Optei por não escrever crónicas sobre os jogos que realizámos no regresso pós-confinamento simplesmente porque não tinha condições para o fazer de forma minimamente honesta. O meu entusiasmo era pouco mais do que nulo, não vi (por opção) vários dos jogos, e quanto aos que vi, em nenhum deles vi os noventa minutos (cheguei mesmo a adormecer a meio de alguns jogos). Agora que finalmente está fechada a época, e com uma exibição que podia perfeitamente ser um resumo da mesma, posso tentar fazer o meu pequeno balanço dela.
O balanço só pode mesmo ser catastrófico. Sem qualquer explicação racional, na segunda metade da época deitámos tudo a perder. Imitámos o Porto da época passada e desperdiçámos uma vantagem de sete pontos, conseguindo passar de um registo de dezoito vitórias em 19 jogos para o campeonato para apenas três vitórias em doze jogos. Foi aliás ainda pior do que aquilo que o Porto fez a época passada, porque nós na altura fomos quase perfeitos, enquanto que agora o Porto foi pouco mais do que medíocre e mesmo assim nós conseguimos ser piores do que eles. Parecia que quanto pior fosse o Porto, nós conseguíamos baixar ainda mais o nível de forma a mantermo-nos abaixo deles. Literalmente entregámos o ouro ao bandido e persistimos no péssimo hábito de dar vida a um adversário moribundo, o que mais uma vez se confirmou no jogo de ontem, onde lhes oferecemos mais um troféu quando tínhamos tudo para o conquistar. Não o conquistámos, lamento concluir, porque os jogadores do Porto quiseram mais ganhá-lo do que os nossos jogadores, e isto para mim é inadmissível. E um dos pormenores que mais me revolta nisto é o que acho ser um aburguesamento da nossa equipa (para não lhe chamar falta de profissionalismo). Ao contrário do que aconteceu noutros clubes, não houve cortes de ordenados no Benfica. Não houve layoffs, toda a gente recebeu por inteiro, a tempo e horas, ordenados e prémios. Foram dadas todas as condições aos nossos profissionais para que fizessem aquilo que se lhes exige, que é desempenhar as suas profissões com o mais alto rendimento. A resposta? Jogadores muitas vezes a arrastar-se em campo, de cabeça e ombros caídos, olhar no chão, e resignação. E incapacidade para levar de vencida equipas como o Tondela, o Portimonense, o Marítimo ou o Santa Clara, cujos profissionais, com muito menos condições do que os nossos, dignificaram muito mais as camisolas que envergaram. Não vou citar nomes, mas termino a época com a firme convicção de que uma boa parte dos jogadores que compõem o nosso plantel não são dignos de envergar a nossa camisola, e ficarei muito feliz quando os vir pelas costas.
Agora o foco é começar a pensar já na próxima época, celebrando o regresso do 'filho pródigo' Jorge Jesus. Faço desde já a minha declaração de interesses: não me revejo nesta decisão. Sou frontalmente contra o regresso deste homem ao Benfica e sinto-me mesmo magoado com isto. Claro que isto pouco importa para o Benfica, é apenas a minha opinião, e objectivamente o mais importante é que o Benfica regresse às vitórias o quanto antes. Mas por mais vitórias que se consigam com o Jorge Jesus (e espero muito sinceramente que elas venham em catadupa) isso não mudará a minha opinião sobre ele, nem apagará a mágoa que sinto por vê-lo de regresso ao nosso banco. Para mim há pontes que são queimadas que não podem ser reconstruidas, e o Jorge Jesus encarregou-se de se assegurar que várias dessas pontes fossem incineradas quando saiu. Talvez o profissionalismo não se compadeça com o lado emocional e o que interessam são os resultados, mas para mim a ligação emocional à minha equipa é importante e não é a fazer regressar uma pessoa que eu detesto que se fortalece essa ligação. Tal como não são decisões mercantilistas para porventura agradar a mercados asiáticos que ditam que apresentemos um equipamento para a próxima época tão horrível como aquele que usámos ontem. É talvez apenas um pormenor, mas se eu já embirrava com o emblema monocromático nas camisolas alternativas, ver agora o nosso emblema ser também adulterado na camisola principal desilude-me ainda mais, tal como a ausência completa do branco nas mesmas (nem os números nas costas escaparam).
Resumindo, estou profundamente desiludido com o que foi esta época, e muito pouco entusiasmado em relação à próxima. Mesmo tendo poucas dúvidas que os resultados terão que ser forçosamente melhores do que os desta época, a verdade é que pela primeira vez em muitos, muitos anos sinto que a minha ligação emocional à equipa de futebol do Benfica foi severamente abalada pelo que se passou esta época, ao ponto de neste momento a indiferença ser o sentimento predominante em relação à mesma.
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