A entrevista de Jorge Jesus hoje à ‘A Bola’ é admirável, a todos os títulos, e sugiro a sua leitura (que podem fazer aqui). Mas há um excerto que aqui tenho de deixar, forçosamente:
‘…Eu já tive oportunidade de dizer isto: os dois jogos mais importantes da época, que fizeram com que fossemos campeões, foram o da primeira jornada com o Marítimo e o da Taça de Portugal, que perdemos com o V. Guimarães. Foi aí que fomos campeões, quando os sócios do Benfica depois de um empate e de uma derrota aplaudiram a equipa no fim e os jogadores sentiram que quando errassem poderiam ficar serenos porque os adeptos estariam sempre do lado deles. Foi isso que fez com que a equipa nunca mais parasse.’
Não sei se consigo transmitir o orgulho que isto me dá. Por perceber que nós, que pelas bancadas fazemos a nossa parte e jorramos a nossa alma, temos um papel efectivo, real, verdadeiro. Por perceber que os jogadores e a equipa técnica o sentem, e por perceber que conseguimos, todos nós, funcionar como um. Como aqui escrevi há uns dias, como o ‘um que resulta da imensidão de muitos’.
Meus amigos, em suma, por perceber que o que sinto, que o que todos nós sentimos, encontra eco neles, que lá em baixo no relvado dão substância ao nosso sonho de manto sagrado ao peito, e que, efectivamente são um prolongamento do que somos todos nós.
Deixo-vos com esta nota, vinda de quem já percebe tudo isto muito bem e de quem já é verdadeiramente um dos nossos:
‘Javi García, um dos jogadores que encaixou como uma luva na equipa, não só do ponto de vista desportivo mas também pela forma como aprendeu a viver o encarnado, fez mesmo uma declaração de amor: «Isto é parecido com o Real Madrid, mas muito melhor. Sinceramente, o Benfica é o primeiro clube que realmente quero!».'
Intróitozeco:
O blog tem estado muito sossegado e tem estado tudo muito orientadinho e as pessoas todas muito sérias e tudo um bocado panhonha. Isto está claramente a precisar de parvoíce. E, como sabem - é uma das leis do Universo - parvoíce = lagartagem.
Ora vamos lá:
Parece-me evidente, após as célebres declarações do Cabeça de Cotonete (alguém escreva um livro, sff) em que este preconizava uma ‘gestão à Porto’ e olhando para a espécie de equipa da Velha Guarda do FC Porco que o Costeletinha anda a tentar montar, que por esta altura na lagartagem se está a tentar construir uma espécie de imitação barata (porque não há, de facto, dinheiro) do clube do Mestre Pinto. A emulação é, no entanto, perigosa (para a lagartagem - e, vendo bem, no fundo, boa) e parece-me que condenada ao fracasso. Porquê?
Porque ter como enquadramento para a gestão desportiva de uma agremiação (por mais apatetada que seja) a construção de uma cópia ranhosa da equipa dos andrades do tempo do Mourinho é um bocado parvo: aquilo já foi há uns 6 ou 7 anos e, por exemplo, o Maniche cada vez está mais parecido com uma mulher de meia idade obesa. Feia. Muito, muito feia.
Mas, principalmente, porque é preciso ser-se orientado da cabeça para brincar aos gangsters.
Para se emular o clube do Guarda Abel é preciso ser um canalha, sim, mas um canalha orientado e um canalha profissional na trafulhice que faz. Eficiente na aldrabice. Uma gestão à Sopranos não se compadece com pacóvios que nem conseguem tomar conta de uma camisola.
Ou seja, e no fundo, a lagartagem até teria hipóteses de ter algum sucesso com esta estratégia de emulação do clube da fruta se o Cabeça de Cotonete não fosse um asno de proporções pantagruélicas. Cheira-me que, se nem o raio de uma camisola consegue entregar, era gajo para, por exemplo, dar aconselhamento familiar ao árbitro errado (ou ao tipo da Telepizza, se lhe tocar à campainha) ou para dar, ao telefone, as direcções erradas no caminho para a casa de tal modo que o árbitro nunca mais apareceria em lado nenhum ou, sei lá, de achar que a ‘fruta’ seria mesmo fruta e mandar cestos com ananases, peras e bananas para os hotéis das equipa de arbitragem, ou até comprar (penhorando o passe do Pongolle) uma máquina de café para tirar ‘galões’ em condições. Ou então comprar viagens ao Brasil para oferecer ao Xistra e depois perder os bilhetes e ter de oferecer fins-de-semana na Quarteira.
Ainda por cima tem claramente a pinta de ser indivíduo para, numa festa de um núcleo qualquer da lagartagem, entusiasmado por umas valentes imperiais, tinto carrascão e Vat 69 (que as festas da lagartagem não dão para mais) e por uma sessão de abano de maracas ao som de Dias Ferreira em registo Zé Cabra (mas para pior), conseguir virar-se para a matrafona desbocada do lado ou para um jornalista presente e dizer coisas como ‘não diga nada a ninguém, mas arranjámos um gajo na CML que nos arranja pedras da calçada para as claques poderem brincar, que a polícia limpou os baldes que lá tínhamos. Aquilo é que vai ser arrear nos lampiões’.
Convenhamos, estamos a falar de um pachola que veio com a teoria do ‘trabalho de sapa’ nas famílias e com aquela história das sportinguistas terem a infelicidade de casar com benfiquistas e outras pérolas de qualidade inquestionável. Estou muito bem a vê-lo a passear pela rua e a deixar cair post its dos bolsos com notas como ‘Comprar uma camisola para o Renato’, ‘Ligar ao Vítor Pereira e pedir o Xistra’, ‘Pedir ao Bernardo uma capa do Record com o Sá Pinto em miúdo e os 10 putos da Academia que fizeram o crisma ’ ou ‘Falar com o Jorge Nuno para dizer o que queremos este ano para estar calados: pode ser caixas de Cutty Sark, que o Oliveira e Costa não me larga.’
De qualquer maneira, agora mais a frio, e depois do choque da saída do Salema (e agora quem, naquela casa, é que vai escolher os cortinados dos quartos do Abrigo de Alcochete ou pegar no projecto muito pessoal da adaptação para musical da Casa na Pradaria, que implicava vestir todos os jogadores como filhas adolescentes do Michael Landon?), parece-me que há espaço para algum conforto: um clube que tem nos seus estábulos gente como o João Braga, Rui Oliveira e Costa, Dias Ferreira, aquela égua dos Delfins, o trambolho do Eduardo Barroso e inimputáveis como o Cabeça de Cotonete e aquele obtuso do Ernesto não sei das quantas que também tem um espaço, por caridade, n' A Bola, tem, com toda a certeza, massa crítica para nos continuar a deslumbrar.
O email da "Tertúlia" tem sido inundado de mails a protestar contra a cor da publicidade da TMN nas camisolas do Benfica. A página da "Tertúlia" no facebook também tem tido muitos leitores que se queixam do mesmo. Leio no twitter comentários e discussões apaixonadas sobre o assunto. Vejo um pouco por toda a internet manifestações e discussões acaloradas sobre a tal publicidade. Criam-se grupos e contra-grupos no facebook, criam-se formas de pressionar a Direcção do Benfica e a Administração da PT para que alterem a cor da publicidade nas camisolas. Há quem faça deste assunto uma questão estrutural e não perdoe os que olham para isto como uma questão menor. Medem-se benfiquismos, ganham-se antipatias e pequenos ódios de estimação, enquanto se discute o assunto.
Por mim, e apenas falo / escrevo por mim, preferia ter uma cor diferente a enquadrar o patrocínio da TMN, mas não faço disso um cavalo de batalha. Neste novo equipamento está aquilo que verdadeiramente considero importante: as quinas de campeão nacional. Acho meritório o esforço de quem se tem empenhado para mudar aquela cor do patrocínio, mas julgo que os nossos esforços deverão já estar direccionados para ajudar o nosso Benfica a ganhar o próximo campeonato.
No meio de tudo isto, olho para trás, recordo-me daquilo que servia de luta e dividia os benfiquistas há um ano, em seguida olho para esta apaixonada discussão vivida no presente e não posso deixar de sorrir… com a satisfação da certeza de que na diferença da importância dos assuntos discutidos se pode medir a distância do excelente caminho percorrido.
Mantorras é um miúdo de 28 anos a quem a vida pregou um finta daquelas que ninguém merece. Com um talento ímpar para o futebol, teve a sua promissora carreira estagnada no “promissora” sem nunca ter tido uma “carreira”. A lesão, aquela maldita e mal explicada lesão transformou uma das maiores promessas mundiais num futebolista de 10 minutos em final de jogo, jogados à custa de muitos e dolorosos sacrifícios semanais.
Nunca o público da Luz se regateou a esforços para lhe dar o aconchego possível. Mantorras retribuía com o que ninguém lhe ousava pedir: pagou com alguns golos importantes, decisivos e improváveis. Golos que foram muito importantes para que o Benfica fosse campeão no ano do Trapattoni.
Quatro anos volvidos, Mantorras amua, faz birra e tem, publicamente, um comportamento imaturo e nada profissional. O que mudou entretanto? Não fez qualquer jogo para o campeonato e ficou aborrecido porque não fez parte dos 18 futebolistas que se equiparam para o derradeiro jogo. O que mudou entretanto? A realidade apresentou-se-lhe como ela é: real.
Por mim, foi com muito alívio que eu vi o treinador não arriscar um campeonato em função da, certamente, simbólica, emotiva e pouco racional utilização do Mantorras no último jogo. E foi com incredulidade que vi / li o mesmo Mantorras em entrevistas e recados [link] “exigir respeito”, auto-intitular-se “referência do Benfica”, ameaçar o clube e, com isso, colocar o Benfica numa situação extremada, indesejada e que conduzirá a que apenas um saia perdedor de toda esta situação bizarra: o próprio Mantorras.
Não sei se é ou não uma inconfidência, mas sei que Mantorras foi, ao longo da época, preparado para o final de carreira. Sei que já lhe explicaram que, perante a lesão que tem, esta teimosia em forçar o joelho poderá conduzir à imobilidade futura. Sei que uma carreira pós-futebol, num cargo de grande dignidade e relevância, já estava a ser preparada. Sei que tanto no Benfica como na Federação Angolana de Futebol o seu futuro poderia ser isso mesmo: um futuro.
Lamento que Mantorras se tenha fintado a ele mesmo e que tenha marcado um tremendo auto-golo na sua vida. Diz ele que está triste e que acredita que todos os adeptos também estejam aborrecidos. Pois, ele nem imagina como este adepto que aqui escreve está aborrecido… com as atitudes do próprio Mantorras.
Neste momento, desejo apenas que a paciência e o humanismo dos responsáveis não se esgote perante as públicas manifestações de imaturidade e irresponsabilidade que o Mantorras tem tido. Assim, pode ser que os responsáveis tenham a paciência que já me vai faltando.
Passou quase despercebido, mas o final deste campeonato livrou o futebol português de duas das muitas nódoas que o têm andado a manchar nos últimos anos: Paulo Costa e Lucílio Baptista.
Durante anos, esta dupla contribuiu para a grande farsa da arbitragem portuguesa. Ambos são filhos de um sistema que nos habituou a premiar os que de forma mais solícita procuravam “aconselhamento familiar” na antevéspera dos jogos. Agora, finalmente vemo-nos livres destes dois herdeiros da linhagem de Porém Luís, António Garrido, José Pratas, Martins dos Santos, Miranda de Sousa, Carlos Calheiros, José Guímaro, José Silvano, Juvenal Silvestre, António Costa, Isidoro Rodrigues, Donato Ramos, Fortunato Azevedo e tantos outros Coroados da vida airada.
Para o anedotário nacional fica o facto de Paulo Costa ser o presidente do Conselho Deontológico e Disciplinar da APAF. Faz sentido, só a arbitragem portuguesa poderia parir um exemplo de deontologia como esse.
Temo-lo dito várias vezes: o futebol português, pejado de trapaceiros, batoteiros, vigaristas, invejosos e gente de mentalidades tacanhas e pequeninas, não merece o Benfica. Ao longo da nossa gloriosa história são inúmeros os exemplos que mostram que é o futebol português quem lucra e tira partido dos feitos do Benfica, e não o contrário. É o Benfica quem dá a conhecer o futebol português (e Portugal) ao mundo tendo, pelo contrário, que lutar para contrariar o espartilhar e o apequenar que os factos de ter nascido neste país e pertencer a este futebol acarretam.
Esta época, para além do futebol que nos encantou, o Benfica encheu-nos também de orgulho pela sua atitude fora dos relvados. Ao longo de toda uma época em que não faltaram situações em que fomos confrontados com factores estranhos ao jogo que nos tentaram prejudicar, a nossa resposta foi sempre dada dentro do campo, sendo ainda maiores, ainda mais fortes, e derrotando todas as adversidades. Não se ouviu, durante toda a época, uma única palavra do Benfica sobre arbitragens ou uma única crítica às instâncias dirigentes do nosso futebol, mesmo em casos de flagrantes injustiças para connosco. Pois mesmo com esta atitude, o Benfica foi acusado (pela lagartagem) de tentar 'incendiar o futebol português'. Quando a nossa equipa e adeptos foram recebidos no Porto num clima de autêntico terrorismo, a resposta do Benfica foi um comunicado a apelar à calma, a pedir que não respondêssemos a provocações, e a recordar às pessoas que aquilo era apenas mais um jogo de futebol. A resposta dos andrades foi um comunicado vergonhoso, passando uma esponja pelos actos ignóbeis a que o país assistiu, e a dar cobertura à violência e ao ódio.
Diz-se que quem não sente não é filho de boa gente. Os benfiquistas não são diferentes nesse aspecto, e será por isso natural que exista uma enorme revolta não só por esses actos, mas por outros ainda a que assistimos no passado fim-de-semana, que se queria de alegria pela conquista do título, mas onde acabámos por assistir a mais demonstrações de ódio, violência e intolerância da parte de gente que quis impedir os benfiquistas de, simplesmente, darem largas à sua alegria. De uma forma preventiva, e sabendo-se que muitos daqueles que perpetraram várias das barbáries a que assistimos nas últimas semanas visitarão Lisboa este fim-de-semana, mais uma vez o Benfica veio apelar à calma e contenção por parte dos seus adeptos, através de um novo comunicado que só nos pode orgulhar. A resposta dos andrades foi a esperada: responder com mais um comunicado básico que começa com o argumento primário que o Benfica não é parte interessada na Taça de Portugal (o Benfica também nada tinha a ver com o Estoril x Porto para a Taça da Liga, disputado fora da cidade de Lisboa, mas quando alguém teve a infeliz ideia de atirar UMA pedra à comitiva dos andrades eles não hesitaram em culpar o Benfica pelo incidente, indo mesmo ao ponto de mencionar o Estoril x Porto no comunicado cretino que fizeram a 'justificar' as cenas degradantes que se passaram no Porto há duas semanas), e acusando-nos de tentar previamente "dissimular eventuais casos de violência", adivinhando que quaisquer actos de violência sejam da nossa responsabilidade.
Portanto, a ver se percebemos: antes de se passar o que quer que seja, o Benfica apela à calma e contenção dos seus adeptos, desejando uma final da Taça de Portugal na maior das normalidades. Isto é uma tentativa de dissimular actos de violência. Depois de haver adeptos perseguidos e espancados, carros destruídos, apedrejamento do autocarro da equipa com dois jogadores a ficarem feridos (e a terem que se considerar sortudos por não lhes ter acontecido nada de mais grave), pais espancados à frente dos filhos, filhos mal tratados à frente dos pais, senhoras de meia idade aterrorizadas, tentativas de roubo de carros para os atravessar em linhas de comboio, fazer-se um comunicado em que não só se ignoram olimpicamente todos estes actos como ainda, de forma abjecta, se tenta dar-lhes cobertura e justificá-los, é o quê?
Notícias recentes informam-nos que terá falecido um adepto do Benfica cujo único erro foi querer manifestar a sua alegria por uma conquista do Benfica, julgando estar num país democrático e livre. Infelizmente, esqueceu-se que há uns meses atrás alguém atirou uma pedra à comitiva dos andrades antes de um Estoril x Porto. E isto, para algumas mentes tacanhas e imbecis, justifica o altíssimo preço que pagou pela sua ousadia.
P.S.- Felizmente, a 'notícia' sobre o eventual falecimento de um adepto benfiquista era falsa (mas apenas essa parte; não o a parte sobre a cretinice dos comunicados da andradagem, que essa infelizmente mantém-se verdadeira e constante). Foi apenas mais um exemplo de mau jornalismo (e não, não foi da parte do nosso canal), como acabei de ver esclarecido pelo João Gonçalves no Red Pass.
Para o exercício do nosso benfiquismo aqui no blogue, nós, os escribas, como o próprio nome indica, usamos necessariamente o registo escrito do português, e, neste sentido, não podemos ser insensíveis à existência de um Acordo Ortográfico para a nossa língua. Ao longo destes anos, tivemos sempre o cuidado de apresentar textos que respeitassem a nossa língua, em primeiro lugar porque entendemos ser esse o nosso dever enquanto cidadãos, e, em segundo lugar, porque, no contexto do blogue, é ela o meio de que nos servimos para defender o Benfica. Aliás, frequentemente, o nosso exercício da cidadania confunde-se com o nosso benfiquismo e vice-versa, e por isso talvez aquelas duas razões sejam apenas uma. Na nossa última reunião tertuliana, recusámo-nos, unanimemente, a adoptar o Acordo Ortográfico, por estarmos em profundo desacordo com as alterações aí previstas, como aliás uma parte significativa da população portuguesa. Não adianta estar aqui a elencar as razões que nos conduziram a essa decisão, basta dizer que entendemos o Acordo Ortográfico como uma falta de respeito pela língua portuguesa.
Ficou também decidido nessa mesma reunião que, por uma questão de honestidade para com os nossos leitores, tornaríamos essa recusa expressa no blogue, e, porque entendemos ser esse o nosso dever cívico, iríamos disponibilizar o nosso meio de protesto – o laço que a partir de hoje surgirá no canto superior direito do blogue – para quem o quiser usar nos respectivos blogues. O código é o seguinte:
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<a href="http://tertuliabenfiquista.blogs.sapo.pt/1060793.html" target="_blank"><img alt="origem" src="https://fotos.web.sapo.io/i/o4705f5fa/7176469_EqZYv.png" border="0"/></a></div>
Cada um faça como entender. E pronto, o blogue segue como previsto dentro de momentos.
É impossível resumir o campeonato do Benfica a um só momento, pois foram vários os momentos, que nalguns casos corresponderam a jogos inteiros, em que o Benfica nos deixou rendidos à sua inequívoca superioridade.
Houve jogos inesquecíveis pelo ambiente de apoio que se sentia nas bancadas, e aí destaco o jogo com o FC Porto. Importa também destacar as várias goleadas, conciliadas com verdadeiros hinos ao futebol-espectáculo (volta, Gabriel Alves, estás perdoado!!), que fomentaram, em primeira instância, a reaproximação entre a equipa e os sócios e adeptos. Outro jogo importantíssimo acabou por ser a vitória na Figueira da Foz: inverter um resultado negativo de 0-2 numa vitória por 4-2 permitiu à equipa aumentar a confiança em si própria e, ao mesmo tempo, funcionou como aviso para a importância de nunca subestimar os adversários em momento nenhum do jogo...
Cingindo-me apenas a momentos decisivos, é de golos que tenho de falar. O golo de Luisão ao Braga tem, obviamente, de ser destacado, pois ele materializou a vitória sobre o nosso mais directo (e surpreendente) adversário neste campeonato, permitindo alargar a distância pontual para 6 pontos (que veio a revelar-se decisiva). Não esqueço também o golo de Cardozo ao Nacional (na Choupana), obtido minutos depois de falhar um penálti e cujos festejos foram bem reveladores da união de todo o plantel.
Há também os golos que nos permitiram evitar derrotas e assim amealhar pontos que acabaram por ser preciosos, como o de Weldon ao Marítimo (na jornada inaugural) ou de Nuno Gomes em Olhão.
Mas embora os golos que permitiram as vitórias sobre os nossos adversários mais directos tenham sido de inegável importância, há um que recordo de forma muito especial: o golo da vitória sobre a Naval, no nosso estádio. Depois de um jogo em que o Benfica "massacrou" e criou oportunidades suficientes para ganhar confortavelmente (para não dizer golear), chegou-se ao último minuto com um empate a 0. Quando após a marcação de uma falta lateral, Javi García cabeceou para dentro da baliza, eu (e creio que muitos Benfiquistas) fiquei, naquele momento, com a certeza (quase) absoluta de que o Benfica seria campeão. Aquele golo não surgia fruto do acaso, mesmo tendo sido obtido com o jogo a acabar, mas sim como resultado do esforço de todo um jogo, em que a equipa nunca deixou de acreditar que podia (e merecia, oh se merecia!) alcançar a vitória, nunca perdendo o discernimento.
E tão espectacular como o golo (um excelente golo, diga-se), foram os festejos, com os jogadores visivelmente emocionados, nomeadamente David Luiz, Rúben Amorim e o próprio Javi García.
Aquela vitória foi a prova de que o Benfica merecia ser recompensado pela forma de jogar que vinha apresentando desde o início da época e de que essa a recompensa acabaria sempre por chegar, fosse ela uma vitória no último minuto do jogo ou o título de campeão no último jogo do campeonato. Foi a prova inequívoca de que, a melhor forma de lutar pela vitória e pelo título era, precisamente, jogar sempre com aquela atitude e nunca esmorecer, mesmo perante as adversidades. E, não haja dúvidas, ao fim de 30 jornadas, essa atitude foi devidamente recompensada!
E de repente o estômago sobe à boca, e o mar inunda os olhos e a alma fica cheia, tão cheia, e o mundo passa a fazer sentido e o Benfica volta a casa e nós estamos lá à espera, há anos de porta entreaberta a olhar para a estrada a ver se ele volta.
Gosto de dizer – faço alarido disso – que não sou um homem religioso, do alto do meu orgulho arrogante de quem acha que é auto-suficiente na sua carapaça bem estruturada, no seu aprumado sistema de pensamento e valores.
Minto. Minto, tenho mentido a mim próprio e minto a quem mo ouve dizer. Percebo agora que professo o Benfica como uma fé, entranhada na alma e imorredoira, e vivo desesperadamente agarrado a ela, como se fosse um amuleto que me protegesse do mundo (o que, na verdade, é).
Quando o Benfica cumpre o seu destino, quando ganha, parece que o Universo se alinha e que de repente tudo passa a fazer sentido, tudo passa a estar no seu lugar, tudo ganha ordem. Quando o Benfica cumpre o seu destino, o Mundo – torto e imperfeito como é – parece uma criação harmoniosa e justa, simples no seu desígnio, honesta no seu âmago. As coisas ficam mais nítidas, as cores mais vivas, o ar mais leve, a respiração mais fácil. Quando o Benfica cumpre o seu destino, o Benfica volta, na verdade, ao lugar onde deve estar, ao lugar de onde nunca deve sair, ao lugar que sente a sua falta, que clama por ele quando ele - o Benfica – lá não está.
Domingo à noite, enquanto largava à sorte - pelos ares da Lisboa que dançava de corpo enroscado no Benfica campeão – o grito reprimido que levo dentro do peito há mais tempo do que devia, encontrei – encontrámos – um mar de gente que queria, que precisava como de ar para os pulmões, de derramar a alma por sobre a cidade pintada de vermelho. De entre essa gente, muita veio falar connosco, e a todos eles envio um abraço mais forte do que aquele que naquela altura consegui dar - a luta foi árdua, isto saiu-me do corpo e do espírito, e eu sou franzino.
Velhos, novos, altos, baixos, de todas as profissões e estratos sociais, de todos os credos, convicções, ideais políticos, raças, nacionalidades. Tímidos, extrovertidos, cultos, simples, despreocupados, resguardados, optimistas, pessimistas, sãos, doentes, puros, menos puros. O Benfica democratiza a existência humana, mais do que alguma outra invenção do espírito humano. Acredito piamente nisto. Ironia que tenhamos nascido num tão pequeno berço – este país, promessa adiada amordaçada pela inveja – para tamanha ambição à conquista do Mundo. Já o disse mais do que uma vez, digo-o (escrevo-o) outra vez (a verdade merece ser celebrada): o Benfica é um raio de luz, um renascer das melhores qualidades que jaziam adormecidas na alma colectiva de um país reduzido a uma insignificância amordaçante. O Benfica reuniu o que de melhor havia em nós e, fruto de muita luta, suor, sangue, sacrifício e honra, voltou a dar Portugal ao Mundo, enquanto se tornou infinitamente maior que Portugal. Apesar de ter cá nascido, o Benfica é do Mundo – não se esgota numa cidade, numa região, num país - porque o Mundo aprendeu a respeitar o Benfica e nele reconheceu as virtudes que elevam a existência humana. O Benfica de hoje, sustentado neste passado glorioso, projecta-se no futuro, fiel (fiel, caramba!) a tudo o que o construiu.
Toda esta gente, este mar que dá a volta ao Mundo, não é do Benfica por acaso. É do Benfica porque o Benfica é são, porque o Benfica une, porque ser do Benfica é um orgulho sem fim, mesmo nas horas mais negras, quando o futuro parece um poço escuro sem fim. Porque ser do Benfica não é só ser melhor que os outros, jogar de peito aberto, dar tudo, sem quartel, morrer com o emblema cravado na carne. É um modo de vida, é ser mais alto (do que os homens, do que os outros, do que tudo), é ter cá dentro uma chama imensa que nos ensina a ser grandes – muito, muito grandes – nas vitórias e grandes nas derrotas.
O Benfica é tudo isto, é todos nós, é o um que resulta da imensidão de muitos. Quando, nas bancadas, as nossas almas se unem num grito comum, lancinante e arrebatador, que carrega o Benfica, somos um. E lá em baixo, a equipa, que bebe essa chama, esse apelo, essa invocação, mais não é do que um prolongamento – a espada que brandimos – do Benfica que somos todos nós (aquelas pernas lá em baixo são as nossas pernas, aqueles pulmões são os nossos pulmões). É assim que sinto o Benfica. Uma manta tecida por uma miríade de vontades que me aquece nas horas escuras e frias, uma aragem soprada por milhões de almas que me refresca quando o calor me amordaça, um farol de milhões de corações encarnados que me alumia o caminho quando a noite me sufoca.
Era isto que me inundava a alma quando as minhas pernas – num esforço transformado em leveza pela felicidade - me levavam pelos caminhos vermelhos desta cidade enamorada pelo Benfica.
Naquele imenso mar de gente que jorrava do estádio como um rio e cujas almas ameaçavam romper o corpo, há um benfiquista que pergunta se pode dar um abraço. É pequeno, humilde, tenaz, e tem a felicidade estampada num rosto onde consigo ver um mapa de uma vida inteira feita a pulso. Indiferente à pergunta, solta o abraço. Dou-o, sentido, emocionado. Somos todos da mesma família, somos todos filhos da Águia (somos todos irmãos que não sabíamos que tínhamos, escrevi uma vez). Por entre elogios ao programa e simpáticas e sentidas palavras sobre como gosta de nos ver e ouvir, diz, não sem alguma mágoa: ‘um dia também gostava de ir à televisão contar algumas histórias minhas. Passei por muitas dificuldades’.
‘Passei fome para apoiar o Benfica’. ‘Passei fome para apoiar o Benfica’, diz-me.
Paro. Não sei o que dizer, o que responder a isto. Quero dizer-lhe que não precisa de ter fome nunca mais, mas não o sei fazer: as palavras estão-me algures entaladas no corpo, sequestradas pela crueza da devoção cravada no que ouvi.
Que estranha forma de vida é esta que nos impele a escolher a Águia, em sacrifício absoluto do corpo? O que é isto, de que é feita esta gente, quem são, de onde vêm? Que doce e sofrida existência é esta que nos carrega pela vida à revelia de tudo o resto, em luta com o dia a dia e com as necessidades mais cruas? O que é, como se explica, de onde vem esta chama que nos faz desafiar o destino, arriscar coisas que provavelmente não deveríamos arriscar, no limite, em permanente sacrifício?
‘Quem são, de onde vêm’, pergunta-se? Porra: são a minha gente, vêm de onde eu vim.
A fome que ele tem – eu sei, também é a minha - é mais forte do que a fome que o corpo grita. E esta, apenas o Benfica pode saciar.
Esta gente que tudo dá merece tudo. Tudo. Tudo. Este campeonato é, primeiro e acima de tudo, para eles.
Somos campeões. Dignos, justos, sem mácula. Com honra, suor, sangue e sacrifício, honrando a nossa História e todos os que a fizeram.
E na hora da vitória, descubro, com uma claridade perturbadora, que – eu que vivo o Benfica ‘de língua afiada, coração na boca e espada na mão, sem amarras, sem grilhões’ - não quero, não tenho a necessidade, não sinto a premência de agitar a nossa glória em frente a todos aqueles canalhas que nos cuspiram em cima, que nos ofenderam, que usaram tudo e de tudo para nos impedir de cumprir o destino, para evitar que se fizesse justiça. Curiosamente, percebo que não preciso sequer de invocar essa gente: o pior castigo é deixá-los a esbracejar no fel em que se afogam. Chegado aqui, o amor ao Benfica não deixa espaço para mais nada. Lá está: o Benfica faz de mim uma pessoa melhor (como se não lhe tivesse já razões de agradecimento de sobra).
Passa o tempo. A poeira assenta, as lágrimas secam, a alma sacia-se. Solto um suspiro do tamanho do Mundo. O Benfica está em casa.
Apetece-me abraçar novamente quem abracei pelas ruas. Abraço-os a todos daqui.
Um abraço do tamanho do Benfica – ou seja, do tamanho do Mundo – para todos os benfiquistas que, no fundo, mais não são que o meu – o nosso - Benfica.
E, por fim, um abraço sentido e fiel a quem tudo isto proporcionou. Não tenho memória curta e não sou de lealdades volúveis. Estaria e estarei aqui, com o mesmo abraço, nas horas mais difíceis, como sempre estive (desde o início, de corpo e alma).
Um abraço ao presidente Luís Filipe Vieira pela visão, pela coragem e pela liderança determinada, um abraço ao Rui Costa pelo benfiquismo traduzido em gestão desportiva digna do melhor e maior clube do mundo, um abraço a toda a estrutura directiva, onde há gente que tenho a honra de ter como amigos. Um abraço ao Jorge Jesus por me devolver o Benfica ao Benfica, por me saciar a fome e por descobrir que sempre foi benfiquista e não o sabia. Um abraço a todos os jogadores, que honraram a camisola cor de sangue e me fizeram sonhar.
O Benfica que temos hoje, construído com visão, coragem e muito sacrifício, permite-me dizer, sem qualquer sombra de dúvida:
Isto, meus amigos, companheiros de sofrimento, gente que vive com a Águia na alma, é só o início.
VIVA O BENFICA!!!
O futebol voltou para casa, o Benfica é o campeão. Esta vitória tem rostos, tem cicatrizes, tem méritos, tem sangue e tem lágrimas. É um campeonato merecido, justo, vencido de forma imaculada e que nos permite, como benfiquistas, andar de cabeça erguida.
À cabeça, agradeço ao presidente Luís Filipe Vieira. Fui céptico no início, há uns anos. Mas, aos poucos, fui acreditando neste presidente e durante esta época testemunhei o carisma, a liderança e a certeza de quem sabe (depois de ter cometido vários erros) o caminho a seguir e sabe como seguir esse caminho. Luís Filipe Vieira refundou o Benfica. Ao longo deste ano vi-o (garanto que vi) dar lições de democracia, civilidade e benfiquismo a muitos (tantos, meu Deus, tantos!) que durante o período eleitoral se recusavam a cumprimentá-lo. Ao longo deste ano vi-o ter certezas e convicções onde muitos tinham dúvidas e medos. Ao longo deste ano vi e aprendi com o seu exemplo.
Agradeço também ao Rui Costa, homem da minha geração, que tem um benfiquismo puro, abnegado, sincero e incondicional. Sem o protagonismo da época anterior, Rui Costa mostrou que aprende rapidamente, é sagaz e que a liderança silenciosa, mas carismática, é indispensável. O Rui, ao longo dos tempos, deixou de ser um ídolo e passou a ser um amigo. No momento da vitória, não pude deixar de me lembrar das suas palavras quando na época passada se adivinhava o insucesso. Foram palavras de quem não desiste, de quem põe o benfiquismo à frente da sua pessoa e da sua imagem. O Rui merece tanto, mas mesmo tanto, este título de campeão…
Inevitavelmente, Jorge Jesus é o homem do momento. Transformou o futebol do Benfica, aproveitou as infra-estruturas, as condições de trabalho e o esforço de todos para, com o seu talento, devolver, futebolisticamente, o Benfica ao Benfica. Um amigo comum garantiu-me, há um ano, que o “carinhas” vinha para o Benfica. Na altura, perguntou-me como o receberia e eu respondi-lhe que, enquanto cá estivesse, ele seria um dos nossos. O melhor elogio que lhe posso fazer é que, neste momento, gosto de saber que nós fazemos já parte dele.
Em Nuno Gomes e Luisão fica o agradecimento a todo o plantel que tanto trabalhou ao longo do ano. Foram muitos os exemplos de benfiquismo dentro daquele balneário. E desses exemplos guardo a memória, mas guardo essencialmente o desejo de que não só sirvam de testemunho como de semente para o futuro.
Aos adeptos, aos que sofreram nos estádios e fora deles; aos que nunca abandonaram o Benfica; aos que sempre acreditaram; aos que foram ameaçados, agredidos e mesmo assim continuaram a gritar; aos que nos diziam que chegavam a passar fome (sim, fome!) para apoiar o Benfica; aos que disseram sempre presente, desde o início, desde a pré-época, desde sempre; aos que, há um ano atrás, souberam dizer presente e que o continuaram a dizer todos, todos, os dias até à vitória… a todos estes, onde, perdoem-me a presunção, sinto que também estou, não agradeço. A estes peço, tal como me exijo, uma dedicação e entrega ainda maiores, para ganhar também o próximo campeonato.
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A "Tertúlia Benfiquista" chegou hoje aos dois milhões de visitas. Agradeço aos nossos leitores e ao sapo.pt (particularmente à Jonas). Também nos sentimos campeões.
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