Começámos por tornar fácil um jogo que se antevia difícil. Depois, perto do final, conseguimos complicar um pouco o que estava tínhamos feito fácil, e foi preciso apanharmos um pequeno susto para depois respirarmos fundo no último minuto.
Onze sem surpresas, apenas com a obrigatória ausência do David Luiz, que foi substituído naturalmente pelo Sídnei. O Nacional começou o jogo a querer mostrar logo ao que vinha: complicar muito a vida ao Benfica. Com uma boa ocupação dos espaços e exercendo uma pressão muito forte sobre o jogador do Benfica que tinha a bola, os minutos iniciais do jogo pareciam confirmar as dificuldades que se esperava que o Nacional nos causasse. Tiveram mesmo mais posse de bola, e obrigaram o Roberto a uma defesa algo complicada, mas assim que o Benfica fez o primeiro ataque digno desse nome, colocou a bola no fundo da baliza adversária. Foi uma incursão do Salvio (que me pareceu ter sofrido falta para penálti) pelo meio dos defesas adversários, a bola sobrou para o Saviola na direita, perto da linha de fundo, e depois do seu remate ter sido defendido, o Gaitán marcou na recarga. Estavam decorridos oito minutos no jogo, e o golo pareceu encher os nossos jogadores de confiança, já que a partir desse momento nos presentearam com alguns momentos de futebol muito bonito, e um desfilar de oportunidades de golo. Adivinhava-se o segundo golo, que surgiu mesmo aos vinte minutos, num cabeceamento do Sídnei após canto do Aimar. E não abrandou o Benfica, que poderia ter marcado o terceiro imediatamente a seguir, logo na saída de bola a meio-campo do Nacional. A bola foi rapidamente recuperada e o Cardozo acabou isolado em frente ao guarda-redes, permitindo-lhe a defesa. Só dava Benfica nesta fase, e pouco depois foi o Saviola quem falhou o golo de forma incrível, após um desvio de cabeça do Javi. O Nacional não queria baixar os braços, e tínhamos assim um jogo bastante aberto e rápido, que deixava adivinhar mais golos, podendo considerar-se o 2-0 ao intervalo escasso para o caudal ofensivo do Benfica.
A segunda parte iniciou-se um pouco mais lenta, mas com o Benfica a manter a superioridade, que se materializou novamente após sete minutos. foi mais um canto, no qual o Saviola não deu a bola como perdida, recuperando-a em esforço sobre a linha de fundo, e depois o Luisão voltou a tocá-la para que o Cardozo conseguisse fazê-la ultrapassar o guarda-redes e depois, em esforço ainda tocá-la para o fundo da baliza. Com três golos de vantagem no marcador, o jogo parecia resolvido e as facilidades do Benfica eram evidentes, isto apesar da boa atitude do Nacional, que insistiu sempre em procurar o golo. A meia hora do final, o Aimar cedeu o seu lugar ao Carlos Martins e pareceu-me que a partir daí o nosso jogo caiu de qualidade, já que o Carlos Martins não entrou particularmente inspirado. O Nacional passou a ter mais posse de bola, e foi ameaçando um pouco mais a nossa baliza. Mas do nosso lado, ficávamos sempre com a sensação de que seria provavelmente apenas uma questão de tempo até que conseguíssemos aproveitar os espaços concedidos na defesa pelo balanceamento atacante do Nacional.
O jogo parecia continuar sob controlo, mas a quinze minutos do final o Nacional reduziu, após um canto, e o Benfica aparentemente enervou-se com este golo, porque depois disso passámos por cerca de dez minutos que foram claramente o pior período do Benfica no jogo. Pouco depois, foi o Roberto a negar o segundo golo ao Nacional, conseguindo defender o remate de um adversário que apareceu isolado na sua cara. Mas a cinco minutos do final o Nacional conseguiu mesmo fazer o segundo: após um cruzamento largo da esquerda, a bola foi ganha ao segundo poste pelo avançado do Nacional, permitindo uma finalização fácil no lado oposto. Curiosamente, o segundo golo pareceu ter o efeito oposto ao previsto. Em vez de ficar ainda mais nervoso, o Benfica voltou a acordar, e foi em busca do golo da tranquilidade, quando se calhar se pensaria que iríamos tentar preservar a magra vantagem. Esta atitude foi recompensada sobre o final da partida, quando o Saviola teve uma iniciativa individual, ganhou a linha de fundo na esquerda, e cruzou para o poste mais distante onde apareceu o Jara a finalizar de cabeça, colocando o ponto final num jogo muito agradável de seguir e numa vitória justa do Benfica.
Para não variar, o Salvio voltou a ser um dos melhores. Dá uma objectividade muito grande ao jogo de ataque do Benfica, partindo imediatamente para cima dos adversários e em direcção à baliza adversária. Nota-se que está cheio de confiança, e desequilibra quase sempre que tem a bola. O Saviola interrompeu a sua série de jogos consecutivos a marcar, mas esteve também muito bem. Sempre muito activo no ataque, teve intervenção directa em três dos nossos golos, e fez alguns passes absolutamente geniais. Gostei também do jogo que o Javi García fez, dominado quase que por completo a sua zona. Bom jogo também do Luisão. Excepcionalmente, hoje não gostei muito do Coentrão. Teve algumas subidas para apoiar o ataque bastante boas, mas na primeira parte exagerou nas iniciativas individuais, e perdeu a bola em mais do que uma ocasião. Na segunda parte, acabou por ficar directamente ligado aos dois golos do Nacional, já que em ambos os lances foi ele quem perdeu os duelos aéreos. Conforme referi, achei também que o Carlos Martins teve uma entrada no mínimo infeliz no jogo.
Mais um obstáculo ultrapassado, e mesmo considerando o susto perto do final, gostei da maior parte daquilo que vi a equipa fazer esta noite. Houve períodos de jogo que foram brilhantes, e nota-se uma grande confiança na maior parte dos jogadores. Ganhámos doze dos últimos treze jogos para a Liga, e em 2011 estamos 100% vitoriosos. É continuar assim.
Há uma diferença entre ‘memorizar’ e ‘saber de cor’. Há quem memorize, racionalize o saber mecânica e esforçadamente e que, depois, com eficácia o demonstre. Saber de cor é o saber do “cuore” italiano, do “coeur” francês ou do “coração” português. É um saber emocional, intrínseco, espontâneo e natural.
Saviola e Aimar conhecem-se de cor, sabem-se de cor e jogam de cor. Desde os tempos iniciais do River Plate que esta dupla se complementa e se constrói em campo. O mundo do futebol conhece-os desde o início, admira-os desde o início e esperava o reencontro desta dupla mítica no seu clube de origem. Só um clube mítico como o Benfica poderia antecipar e antecipar-se à história, promovendo o reencontro destes dois predestinados. E é importante que a história sublinhe o papel que Rui Costa (outro dos que conhece o futebol e o benfiquismo de cor) teve na promoção do reencontro destes dois maestros no nosso Benfica.
Daqui a muitos anos, quem escrever a história do futebol mundial continuará a dar testemunho desta dupla argentina que tem a faculdade de transformar o talento em arte. E nesse testemunho, nessa eternização destinada aos heróis, aos que se transcenderam, estará o símbolo do Benfica, do nosso Benfica. E isso é uma honra. Da mesma forma que é também para eles uma honra poderem ter na sua história, no seu percurso de vida, a responsabilidade de terem representado o Benfica.
Tenhamos a noção de que o talento que se complementa em Aimar e Saviola não é o resultado de uma aprendizagem, é antes uma disposição inata do espírito. É um encontro de talentos que se reconhecem e se sabem de cor. Pergunto-me se nós, benfiquistas, temos a noção de que uma das mais belas páginas da história do futebol está a decorrer no Benfica.
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Artigo de opinião publicado também na edição de 21/01/2011 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
Tenho de deixar aqui este link: Nelinho. Aos 10:25, simplesmente, o que é o benfiquismo. O que somos todos.
Em serviços mínimos e poupando uma boa parte da equipa titular, o Benfica venceu esta noite o Olhanense e deu um passo quase decisivo para vencer o seu grupo e apurar-se para as meias-finais da Taça da Liga, ainda que com alguns sobressaltos, que nos obrigaram a recorrer a alguma 'artilharia pesada'.
Dos titulares habituais, apenas quatro no onze inicial: Maxi, David Luiz (a jogar a lateral esquerdo), Javi García e Aimar. Depois, uma série de gente com muito poucos minutos nas pernas esta época, como Moreira, Roderick ou Felipe Meneses, e outros que são presença mais assídua no banco de suplentes: Sídnei, Peixoto, Kardec e Jara. O Benfica entrou da forma mais habitual, jogando a uma velocidade agradável e mostrando vontade de deixar a sua superioridade bem vincada, apesar das várias ausências. Começando desde cedo a ameaçar a baliza do Olhanense, foi também cedo que chegámos ao primeiro golo: treze minutos, com o Javi García a marcar de cabeça, após assistência do Sídnei, também de cabeça. E foi sem abrandar que o Benfica aumentou a vantagem pouco depois: aos vinte e dois minutos o Jara deu a melhor sequência a um cruzamento do Peixoto, e fez um grande golo com um remate de primeira. Atingida esta vantagem algo confortável, e mantendo a superioridade no campo, seria mesmo previsível que o resultado pudesse acabar por avolumar-se ainda mais, a exemplo do que aconteceu a semana passada. Mas perto do intervalo o Olhanense, até aí inofensivo, conseguiu reduzir (num lance ilegal, já que o Djalmir controla claramente a bola com a mão), e ganhou novo fôlego.
Esse novo fôlego foi visível nos minutos iniciais da segunda parte. A própria equipa do Benfica pareceu algo nervosa e complicativa, perdendo demasiadas bolas e permitindo que o Olhanense, através de processos simples, chegasse com alguma facilidade perto da nossa área, sobretudo pelo centro da defesa. Decorridos pouco mais de dez minutos, e num desses lances, o Djalmir conseguiu isolar-se, e depois deu-se o inevitável lance clássico de penálti do guarda-redes sobre o avançado. Penálti convertido e a vantagem do Benfica esfumava-se. O Benfica pareceu então reagir um pouco, e esteve mesmo perto do golo pelo Javi García, mas foi mesmo necessário recorrer ao banco e lançar o Salvio e o Gaitán quando faltavam vinte e cinco minutos para o final. Que se revelaram decisivos, já que o Benfica voltou à mó de cima e dez minutos depois de entrarem o primeiro acabou mesmo por marcar o golo da vitória. Que foi mais um grande golo, num remate de pé esquerdo, em jeito, de fora da área, colocando a bola fora do alcance do guarda-redes. O Olhanense já não revelou força anímica para responder a esta nova vantagem do Benfica, que controlou o jogo até final.
O melhor do Benfica foi, para mim, o Jara. Foi dos mais irrequietos durante o jogo, e pressionou muito a defesa adversária. Marcou um grande golo, e foi de uma iniciativa dele pela direita que acabou por resultar o golo do Salvio. Salvio que, apesar de ter jogado apenas vinte e cinco minutos, ainda foi a tempo de voltar a mostrar o seu grande valor, dinamizando novamente o ataque do Benfica e marcando o golo da vitória. Gostei também do jogo do Sídnei. Quanto aos que não aproveitaram da melhor maneira a oportunidade dada, menciono o Kardec (parece estar claramente sem ritmo), o Meneses (excessivamente complicativo) e o Roderick, que na pior fase do Benfica pareceu estar algo nervoso, falhando passes e sobretudo arriscando em demasia cortes e entradas 'à queima', que falhou.
Basta agora um empate com o Aves (até pode nem ser preciso) para carimbarmos a passagem às meias finais da prova, e apontarmos ao tri nesta competição. Quanto à actuação (mais uma) do árbitro Artur Soares Dias esta noite na luz: vergonhosa dualidade de critérios.
Sim, o Cabeça de Cotonete é uma perda eventualmente irreparável para o panorama humorístico nacional, e merecia uma medalha pelo muito que fez pela imagem dos cretinos (em abstracto), no sentido de mostrar que podem – apesar dos resultados obviamente catastróficos – estar à frente de coisas (agrupamentos de escuteiros, seitas religiosas, filas de supermercado, o Sportém – esse tipo de coisas). Mas confio no filão inesgotável de imbecis e bêbados (ou de imbecis bêbados, como o Rui Oliveira e Costa) que a lagartagem possui para alimentar de palhaços o cargo máximo do Circo do Lumiar.
Pela minha parte, aposto numa linha de continuidade e folgo em ver que se perfila como forte candidato mais um palerma de proporções bíblicas. Faço figas para que seja o totó do Rogério, até porque há à venda coisas dessas que estão aí na imagem, o que facilitaria claramente o nosso trabalho no programa (parecendo que não, o cabelo do boneco do Cabeça de Cotonete exigia manutenção). Além disso, tem um potencial do tamanho do vazio entre as orelhas do Ernesto Ferreira da Silva para nos continuar a dar material inadvertidamente humorístico.
Lagartagem, vejam lá isso. O slogan da campanha até pode ser ‘Milhouse forever’ (ou seja, cerca de ano e meio).
A vitória foi conquistada, e isso é o mais importante. Com dificuldade, sem grande nota artística, mas foi conseguida, mantendo-nos à mesma distância do primeiro lugar, e aumentando a nossa margem de conforto para o terceiro classificado.
A presença do Airton no onze foi natural e era esperada, mas foi com alguma surpresa que vi o Rúben Amorim manter a titularidade, deixando o Maxi no banco. Também o Carlos Martins manteve o seu lugar no onze, em detrimento do Aimar. O jogo iniciou-se algo repartido, com o Benfica a não ser tão dominador quanto tem sido recentemente e a Académica a parecer mesmo a equipa mais esclarecida. Foram precisos dez minutos para que acordássemos, e começássemos então a levar perigo à baliza adversária, sendo o primeiro sinal um bom remate do Carlos Martins, que falhou o alvo por pouco. Depois disto, o Benfica entrou na sua melhor fase no jogo, em que assistimos a uma pressão muito alta e intensa da nossa equipa, com várias recuperações de bola logo à saída da zona defensiva da Académica. Aos vinte minutos de jogo, quando o Benfica já tinha clara supremacia em campo, chegou o golo que acabou por decidir o jogo. Livre a nosso favor já bastante perto da área, a descaído para a direita. Bem ao jeito do Cardozo, que o marcou mesmo, com a bola a tabelar no Saviola (em posição irregular) e a trair o guarda-redes - não faço ideia se o golo . Este golo ilegal, acabámos por pagá-lo com juros no resto do jogo. A Académica teve alguma reacção ao golo sofrido, criando mesmo uma boa oportunidade para marcar, isolando o Miguel Fidalgo na direita da nossa defesa, mas o Roberto fez uma grande defesa e evitou o empate. No geral, o Benfica continuou a mostrar superioridade em campo, e esta acentuou-se com a expulsão de um defesa da Académica, que teve uma entrada de pitons à cara do Cardozo que o Bruto Alves não desdenharia. A vantagem mínima ao intervalo era perfeitamente justificada, face à superioridade do Benfica.
A expulsão do jogador da Académica tornou o jogo muito aberto. A sensação que tinha ao vê-lo era a de que não seria necessário muito esforço para que voltássemos a marcar, dados os espaços que se iam abrindo na defesa adversária. Mas se o Benfica conseguia chegar rapidamente e com facilidade até junto da área adversária, depois as coisas já eram mais complicadas, e o último passe, centro, ou mesmo remate acabavam por não ter o destino mais desejável. Ou aparecia um pé ou uma cabeça de um defesa, ou a finalização era imperfeita. Os minutos finais da primeira parte, após a expulsão, já tinham sido assim, e a segunda parte manteve a tendência. E depois foi-se passando o que costuma ser habitual nestas situações: à medida que o tempo vai passando e não há meio de marcarmos o golo que arrumaria com o jogo, o adversário começa a acreditar que pode ser possível chegar ao empate. A cerca de vinte minutos do final, e no curto espaço de um minuto, o Benfica teve dois sérios avisos do que poderia acontecer, primeiro com um escorregão do David Luiz a permitir um centro muito perigoso, e logo a seguir um remate à entrada da área levou a bola a bater no poste da nossa baliza e a viajar ao longo da linha de golo. Acordou o Benfica, e respondeu pouco depois com um cabeceamento do Luisão ao poste, na sequência de um canto. E o jogo voltou à tendência descrita, ficando-se com a sensação de que o segundo golo podia estar ali tão perto, mas agora também com receio de que a Académica pudesse surpreender (embora este receio fosse, em boa parte, mais resultado de nervosismo, porque a verdade é que depois daqueles dois lances seguidos, a Académica pouco mais conseguiu ameaçar seriamente a nossa baliza, passando os últimos minutos a bombear bolas quase desesperadamente para a nossa área). Mas o Benfica acabou por segurar a vitória com um bocadinho de nervoso miudinho mas sem grandes sobressaltos, e apenas com a irritação de vermos o Fábio ser expulso, por acumulação de amarelos, no último minuto. Irá assim, mais uma vez, falhar o jogo da Taça da Liga, e continuará à beira do quinto amarelo.
Gostei do Luisão, seguro como sempre na defesa. Gostei também do Fábio Coentrão, sempre muito activo na esquerda, não só a atacar, como a defender alto. Inúmeras foram as vezes em que o vimos a pressionar o lateral adversário logo em cima da área da Académica. O Sálvio, sem ter brilhado tanto como nos últimos jogos, também esteve em bom plano, e teve várias iniciativas do lado direito às quais não foi dada a melhor sequência. Não gostei do Carlos Martins (muitos passes falhados para aquilo que lhe é normal, e pouco empenho na luta do meio campo), do Airton (acima de tudo, continua a mostrar uma diferença enorme para o Javi em termos de posicionamento) e do Cardozo (marcou o livre para o golo, mas pouco mais fez, destacando-se sobretudo por chegar tarde às bolas).
Conforme escrevi no início, o importante era vencer. Conseguimo-lo, e julgo que a justiça da nossa vitória não pode, honestamente, ser posta em causa. Mesmo que desta vez não tenhamos tido uma nota artística alta.
P.S.- Elmano Santos é um dos piores árbitros da primeira categoria, e voltou a mostrá-lo (ele e a sua equipa) neste jogo. A regra de ouro para esta Liga parece manter-se: penáltis a favor do Benfica, nem vê-los.
Com fina ironia, nos últimos 30 anos instalou-se uma espécie de cultura do medo e da ameaça no futebol português.
Há jornalistas ameaçados, chantageados, agredidos e humilhados. Confessam-no em privado, negam-no em público. Há árbitros vendidos, impunemente comprados, escutados a pedir favores em troca de favores e que ficam, convenientemente, calados numa teia de dependências habilmente montada. Há juízes que se julgam à margem da lei e que, com fina ironia, riem da beca que envergam e envergonham.
Há políticos que recebem ameaças à democracia na casa da democracia e que, ironicamente, mais do que prestigiar o convidado desprestigiam a missão que lhes foi dada pelo povo. E em nome do povo ajoelham e beijam a mão a quem escarnece da justiça num Estado de direito. Tudo isto servido com ironia mais ou menos fina consoante a ocasião. E todos sabemos que a ocasião faz o ladrão (sem ironias).
Há quem tema opinar sem amarras e livremente criticar e questionar. Há quem aceite a canga do medo e, em nome da necessidade, queira amordaçar a verdade que um dia será gritada.
Quando se fizer a autópsia do futebol português dos últimos anos, encontrar-se-á uma ficção feita de fina ironia e de medo. Ainda assim, restam-me duas certezas: a de que o benfiquismo não aceita hoje, como nunca aceitou, cangas e mordaças; e a certeza de que todos os que viveram a meter medo acabaram, ironicamente, a meter dó.
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Artigo de opinião publicado também na edição de 14/01/2011 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
Este post é sobre o melhor jogador do mundo. Para quem não esteja bem a ver quem é, eu explico: é brasileiro, tem 1,92m, é defesa central, joga no Olhanense, e chama-se Jardel. E é claramente o melhor jogador do mundo. Se ele tivesse, ontem, alinhado no jogo dos oitavos-de-final da Taça de Portugal disputado na Luz entre a sua equipa actual e o Benfica, a mão cheia de golos com que o Benfica despachou o Olhanense nunca teria acontecido, e seriam os algarvios quem hoje estariam a celebrar a passagem aos quartos-de-final. É a única conclusão a que posso chegar, depois de observado o festim na comunicação social avençada, e as reacções dos mais diversos quadrantes. E isto não é propriamente algo mau: é que, logicamente, só me permite concluir que o Benfica conseguiu, de facto, contratar o melhor jogador do mundo. Convenhamos: um defesa que por si só conseguiria evitar que a sua equipa sofresse uma mão cheia de golos e ainda a lideraria à vitória não é um jogador qualquer.
O que é que o Benfica deveria fazer então? Estamos interessados num jogador, mas como vamos defrontar a equipa onde ele joga actualmente, devemos esperar para o contratar? Que resultados práticos poderiam advir disso? Eu digo:
1) O Benfica esperava e outra equipa aproveitava e contratava-o. Resultado: 'Estamos sempre a dormir; os nossos dirigentes são uns incompetentes, e deixaram-se 'comer' mais uma vez';
2) O Benfica esperava e por acaso o jogador, apesar de pretendido por outros clubes, acabava mesmo por vir para o Benfica. Entretanto, tinha jogado contra o Benfica. Quando o Benfica anunciasse a sua contratação: 'Pois, ele já sabia que vinha para o Benfica e por isso facilitou' - e isto assumindo que ele nem sequer tinha tido uma fífia grave contra o Benfica (como, sei lá, um certo Beto quando jogava no Leixões) porque então prefiro nem imaginar o que se diria.
O facto concreto é: o Benfica estava interessado no jogador, e contratou-o na altura certa. Ponto final. Não interessa se o Olhanense ia ou não jogar contra nós - não me passa pela cabeça que tenha sido este o factor decisivo que levou o Benfica a avançar para a contratação neste momento. E recuso-me a considerar os nossos dirigentes tão incompetentes que fossem contratar um jogador em quem não estivessem interessados apenas para que ele não disputasse um jogo contra nós, jogo esse em que já éramos à partida favoritíssimos. Consumada a contratação, o facto do Jardel não jogar (iniciativa que partiu do presidente do Olhanense) é para mim a forma mais limpa de fazer a coisa.
Porque não interessa o momento em contratação fosse anunciada: na fossa séptica que é a comunicação social desportiva deste país, as insinuações apareceriam sempre (alguém se lembra, por exemplo, do que foi dito e escrito sobre as contratações do Makukula ou do Jorge Ribeiro, que antes de serem contratados tinham falhado penáltis contra o Benfica?) Veja-se o exemplo d'O Nojo de hoje: a capa não destaca a grande vitória do Benfica (ou mais uma exibição patética dos super-andrades), mas sim a 'baixa surpresa no Olhanense' e o título de que o Jardel 'mudou de camisola a tempo' (o que é depois escrito na própria crónica do jogo é simplesmente vergonhoso). É com isto que temos que lidar, é com este nojo que temos que conviver. Pela parte que me toca, como benfiquista, dispenso juntar-me a esta gente e ainda contribuir para este tipo de palhaçadas.
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