Para muitos até convém que não valha nada, mas, com a vitória de hoje sobre o Olhanense, o Benfica consegue o melhor começo de temporada das últimas duas décadas. O resto é conversa.
O Benfica foi jogar e ganhar a Aveiro. Mais de vinte mil benfiquistas nas bancadas ajudaram a trazer vida a um estádio novo e já decrépito, fruto de um investimento mal pensado aquando do Euro 2004, e com uma decrepitude resultante de uma gestão de merceeiro que não permite uma manutenção minimamente digna. Vinte mil benfiquistas serviram de bodo ao Beira-Mar, da mesma forma que vão servindo de bodo a tudo quanto é clube espalhado por este Portugal de mão estendida em busca de esmola.
A chico-espertice de uns quantos dirigentes associada a uma vergonhosa falta de eficaz regulação dos preços dos bilhetes leva a que se aproveitem despudoradamente dos benfiquistas a cada deslocação do nosso clube a casa alheia. Vemos, ano após ano, clubes a subsistirem desportivamente num beija-mão subserviente a um dono alheio que vai satelitizando e parasitando clubes com treinadores, jogadores e até dirigentes e outros homens de trazer no bolso. E vemos que esses mesmos clubes subsistem financeiramente em grande parte graças à receita que conseguem aquando da visita do Benfica.
Na presente época, devido aos bons resultados da equipa, começamos a ver crescer essa onda vermelha que acompanha a nossa equipa para todo o lado. A onda que recentemente mostrou em Basileia como é que, jogando fora na Champions, acabávamos por ter um apoio superior aos da casa é a mesma que em Aveiro demonstrou um apoio massivo e inequívoco à equipa. Desta onda fazem parte os três mil que se deslocaram recentemente, a meio da tarde, ao Estádio da Luz para ver um… treino.
Esta onda vermelha de crença e benfiquismo merece uma equipa vencedora e profissionais dignos e empenhados, mas merece também que quem regula o futebol em Portugal saiba tratar com respeito os que, pela sua presença nos estádios, garantem a subsistência do futebol em Portugal. Infelizmente, nem a Liga nem a Federação nos têm respeitado.
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Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica" no dia 25 de Outubro e publicado na edição de 28/10/2011 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
Na quinta-feira da semana passada, almoçando com 3 ilustres benfiquistas, sendo um deles um verdadeiro expert – talvez mesmo o benfiquista que melhor conhece a FPF – em assuntos respeitantes à Federação Portuguesa de Futebol, alguém garantia que, se nos próximos dias Fernando Seara surgisse na lista de Carlos Marta, seria um sinal muito forte de que Fernando Gomes não ganharia as eleições para a FPF.
Demorou menos de 24 horas a surgir o dito apoio de Fernando Seara e demorou muito menos para que se instalasse o pânico na candidatura de Fernando Gomes.
Entre um Fernando Gomes em quem não confio e um Carlos Marta alavancado por Lourenço Pinto... venha o diabo e escolha. Ou seja, escolher-se-á a frigideira ou o lume, sendo que, aparentemente, em qualquer dos casos, Benfica e Sporting já foram comidos.
A situação actual do futebol do Benfica é a seguinte: dezasseis jogos oficiais disputados, nenhuma derrota, liderança repartida da Liga, qualificação tranquila para a fase de grupos da Champions League, onde vai ocupando a liderança isolada do seu grupo, e presente na Taça de Portugal, tendo mesmo agora o sorteio ditado a Naval como adversário na quarta eliminatória. A equipa vai ganhando jogos com naturalidade, conseguindo até algo raro no Benfica - resultados positivos mesmo quando nem joga muito bem - e é perfeitamente capaz de arrancar uma exibição mais conseguida quando tal é necessário. Basicamente, o Benfica este ano parece quase sempre conseguir jogar q.b. para arrancar o resultado necessário ou desejado. Este cenário acaba por ser um tanto ou quanto aborrecido (e até, se calhar, surpreendente, tendo em conta a muita berraria a que uns poucos se dedicaram durante a pré-época), porque é preciso algo com que implicar, já passou muito tempo desde o empate com o Gil Vicente, e já cansa estar sempre a embirrar com o Jesus só por causa do penteado ou das declarações que faz. É preciso algo mais substancial.
Nada melhor, portanto, do que recuperar o assunto Capdevila. O Capdevila é apenas mais um na longa linha de jogadores que, por não serem opção regular para o Jorge Jesus, são considerados jogadores fabulosos, que nos permitiriam ganhar todos os jogos por pelo menos seis a zero com a sua simples presença em campo. O Urretamessivizcaya, o Shaffer ou o Nuno Gomes são mais alguns exemplos desta classe de jogador. Na situação actual, basta que o Emerson faça uma asneira qualquer para que se volte a falar do Capdevila. Acho que, no fundo, é o treinador de bancada que existe em cada um de nós, e que no íntimo acha que até era capaz de fazer algumas coisas melhor do que o Jesus. O Capdevila até é um argumento de peso: afinal, trata-se de um jogador campeão europeu e mundial pela sua selecção. Pessoalmente, no entanto, isso não me convence muito sobre uma superior valia dele em relação ao Emerson. A selecção espanhola foi campeã europeia e mundial e o Capdevila, fazendo parte dessa equipa, ganhou esses títulos. Mas honestamente, não me parece que tenha grande concorrência pelo lugar na selecção (alguém consegue nomear um actual defesa esquerdo espanhol de nível?), e isso em parte explicará o facto de, aos 33 anos, continuar a ser opção do seleccionador. Os principais clubes espanhóis têm estrangeiros no lugar de lateral esquerdo, e o próprio Capdevila fez toda a sua carreira em clubes de segunda linha (Deportivo e Villarreal, depois de uma passagem fugaz pelo Atletico), o que explica que tenha pouquíssimos títulos conquistados em clubes (uma Taça e duas Supertaças, se não estou em erro). Nas (poucas) oportunidades que teve esta época, não mostrou mais do que aquilo que o Emerson tem feito - e quem estiver familiarizado com os jogos da selecção espanhola, sabe perfeitamente o tipo de jogador que é: um defesa certinho, pouco dado a exuberâncias. Para mim, campeão do mundo ou não, o Capdevila é apenas mais uma opção no nosso plantel, e considero que o treinador tem toda a legitimidade para escolhê-lo ou não para titular.
Eu não acho que o Jorge Jesus esteja sempre certo. Comete erros, como toda a gente, e muitos deles por teimosia ou casmurrice. Acho mesmo que no caso do Capdevila cometeu um erro crasso ao não o inscrever na Champions, e a desculpa que deu para não o ter feito foi perfeitamente esfarrapada. Ao contrário do que ele afirmou, o Jardel não pode fazer mais nenhuma posição a não ser a de defesa central (aliás, tremo só de imaginá-lo a fazer qualquer outra posição), e para aí poderíamos ter o Miguel Vítor e, em caso de muita necessidade, o Javi García. Não faz muito sentido deixarmos a posição de lateral esquerdo entregue a um único jogador, tendo como opção de emergência um outro que ainda não fez um único jogo sénior na sua carreira. Mas apesar de não concordar sempre com ele, sou um apoiante entusiástico do Jorge Jesus. Porque o que eu quero, acima de tudo, é que o Benfica ganhe, seja com o Emerson ou o Capdevila em campo. E a verdade é que, com o Jesus, o Benfica ganha muitas vezes, surpreendendo-me por vezes a memória curta que muitos benfiquistas têm em relação a isto. Parece-me que no caso de um treinador cuja percentagem de vitórias no Benfica é apenas superada pelo inigualável Jimmy Hagan, os resultados falam por si.
Eloquentemente, diga-se.
Vitória suada mas justa e preciosa do Benfica em Aveiro, num jogo aborrecido e no qual tecnicamente não deslumbrou, parecendo até por vezes mostrar uma certa ressaca do último jogo da Champions.
Algumas surpresas no onze inicial, com as ausências do Javi García, Gaitán e Aimar. Mas o Benfica este ano tem mais opções no plantel, e para os seus lugares entraram o Matic, Nolito e Saviola. Na direita da defesa o regressado Rúben Amorim substituiu o lesionado Maxi Pereira. O Benfica teve uma boa entrada no jogo, mas o Beira Mar mostrou que não seria um adversário fácil. Apostando sobretudo em defender, o que soube fazer de forma bastante organizada - por algum motivo eram e continuam a ser a defesa menos batida da Liga - conseguia por vezes sair de forma rápida para o ataque, causando problemas à nossa defesa. Depois da primeira meia hora o jogo começou a ficar mais equilibrado, e mesmo continuando o Benfica a ter muita posse de bola, adivinhava-se uma tarefa difícil conseguir quebrar a resistência aveirense, porque as oportunidades escasseavam. O golo acabou por surgir de forma algo inesperada, quando o guarda-redes do Beira Mar deu uma 'rosca' na tentativa de pontapear um passe longo do Saviola, permitindo ao Cardozo cabecear para a baliza deserta.
A segunda parte teve poucos motivos de interesse. Se o Beira Mar tem a melhor defesa da Liga, também é verdade que tem o pior ataque, com apenas três golos marcados (e todos no mesmo jogo), pelo que se adivinhava difícil que conseguissem evitar a derrota. Mas o Benfica também não mostrou grande inspiração para conseguir marcar o golo da tranquilidade - lembro-me talvez do remate do Rúben ao poste, e pouco mais - pelo que havia sempre o risco de um lance fortuito resultar num golo do adversário. E à medida que o tempo foi passando o Beira Mar foi acreditando e tentando pressionar mais em busca desse golo, mas nunca conseguiu assumir um claro domínio no jogo, criando também apenas uma real oportunidade de golo. Não fosse o nervoso miudinho pelo facto de a vantagem do Benfica ser mínima e a segunda parte teria sido praticamente um longo bocejo. O melhor mesmo foi o apito final, e a confirmação de mais três pontos nas nossas contas.
O jogador do Benfica que mais me agradou ver jogar foi o Witsel, que neste jogo esteve claramente acima dos restantes. Artur e a dupla de centrais também estiveram sólidos, mas no geral não houve propriamente muitas exibições de encher o olho.
Saimos de Aveiro com os três pontos no bolso, e isso é o mais importante. Aliás, agrada-me que presentemente tenha a sensação de que mesmo quando não fazemos uma exibição brilhante, conseguimos vencer jogos. Não é possível jogar sempre bem, mas podemos ambicionar vencer sempre. São vitórias em jogos como este que também dão campeonatos.
Para a semana, celebrar-se-á mais um aniversário do nosso estádio. 25 de Outubro de 2003 foi a data de inauguração do actual ninho das águias, oficialmente denominado como Estádio do Sport Lisboa e Benfica. No entanto, é popularmente chamado como ‘Estádio da Luz’ e é apaixonadamente denominado como ‘A Catedral’.
Luz, Catedral… as amarras do nome oficial são quebradas pela identificação nominalista da universal família benfiquista. Assim, toda a nomeação é uma espécie de sacralização de um espaço profano, uma sacralização de origem profana, de simbólica profana, mas de linguagem sagrada. A mesma linguagem que nos leva a dizer que a camisola do Benfica é o ‘manto sagrado’ ou que o Benfica é o único clube que não permite a utilização da expressão ‘velhas glórias’, pois os que são denominados como ‘glória’ do clube jamais envelhecem na memória colectiva do benfiquismo.
Deste modo, temos a sacralização do espaço, do tempo, do símbolo e dos que, de entre todos, melhor o serviram. Olhar para a nossa Catedral, com todos os adeptos, os fiéis, ritualmente levantados durante a audição do “Ser Benfiquista” (para quando o regresso do nosso hino, “Avante, Avante p’lo Benfica”, ao nosso estádio?), levantando o cachecol antes de o recolocar, qual estola, em ombros, enquanto se espera a vénia dos nossos futebolistas aos adeptos tem algo de litúrgico. É a junção do ritual ao tempo, ao espaço e ao modo.
Compreende-se que vulgarmente se diga que o Benfica é uma religião. Objectivamente, não é. No entanto, sentimos que uma ida à nossa Catedral, à nossa casa, é mais do que uma viagem – é mais do que meramente passar por cima de uma experiência – é, essencialmente, uma forma profana de peregrinação. Ou seja, ir à nossa Catedral é viver uma experiência de crença no benfiquismo, de partilha de uma ideia de clube e de comunhão de uma vontade comum.
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Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica" no dia 18 de Outubro e publicado na edição de 21/10/2011 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
Mais uma exibição muito personalizada e confiante da nossa equipa, e uma vitória fundamental no terreno de um adversário directo na luta pela qualificação. A equipa soube pressionar e atacar na altura certa, defender bem quando foi preciso, e até sofrer quando não houve alternativa. Em todos esses momentos mostrou sempre eficácia, simplicidade de processos, e muita calma.A grande surpresa que o Jorge Jesus reservou para o onze desta noite foi a entrega da titularidade ao Rodrigo na frente de ataque, em detrimento do Cardozo. A táctica foi a esperada, com o Witsel a ajudar no trabalho do meio campo e o Aimar a fazer a ligação com o ataque. O Basileia pareceu entrar no jogo com vontade de mostrar serviço, mas o ímpeto inicial dos suíços durou pouco tempo. O Benfica depressa tomou conta da bola, soube guardá-la, e passou a pautar o ritmo do jogo. Quando não tínhamos a bola, a pressão (alta) era feita de forma eficaz, e impedia o Basileia de sair a jogar e construir jogadas de ataque. E quando a recuperávamos e havia oportunidade para isso, nas transições rápidas, aproveitando também a mobilidade do Rodrigo, íamos causando perigo. O primeiro golo do Benfica acabou por surgir aos vinte minutos de jogo, numa bonita jogada de ataque. O Gaitán arrancou pela direita e depois, com tudo a ser feito ao primeiro toque, tabelou com o Aimar e passou a bola para o Rodrigo. Este, no centro da área e num pormenor genial, deixou-a passar entre as pernas para nas suas costas surgir o Bruno César, completamente solto, a colocar a bola rasteira junto do poste. O golo desnorteou ainda mais o Basileia, que apenas nos minutos finais conseguiu carregar um pouco em busca do golo do empate, mas os seus avançados caíram frequentemente na armadilha do fora-de-jogo.
Na segunda parte o Benfica continuou a controlar o ritmo do jogo, tendo tido largos momentos em que fez a bola rodar por quase toda a equipa e a toda a largura do campo, sem que o Basileia a pudesse tocar. Faltava era marcar o golo da tranquilidade, que o Benfica ia ameaçando, mesmo que por vezes até parecesse estar a jogar numa velocidade de cruzeiro. Com dez minutos decorridos, O Emerson teve uma ocasião para fazer esse golo, ao aparecer completamente solto dentro da área, sobre a esquerda. Mas infelizmente preferiu tentar o remate cruzado, que foi defendido pelo guarda-redes, quando lhe bastaria tocar a bola para o lado, onde o Rodrigo estava completamente solto. A partir do meio da segunda parte o Basileia começou a arriscar mais na procura do golo, e construiu mesmo uma grande oportunidade de golo, negada em estilo pelo Artur, que fez bem a mancha aos pés do Streller. Logo a seguir entrou o Cardozo para o lugar do Rodrigo, e cinco minutos depois de estar em campo deu a machadada final nas aspirações dos suíços. Livre bem à sua maneira, descaído sobre a direita da área (por falta cometida sobre ele), e o remate a partir rasteiro, passando a bola sob a mini-barreira do Basileia para entrar junto ao poste mais próximo. Depois do segundo golo, veio o período mais negro do Benfica no jogo: de repente perdemos o Maxi por lesão (entrou o Miguel Vítor para lateral), o Emerson por expulsão (foi o Bruno César fingir que era lateral), e o Gaitán andou no campo a fazer figura de corpo presente, já que estava claramente diminuído fisicamente. A juntar à festa, o Jorge Jesus conseguiu ser mandado para a rua. Apesar de tudo isto, durante todo esse tempo nem por uma vez o Basileia conseguiu criar uma verdadeira jogada de perigo, e nem deu para ficar nervoso à espera que o jogo acabasse.
Já vem sendo um hábito destacar, acima de tudo, a equipa num todo, e hoje creio que mais uma vez isso se justifica. Em termos individuais, achei que o Luisão esteve simplesmente imperial, sem cometer uma única falha durante todo o jogo. Foi bem acompanhado pelo Garay. Muito bem também o Artur, sem ter tido muito trabalho mas a mostrar muita segurança sempre que interveio, e classe nos momentos mais difíceis. Gostei também muito da exibição dos dois médios mais recuados, Javi e Witsel. Quem menos me agradou foi o Emerson, que se deixou ultrapassar demasiadas vezes na primeira parte no um para um - o seu adversário directo, Shaqiri, pareceu ser um dos jogadores mais rápidos e perigosos do Basileia, mas precisamente por isso o Emerson não lhe deveria ter dado tantas vezes tempo e espaço para receber a bola e arrancar com ela controlada. E depois ainda juntou a isto uma expulsão desnecessária.
O Benfica e o Jorge Jesus parecem ter aprendido bem as lições da Champions da época passada. Na altura, por diversas vezes vimos o Benfica dominar jogos e atacar às vezes de forma quase desesperada, para depois acabar por sofrer golos e perder jogos de forma inacreditável. Este ano a equipa tem vindo a demonstrar uma calma e maturidade na abordagem aos jogos que já é mais consentânea com a prova que a Champions League é. Hoje conseguimos uma vitória importantíssima, que significou um passo de gigante para a qualificação. Falta-nos agora jogar dois jogos em casa e um fora, pelo que poderemos utilizar a vantagem de jogar na Luz para carimbar essa mesma qualificação. Para a recepção ao Basileia, a maior dor de cabeça será mesmo encontrar uma alternativa ao Emerson. Laterais esquerdos inscritos na Champions para além do Emerson, só o Luís Martins e... o Peixoto.
Vitória tranquila do Benfica numa exibição paciente e competente, que nos deu a passagem à quarta eliminatória da Taça de Portugal. A superioridade do Benfica nunca foi posta em causa, e o resultado foi conseguido sem ser necessário despender grandes esforços.
Dos jogadores que jogam mais habitualmente, o Jorge Jesus manteve apenas a dupla de centrais e dois médios-ala (Nolito e Bruno César). De resto, vários jogadores a disputarem os primeiros minutos oficiais da época: Eduardo, Miguel Vítor, David Simão e Nélson Oliveira, e ainda a estreia a titular do Rodrigo. A completar o onze, Matic e Capdevilla. O Benfica foi obrigado a ser paciente neste jogo porque o Portimonense apresentou uma estratégia digna dos tempos áureos do catenaccio, faltando-lhe apenas o jogo sujo para ser uma imitação perfeita de uma equipa italiana dessa era. Jogaram sem um único avançado de raiz, e acumularam jogadores atrás, o que resultou num jogo disputado quase na maioria do tempo no último terço do campo, junto à área do Portimonense. Nestas condições era complicado apresentar um futebol com muita qualidade, até porque, ainda por cima, o relvado estava em más condições e ainda dificultava mais a tarefa aos nossos jogadores. Também tivemos a nossa quota de responsabilidade nisto, porque não empregámos muita velocidade e pareceu-me que não explorámos muito os flancos, acabando por insistir muito pelo meio, precisamente a zona onde o Portimonense acumulava mais jogadores. As oportunidades acabaram por não ser muitas: o Nélson Oliveira teve um remate cruzado perigoso, ainda na fase inicial, e depois disso julgo que se destacarão apenas um livre do Capdevilla que levou a bola ao poste e um remate do Matic depois de uma boa iniciativa individual, defendido em dificuldade pelo guarda-redes.
Para a segunda parte o Benfica entrou com o Saviola no lugar do Nélson Oliveira e também com um pouco mais de velocidade, e logo no primeiro minuto teve outra boa oportunidade para marcar, mas o cabeceamento do Luisão, após livre do Nolito na direita, passou a rasar o poste. Antes de terminado o primeiro quarto de hora, e pouco depois de o Witsel ter substituído o David Simão, o Benfica finalmente furou a muralha defensiva dos algarvios, através de um livre do Bruno César. A bola foi rematada rasteira e a rodear a barreira, entrando no lado coberto pelo guarda-redes. Obrigado a abrir um pouco mais, o Portimonense começou a dar mais espaços para os ataques do Benfica, tornando-se mais previsível um novo golo. Este apareceu aos setenta e dois minutos, numa boa transição do Benfica. Ao bom passe do Bruno César correspondeu o Rodrigo com uma bonita desmarcação nas costas da defesa do Portimonense, finalizando depois com muita calma à saída do guarda-redes. Até final, tempo para mais uma estreia (Rodrigo Mora) e ainda algumas situações para ampliar a vantagem - a mais flagrante do Bruno César, que ficou solto na área mas demorou demais a decidir e acabou por não fazer o remate.
O jogador benfiquista que mais se destacou foi naturalmente o Bruno César, com um golo e uma assistência. Mas o nosso maior interesse residia em ver os jovens estreantes. Não foi um jogo fácil para eles, já que tinham responsabilidades no ataque e durante a maior parte do tempo apanharam com uma floresta de jogadores do Portimonense à frente, que poucos espaços concederam. O Nélson Oliveira não se viu muito, mas gostei de alguns pormenores do David Simão. Gostaria de ter visto se poderia aproveitar os espaços que o Portimonense concedeu depois de se ver a perder. Quem melhor aproveitou a oportunidade foi o Rodrigo, que tirou precisamente partido do maior atrevimento do adversário para marcar um golo na estreia a titular. É um jogador no qual depositamos grandes esperanças, e julgo que neste jogo justificou que mantenhamos as nossas expectativas altas.
Acabou por ser uma noite praticamente ideal para nós: a obrigação de vencer e passar a eliminatória foi cumprida, e foi-o sem ser necessário um grande esforço físico, permitindo-nos poupar jogadores para o importante jogo da Champions na Suíça, na próxima terça-feira. E apesar de utilizarmos uma equipa com jogadores habitualmente menos utilizados, a vitória foi clara e indiscutível (a não ser que se esteja inebriado ou se seja o treinador do Portimonense).
A expressão não fez parangonas, não deu para grandes comentários, nem deu azo a que os pasquineiros tentassem criar uma crise artificial no seio do Benfica. A expressão era simples, Jorge Jesus disse que Aimar tinha a capacidade de transformar, no futebol, a ciência em arte.
Esta capacidade referida por Jorge Jesus vai ao encontro da ideia do professor Manuel Sérgio de que não há ciência sem imaginação. Ou seja, para que a sublimação se verifique é necessário esse arrojo de transformar os postulados científicos em algo que os transcenda: em arte. Interpretar dinamicamente os conceitos e os princípios de jogo defendidos por um treinador não está ao alcance de qualquer futebolista. Acrescentar, com qualidade, a essa dinâmica a tal imaginação está apenas ao alcance dos predestinados.
Temos, ao longo dos anos e mesmo após a geração de Eusébio, tido a felicidade de ver com o nosso emblema alguns desses predestinados. Chalana acima de todos, porque era o mais desconcertante, o mais imprevisível, o que conseguia, pela técnica e velocidade de execução, desequilibrar o adversário, empolgar a sua equipa e maravilhar plateias. Conheço muitos que, não sendo benfiquistas, iam à Luz para apreciar a arte de Chalana.
Actualmente é Aimar quem melhor sublima o futebol no nosso Benfica. Estranhamente, não tem o perfil dos que costumam empolgar as plateias. Não corre desenfreadamente pelas alas, não finta sucessivamente adversários, não surge com aquela irreverência de quem rejeita amarras tácticas e cria arte como solista. Não, o futebol em Aimar é arte na medida em que tem a imaginação para obrigar a que todos os que o rodeiam joguem com mais arte do que a que pensavam ter. Ou seja, Aimar tem a arte de potenciar a arte nos companheiros de equipa. E isto é uma ciência que poucos têm.
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Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica" no dia 11 de Outubro e publicado na edição de 14/10/2011 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
Engana-se todo o que olha para o futebol e o considera essencialmente como uma actividade física. O futebol é antes de qualquer outra coisa uma actividade humana.
Nesta perspectiva percebe-se a importância da comunicação no desempenho do futebolista, da equipa, do clube. Perceber qual o tempo e o modo da mensagem é, quase sempre, tão importante como a própria mensagem. É impensável ter uma equipa onde não há uma cumplicidade entre os seus membros. É impensável a cumplicidade numa liderança equívoca ou que comunica numa polifonia de vozes contraditórias.
Muitos não sabem, mas o último título de campeão vencido pelo Benfica foi alicerçado também num esforço enorme de comunicação abrangente, envolvendo muitos benfiquistas e com uma definição clara de objectivos. Percebemos a mensagem, interpretámos correctamente o tempo e o modo, agimos em conformidade e, desde o futebolista sem lugar a titular até ao adepto de bancada, passando pelo treinador, dirigentes e diferentes meios de comunicação do grupo Benfica (sítio na internet, jornal, televisão, revista) toda a gente comunicou um benfiquismo feito de abdicação de interesses próprios em prol do interesse colectivo.
Desde o início desta época que noto com agrado um renovado esforço na comunicação, na tentativa de aglutinar o clube em torno de um rumo comunicacional. Concordando ou não, esse rumo está lá, existe e tem sido cumprido. Por vezes, o que o pode fazer desmoronar é a ausência de vitórias. Felizmente, estas têm surgido. Resta agora que saibamos todos, desde os técnicos ao atleta menos utilizado, passando pelos dirigentes, lidar com o tempo e o modo da comunicação em tempo de vitória.
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Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica" no dia 04 de Outubro e publicado na edição de 07/10/2011 do jornal "O Benfica".
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