Das quatro selecções que sobreviveram até às meias-finais do Euro 2012, três eram de países latinos (Portugal, Espanha e Itália) e a outra era a inevitável Alemanha. É uma Europa do futebol às avessas de uma Europa política e económica.
De entre estas selecções, três são o espelho de um conceito de futebol praticado nos respectivos campeonatos. De comum entre a selecção alemã, espanhola e italiana está a predominância de futebolistas que jogam nos campeonatos dos respectivos países, o que traz implicações que são bem visíveis em campo. A Mannschaft junta ao rigor e objectividade uma disciplina táctica espartana, mas também extremamente dinâmica. A Azurra joga agora um sucedâneo do ‘catenaccio’, bastante mais atractivo, defendendo com uma segurança e um rigor ímpares e em zonas do terreno bem mais avançadas, o que lhe dá um pendor perigosamente ofensivo. A Roja é uma reinterpretação feliz do célebre ‘tiki-taka’ de Guardiola, sem Messi, mas ainda com Iniesta, Xavi e uma organização exasperante. Resta Portugal, sem cognome, com poucos futebolistas oriundos do campeonato português na selecção e com um conceito de jogo que não espelha, felizmente, o futebol luso. Espelha o trabalho de um treinador, o talento individual de dois ou três futebolistas, os rasgos de inconformismo que vão surgindo e uma grande dose de improvisação (até a união dos futebolistas pareceu improvisada e como forma de responder às críticas).
Assim, os êxitos dos outros são reflexo do conceito que têm do futebol (pensado estruturalmente desde as bases e lutando contra a corrupção). No caso português, os sucessos da selecção – e dos próprios clubes – acontecem apesar da desorganização reinante e dos dirigentes federativos / associativos, ou seja, acontecem apesar do futebol português.
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Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica" no dia 26 de Junho e publicado na edição de 29/06/2012 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
Parece-me positivamente hipócrita – e, no entanto, absolutamente normal, dada a qualidade dos animais em questão – o folclore promovido pelos responsáveis da FPF e equipa da FPF, e pela abjecta imprensa desportiva bêbada de quatro de fervor nacionalista (que raia a xenofobia), relativamente às arbitragens e ao árbitro turco e ao raio que os parta naquela competição a que não ligo muito porque o Benfica não participa.
É ultrajante que, em casa, neste paraíso da corrupção à beira-mar plantado, a FPF, os responsáveis e o conjunto de avençados que pululam pelos jornais desportivos, convivam muito bem e varram para debaixo do tapete o cancro que é a arbitragem portuguesa e as arbitragens de escumalha da estirpe do Pedro Proença e do Olarápio Benquerença, e agora de repente assumam uma postura de virgens ofendidas com uma série de suspeições mal amanhadas (especialmente se comparadas com os factos – a que estamos sujeitos semana sim semana sim - que sustentam a canalhice e corrupção na arbitragem portuguesa) sobre a arbitragem ou um árbitro ou o raio que os parta naquela competição a que não ligo muito porque o Benfica não participa.
Quando o Benfica denuncia - apoiado em factos e em prejuízos demasiado sistemáticos e cirúrgicos para não serem deliberados - a corrupção a céu aberto na arbitragem cá do burgo e a vergonha que tudo isto é, o bando de hipócritas ridiculariza a questão e sustenta que são desculpas de mau pagador, que isso da influência da arbitragem não existe, e que os árbitros erram na mais perfeita inocência e que não, claro que não, existe um sistema que controla as arbitragens, as classificações, os observadores.
Agora de repente – e apenas com base em suposições um bocado infantis - parece que descobriram a pólvora e afinal pode ser que na arbitragem haja gente que não mereça ser beatificada.
Haja paciência. Que legitimidade é que gente da mesma estrutura deste escroque sem vergonha do Vítor Pereira tem para lançar suspeições sobre arbitragens fora de portas?
O Bento faria hoje 64 anos. Benfiquista de cepa assombrosa, guarda-redes ímpar na coragem, capaz de meter a cabeça onde os outros nem sempre tinham a coragem de meter os pés, o Bento foi o maior dos meus ídolos [link], ajudou a cimentar o meu benfiquismo e o da maioria dos benfiquistas da minha geração. O Bento faria hoje 64 anos...
Acerca das reacções dos adeptos aquando dos momentos de derrota e de vitória, lembrei-me de um texto dos Diários do grande Miguel Torga:
«Montalegre, 11 de Janeiro de 1970
Avisado por um amigo de que havia hoje cá na terra uma chega de toiros, meti-me a caminho debaixo dum temporal desfeito, e teimei com a chuva, o vento e o granizo que consegui chegar a horas de assistir ao combate. E valeu a pena. Se há em Portugal meia dúzia de espectáculos que merecem ser vistos, este é um deles. Primeiro, as bichezas, depois de nove voltas propiciatórias à capela do orago e da sanção da bruxa, a sair dos respectivos lugarejos, rodeados pela juventude dos dois sexos, enquanto o sino toca a Senhor fora e o mulherio idoso reza implorativamente aos pés do Santíssimo; a seguir, a chegada dos cortejos ao Toural da vila, as cerimónias preliminares do encontro - vistoria rigorosa dos animais (não tragam eles pontas de aço incrustadas nos galhos), a escolha do piso, etc. finalmente, a turra - os dois bisontes enganchados, cada qual a dar o que pode, no esforço hercúleo de não perder um palmo de terreno, ou ganhá-lo, apenas cedido. Turra que dura eternidades de emoção e só termina quando uma das bisarmas fraqueja, recua, e acaba por fugir.
Não é, contudo, a luta gigantesca, apesar de empolgante, o que mais diz ao espectador forasteiro. É o halo humano que a envolve, os milénios de ancestralidade que ela faz vir à tona da assistência. Símbolo da virilidade e fecundidade, o boi é na região o alfa e o omega do quotidiano. Cada povoação revê-se nele como num deus. Vitorioso, cobrem-no de flores; derrotado, abatem-no impiedosamente. Quando há minutos a turra acabou, depois de viver numa tensão de que a palidez de um padre a meu lado era a síntese, toda a falange que torcia pelo vencido parecia capada.»
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Miguel Torga
Numa altura em que anda muita gente entretida a discutir quem é o melhor, os melhores reconhecem que o melhor é o que joga no maior. :)
Adenda:
[nota 1 - Obviamente, estamos a apresentar duas fotomontagens que exprimem a admiração de Messi e D10s por "El Mago";
nota 2- esclareceu-nos um leitor que as duas fotomontagens são da autoria do blog "Cabelo do Aimar";
nota 3 - garantidamente, o Messi e o Maradona ainda segurarão as t-shirts originais com o rosto de Pablito] ;)
Muito além do futebol. [link]
Foi publicada a classificação dos árbitros: nos primeiros lugares ficaram os árbitros que mais fizeram para que em primeiro lugar ficasse o clube que venceu o campeonato. Perante isto, defendo que o árbitro classificado em primeiro lugar receba um apito de ouro ou, como os tempos são de crise, um apito dourado. Seria justo e adequado.
Por falar em árbitros, estou curioso para ver no que vai dar todo o processo em torno de Paulo Pereira Cristóvão. Particularmente, no que respeita à explicação, certamente competente e convincente, que dará acerca do tal depósito em numerário na conta bancária de um fiscal de linha. Tenho a convicção de que a Justiça portuguesa chegará à peregrina conclusão de que as motivações do senhor eram puramente pessoais e que nada tinham que ver com o clube de que era vice-presidente.
Por falar em despudor, um grupo de deputados da nação convidou para jantar e recebeu, na Assembleia da República, um conhecido dirigente desportivo que acolhe árbitros em casa, para aconselhamento familiar (mais uma das tais explicações competentes e convincentes), na antevéspera de um jogo da sua equipa. No meio de tamanho desconchavo, lá acabei por concordar com o tal dirigente, quando disse que “infelizmente o número de estúpidos não tem diminuído”. Também lamento isso e, perante essa evidência, resta-me esperar, paciente e serenamente, que esse número comece a diminuir… Como escreveu Ary dos Santos, “Isto vai, meus amigos, isto vai”
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Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica" no dia 19 de Junho e publicado na edição de 22/07/2012 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
Todos nós temos liberdade de expressão (e liberdade de não nos expressarmos). Se entendemos não falar, os portugueses (em particular e os leitores desta tasca em geral) só têm de respeitar, como respeitamos as críticas boas e más que têm surgido. Por Raul Meireles [link]
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