VAMOS ACABAR COM AS IMBECILIDADES
Domingo, 19 de Julho de 2020

Regresso de Jorge Jesus

Uma das vantagens de já ter um blog há 16 anos é poder revisitar o que escrevi no passado e verificar se continuo a pensar o mesmo. Claro que o exercício é mais fácil com o considerando “se eu soubesse o que sei hoje”, mas, como não se pode voltar atrás com o conhecimento que entretanto se adquiriu, a principal questão para mim é sempre a mesma: pensar se, com os dados que eu tinha na altura, voltaria hoje a ter a mesma opinião? Serve este preâmbulo para dizer que, apesar de (FELIZMENTE) me ter enganado com a previsão do 35 (ou melhor, da falta dele), cinco anos depois mantenho tudo o resto que escrevi na altura da saída do Jorge Jesus (eventualmente retiraria o “histórico” do erro, porque afinal fomos três vezes campeões, mas ter sido um erro foi indirectamente admitido pelo próprio presidente do Benfica ao ir buscá-lo novamente).

Por outro lado, muito se falou, muito se fala e muito se irá falar (pelo menos nestes primeiros tempos) de tudo o que se passou na altura da saída, em especial naquele primeiro ano de Jorge Jesus na lagartada. O que ele disse sobre nós, a maneira como tratou o nosso treinador da altura, as desconsiderações e faltas de respeito, etc. Foi feio. Muito feio! Mas, da mesma maneira que eu acho que os meus filhos, se fizerem asneira na escola, não merecem um tratamento especial só por serem meus filhos, o Benfica só por ser o Benfica não é inimputável perante tudo o que faça. Sim, o Benfica também erra! E, naquela altura, os dirigentes do Benfica (ou melhor, a inefável ‘estrutura’) não se portaram nada bem com o Jesus. Acusações de roubo de material informático, pedido de indemnização numa soma ridícula em tribunal, etc. É como naqueles lances de bola parada em que na área o defesa e o avançado se estão a agarrar mutuamente. Não se marca falta. Neste caso, houve culpas mútuas na falta de nível do pós-separação (separação essa que partiu da nossa parte, convém recordar). Portanto, para mim, ainda estar ressabiado com o Jesus pelo que ele disse na altura sobre nós não faz sentido (até porque isso acabou por ser importante para o ‘reunir das tropas’ que conduziu ao tri, logo até lhe podemos agradecer o facto). Se nós dissemos o que dissemos dele, não estávamos à espera que ele tivesse nível e não respondesse, certo? Era preciso que não o conhecêssemos bem.

Agora, a parte desportiva. Também aqui mantenho o que disse na altura: a passagem de Jesus pelo Benfica foi globalmente muito positiva. Em seis campeonatos, jogámos muito bem em cinco deles e ganhámos três. Na Europa, só um dos anos foi péssimo com a saída das competições em Dezembro. Fomos a duas finais da Liga Europa, a uma meia-final (perdida com o Braga, eu sei, mas era uma meia-final) e a uns quartos-de-final, e na Champions a outros quartos-de-final (portanto, nas seis épocas, cinco com pelo menos quartos-de-final; nas últimas cinco, fomos duas vezes aos quartos...). Na Taça de Portugal, é que só uma vitória em duas finais é muito pouco para seis anos. Na menos importante de todas as competições, mas ainda assim uma competição oficial, a Taça da Liga, tivemos cinco vitórias naqueles seis anos (por contraponto a uma vitória nos últimos cinco...). Outros olharão para resultados embaraçosos que tivemos (e sim, houve uns quantos), mas eu prefiro ver a capacidade que o Jesus teve para se reinventar durante aquele tempo: o Benfica de 2014/15 não jogava da mesma maneira do que o de 2009/10. Para jogadores diferentes, tácticas e processos de jogo diferentes. E isso, para mim, é sinal de sagacidade de um treinador. Sagacidade essa que manteve nos outros três clubes que treinou, onde o impacto foi imediato e ganhou sempre títulos (felizmente menos num deles, do que nos outros dois).

Dito isto, esta decisão do Luís Filipe Vieira é obviamente um all in da sua parte. Mas infelizmente não é para ganhar um inédito penta ou o bicampeonato deste ano perante um CRAC intervencionado pela Uefa, cuja vida seria muitíssimo complicada se não fosse campeão. Para isso, não houve nenhum investimento semelhante a este. Este é um all in para ganhar eleições. Porque o Jesus é o treinador que mais probabilidade lhe dá de resultar no imediato e o LFV, depois do que se passou esta época, não pode correr o risco de as coisas começarem tortas, sob pena de perder essas mesmas eleições. E isso, meus caros, eu não gosto de ver: não gosto que altos responsáveis do meu clube dêem piruetas e consigam fazer um oito com a coluna vertebral só para ganharem eleições. Porque isso é indefensável, pelo menos para mim. Que fosse para conquistas desportivas, eu ainda admitia, há sapos que eu não me importaria de engolir para ganhar títulos. Agora, engolir sapos com objectivos eleitorais faz-me sentir vergonha alheia e sentir isso de altos responsáveis do meu clube é o pior que me podem fazer. Porque, como óbvio, depois do que a ‘estrutura’ do Benfica disse do Jesus, ele nunca poderia voltar com essa mesma ‘estrutura’ ainda em vigor. Porque do Jesus eu não espero mais do que pôr a equipa a jogar (bem) à bola. A personalidade dele é por demais conhecida e levar com ela é um preço que eu estou disposto a pagar para ganhar títulos (e só estou disposto a pagá-lo, porque eu não disse do Jesus o que a ‘estrutura’ do Benfica disse). Agora, dos dirigentes do meu clube eu espero um pouco mais de rectidão nos valores e nas atitudes que se tomam. Se se diz que se manda embora um treinador porque “não apostava nos jovens da formação”, se se reitera há pouco mais de um mês que o projecto da formação era para se manter, não se vai buscar esse mesmo treinador de volta. Então, e o projecto do clube? Era tudo conversa fiada e o importante é a manutenção do poder a todo o custo? Há coisas que se dizem das quais não há retorno possível. Muito menos para a prossecução de objectivos pessoais. Como é ganhar umas eleições.

publicado por S.L.B. às 19:26
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Quinta-feira, 2 de Julho de 2020

Treinador interino

Vamos lá a ver se eu percebi bem isto: o treinador principal, Bruno Lage, pede a demissão, o presidente do Benfica aceita e, ainda com seis jogos importantes até final da época (há que manter o 2º lugar e ganhar mais uma Taça de Portugal), nomeia como treinador o... adjunto do Bruno Lage, Veríssimo. Portanto, o principal elemento da equipa técnica não servia, mas o adjunto já serve. Ainda por cima, o adjunto que tinha como responsabilidade o treino das bolas paradas, que tão bons resultados tem tido ao longo da época... 'Tá certo, isto tem tudo para continuar a correr muito bem...

P.S. - Eu não conheço o Renato Paiva de lado nenhum, mas ainda não vi ninguém que não lhe reconheça competência, gostei do pouco que vi as equipas dele a jogar e de cada entrevista dele que li. Se era preciso "agitar as águas" neste momento, sendo ele o treinador da equipa B, parecia-me a escolha mais lógica. Que pena que quem de direito não tenha visto a luz...

publicado por S.L.B. às 16:42
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