VAMOS ACABAR COM AS IMBECILIDADES
Segunda-feira, 28 de Novembro de 2016

Simples

Depois de uma jornada europeia, nada melhor do que um jogo sem grandes complicações, que o Benfica soube tornar simples exercendo um domínio total no mesmo, vencendo com clareza e deixando a impressão de que nunca teve sequer que carregar muito no acelerador para o conseguir.

 

 

No onze inicial houve uma alteração em relação à equipa que tinha jogado em Istambul: troca de pontas-de-lança, com o Jiménez a jogar em vez do Mitroglou. Mas logo nos minutos iniciais fomos obrigados a uma alteração forçada, pois o Eliseu lesionou-se e teve que ceder o lugar ao habitual faz-tudo da nossa equipa, o André Almeida. O jogo foi como tantos outros que acontecem todas as épocas em nossa casa. Desde o apito inicial um adversário apenas e só interessado em prolongar o mais possível o nulo no marcador, e com especial falta de jeito para usar atacadores, já que os seus jogadores pareciam ser frequentemente afectados por problemas com os mesmos. Nada de novo mesmo na forma de jogarem: bloco bem fechadinho em cima da sua área, muita gente no caminho da bola, quase ou nenhuma propensão para tentarem sequer explorar algum contra-ataque quando conseguiam alguma recuperação. O que, diga-se, aconteceu poucas vezes, já que a posse de bola do Benfica foi largamente superior à do adversário. O Benfica encarou o jogo com bastante calma, aliás durante a primeira parte por vezes a calma quase que parecia excessiva e a roçar a sobranceria. Há muita confiança nos nossos jogadores, e por vezes a sensação com que se fica é que eles sabem que mais cedo ou mais tarde os problemas vão resolver-se e o golo vai aparecer, não sendo por isso necessário correr desenfreadamente à procura dele. Isto por vezes chega a ser algo enervante, porque jogamos sem muita velocidade e damos assim tempo ao adversário para se organizar e acantonar todo novamente à frente da baliza. Mas a verdade é que o tempo acaba quase sempre por dar-lhes razão, porque por volta da meia hora de jogo o golo apareceu. O Cervi conseguiu recuperar uma bola ainda no meio campo do Moreirense, apanhando assim o adversário desorganizado, progrediu pela esquerda e passou a bola para a entrada da área. O André Almeida por muito pouco não ficou com ela, que acabou por seguir para os pés do Pizzi e este apanhou-se numa situação tão confortável à frente da baliza que só faltou perguntar ao guarda-redes para que lado queria a bola. O chavão nestes jogos é que o mais difícil é o primeiro, e agora tínhamos uma boa hora de futebol pela frente para comprová-lo. O Moreirense, esse, continuava completamente inofensivo e controlado, tenho perto do intervalo feito o primeiro (que, pelo menos que eu me lembre, acabou por ser o único em todo o jogo) remate à nossa baliza, sem ter criado grandes dificuldades ao Ederson.

 

 

A tranquilidade manteve-se no segundo tempo. Até porque o Benfica resolveu jogar um bocadinho mais rápido, e se o Moreirense já não mostrava ter capacidade de resposta para o Benfica do primeiro tempo, muito menos teria para este. A ameaça do segundo golo ia pairando e o guarda-redes do Moreirense venceu o primeiro duelo pessoal que manteve com o Cervi esta noite, negando-lhe essa possibilidade. O Pizzi era o jogador em maior destaque e foi mesmo ele quem, aos cinquenta e oito minutos, fez o segundo do Benfica e da conta pessoal dele. Progressão do Salvio pelo centro, à entrada da área soltou a bola mais para a esquerda, e o Pizzi recebeu em corrida, entrou na área e rematou cruzado com o pé esquerdo. Depois deste golo assistimos a um cenário que também já vem sendo habitual, que é ver quantos golos mais consegue o Benfica marcar. Não é por acaso que temos o melhor ataque da competição: é raro o jogo em que o Benfica, apanhando-se vencer, descansa sobre o resultado. Estes períodos são também aproveitados para dar descanso a alguns dos mais utilizados e minutos a quem deles precisa, e por isso o Salvio cedeu o lugar ao Carrillo e depois o Gonçalo Guedes foi trocado pelo Rafa. Como principais pontos de interesse no jogo, era ver se o Pizzi conseguia chegar ao hat trick (não conseguiu, não porque não tivesse tido ocasiões para isso, mas sim porque a pontaria não foi a melhor, em particular num lance em que o Carrillo lhe colocou a bola à mercê para marcar, mas ele atirou por cima) e se o Cervi conseguiria vencer o duelo particular com o Makaridze, o guarda-redes do Moreirense. Também não o conseguiu, pois o duelo teve mais dois rounds em em ambos foi o guarda-redes quem saiu vencedor. Mas apesar disso o marcador ainda conseguiu funcionar mais uma vez, ao minuto oitenta e oito. Lançado por um excelente passe em profundidade do Pizzi, o Rafa conseguiu ultrapassar o guarda-redes, que lhe saiu ao caminho, aguentou-se de pé apesar de ter sido tocado, e depois rematou rasteiro para a baliza, onde um defesa do Moreirense ainda conseguiu evitar o golo. Mas a bola ficou a mercê do Jiménez, que desta vez até estava na zona do ponta-de-lança em vez de andar a correr por toda a frente de ataque, e o mexicano empurrou a bola para a baliza para deixar que os 55.970 espectadores que se deslocaram hoje à Luz (mais uma grande assistência) acabassem o jogo em festa.

 

 

Nem há qualquer discussão hoje, o homem do jogo é mesmo o Pizzi. Dois golos e intervenção decisiva num terceiro já seriam factor mais do que decisivo. Ele já estava em destaque enquanto alinhava na direita, na fase inicial da época, e aproveitou a lesão do André Horta para se fixar no centro e assumir um papel crucial na equipa. Está mais forte nas tarefas defensivas (também ajuda, e muito, ter por ali um senhor chamado Fejsa que raramente comete um erro) e é quase sempre a primeira peça da engrenagem do motor ofensivo da equipa, já que quase todas as jogadas começam com a bola a passar pelos seus pés. O Cervi continua a ser um jogador que me agrada em quase tudo o que faz, e sobretudo pelo empenho revelado nas tarefas mais defensivas. O sempre importante primeiro golo nasce numa recuperação de bola dele. O Salvio hoje teve uma recaída para a sua faceta mais individualista, mas pelo menos ainda conseguiu soltar a bola no momento certo para assistir o Pizzi no segundo golo. O Gonçalo Guedes também não teve um jogo muito conseguido - ficou na retina aquela situação de 3x2 em que insistiu no lance individual e acabou por perder a bola - mas revelou o empenho e atitude habituais. O Jiménez também mostrou boa atitude e foi recompensado com o golo no final. Mexeu-se muito, e talvez até demais - é aqui que se nota a principal diferença em relação ao Mitroglou, pois com ele em campo a equipa perde uma referência na área. Por outro lado, com isto também consegue arrastar consigo os defesas e criar espaços para a entrada dos colegas - o primeiro golo é um bom exemplo.

 

Não houve (como aliás julgo que qualquer benfiquista antecipava) qualquer drama ou consequência da vitória deixada fugir por entre os dedos em Istambul. A nossa equipa exibiu-se ao nível que esperamos dela e desembaraçou-se com aparente facilidade de mais um obstáculo no longo caminho que nos separa do objectivo que ambicionamos. Agora é abordar a viagem à Madeira com a mesma concentração e atitude, não deixando que a fácil vitória no jogo da taça contra este mesmo adversário nos convença que o jogo será fácil. A atitude da nossa equipa tem sido a principal vantagem sobre os nossos adversários mais directos, e o que nos permite ter a actual vantagem confortável no topo.

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publicado por D'Arcy às 01:46
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Quinta-feira, 24 de Novembro de 2016

Frustrante

Uma primeira parte brilhante foi desbaratada por uma meia hora final disparatada, o que acabou por resultar num empate frustrante porque significou deitar fora a oportunidade para deixar resolvida de vez a questão doapuramento. Continua tudo nas nossas mãos, mas seria certamente preferível entrar em campo na última jornada tendo já tudo resolvido.

 

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A primeira parte do Benfica foi simplesmente brilhante. Foi no fundo uma continuação do último jogo da taça, contra o Marítimo. Domínio total do jogo, uma equipa perfeitamente oleada e entrosada, com grande dinâmica, os alas a aparecerem frequentemente pelo meio para dar superioridade numérica e permitirem as entradas dos laterais, e a fecharem bem o seu lado no apoio ao lateral quando não tínhamos a bola. Num instante o Benfica conseguiu emudecer o inferno turco e vulgarizar o Besiktas, que tal como o Marítimo no último jogo mal conseguia fazer uma jogada com mais de três passes seguidos, pois jogávamos num bloco sólido com a defesa muito subida no terreno a sufocar o adversário no seu próprio meio campo. Esta superioridade acabou por reflectir-se de forma natural em golos, e foram logo três durante a meia hora inicial. Primeiro pelo Gonçalo Guedes, que isolado por um passe do Salvio contornou o guarda-redes com classe para marcar, depois pelo Nélson Semedo, um golão num remate de pé esquerdo à entrada da área, e finalmente pelo Fejsa, numa jogada quase inacreditável. Canto marcado na direita do nosso ataque, cabeçada do Mitroglou à barra, recarga de cabeça do mesmo Mitroglou novamente à barra, nova cabeçada, desta vez do Salvio, ao poste, e finalmente a recarga final vitoriosa do Fejsa. Com meia hora decorrida, o Benfica parecia ter praticamente carimbado o apuramento. Mas era necessário manter o nível, porque mesmo com a vantagem de três golos confesso que tive sempre o pressentimento de que se o Besiktas marcasse, ainda passaríamos um mau bocado - não é nenhuma premonição especial, eu no fundo penso assim em quase todos os jogos, porque para mim o 'resultado mágico' a partir do qual eu consigo pensar que o jogo está resolvido são quatro golos de diferença. Por isso ainda sofri um pouco à espera que o intervalo chegasse sem nenhum golo turco.

 

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O Besiktas fez naturalmente alterações ao intervalo, mas o início da segunda parte não fazia temer o pior. O Benfica continuava seguro, e até parecia poder aproveitar o tudo por tudo dos turcos para explorar o contra-ataque e voltar a marcar. O que poderia mesmo ter acontecido logo nos primeiros mintuos, mas o Mitroglou desperdiçou de forma inacreditável o quarto golo, quando ficou completamente isolado depois de um passe do Salvio mas conseguiu atirar a bola um pouco ao lado da baliza à saída do guarda-redes. Foi pena, porque penso que esse golo teria acabado de vez com qualquer esperança turca, mas de qualquer maneira não pensei que acabaríamos o jogo a lamentar essa oportunidade perdida. Com um resultado destes, para mim a 'barreira psicológica' seria não sofrer um golo no primeiro quarto de hora, o que parecia pouco provável de acontecer dada a forma como o jogo ia decorrendo. Mas infelizmente foi mesmo a fechar esse período que o Besiktas marcou mesmo, provavelmente na primeira ocasião que criou até então. E foi um grande golo mesmo, um cruzamento largo da esquerda para a direita, onde apareceu um adversário a rematar cruzado de primeira, em pontapé de moinho, sem qualquer possibilidade de defesa para o Ederson. A parte infernal do jogo começou aí. É preciso dizer que o nosso treinador hoje não me pareceu ter acertado nas substituições: pouco depois do golo trocámos o Cervi pelo Rafa, e isto em nada nos beneficiou (não percebi mesmo o motivo da substituição). O Cervi é um jogador que consegue ter uma agressividade muito grande na recuperação da bola e apoia constantemente o lateral do seu lado nas tarefas defensivas. O Rafa não conseguiu fazer nada disso. E o golo dos turcos deveria ter sido o primeiro sinal de sério aviso para o que se estava a passar do outro lado do campo: o Salvio simplesmente eclipsou-se na segunda parte. O Besiktas deixou sempre um homem completamente encostado à direita da nossa defesa, e o Salvio simplesmente quase deixou de defender. O Nélson Semedo foi frequentemente confrontado com dois ou até três adversários sem ter qualquer apoio por parte do ala do seu lado.

 

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Nos minutos a seguir ao golo o Besiktas pressionou bastante mais, mas o Benfica foi resistindo e o pior até parecia ter passado quando o jogo foi interrompido para assistência ao Ederson a cerca de um quarto de hora do final, após um choque com o Quaresma. O Benfica tinha entretanto tentado reforçar o meio campo com a entrada do Samaris para o lugar do Gonçalo Guedes, adiantando-se um pouco o Pizzi, mas para mim o problema não estava ali, era mesmo do lado direito, e na minha modesta opinião teria sido melhor trocar o Salvio pelo Samaris, encostando o Pizzi à direita, onde ele sabe muito bem ajudar a fechar. De qualquer forma, o Benfica parecia que seria capaz de resistir e sair de Istambul com a vitória, mas em seis minutos já perto do final deitámos tudo a perder. Numa altura em que os turcos já se limitavam a despejar bolas a torto e a direito para a área (quase sempre a partir da direita da nossa defesa, onde o Nélson Semedo às vezes devia pensar que apanhava pela frente metade da equipa adversária) o Lindelöf faz um penálti perfeitamente disparatado ao jogar a bola com o braço depois de falhar uma cabeçada. O Quaresma fez o segundo golo e a nossa equipa aí perdeu mesmo o Norte. O Besiktas continuava a fazer exactamente o mesmo, bombear bolas a torto e a direito para as imediações da área, mas agora os nossos jogadores já não tinham discernimento nenhum. Durante a maior parte do jogo, mesmo quando o Besiktas tentava pressionar-nos logo à saída da área, nós conseguíamos trocar a bola, ultrapassar assim a primeira linha de pressão, e sair a jogar. Agora os nossos jogadores simplesmente chutavam a bola para onde estavam virados, o que obviamente significava entregar logo a bola novamente ao Besiktas, para que voltassem a despejá-la para a área. Sem conseguirmos causar qualquer tipo de perigo no ataque, só convidávamos o adversário a avançar ainda mais e a acumular mais gente junto da nossa baliza. O golo do empate, surgido a um minuto do final, foi um exemplo do desnorte da nossa equipa. Houve um primeiro cabeceamento, perigosíssimo, do Aboubakar, que o Ederson defendeu de forma brilhante. Depois disso a bola andou quase um minuto sem sair das imediações da nossa área, a ser cruzada de um lado para o outro, sem que fôssemos capazes de a afastar dali. Até que finalmente um cruzamento do Quaresma (do lado direito da nossa defesa, claro) para a molhada acabou por resultar numa bola solta dentro da pequena área que o Aboubakar aproveitou.

 

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A diferença das exibições da primeira parte para a última meia hora do jogo foi tão grande que é muito difícil dar grande destaque a alguém. Nalguns casos foi um verdadeiro 'Jekyll and Hyde', como por exemplo o Lindelöf, que foi brilhante na primeira parte e depois acabou por ficar directamente ligado ao empate. O Cervi foi um dos melhores, porque não esteve em campo precisamente na fase mais negra do jogo. O Nélson Semedo esteve absurdamente bem na primeira parte, mas na segunda apagou-se naturalmente perante a avalanche de adversários que surgiam pelo seu lado, que o deixavam exclusivamente dedicado a tarefas defensivas - e apesar de ter sido por aquele lado que surgiram os golos, eu não o culpo por isso, porque era difícil fazer melhor sem grande apoio. O Mitroglou não pode falhar aquele golo. Se tivéssemos ganho se calhar nem pensaríamos nisso agora, mas não foi o caso. O Pizzi foi outro jogador que desapareceu do jogo quando foi adiantado no terreno após a entrada do Samaris. Estranhamente, até pareceu que estaria a ser mais eficaz a defender do que o Samaris. Sobre o Salvio, acho que já disse quase tudo. Praticamente arrastou-se em campo durante a pior fase da nossa equipa.

 

Foram dois jogos contra o Besiktas em que tivemos a vitória na mão e a deixámos escapar nos minutos finais. Ao nível da Champions, este tipo de erros costumam pagar-se muito caro. Felizmente ainda temos mais uma oportunidade para compensar estes erros, deixando a questão do apuramento exclusivamente dependente de nós, num último jogo em casa. Convenhamos que a insatisfação por este resultado se prende sobretudo com a marcha no marcador e a forma como o empate aconteceu. Se antes do jogo me perguntassem se eu quereria empatar em Istambul, ainda por cima com um resultado que me garantisse a vantagem no confronto directo com o adversário, eu quase de certeza que responderia que sim. Um empate fora na Champions é normalmente um bom resultado. Mas é óbvio que temos motivos para ficar insatisfeitos e até preocupados com a forma como a equipa quebrou no último terço do jogo. Esta equipa já nos habituou a ter uma enorme personalidade e a manter a compostura em situações muito complicadas, e este tipo de comportamento é por isso uma surpresa. Enfim, há que olhar para o lado positivo da coisa e pensar que absolutamente nada está perdido. E a seguir, ganhar ao Moreirense.

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publicado por D'Arcy às 16:35
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Domingo, 20 de Novembro de 2016

Recital

Acho que por mais que tente, não conseguirei encontrar as palavras certas para descrever com exactidão a exibição do Benfica esta noite contra o Marítimo, nem a satisfação que senti a ver este jogo. Cada um dos cerca de trinta mil espectadores que esteve na Luz esta noite deve sentir-se privilegiado por ter tido a oportunidade de assistir a um verdadeiro recital de futebol dado pela nossa equipa.

 

 

E esta opinião nem é exclusivamente assente no resultado de meia dúzia de golos sem resposta. Há jogos em que jogamos muito bem e perdemos (a derrota em casa contra o Porto, a época passada, é um exemplo disso) e outros em que nem jogamos nada de especial e goleamos. Hoje foi a conjugação quase perfeita entre o resultado e a exibição. Não houve poupanças nenhumas para este jogo, pese o próximo compromisso decisivo para a Champions. À parte a troca na baliza, onde o Júlio César rendeu o Ederson, apresentámos aquele que seria à partida o onze mais forte que seria possível apresentar nesta altura. As poupanças foram feitas no próprio jogo: resolvendo-o cedo e gerindo depois o ritmo do mesmo como nos era mais conveniente (embora nunca tenha sequer parecido ter havido um abrandamento evidente por parte dos nossos jogadores). O domínio do Benfica no jogo foi simplesmente absoluto. Nem um, um único remate para amostra conseguiu o Marítimo fazer durante toda a primeira parte. Na segunda parte fez dois, e ambos de livres à entrada da nossa área. A nossa equipa actuou de forma quase perfeita, com todos os jogadores entrosados e sabendo exactamente o que fazer em campo, e mais importante ainda, colocando o imenso talento que possuem ao serviço do colectivo (é um chavão, mas foi mesmo o que aconteceu). Toda a equipa vestiu o fato de gala quando a bola estava na nossa posse, e o fato de trabalho quando se tratava de recuperá-la - por isso mesmo o Marítimo perdia a bola tão rapidamente que mal conseguia passar do meio campo, e nós criámos diversas ocasiões de perigo resultantes de recuperações de bola ainda nas imediações da área adversária. 

 

 

Depois resta a história dos golos. Uma entrada de rompante, com um golo do Cervi logo ao segundo minuto de jogo - precisamente depois de uma recuperação de bola do Salvio e centro atrasado, na sequência de uma grande ocasião do Mitroglou defendida pelo guarda-redes. O segundo golo surgiu apenas aos trinta e oito minutos. E escrevo 'apenas' porque nessa altura já há largos minutos que o Benfica tinha justificado não só um segundo golo, mas mais ainda. O Mitroglou rodou e ganhou posição à entrada da área, soltando a bola para a entrada do Pizzi pela direita, que depois com um remate rasteiro e colocadíssimo fez a bola entrar junto do poste do lado oposto. E cinco minutos depois foi a vez do próprio Mitroglou marcar, num lance com grande mérito do Nélson Semedo. Começa num passe do Samaris a rasgar a defesa do Marítimo, a bola parece perdida mas o Nélson não desiste e com um toque de calcanhar mantem-na dentro do campo, saindo ele pela linha de fundo. Ainda foi a tempo de recuperá-la, com uma reviravolta à Zidane tirou o defesa da jogada, fez uma primeira tentativa de centro atrasado que não resultou, e a bola voltou-lhe aos pés para assistir o Mitroglou, que apenas teve que cabecear quase em cima da linha de golo. Saímos assim para intervalo com o apuramento para a próxima eliminatória praticamente no bolso, podendo agora gerir esforços para a deslocação à Turquia na próxima quarta.

 

 

Mas se alguém esperava algum relaxamento da parte do Benfica na segunda parte, não foi nada disso que se viu. O Benfica regressou com o mesmo onze e com a mesma atitude, quase como se o jogo ainda estivesse empatado. E a recompensa foi mais um golo com oito minutos decorridos, e mais um belíssimo golo também. Grande mérito para o passe do Cervi, que picou a bola para as costas da defesa e a corrida do Gonçalo Guedes. À saída do guarda-redes, toque ligeiramente atrasado para o lado e finalização de primeira do Mitroglou. Só depois começaram as poupanças, pois o grego foi substituído quase de seguida pelo Jiménez. Quem continuou a não querer abrandar nada foram os jogadores do Benfica ainda em campo, que mantiveram a pressão constante sobre o Marítimo. Provavelmente a única coisa que acabou por forçar alguma redução da velocidade foi mesmo a intensidade da chuva que entretanto caía, que tornou o terreno um pouco mais pesado. Mas isso não impediu que o Benfica marcasse mais um golo, a vinte minutos do final. Um bom cruzamento do Eliseu, uma defesa por instinto do guarda-redes a evitar que o cabeceamento do Jiménez desse golo, e depois um defesa do Marítimo impediu com o braço que a recarga do Salvio fosse para a baliza, sendo naturalmente expulso. Penálti convertido sem espinhas pelo Jiménez, e mais algumas poupanças, com a troca dos dois extremos: Salvio e Cervi pelo Carrillo e o Rafa, que assim teve direito à estreia no Estádio da Luz. Também não foi isto que fez com que o Benfica relaxasse, e até ao apito final foi ver os nossos jogadores a empenhar-se na luta por cada bola e a procurar ampliar o resultado. O prémio, quer para eles, quer para o público, chegou quase no final do jogo, na sequência de um canto - que tinha resultado de uma jogada em que o Pizzi quase marcava. O mesmo Pizzi marcou o canto para a entrada da área, onde o Gonçalo Guedes surgiu embalado para rematar de primeira, fazendo a bola entrar junto ao poste. Um grande golo, a fechar em beleza uma grande exibição da equipa e um desempenho fantástico do próprio Gonçalo Guedes.

 

 

Hoje é mesmo daqueles jogos em que não posso fazer destaques. Toda a equipa esteve fantástica, e durante o jogo pensei diversas vezes que gostaria muito de poder continuar a ver jogadores como o Nélson Semedo, o Lindelöf, ou o Gonçalo Guedes com a nossa camisola durante mais alguns anos. Sei que é difícil, mas quando olho para quantidade de talento que temos nesta equipa acho que será uma pena se não o pudermos apreciar por mais tempo. E isto numa época depois de termos perdido jogadores como o Gaitán e o Renato. E já nem vale a pena mencionar que não podemos contar com o Jonas, ou o Fejsa, ou o Jardel. Normalmente não é fácil eu sair do estádio completamente satisfeito. Há sempre uma coisa ou outra que me agrada menos ou que me irrita. Mas esta noite não tenho absolutamente nada a apontar à equipa. Foi uma exibição a roçar a perfeição, e que me fez sair da Luz com um sorriso. Se conseguirmos manter esta dinâmica na Turquia, temos enormes probabilidades de regressar de lá com o apuramento para a próxima fase garantido.

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publicado por D'Arcy às 01:57
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Segunda-feira, 7 de Novembro de 2016

Tradição

Não foi um óptimo resultado, mas foi um resultado bom. Pela forma como foi obtido, por ser em casa de um adversário na luta pelo título, e ainda com as condicionantes provocadas pelas ausências de jogadores-chave na nossa equipa. A história recente diz que normalmente não perder no Porto acaba na conquista do respectivo campeonato. Esperemos que este ano se mantenha a tradição.

 

Depois de termos perdido o Fejsa na última terça-feira, que tem sido uma espécie de fulcro do jogo da nossa equipa, mais más notícias nos dias que antecederam este jogo, quando se confirmou também a ausência do Grimaldo, que tem sido outro dos jogadores em destaque. Mas já tinha escrito anteriormente que nos temos vindo a habituar a não ficar a lamentar ausências, porque quem joga cumpre. As escolhas para substituir estes dois jogadores foram as esperadas, Samaris e Eliseu, e o Benfica entrou em campo com a mesma disposição táctica a que nos habituou. Apesar de uma entrada desinibida, depressa foi o Porto quem tomou conta das operações. Era notória a superioridade na zona do meio campo, onde o trio Danilo-Óliver-Octávio se impunha ao Pizzi e ao Samaris. Ao não contarmos com o Fejsa não só perdemos agressividade naquela zona, mas também perdemos metros na disposição em campo. O Fejsa empurra a equipa mais alguns metros para a frente, devido à sua capacidade para jogar em antecipação, e isso é algo que o Samaris não nos consegue dar. Outro contratempo para o Benfica foi a lesão do Luisão logo nos minutos iniciais, que obrigou à sua substituição pelo Lisandro. A primeira meia hora de jogo foi bastante complicada, com o Porto a ter muito mais posse de bola e a empurrar-nos para junto da nossa área. Nos intervalos entre os pedidos de penáltis (acho que durante o jogo os jogadores do Porto devem ter-se deixado cair pelo menos meia dúzia de vezes dentro da nossa área - a nostalgia criada pela recepção que as claques deles fizeram à nossa equipa deve ter contagiado os jogadores do Porto, que começaram a sonhar com tempos de árbitros bem mandados) o Porto criou três ocasiões flagrantes para marcar, valendo-nos intervenções do Ederson frente ao Corona em duas delas, e noutra a ligeira falta de pontaria do André Silva, que rematou de primeira um pouco ao lado da baliza vazia depois de um mau alívio do Samaris. Por falar na recepção à nossa equipa, confesso que foi com alguma satisfação que vi os nossos jogadores manterem sempre a calma e não se deixarem intimidar minimamente quer pelo público, quer pelos próprios adversários, que por diversas vezes pareciam estar interessados em causar picardias - tendo eu assistido ao vivo a vários jogos entre Porto e Benfica nas antigas Antas que começávamos a perder precisamente por aí, isto é sempre uma agradável mudança. Nos minutos que antecederam o intervalo o Benfica conseguiu finalmente sacudir um pouco a pressão do Porto e respirar com a bola nos pés. Mesmo a acabar, a melhor ocasião para o Benfica, quando num canto o cabeceamento do Lindelöf foi desviado por um adversário para o poste.

 

O Porto colocou-se em vantagem cedo no segundo tempo, quando apenas tinham passado cinco minutos. Depois de uma incursão da direita para o meio o Corona passou a bola para o Diogo Jota, que pressionado pelo Nélson Semedo rematou de um ângulo muito apertado, com a bola a entrar entre o Ederson e o poste. No melhor pano cai a nódoa e neste lance o nosso guarda-redes não ficou bem na fotografia. O Porto continuava melhor no jogo, até que a meia hora do final o nosso treinador trocou o Cervi pelo André Horta, acrescentando mais um elemento ao meio campo. Esta alteração táctica fez bastante diferença, e a partir desse momento o jogo passou a ser muito mais dividido, com a posse de bola a subir a nosso favor. O primeiro grande sinal de perigo que demos neste segundo tempo apareceu dos pés do Samaris, que com um remate de fora da área obrigou o Casillas a uma boa defesa. O Porto respondeu de livre, com o Ederson a somar mais uma boa intervenção, desta vez a remate do Telles. À medida que o tempo ia decorrendo, o Porto foi desaparecendo cada vez mais do ataque, parecendo mais apostado em tentar explorar alguma aberta para contra-atacar, mas a verdade é que depois do referido livre do Telles, que aconteceu aos sessenta e sete minutos, não me recordo de mais nenhum remate do Porto. Não é que o Benfica estivesse propriamente a pressionar muito o Porto ou a criar ocasiões para marcar, mas agora a bola passava claramente mais tempo nos pés dos nossos jogadores, enquanto o Porto se ia remetendo cada vez mais para o seu próprio meio campo. As alterações feitas também revelavam que o principal interesse do Porto era segurar a vantagem, apostando em reforçar o meio campo com as entradas do Rúben Neves e do Herrera, e ainda do Layún, que se foi encostar à esquerda à frente do Telles para ajudar a controlar as constantes subidas do Nélson Semedo. O Benfica respondia com a entrada de mais um avançado, o Jiménez, para o lugar do desinspirado Salvio. As tentativas de remate do Benfica eram quase todas de fora da área e com pouco perigo, mas já em período de descontos, ao minuto noventa e dois, o Herrera cedeu um canto quando tentava chutar a bola contra o Eliseu. Na marcação do mesmo, à maneira curta, a bola seguiu para o André Horta, que fez o centro para o cabeceamento vitorioso do Lisandro. A bola nem saiu com muita força, mas foi muito colocada para o poste oposto, e completamente fora do alcance do Casillas. Estava feito o empate, que nos mantém no topo com a confortável vantagem de cinco pontos. Não posso deixar de assinalar que nestes minutos finais, mesmo com a equipa em desvantagem, o que eu mais ouvia eram os cânticos de incentivo à nossa equipa. Os nossos adeptos foram incansáveis e inexcedíveis no apoio.

 

Sem surpresa para quem tiver visto o jogo, os maiores destaques no Benfica são para jogadores defensivos. A começar pelo Lisandro, que entrou muito bem no jogo, mesmo a frio, e esteve praticamente perfeito, coroando a exibição com o golo. Ao seu lado o Lindelöf também esteve impecável, e acho que não deve ter cometido um erro. Outro jogador cuja exibição me agradou muito foi o Nélson Semedo. Está definitivamente de regresso à sua melhor forma. Também o Ederson merece destaque. É certo que terá tido alguma responsabilidade no golo sofrido, mas teve quase uma mão cheia de intervenções de grande valor que compensam largamente esse lapso.

 

Com quase meia equipa ausente deste jogo conseguimos ir ao terreno do nosso maior adversário arrancar um resultado que se pode revelar importantíssimo. Costumam dizer vários treinadores que em jogos do campeonato se não conseguimos ganhar, é importante pelo menos não perder. E foi isso que conseguimos, um resultado para o campeonato e que faz com que o nosso adversário desta noite esteja neste momento numa situação em que não depende exclusivamente de si próprio para chegar à liderança. E isso é sempre uma vantagem psicológica importante.

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publicado por D'Arcy às 02:25
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Quarta-feira, 2 de Novembro de 2016

Competência

Foi um jogo mauzinho que acabou com um resultado bom e que para mim ficou ensombrado pela lesão do Fejsa, que forçou a sua substituição e muito provavelmente o terá retirado do jogo no Porto. No final fica acima de tudo a competência da nossa equipa, que conquistou o resultado que era fundamental para manter intactas as aspirações de prosseguir na Champions League.

 

 

Com o Benfica a apresentar o onze que tem sido mais utilizado nos últimos jogos, assistimos a uma partida pouco interessante e muito táctica. Os ucranianos, apesar de precisarem ainda mais de uma vitória do que nós, não pareciam interessados em arriscar muito no ataque, e fecharam muito os caminhos para a sua baliza, utilizando um médio defensivo que diversas vezes actuava mais como um terceiro central. O Benfica por seu lado apostava num jogo de paciência, sem grandes correrias e acelerações, mas que assim revelava dificuldades para criar grandes desequilíbrios na defesa adversária. A conjugação disto foi um jogo com poucas ocasiões de golo e situações de maior emoção, a roçar mesmo o aborrecido. Já sobre o intervalo, e na sequência de um livre lateral, surgiu quase que por acaso uma ocasião soberana para o Benfica se adiantar no marcador, quando o Vida cometeu penálti sobre o Luisão ao fazer-lhe uma verdadeira placagem dentro da área. O Salvio não desperdiçou a ocasião. Na segunda parte adivinhava-se que o Benfica pudesse aproveitar algum eventual atrevimento do Dínamo de Kiev, e o início foi mesmo mais movimentado, tendo como ponto mais alti um grande remate do Gonçalo Guedes, que esbarrou com estrondo na trave. Mas pouco depois surgiu o momento mais baixo do jogo, com a lesão do Fejsa depois de uma entrada de um adversário de pitons ao tornozelo dele (para mim foi um lance claríssimo de vermelho directo). Substituição forçada, entrou o Samaris, e o nosso jogo ressentiu-se. Perdemos força no meio campo, o Dínamo passou a ter alguma superioridade nessa zona, e aproximou-se mais da nossa baliza. O Benfica continuou a dispor de espaços para explorar e procurar o golo da tranquilidade, mas houve demasiada falta de clarividência na altura de decidir, e maus passes (ou a ausência destes, preferindo os jogadores insistir em iniciativas individuais) significaram que não os soubemos aproveitar. E quando não se aproveita. arrisca-se a sofrer, e foi isso que esteve quase a acontecer. A pouco mais de vinte minutos do final o Dínamo beneficiou de uma grande penalidade, por falta cometida pelo Ederson quando saiu aos pés do Derlis, depois de uma bola colocada nas costas da nossa defesa. Felizmente, o Ederson redimiu-se do erro e defendeu o penálti, mantendo a vantagem no marcador. O penálti foi, aliás, quase a única ocasião de golo digna desse nome durante todo o jogo para os ucranianos (houve uma outra situação depois de um escorregão do Lindelöf). Nos minutos finais o Benfica optou por segurar a vantagem, reforçou o meio campo com a troca do Gonçalo Guedes pelo André Almeida, e o tempo decorreu até ao apito final sem qualquer tipo de sobressalto.

 

 

Não achando eu que tenham havido exibições brilhantes e a merecer muito destaque, ainda assim gostei mais uma vez do Lindelöf, que está feito um óptimo central. Teve uma falha, na qual escorregou a meio campo e perdeu a bola, mas conseguiu recuperar e fez um corte brilhante quando o Derlis já tinha ultrapassado o Luisão e se aprestava para rematar para o golo. O Fejsa estava a ser mais uma vez um dos jogadores mais sólidos até se lesionar. O Grimaldo não foi tão influente a atacar como habitualmente, mas regressou em boa forma e contou com o precioso auxílio do Cervi, que não em qualquer problema em andar a correr atrás dos adversários para ajudar a defender e a recuperar a bola. E, claro, o Ederson tem que ser mencionado pela defesa decisiva do penálti. O Mitroglou hoje não fez um bom jogo, tendo falhado algumas ocasiões em que costuma ser bem mais eficaz - uma delas, na primeira parte, foi mesmo escandalosa.

 

Com mais um passo dado na campanha europeia, que nos garante pelo menos a passagem para a Liga Europa, é agora altura de começar a pensar no próximo jogo para o campeonato. É mais decisivo para os nossos adversários do que para nós, mas representa uma oportunidade para darmos um passo muito grande para a conquista do tetra. Ja dou como um dado adquirido a ausência do Fejsa desse jogo, mas se há alguma coisa a que nos habituámos esta época foi a não ficar a lamentar ausências. Jogue quem jogar, o objectivo será ganhar.

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publicado por D'Arcy às 00:09
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