar o Rúben Amorim para o lugar do Aimar, o que veio alterar o equilíbrio do jogo. O Amorim foi colocar-se perto do Javi, regressando o Ramires à direita (onde voltou a criar desequilíbrios) e teve uma entrada bastante boa no jogo. Também me pareceu que os jogadores do sportém quebraram fisicamente, de forma que acabámos por ter algum ascendente sobre o nosso adversário até ao final do jogo, e desperdiçámos algumas situações que nos poderiam ter dado a vitória: uma situação em que o Di María, bastante à vontade sobre a esquerda da grande área conseguiu rematar contra o Patrício, outra em que o Amorim, desmarcado, voltou a rematar contra o Patrício quando poderia ter servido o Saviola no centro, e ainda uma oportunidade do Ramires, que de baliza aberta não conseguiu acertar bem na bola. A isto o sportém apenas conseguiu responder com um livre muito perigoso na meia lua, que foi mal marcado pelo Veloso contra a barreira. O apito final chegou, e deixou-me com a sensação de que se tivéssemos carregado um pouco mais, ou o jogo durasse mais alguns minutos, poderíamos ganhá-lo.
Os jogadores do Benfica que mais me agradaram foram o Ramires, e muito em particular quando esteve na direita, e o Saviola. A defesa esteve geralmente bem, mas também a verdade é que não teve propriamente muitas situações complicadas para resolver, já que a bola passou muito tempo na zona do meio campo, longe das áreas - durante a maior parte do jogo o esfomeado era o único adversário com que tinham de se preocupar, e conseguiram anulá-lo sem grandes dificuldades. O Di María esteve praticamente desaparecido na primeira parte, subindo de produção na segunda, mas sem grandes brilhos. O Cardozo também pouco se viu, e o Aimar, que passou quase todo o tempo encostado à direita, teve uma participação discreta no jogo.
Só no final do campeonato saberemos se isto foi ou não um bom resultado. Eu fiquei com a sensação de que poderíamos (e temos mais do que capacidade para) ter obtido um resultado melhor. É que eu senti-me quase sempre bastante tranquilo durante o jogo, porque o sportém nunca revelou capacidade para nos empurrar para a nossa baliza à procura da vitória. Pelo contrário, estive sempre com aquela sensação de que a vitória estava mesmo ali à mão, se nós quiséssemos arriscar um pouco mais para a ir buscar. O jogo raramente pareceu fugir de controlo, tacticamente estivemos sempre bem, e se havia alguém que teria que lutar desesperadamente por uma vitória, era o sportém. Não só não o fizeram, como nem pareceram ter capacidade para o fazer. Julgo que a equipa terá encarado este jogo como mais um de uma prova longa. Ou seja, uma vitória hoje, embora fosse sempre agradável, não era tão desesperadamente necessária que justificasse corrermos demasiados riscos para a obtermos.
Amanhã em Alvalade, jogava da seguinte forma:
Na esquerda colocaria Fábio Coentrão, tendo à sua frente Di Maria. Se em certo tipo de jogos sou de opinião que Coentrão não deve ser lateral esquerdo, este não é definitivamente um deles, isto porque a meu ver o adversário não tem no seu plantel um extremo direito (ou defesa lateral já que falamos disso) que nos possa preocupar. De resto, a defesa seria composta pelos habituais titulares, tendo em conta a indisponibilidade do Luisão, isto é, Quim, Maxi, David Luiz e Sidnei.
Talvez optasse por colocar alguém a fazer dupla com Javi Garcia, nem que fosse uns metros mais à frente (Ramirez? Ruben Amorim?), para fazer uma vigilância apertada sobre o jogador mais perigoso do Sporting, Liedson, deixando a ala direita entregue a Maxi e às deambulações de Aimar e Saviola. Acredito que com Liedson manietado, boa parte do perigo leonino será anulado. Na frente, e caso se confirme que Saviola irá recuperar, diria que o segredo para fugir à marcação individual pré-anunciada que irá ser efectuada a Aimar, seria fazer recuar o nosso nº 10, vindo buscar jogo bem cá atrás ou sobre as linhas, ficando Saviola com o ónus de fazer de Aimar. Com a dinâmica certa penso que Di Maria e Cardozo (para já não falar nos supracitados Aimar e Saviola) iriam beneficiar imenso das trocas posicionais que os defesas e médios sportinguistas teriam de fazer para acompanhar o nosso carrossel.
Quanto ao resto, é o resto. É um derby, logo é um jogo de resultado imprevisível e estão bem enganados todos os benfiquistas que pensam que vamos passear a nossa classe a Alvalade. Há um jogo que pode servir de referência, o jogo que realizamos em Goodison Park. Há que entrar com humildade, reconhecer que apesar do melhor conjunto (de equipa e de individualidades) que possuímos, o adversário tem o seu valor e conta com o factor chicotada psicológica além do inegável factor de estar a realizar um dos 2 jogos mais importantes da época (o outro disputa-se na Luz) e, é pena que assim seja, o homem cuja função primária seria demonstrar imparcialidade é um senhor que já nos custou muitos pontos de tão imparcial tentar ser.
Portanto, se eu mandasse, diria aos jogadores para entrarem muito concentrados em jogo e para controlar a agressividade "positiva" (sempre necessária e a meu ver um pouco ausente no jogo disputado com o Guimarães, nomeadamente na 1ª parte) quando a disputa da bola é realizada perto da nossa grande área.
Se estes pressupostos se cumprirem estou certo de que a vitória não nos escapará.
De uma forma ou de outra, vos digo isto: faltam menos de 24 horas para a realização do jogo e já não consigo pensar noutra coisa.
VIVA O BENFICA!
Faz parte do folclore que antecede o grande clássico do futebol português discutir quem é que está melhor e quem é que está pior antes do começo do jogo. O Benfica leva 11 pontos de avanço ao 8º classificado, que por acaso é o Sporting, mas o Glorioso foi eliminado da Taça de Portugal. O Sporting, o 8º classificado, leva 11 pontos de atraso para os líderes do campeonato, sendo que um deles é o Benfica, e eliminou os Pescadores da Costa da Caparica da Taça de Portugal. Segundo o Caneira, o Sporting está melhor do que o Benfica, pois vem de uma vitória sobre os Pescadores da Costa da Caparica, enquanto o Benfica vem de uma derrota contra o Guimarães.
É muito interessante este optimismo do Caneira.
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Pedro Proença vai arbitrar o próximo jogo do Benfica contra o Sporting. A nomeação foi divulgada hoje, mas, segundo o próprio, a decisão de Vítor Pereira já estava tomada há uns meses. Certamente que Vítor Pereira tomou a decisão após aquele arremedo de árbitro com gel na guedelha ter demonstrado a sua supina competência no lance do penálti do Yebda sobre um gajo dos andrades, no Estádio do Ladrão, na época passada.
Vai recomeçar a palhaçada do costume com a comunicação social e a lagartagem rasteirita a dizerem que o Proença é sócio do Glorioso. Já o disse por várias vezes,:o benfiquismo de Pedro Proença é idêntico à sua isenção (veja-se o supracitado jogo ou aquele em Penafiel no ano do Trapattoni). Proença não é um árbitro isento e é um péssimo árbitro. Os árbitros portugueses dividem-se, na sua maioria, entre corruptos e incompetentes. Proença não faz parte da minoria que pode andar na rua de cabeça erguida. E no caso do Proença nem são precisos envelopes portadores de providencial aconselhamento familiar… basta escolher o observador certo. Neste caso, o observador é Natálio Silva e o quarto árbitro é o inqualificável Bardaxistra.
O Caneira tem razões para estar optimista.
O Glorioso anunciou que, finalmente, o Prof. José António Silva vai poder orientar a nossa equipa de Andebol.
Já não era sem tempo. Seja bem vindo de volta, Professor!
O primeiro objectivo é de peso, e já na próxima 3ª feira, e não podia vir mais a calhar - eliminar os corruptos da Taça de Portugal.
Quanto ao palhaço que provocou esta situação, "que la siga chupando". Espero que na 3ª feira tenha a resposta adequada.
Está-se a aproximar Janeiro, com a consequente reabertura do mercado de jogadores (quem é que se teria lembrado desta aberração), e desde há algum tempo que vários jornalistas se transformam em verdadeiros mercadores na sua azáfama de todos os dias descobrirem jogadores do Benfica a vender e outrso que cá não estão para comprar.
É assim todos os anos.
O Benfica tem um excelente plantel e parece ter um grupo unido e focado nos objectivos. Parece-me importante que assim se mantenha até ao final da época.
Acho que, a menos que aconteça uma oportunidade excepcional ou uma situação fora do nosso controlo, o plantel não deveria ser mexido em Janeiro.
E acho que a Direcção do Benfica devia vir a público dizer isso mesmo, numa manifestação de confiança na equipa e nos seus jogadores.
PS - saúdo o regresso ao plantel do Felipe Bastos, jovem jogador com muita qualidade, e que poderá ser um bom suplente do Javi Garcia, que bem precisa de descansar de vez em quando.
PS2 - Caro Jorge Jesus, será que o Shaffer é assim tão mau? Não será possível, com treino específico, corigir-lhe os defeitos para que a equipa possa aproveitar as qualidades? Posso estar a ser injusto, mas começa a cheirar um bocado a teimosia sua...
É importante – claro que é – analisar o jogo, tirar lições para o futuro e perceber as razões da derrota com o Guimarães. Entre as quais está uma que não tenho visto ser apontada com a devida proeminência: a falta de sorte. Não explica tudo (não é isso que estou a dizer) mas explica alguma coisa, como algumas decisões da arbitragem (um golo ilegal, ainda para mais quando é o único do desafio, claro que até é muito bem capaz de explicar é tudo).
Aconteceu taça esta noite na Luz. Por mérito do Vitória, que soube sempre manter-se organizado na defesa e segurar a vantagem que conseguiu obter, e por (muito) demérito do Benfica, que jogou de forma desgarrada e desorganizada durante demasiado tempo, não sabendo encontrar inspiração ou soluções para romper a muralha defensiva adversária.
A primeira parte, em particular, foi demasiado fraca. Pelo meio era difícil construir jogo, devido à sobrelotação de jogadores do Vitória nessa zona, que quando não tinha a bola deslocava o lateral esquerdo para o centro, ficando na prática com três centrais, fechando o Desmarets esse lado. Para além disso, colocou três médios a fechar o meio, contando estes ainda com a ajuda do Assis (parece que os adversários já chegaram à conclusão que a melhor forma de atrapalhar o Benfica é mesmo acumular jogadores na zona frontal da sua área). Seria necessário, para contrariar isto, insistir bastante pelas laterais, mas o Amorim pouco apoiou o ataque na primeira parte, e do outro lado o Coentrão, apesar de ter vontade, não estava inspirado. E para complicar mais as coisas, o Aimar também não esteve nos seus dias. Quanto ao ataque, se o Saviola ia fazendo os possíveis para fugir às marcações, o Keirrison fez mais um jogo para esquecer, e esteve praticamente ausente do jogo, com a excepção de um remate. Se o panorama era sombrio, pior ficou quando, como tantas vezes acaba por acontecer em jogos destes, a equipa que está a jogar para não perder de súbito acaba por se apanhar em vantagem. Apesar do golo ter acontecido aos vinte e cinco minutos, era previsível que se o Benfica não alterasse a sua forma de jogar, as coisas acabariam mal. E a verdade é que pouco mudámos. Houve a troca de lados entre o Ramires e o Di María que, na minha opinião, só contribuiu para afunilar ainda mais o jogo, e não trouxe nenhuns resultados práticos, e até ao intervalo não me consigo recordar, à excepção de um livre do Aimar, de uma ocasião flagrante de golo por nós criada.
A segunda parte pareceu trazer um Vitória ainda mais defensivo, e um Benfica com alguma vontade de imprimir mais velocidade ao jogo, mas a falta de inspiração era evidente. Em termos territoriais e de posse de bola, o domínio do Benfica terá sido claríssimo (não sei quais foram os números, mas duvido que o Vitória tenha chegado aos 40% de posse de bola). Mas foi um domínio inconsequente, já que a baliza adversária raramente era ameaçada. Só nos quinze minutos finais, já com o Di María de regresso à esquerda, a saída do inconsequente Keirrison, e as entradas sobretudo do Weldon e do Felipe Menezes (teve uma entrada em jogo muito boa, e talvez teria sido útil se tivesse entrado antes), o Benfica começou a dar maior sensação de perigo. O Weldon veio dinamizar o nosso ataque, mas também é verdade que conseguiu falhar oportunidades claras, em particular um cabeceamento quase à boca da baliza, em que bastaria encostar a cabeça à bola. Julgo que não será exagero dizer que durante os quinze minutos finais conseguimos criar mais ocasiões de golo do que durante o resto da partida - e o Vitória terá sentido o perigo, já que teve que recorrer à simulação de lesões para queimar tempo, coisa que nem sequer tinha tido que fazer até então. Mas já era tarde para emendar os erros cometidos anteriormente, e faltou-nos acerto e calma na altura de finalizar, pelo que fomos penalizados com a derrota.
A desinspiração foi geral esta noite, e quando muito poderei escolher o Saviola como um daqueles que mais tentou remar contra a maré. Não fez um grande jogo, longe disso, mas nunca deixou de tentar desorganizar a defesa, estando sempre em movimento e desmarcando-se para receber bolas. Quanto ao pior, a escolha terá que ser obviamente o Keirrison. Mostra aqui e ali um ou outro pormenor, mas parece apático e completamente falho de confiança durante quase todo o jogo. O jogo do Benfica melhorou bastante após a sua saída.
Estamos fora da Taça, e se queremos queixar-nos de alguma coisa, julgo que teremos primeiro que olhar para nós próprios. Se é verdade que houve mérito na organização defensiva do nosso adversário, a verdade é que nos faltou quase sempre inspiração para resolver os problemas que nos foram apresentados - ao contrário do jogo com a Naval, em que conseguimos, de uma forma constante, ir criando oportunidades de golo ao longo de todo o jogo, e só por infelicidade e inspiração do guarda-redes é que foi necessário esperarmos quase até ao final para festejar. Hoje estivemos numa noite não, e infelizmente esta aconteceu num jogo da Taça, pelo que as consequências são irreparáveis. Agora, a melhor forma de levantarmos a cabeça é ganharmos no Alvalixo.
Não me canso de o dizer: o sportem não tem um valor absoluto, tem um valor relativo. Relativo ao Benfica, evidentemente. O sportem é um dos poucos clubes no mundo que não têm, intrinsecamente, valor, porque aquilo que ele é depende do Benfica. Aliás, a identidade do clube define-se relativamente ao Benfica desde a triste génese desta agremiação de queques. E este é o mais interessante atentado que pode haver à identidade de uma instituição: o não se definir por aquilo que é mas sim por aquilo que não é. Um lagarto não é um lagarto, é um anti-Benfica, estamos fartos de saber. E a verdadeira pequenez é esta: é não se saber o que se é, de tão cegamente se querer mostrar o que não se é. Mas o que é deveras curioso nesta pequenez dos lagartos nem é o não saberem quem são, é não quererem saber quem são (o que, muito honestamente, eu até percebo, e neste sentido até se justifica a não-identidade do sportem).
Vem isto a propósito da entrevista que o Paulo Bento deu, da qual destaco duas frases que falam por si:«E a verdade é que à luta desigual juntou-se uma depressão enorme nos sportinguistas pela pré-temporada do Benfica, agregada à nossa» e «Mas tenho a clara noção de uma coisa: se o campeão tivesse sido o Benfica e não o FC Porto, se calhar eu não tinha estado 4 anos e 4 meses em Alvalade».
Lamentável existência.
p.s. - há um cântico dos NN que me lembra sempre esta questão da identidade. Quando eles cantam "Quem nós somos?", eu respondo intimamente e sem a menor sombra de dúvida "Benfica". Eles, eu, nós somos Benfica, e todos sabemos bem o que é ser Benfica. É esta consciência plena de uma identidade que é absolutamente inacessível aos lagartos. Nunca eles poderão compreender tudo isto que vai cá dentro e por isso este texto é justamente um ensaio sobre a pequenez das existências relativas.
Não tenho o hábito de andar a copiar e publicar textos alheios, mesmo quando são textos geniais do grande benfiquista Ricardo Araújo Pereira. Quebro hoje esse hábito (já o fizera uma outra vez), porque subscrevo integralmente estas suas ideias.
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A Selecção de quem Carlos Queiroz quiser
Por Ricardo Araújo Pereira
De que falamos quando falamos da Selecção Nacional? Curiosamente, falamos de Scolari. Os apreciadores de Scolari gostam de recordá-lo e os seus críticos não conseguem esquecê-lo. Pessoalmente, tenho acerca de Scolari uma opinião muito particular que é não ter opinião nenhuma. Nunca soube nem me interessei por saber se era bom ou mau treinador. Não dou assim tanta atenção à Selecção Nacional. De Scolari, sei apenas o que os números fazem a gentileza de indicar: que é o treinador mais bem sucedido de sempre da selecção portuguesa. Além de ter sido campeão nacional e sul-americano de clubes e campeão mundial de selecções. De Carlos Queiroz, sei que, como treinador principal de seniores, nunca foi campeão de coisa nenhuma. E, na minha opinião, nota-se. No entanto, os apoiantes de Queiroz falam como se ele tivesse o currículo de Scolari e Scolari tivesse os resultados de Queiroz. O próprio Queiroz fala como se, tendo conquistado o direito a ir ao Campeonato do Mundo, tivesse conquistado o Campeonato do Mundo. Apesar de tudo, há diferenças. Em princípio, a final do Campeonato do Mundo não será contra a Bósnia. Isso não impede Queiroz de se comportar como dono da Selecção. Esta já não é a Selecção de todos nós, é a Selecção de quem Carlos Queiroz quiser. A ida ao Campeonato do Mundo é para celebrar apenas com aqueles que sempre acreditaram. Os hereges que tiveram a desfaçatez de não acreditar que uma Selecção incapaz de ganhar a dez albaneses conseguiria ir ao Mundial, estão excluídos dos festejos. É bem feita. Quem ousa criticar a Selecção por bagatelas como um empate em casa contra uma Albânia desfalcada tem o que merece.
Os apoiantes de Queiroz, os únicos devidamente autorizados a festejar o apuramento da Selecção, estão, infelizmente, incapacitados de celebrar. A Selecção joga mal, pelo menos tão mal como eles diziam que jogava a de Scolari. A Selecção tem sorte, pelo menos tanta sorte como eles diziam que a de Scolari tinha. A vitória da Dinamarca sobre a Suécia e as três bolas no ferro contra a Bósnia parecem obra da Senhora do Caravaggio. A única diferença em relação à Selecção de Scolari é que, antigamente, conseguíamos a qualificação directa, e agora temos de ir ao play-off. Mas isso não chega para fazer com que os apoiantes de Queiroz deixem de sentir que estão, de facto, a festejar uma vitória à Scolari. Um deles disse que esta Selecção é tão mais fraca do que a de Scolari, que o apuramento foi um milagre. Juro: um milagre. Que conjugação de astros foi necessária então para que a Dinamarca, que não tem o melhor do mundo, nem jogadores do Real Madrid, Chelsea e Manchester United, se tivesse qualificado à nossa frente? Como se chama um milagre que é maior do que os milagres?
Este Senhor (o "s" maiúsculo não é inocente) faz hoje 60 anos. E 41 deles são passados no Benfica. Os números são impressionantes: 575 jogos, 362 golos (média de 0,63 / jogo), 10 campeonatos, 6 Taças de Portugal e 2 Supertaças. É a mística em pessoa. Dos 362 golos, estes três foram certamente dos mais saborosos. Muitos parabéns, Néné!
P.S. - Apesar destes números, o Néné não era, como se sabe, consensual no 3º Anel. Por vezes, nós, benfiquistas, temos destas coisas. Prestamos mais atenção aos fait-divers como "não sujar os calções" do que aos golos marcados. Que este exemplo do Néné nos sirva de ensinamento para não sermos injustos com alguns dos actuais jogadores. Deixemos os "cabelos" de lado e concentremo-nos na sua importância no plantel. A mística também passa muito por aí.
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Escolas Futebol “Geração Benfica"
bola dividida
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