Escrevo estas linhas num momento em que muitos muito discutem se o Benfica deve ou não alterar a liderança do seu futebol.
No mês passado “exigia-se” ao presidente do Benfica que renovasse com o treinador que nos conduzia a uma final da Liga Europa, uma final da Taça e a uma expectável vitória no Campeonato. O Campeonato foi-se num minuto 92 feito de azar e desconcentração. A Liga Europa foi-se num minuto 93 feito de injustiça e revolta. A Taça foi-se em 90 segundos de total absurdo competitivo por parte de alguns dos atletas que mais batalharam ao longo do ano. Ou seja, ficámos, amargamente, no frustrante “quase”. E de “quase” se têm feito muitos discursos de ‘especialistas’ em futebol e em construções de teorias absolutas em torno do momento relativo em que uma bola vai ao poste e, por um mero acaso, sai ou entra. De “quase” se têm feito as convicções de muitos dos que exigem agora que lhes tragam na bandeja a mesma cabeça que há uns dias se preparavam para coroar. Muitos procuram agora mitigar a sede de vitórias com o sangue de uma injusta vingança. Eu acredito hoje, terça-feira, nos mesmos em quem confiava no Domingo, antes da final da Taça. As convicções não mudam ao sabor do vento e as decisões de quem lidera os destinos do Benfica não podem mudar ao sabor dos insultos de circunstância de quem acredita que pode, pela ameaça, impor a sua vontade, feita de emoção, às decisões que se exigem racionais, frias e alheias a chinfrineiras.
Não sei, no momento em que escrevo estas linhas, qual será a decisão tomada relativamente ao futuro do treinador do Benfica, mas sei que, desde a final da Taça, não me saem da memória as seguintes palavras de Torga: «Queima-se ou crucifica-se primeiro o herói ou o santo, joga-se aos dados a sua túnica, e, quando dele não resta nem a sombra das cinzas, aparece um centurião qualquer a dizer: “Verdadeiramente este homem era filho de Deus”».
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Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica", hoje, dia 28 de Maio, e que será publicado na edição de 31/05/2013 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
Obviamente, e como foi comentado no post anterior, a questão do treinador do Benfica é muito mais abrangente que a sua manutenção ou dispensa, como aliás quis deixar entender com o último parágrafo.
Para além do mais, as idiossincrasias do futebol português obrigam a que o Benfica tenha de fazer sempre muito mais do que seria exigido, em condições normais, num país normal e num verdadeiro estado de direito, onde a uma certa equipa até a prática do andebol é permitida em jogos de futebol... Ao Benfica estão vedados quaisquer deslizes ou abaixamentos de forma, pois contra o Benfica nunca nenhuma equipa se lembrará de deixar de fora titulares indiscutíveis, para fazer 'rodar' ex-juniores.
Sabendo disso, o Benfica terá sempre grandes dificuldades em, como diria Béla Guttmann, "ter cu para duas cadeiras" (referindo-se, obviamente, ao campeonato e às competições europeias). E como tal, deverá focar-se primordialmente na conquista do campeonato e aí apostar todas as 'fichas'. Foi isso que aconteceu há 3 anos, quando o Benfica, teve de aplicar a fundo para vencer a Naval, na Figueira da Foz, a poucos dias de ir a Liverpool...
No entanto, nesta fase final da época que agora termina, o Benfica apostou forte, em simultâneo, na Liga Europa e no campeonato. Apesar de o campeonato ser sempre apontado como prioridade, o certo é que, em função do desejo de estar na final, no jogo da 2ª mão com o Fenerbahçe não foram poupados quaisquer esforços. E isso acabou por ter um preço: o empate na Luz com o Estoril...
De certa forma, entendo esta opção de alto risco: uma presença numa final europeia traz prestígio e, consequentemente, aumenta a oportunidade de negociar transferências de jogadores por valores elevados (sem sustententabilidade financeira, nem vale a pena pensarmos em títulos...).
Mas o risco também se pode traduzir (como veio a acontecer) em perder ambas as competições... Vendo as coisas por outro prisma, a sustentabilidade financeira fica algo desprovida de sentido se o Benfica não conseguir alcançar os objectivos desportivos, que no nosso caso passam, necessariamente, pela conquista de títulos de Campeão Nacional.
E se Jesus tem responsabilidades ao falhar nesta aposta de alto risco, a direcção tem tantas ou mais responsabilidades, ao aceitar que pudesse ser comprometida a vantagem de 4 pontos em vésperas de visita ao FCP.
Precisamente porque sabemos que não podemos ter deslizes, não podemos facilitar, em momento algum, na luta pelo campeonato. E nesse aspecto, cabe à direcção do clube garantir, constantemente, que todos estão focados neste principal objectivo. A conquista de títulos europeus é, obviamente, o sonho de muitos Benfiquistas. Mas não podemos hipotecar a realidade, mesmo que esses sonhos estejam perto de se concretizar...
Por fim, como referi no post anterior, há ilacções que devem ser tiradas da nossa fraquíssima prestação no jogo do final da Taça. Não sendo o jogo que ia salvar a época, era um título que, sem querer fazer desmerecer o Vitória de Guimarães pela sua conquista (os meus parabéns ao Vitória: um clube com o seu histórico e massa adepta já merecia um trofeu importante no seu palmarés), o Benfica tinha a obrigação de conquistar.
Perante tudo isto, a permanência ou não de Jorge Jesus, não sendo um mero detalhe, está longe de ser o único problema do Benfica na definição do futuro próximo, que passa, necessariamente, por começar quanto antes a preparar a próxima época. Quero começar o campeonato a ganhar (o que já não acontece desde 2004/05...), seja com Jorge Jesus ou outro treinador. Se for Jorge Jesus, acredito que com ele o Benfica vai, finalmente, acabar com esta malapata da 1ª jornada e assim lançar-se numa senda de vitórias. Se for outro, confio que será alguém com, pelo menos, igual capacidade para o fazer.
A pergunta que paira, e que já foi expressa no post anterior, é se Jorge Jesus deve ser julgado pelo trabalho que tem feito ao longo deste anos, em que conseguiu levar o Benfica a atingir níveis exibicionais que há muito não se viam com regularidade e contribuido para a revelação de grandes jogadores? Não nos esqueçamos que o Benfica começou esta época "condenado" a mais um fracasso, após as saídas de Witsel e Javi García...
Ou deverá Jorge Jesus ser julgado pelo facto de a equipa claudicar nos momentos decisivos, não raras vezes devido a opções tácticas discutíveis, misturadas com o desgaste físico de vários jogadores?
Um aspecto importante está em perceber se a equipa está com Jorge Jesus, questão tanto mais pertinente se tivermos em conta a miserável exibição do passsado Domingo e os incidentes no final do jogo.
Penso que esta última questão pode ser determinante e, pelos sintomas, sou levado a pensar que Jorge Jesus tem poucas condições para continuar.
É inegável o mérito de Jorge Jesus em trazer o Benfica de volta às grandes decisões, de forma sistemática, após 15 anos de travessia do deserto; com Jorge Jesus, o Benfica conseguiu transpor as dunas que constituem o último obstáculo antes de chegar à praia, onde acabamos por desfalecer... Caso fique, será capaz de levar o Benfica a ter a força necessária para fazer o "extra mile" que nos permita chegar ao mar do sucesso?
Por outro lado, caso não fique, é muito importante que a direcção tenha, desde já, opções estudadas para substituí-lo.
É muito importante que, caso Jesus saia, quem vier a seguir seja capaz de pegar na equipa e tirar partido de tudo o que de positivo foi alcançado sob o comando técnico daquele. O meu receio, e de muitos Benfiquistas, é que se Jorge Jesus sair contra os planos da direcção, que esta se precipite na contratação de um novo treinador que não seja capaz de pegar no trabalho desenvolvido sob o comando técnico de Jesus e assim corremos o risco de sermos atirados novamente para o meio do deserto...
No entanto, é à direcção do Benfica que cabe avaliar e decidir. Seja qual for a decisão, eu estarei sempre com o Benfica, pois o meu clube é o Benfica, não o treinador (nem a direcção).
Pessoalmente, entre manter um treinador que, apesar de ter falhado em momentos decisivos, tem conseguido levar a equipa a discutir regularmente esses momentos e que devolveu-lhe a competitividade perdida há vários anos, e contratar um treinador de forma não planeada, prefiro a primeira opção. A minha expectativa é de que consiga sempre fazer melhor...
Mas, como é óbvio, se a direcção já tiver planos para um novo treinador, capaz, por um lado, de trazer novas ideias e, ao mesmo tempo, valorizar os jogadores do plantel e capaz de pegar no trabalho positivo que foi desenvolvido ao longo destes últimos anos e introduzir as melhorias necessárias, terá o meu apoio. É sempre um risco, claro, mas se o Benfica se refugiasse em decisões conservadoras, nunca teria ido buscar Sven-Goran Eriksson em 1982.
Para além disso, é para absorver o trabalho da equipa técnica e manter a continuidade do mesmo, com novos elementos, que existe toda uma estrutura de dirigentes e técnicos.
Confesso que me custa a entender a demora e o silêncio do Benfica nesta questão. Demora e silêncio devidos ao facto de isto ter sido mal feito à partida, ou seja, por esta altura, já o contrato de Jorge Jesus devia estar mais que assinado. E aqui reside para mim a chave da resposta à questão do título do post: se o processo tivesse sido bem conduzido desde o início, neste momento estaríamos dispostos a rescindir o contrato recentemente renovado com o Jesus? Se sim, não se renove; se não, renove-se. Tudo se resume a isto. É muito simples.
Custou-nos a todos (E DE QUE MANEIRA!) a derrota no Domingo. Não foi tanto a derrota em si, mas como ela aconteceu. Os jogadores do Benfica não respeitaram os adeptos e isso é imperdoável depois de tudo o que os adeptos apoiaram durante esta época, principalmente após o jogo em casa do CRAC e a final de Amesterdão. Se nós tivéssemos sido respeitados, era facílimo ter ganho a Taça: bastaria que a equipa mostrasse em campo tanta vontade de ganhar como o V. Guimarães. Como somos (muito) melhores, igualada a questão anímica, a nossa superioridade reflectir-se-ia inevitavelmente no resultado. A não ser que tivéssemos tido um novo azar aos 92' ou o Sr. Jorge Sousa a desequilibrar fortemente a balança (o que, de certa maneira aconteceu, mas depois da miserável exibição do Benfica, como a maioria de nós tem vergonha na cara, quase ninguém se atreve a falar do 1º golo deles em evidente fora-de-jogo).
Voltando à questão da renovação e utilizando uma comparação, o que está aqui em causa é o seguinte: nós fomos a um óptimo restaurante em que as entradas eram excepcionais, o prato principal maravilhoso, o vinho divinal e a sobremesa de chorar por mais, mas chega o café e é intragável. Conclusão: o restaurante presta, e havemos de lá voltar, ou não? Que peso devemos dar ao miserável café, que foi a última imagem com que ficámos do restaurante? Antes que me venham dizer que a comparação não é aplicável, porque o Benfica não ganhou nenhum dos dois títulos anteriores (portanto, a refeição não poderia ter sido boa), respondo perguntando quantas pessoas é que, antes de Domingo, não estavam a favor da renovação e depois mudaram de ideias? Ou fariam sempre depender a sua decisão de um jogo e uma exibição? Olha-se para a última árvore ou para a floresta toda?
A final da Taça foi um grande choque, mas é fundamental manter a cabeça fria. A (reprovável) atitude do Cardozo (aplique-se forte multa, mas qualquer punição superior a isso é um disparate tremendo; foi a quente e ele já veio pedir desculpas públicas) é sinal de que o Jesus perdeu o balneário? Uma atitude irreflectida de um jogador é sinal de alguma coisa mais profunda? Se sim, então quer dizer que a peitada do Luisão no início da época não foi uma casualidade (condenável), é?
Quem habitualmente me lê, sabe que eu não tenho problemas nenhuns em dar o braço a torcer. E até gosto se isso tiver sido bom para o Benfica. Não é preciso ir mais longe, no próprio caso do Jesus, por exemplo. Portanto, mantenho convictamente o que escrevi aqui: “independentemente do que suceda até final da temporada” queria dizer isso mesmo. Não é por um (péssimo, horrível, miserável, indecente) jogo (em que o Jesus também tem grandes culpas, quer na constituição inicial, quer nas substituições, mas principalmente por ter pensado que 1-0 era suficente) que eu vou mudar de ideias. Apesar de ser essa a última imagem que fica.
P.S. - Caso haja renovação, como espero, a principal consequência desse jogo será a margem de manobra do Jesus ficar reduzida ao mínimo na próxima época. E isso não é bom para ninguém. Mas, em certa medida, a margem também não era muito maior no início desta época e aconteceu o que aconteceu. Se o Benfica lhe providenciar, no mínimo, um médio que seja uma alternativa válida para o Matic e Enzo, e um defesa-esquerdo de raiz, talvez as coisas sejam mais fáceis... Por outro lado, e apesar de isso não dever DE FORMA ALGUMA influenciar a decisão, saberemos para onde irá o Jesus caso não renove. Acreditanto n' A Bola de hoje, achamos mesmo que será com o Paulo Fonseca ou o Rui Vitória (dois indiscutíveis bons treinadores, mas com o devido respeito entre o Benfica e o Paços ou o Guimarães vai um mundo de diferença) que poderemos fazer frente a uma equipa treinada pelo Jesus com a vantagem extra de poder ter defesas a jogar andebol na área, de ter os fiscais do Sr. Pedro Proença a “equivocarem-se” cirurgicamente (para haver este desfecho, foi uma pena a bola ao poste do James não ter entrado), ou mergulhos decisivos de um James qualquer a selarem campeonatos...? Poupem-me!
Derrota merecidíssima do Benfica na final da Taça de Portugal. Se no final do jogo de Amesterdão aplaudi a equipa pelo esforço, agora aponto-lhe o dedo por esta derrota. Hoje foram todos maus profissionais. Foi absolutamente vergonhosa a forma como se apresentaram na segunda parte, foi absolutamente vergonhosa a falta de empenho e o laxismo por parte de todos, provavelmente achando que o jogo estava ganho. O Guimarães não deixou de acreditar, e nem precisou de fazer grande coisa para dar a volta ao texto. Foi lá duas vezes e marcou duas vezes. Quanto a nós, parecemos fazer tudo - TUDO - o que estava ao nosso alcance para não ganhar este jogo. Fomos todos uma autêntica vergonha. E não me estou a referir apenas aos jogadores, incluo obviamente a equipa técnica nisto. André Almeida mais uma vez a lateral esquerdo porquê? Para ser um zero absoluto em termos atacantes, e pouco mais ter feito a defender? No lance do primeiro golo adversário (mesmo tendo sido obtido em fora-de-jogo) toda a gente no mundo - incluindo o avançado adversário - estava mesmo a ver que ele iria tomar a pior opção naquela situação, que era atrasar ao guarda-redes. E foi isso mesmo que ele fez.
E honestamente, o Artur pode ir dar uma volta e não regressar mais - que dê o lugar ao Oblak ou a qualquer outro que se vá contratar. Já não tenho a menor paciência para ele. Criticavam muito o Roberto, mas nestes dois anos que leva na Luz o Artur já deve ter acumulado mais falhas grosseiras do que o espanhol - no segundo golo do Guimarães acho que até um olmo conseguia reagir mais depressa e mergulhar para o relvado com maior vontade. Este ano as parvoíces do nosso guarda-redes custaram-nos apenas a Liga e a Taça.
Nós, Benfica, perdemos o campeonato no final e a final da Liga Europa também no final. Para a história e estatística fica a frieza do registo e poucos se recordarão das circunstâncias de tais desfechos. Entre o azar, as falhas próprias e os méritos alheios ficou o testemunho de que a justiça não se compadece com o destino. Testemunhámos também que, para além da frieza dos números, há toda uma envolvência que, de forma estranha e praticamente inaudita, levou a que, mesmo no momento de dois duríssimos golpes, tivéssemos visto milhares e milhares de benfiquistas reagir à adversidade, amparando os seus atletas numa comunhão raramente vista nos momentos de ausência de vitória.
Confundir este amparo aos nossos com falta de exigência ou falta de ambição por parte dos benfiquistas é enviesar a leitura da realidade. Nenhum benfiquista se sentiu minimamente satisfeito com o desfecho da época. Todos os benfiquistas ambicionam muito mais do que o que colhemos da época que agora finda. No entanto, também foi notório que a família benfiquista soube reconhecer o empenho e o mérito do caminho percorrido pelos nossos futebolistas e por Jorge Jesus. Só assim se explica que a esmagadora maioria dos benfiquistas defenda a continuidade do treinador. Isto é muito estranho para a realidade do futebol português. É de tal forma inovador que deveria levar os opinadores que acusam os benfiquistas de falta de ambição a tentar ver para além da miopia do imediato. Se assim o fizessem, perceber-nos-iam, pois, pela primeira vez na história do nosso futebol, vemos uma massa adepta feita de milhões de pessoas a olhar para o futebol para além do óbvio. Ou seja, somos agora acusados por fazermos na prática o que esses teóricos andam a pedinchar há anos: termos cultura futebolística para perceber que o futebol não pode ignorar o resultado, mas que não se esgota nos números do mesmo.
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Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica", hoje, dia 20 de Maio, e que será publicado na edição de 24/05/2013 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
Há uns dias atrás (já depois da derrota com o FCP), num site de apostas muito conhecido, a vitória do Guimarães na final da Taça de Portugal tinha uma odd de 8€. Para os menos entendidos, isto significa que quem apostasse 1€ no Guimarães como vencedor da Taça recebia 8€. Hoje, por curiosidade, fui verificar qual era a odd após a nomeação do árbitro Jorge Sousa, e verifico que esta desceu de 8€ para 4,70€, ou seja, após a nomeação do árbitro ser pública, as hipóteses de o Guimarães ganhar a Taça quase duplicaram. Apesar de haver, certamente, muitos factores a influenciar as odds, este, o efeito Sousa, teve uma influência como eu nunca vi. Talvez as casas de apostas tenham percebido como funciona o desporto em Portugal.
Vitória na despedida de um campeonato que deixa o sabor amargo de ter sido muito mal perdido. Voltámos a complicar desnecessariamente as coisas dando praticamente uma parte de avanço ao adversário, mas uma melhoria substancial na segunda parte chegou e sobrou para dar a volta ao marcador.
Estiveram mais de 50.000 pessoas na Luz este fim de tarde, mas acho que muito pouca gente teria grandes ilusões sobre o desfecho do campeonato. Já vemos futebol neste país há algumas décadas, e todos sabíamos perfeitamente que, de uma maneira ou de outra, o nosso adversário directo acabaria sempre por vencer na Mata Real (e os factos desse jogo encarregaram-se de comprovar isso mesmo). Infelizmente, os nossos jogadores também pareceram entrar em campo mais ou menos convencidos do mesmo. Só assim se explica a primeira parte muito pobre que nos ofereceram, jogada quase a passo e com muita falta de imaginação no ataque. Havia quem argumentasse que seria cansaço da final de Amesterdão, mas nunca acreditei nessa teoria do cansaço, e a segunda parte mostrou que a haver cansaço só se fosse na cabeça dos jogadores. O Benfica produziu muito pouco em termos ofensivos, e apesar do esforço por parte do Matic e do Pérez, os nossos dois avançados estiveram desinspiradíssimos (o Cardozo teve um falhanço inacreditável), e pelas alas o jogo era quase inexistente - principalmente pela esquerda, onde o André Almeida revelava naturais dificuldades devido à falta de pé esquerdo, e o Ola John produzia mais uma exibição ao nível daquelas com que nos tem presenteado neste final de época - perfeitamente apática. A defesa também pareceu intranquila, com os jogadores mais interessados em reclamar com a equipa de arbitragem (por vezes enquanto a jogada prosseguia). foi aliás assim mesmo que o Moreirense chegou à vantagem, perto do intervalo. Marcaram rapidamente um livre, e enquanto os centrais estavam entretidos a discutir com o auxiliar, pelo centro apareceu completamente solto o Vinícius para controlar a bola e bater o Artur. No último lance da primeira parte, uma reacção do Benfica, com o Lima a acertar no poste, deixava acreditar que as coisas poderiam mudar.
Era preciso melhorar bastante na segunda parte se queríamos pelo menos acabar o campeonato com uma vitória, e foi isso que aconteceu. Para tal ajudou bastante termos passado a contar com o Gaitán na esquerda do ataque em vez o Ola John, que apenas tinha feito figura de corpo presente. Ajudou também termos imprimido ao jogo um ritmo bastante superior ao da primeira parte, e que os nossos jogadores se tenham movimentado bastante mais, oferecendo soluções de passe aos colegas que tinham a bola, em vez de ficarem quase estáticos a olhar para eles - foi frequente vermos o Gaitán, por exemplo, aparecer no centro e até mesmo na direita. Com cinco minutos decorridos já o pé esquerdo do Gaitán fazia estragos, com um centro perfeito para a cabeçada certeira do Cardozo igualar o marcador. O jogo não teve qualquer comparação com a primeira parte pois o Benfica, ainda e sempre com o Pérez e o Matic a evidenciarem-se, esteve sempre muito por cima, remetendo o Moreirense para a sua área, e de lá só saindo quando tentavam algum pontapé longo para o Ghilas. As oportunidades começavam a suceder-se para o Benfica, e só mesmo com muito azar é que a vitória não acabaria por nos sorrir. O Salvio viu um cabeceamento seu ser defendido para o poste da baliza, o Cardozo voltou a falhar escandalosamente ao atirar por cima quando tinha a baliza escancarada, mas a dez minutos do fim o Lima finalmente colocou justiça no resultado - à segunda tentativa, pois o primeiro cabeceamento, após centro do Salvio, ainda foi defendido pelo guarda-redes. Já mesmo a acabar o jogo, o Lima fez o gosto ao pé pela segunda vez, na marcação de um penálti a punir uma 'defesa' de um jogador do Moreirense sobre a linha de golo (e que impediu assim um golo de calcanhar do mesmo Lima).
Os melhores do Benfica foram os suspeitos do costume, Enzo e Matic. Mesmo durante a péssima primeira parte que fizemos foram aqueles que mais se destacaram, e depois durante a segunda parte estiveram ainda melhor. Foram bem merecidos os aplausos que o estádio em peso dedicou ao Enzo quando foi substituído. O Gaitán também esteve em bom nível, e a sua entrada foi muito importante para darmos a volta ao jogo.
Foi assim o fim de um campeonato que deixa a sensação que merecíamos claramente conquistar, pois fomos a equipa que melhor futebol apresentou durante largos meses. Infelizmente falhámos quando não poderíamos falhar, e assim ficámos ao alcance de um lance fortuito que acabou por no-lo retirar. Agora teremos que esquecer isso e concentrarmo-nos no último jogo da época, porque há uma Taça de Portugal para conquistar.
Nota prévia: o processo de catarse do momento desportivamente mais doloroso da nossa história (ouvi hoje o Toni dizer que, em 34 anos de Benfica, nunca passou por nada assim) requeria que eu escrevesse qualquer coisa aqui na Tertúlia. Por norma, não gosto de repetir posts, mas desta vez teve mesmo de ser, porque infelizmente esgotei as poucas forças mentais que tinha noutro lado. A discrepância horária entre os dois textos deve-se ao facto de eu não gostar de canibalizar escritos dos meus companheiros e, portanto, o magnífico post abaixo do Carlos Miguel Silva merecia respirar o tempo devido.
Contexto: Este testamento foi escrito com o coração, depois de 2,5h de sono e com os olhos marejados a 10.000 m de altitude.
Perdemos com o Chelsea (1-2) na final da Liga Europa. Segundo alguém me disse, temos o indesejável recorde de sermos a equipa com mais finais europeias perdidas (sete). MAS (e as maiúsculas não são gralha) é uma terrível crueldade que seja apenas o resultado que fique para a História. Porque a história do que se passou no campo é completamente diferente: fomos melhores durante toda a partida, mostrámos mais vontade de ganhar e MERECÍAMOS ter ganho. Toda a gente reconhece isso. Desde o próprio Ramires, como amigos meus estrangeiros que me enviaram inesperadamente mensagens no final do jogo. Quem for honesto intelectualmente não pode deixar de o pensar (o que exclui imediatamente 95% de adeptos de um certo clube…). MERECÍAMOS ter ganho, estava eu a dizer, tanto os jogadores como os adeptos que, nas ruas de Amesterdão e nas bancadas do Amsterdam ArenA, deram uma demonstração inesquecível de benfiquismo e do que é AMAR um clube.
Se nós partimos para esta final na ressaca de uma derrota no antro com requintes de malvadez, o que dizer de, apenas quatro dias depois, perdermos novamente aos 92’?! Depois de uma 1ª parte completamente dominada por nós (somente com o aspecto negativo de revelarmos muita parcimónia na altura de rematar à baliza), o Chelsea adianta-se no marcador pelo Torres aos 60’, mas nós conseguimos igualar através de um penalty do grande Cardozo aos 68’. Aos 92’, quando eu vejo a bola em balão em câmara lenta na minha cabeça cabeceada pelo Ivanovic fazer um arco para dentro da nossa baliza, tive a mesma reacção que se tem ao ver um acontecimento inacreditável: fiquei estático, anestesiado, letárgico e sem querer acreditar no que estava a ver! A sério, não é possível!!! Ainda agora, 12 horas depois, custa-me a acreditar no que se passou: em somente quatro dias, nós perdemos uma final europeia e (muitíssimo provavelmente) o campeonato, de um modo mais do que injusto, através de golos no período de desconto! Nem nos nossos piores pesadelos, pensámos que isto fosse possível, muito menos em apenas quatro dias! Não me cansarei de repetir: QUATRO DIAS!!! (Por contraponto, haverá certamente muita gente vil, rasteira, baixa, reles, cuja inútil existência se alimenta somente do ódio a terceiros e que, no fundo, é um desperdício de matéria orgânica que nunca na vida terá tido um orgasmo tão bom.) Ninguém merece! NINGUÉM MERECE!!! Muito menos os bravos que estiveram em campo e os enormes bravos na bancada. A reacção dos adeptos do Benfica no final do jogo foi dos momentos em que mais orgulho tive de pertencer a esta família. Revelou GRANDEZA! Que é muito diferente de ser grande. Há quem diga que o é (grande, embora seja apenas regional), mas NUNCA na vida revelou Grandeza. E a sorte tem bafejado esses, numa demonstração clara para mim da inexistência de Deus (ou então, se Tu existes mesmo, podes ir para o raio que te parta, minha refinada besta!). E mesmo os (para aí) cinco adeptos desses clubes que se aproveitam, e não são ou escumalha ou acriticamente acéfalos, não mereceriam uma coisa destas. Quanto mais nós…!
Não tenho vergonha nenhuma de dizer que chorei no final do jogo. Não foram umas lagrimazitas, chorei mesmo. Não chorava com uma derrota do Benfica desde que os lagartos vieram ganhar à Luz na penúltima jornada da época 1985/86 oferecendo o campeonato ao CRAC. Tinha 10 anos. Mas ontem foi impossível conter-me por variadíssimas razões:
- Chorei de raiva por causa de duas injustiças seguidas do tamanho do mundo.
- Chorei, porque até poderíamos ter jogado mal e merecido perder. Porque poderíamos ter jogado assim-assim e o Chelsea ter sido mais eficaz. Mas não! Fomos melhores e fomos derrotados novamente no período de compensação!
- Chorei, porque depois de tudo o que fizemos esta época é inacreditável pensar que a poderemos terminar sem nenhum troféu ganho. (Quero acreditar que não, que a equipa vai dar a volta em termos psicológicos e derrotar o Guimarães na final da Taça).
- Chorei, por ter visto in loco o maravilhoso povo benfiquista a chegar a Amesterdão aos magotes, de todas as formas e feitios, para apoiar a equipa durante os 90’ como nunca me lembro de ter acontecido (é que não só não deve ter havido um único momento de pausa, como eu não me lembro de ter visto um jogo tantas vez de pé) e, não só a não ser recompensado com a vitória, como voltar a perder da mesma maneira de Sábado… (Já disse que ninguém merece isto?!)
- Chorei, por ver que a reacção dos jogadores no relvado assim que o árbitro apitou era igual à nossa.
- Chorei, porque nem na porra do último lance do jogo, já depois do 1-2, tivemos sorte no ressalto quando o Cardozo estava quase na cara do Cech.
- Chorei, porque se aquela final Man. Utd – Bayern da Liga dos Campeões jamais irá ser esquecida pelos adeptos do futebol, nós tivemos duas edições disso em apenas 96 horas!
- Chorei, porque sei que isto vai custar IMENSO a passar (nunca irá passar para mim…) e porque, 12 horas depois, a escrever esta crónica no avião de regresso a Lisboa, ainda tenho que fazer algumas pausas, porque o ecrã fica momentaneamente embaciado…
No entanto, podem perguntar-me se, mesmo que soubesse previamente o resultado e a forma como ele aconteceu, deixaria de fazer esta viagem? NUNCA na vida! Foi um orgulho ter estado presente num evento que fez transbordar a minha alma de benfiquismo. Para mim, o Benfica é isto! Onze jogadores em campo a dar esta vida e a outra para tentar ganhar um jogo. Nas bancadas haver um apoio incansável e os adeptos, apesar da derrota, tributarem a equipa do modo como o fizeram no final da partida. Eu não sou do Benfica, porque temos ganho muito ao longo da nossa história. Eu não quero ganhar sem olhar a meios (como outros…). A Grandeza de um clube não se mede só por vitórias. Mede-se também, e muito, no modo como se ganha e, sobretudo, como se perde. Ser magnânime é muito importante, porque isso revela a nossa condição humana e ultrapassa a fronteira estritamente desportiva (por exemplo, o facto de termos convidado para assistirem à final os dirigentes das equipas que eliminámos nesta inesquecível caminhada foi algo que me deixou tremendamente orgulhoso). O Benfica e os valores que o norteiam tornam-me uma melhor pessoa. Não tenho dúvidas nenhumas acerca disso.
Neste longo testamento, uma última palavra para os jogadores. Não vou destacar ninguém em particular. Houve uns que jogaram melhor do que outros, o que é normal. Mas estiveram TODOS à altura do acontecimento e todos honraram (e de que maneira!) o manto sagrado. E eu nunca vos peço mais do que isso. MUITO OBRIGADO a todos eles, na pessoa do grande capitão Luisão! É uma frase feita, da qual eu nem gosto muito, mas que aqui se exige: vocês são uns campeões e nunca esquecerei o quanto nos deram este ano! Pode não ser em títulos, mas em algo que, apesar de não poder ser contabilizado, é muito mais importante para mim: o facto de terem contribuído para o crescimento do (já ENORME) orgulho que eu tenho em ser benfiquista!
VIVA O BENFICA! Sempre.
P.S. – Este obrigado aos jogadores é naturalmente extensível à equipa técnica e a todos os dirigentes do Benfica que contribuíram para esta caminhada. E volto a repetir o que já disse aqui: se, por algum motivo (e quer ganhemos ou não a Taça de Portugal), o Jesus não continuar no Benfica (apesar das palavras do presidente, as declarações do próprio foram enigmáticas), será uma terrível perda para nós.
P.P.S. – Eu sou um gajo democrático e, por norma, aprovo todos os comentários. Entre seis milhões de adeptos, há espaço para muita gente. Mesmo para quem é idiota ou cega. Depois daquela demonstração de querer, categoria e crença de ontem, quem vier aqui dizer que estivemos mal, porque deveríamos ter feito isto ou aquilo, ou que o Jesus errou seja porque colocou aquele e não outro, como por dever ter optado pela táctica ‘x’ em vez da ‘y’, ou se insere na primeira categoria ou na segunda. As simple as that. É preferir olhar para um arbusto em vez de ser para a floresta inteira. Têm direito a tempo de antena, mas não esperem resposta da minha parte. Tenho mais que fazer e não quero ser batido em experiência…
Desde que acabou o jogo de ontem - durante a interminável viagem de volta e através da noite escura, assombrada e mal dormida – passei o tempo a tentar integrar isto (esta facada nas costas) que nos aconteceu na minha concepção do mundo, a tentar perceber como é que este pontapé do destino tem lugar no meu sistema de valores, na percepção que tenho das coisas, da existência, no sentido da vida. No fundo, sendo honesto, a tentar desesperadamente arranjar uma estrutura que alicerce uma forma de reacção a isto tudo, a esta dor, esta morte surda e injusta.
Percebo, envergonhado, que é uma perda de tempo: a resposta devia ser imediata e apenas não o foi por força do cansaço extremo da viagem a Amesterdão, do preço que isto teve no meu corpo, da dor aguda na alma que me tolda os sentidos e o discernimento.
A resposta é desarmantemente simples. Reage-se a isto da única forma que é fiel àquele momento cravado no tempo em 1904 que alumia (especialmente nos momentos mais negros), com uma chama imensa e pura, o caminho do Sport Lisboa e Benfica e dos Benfiquistas; da única forma que isto de ser do Benfica exige: levantamo-nos, sacudimos a poeira, olhamos para aquele símbolo imortal e honrado, amparamo-lo e abraçamo-lo por entre as lágrimas, e preparamo-nos, de cabeça erguida e com um orgulho inabalável, para a próxima luta. Não há - não há - outra forma de reagir que não nos atraiçoe naquilo que somos.
De ontem o que me fica, agora que as nuvens permitem ver algum sol, é Orgulho por pertencer a esta alma imensa. Orgulho por - como a imagem ilustra – ter lá estado literalmente a segurar o meu Benfica na ponta dos dedos.
Força, Benfica! Sempre, e para sempre.
Numa nota mais pessoal, também serviu, esta provação, para fazer uma filtragem muito útil e reveladora - que, percebo-o, urgia fazer - na minha teia de relacionamentos e amizades. As conclusões, na verdade (e digo-o, sinceramente, com o coração aquecido por isso), só vieram confirmar e vincar o que tenho tido para mim. Os meus melhores amigos – verdadeiros, do peito, aqueles que estão connosco sempre, que nos amparam – são os meus melhores amigos. Conhecem-me profundamente, sabem o que isto significou para mim, a dor que me dilacerou e me rasgou o peito, respeitam isso, respeitam-me, e ampararam-me e seguraram-me nas suas mãos. E falo aqui – além, obviamente, dos meus amigos, companheiros de sempre, que comigo fizeram a inesquecível viagem a Amesterdão - de amigos do Sporting e do Porto. Gente que me orgulha de uma forma que me comove. Os outros, os conhecimentos e os de ocasião que, não respeitando quem sou, desrespeitaram aquilo que é uma grande e indissociável parte de mim, em nome de um egoísmo e de uma mesquinhez demonstrativos da pequenez que os amordaça e que impossibilita que algum dia venham a ser meus amigos, digo-lhes adeus. Não preciso deles, não os quero.
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