E acabamos a época como a começámos: mal, com uma derrota, e a perder um dos objectivos da mesma. Tendo em conta tudo o que esta época foi, também não sei porque motivo ainda poderia esperar algum tipo de desfecho positivo. No fundo, há que reconhecer a coerência da nossa época.
Sobre o jogo nem vou escrever grande coisa, porque ele ficou irremediavelmente marcado pela expulsão absurda do Helton quando tinham decorrido apenas dezasseis minutos. Até aí estava um jogo equilibrado, depois da expulsão nunca mais nos encontrámos, e quando já em período de descontos da primeira parte oferecemos um aberrante golo ao adversário ficou tudo decidido, porque esta nossa equipa não tem alma ou coração para conseguir qualquer tipo de reacção a uma adversidade. Quanto ao critério seguido pela equipa de arbitragem para expulsar o Helton, também nenhuma surpresa: é coerente. Coerente com tudo aquilo que foi seguido durante esta época, e que vai com toda a probabilidade continuar nos tempos próximos porque, conforme já o escrevi, está criado um clima em que errar contra o Benfica não tem consequências, e errar a favor do Benfica pode significar um linchamento público. Por isso não admira o pendor das decisões. O nosso guarda-redes toca de raspão num jogador do Braga, que mergulha ostensivamente, não tem controlo da bola e vai na direcção da bandeirola de canto. Uma clara simulação de um jogador do Braga resulta em vermelho evidente, sem que o VAR sequer faça alguma coisa. Dois minutos antes o Seferovic roda sobre o Raúl Silva e vai escapar-se à defesa do Braga, sendo deliberadamente placado pelo adversário. Nem amarelo é. É com estes critérios volúveis que temos que aprender a conviver. Depois da expulsão jogámos pouco, mas também não tivemos grandes problemas com o Braga. Enquanto o nulo se mantivesse a situação não seria problemática, mas tinha a profunda convicção que se o Braga marcasse primeiro, estava tudo acabado. À beira do intervalo, o Weigl teve uma óptima ocasião para marcar mas permitiu a defesa ao guarda-redes. Na resposta, o Vlachodimos teve uma saída desnecessária da baliza, o Vertonghen fez um péssimo alívio, e tudo o que o jogador do Braga teve que fazer foi atirar a bola para a baliza deserta. E a taça ficou perdida nesse preciso instante - sofrer um golo já nos descontos e ir para intervalo em desvantagem numérica e no marcador parece-me demasiado para que a nossa equipa saiba ou consiga reagir. Depois foi só ir assistindo ao tempo a correr, quase com a certeza que o mais provável seria um segundo golo do Braga mais cedo ou mais tarde - o Braga entrou forte na segunda parte, mas depois o jogo reequilibrou, e só perto do final esse golo surgiu mesmo depois de uma perda de bola do Rafa. A seguir a isso, cenas pouco edificantes e atitudes dos nossos jogadores a mostrarem o quão instável era o estado mental da nossa equipa - acho que somos mentalmente fracos e não parecemos ter capacidade para reagir a qualquer tipo de adversidade.
Esta é uma daquelas épocas que classificamos sempre como 'para esquecer'. Mas não é possível passar uma esponja por cima e partir para a próxima, porque se não nos lembrarmos de todos os erros que cometemos vamos repetir a história (e na minha modesta opinião, o maior deles todos foi promover o regresso deste treinador, que nunca poderia ter voltado a pôr os pés no Benfica). Não sei qual vai ser a reacção do Benfica ao que se passou hoje em campo e à forma deliberada como o campo foi logo numa fase inicial inclinado para o outro lado - a julgar pelo que tenho assistido, na melhor das hipóteses teremos umas linhas numa newsletter, e acaba mesmo por ser quase sempre o nosso treinador a ser o mais incisivo. E foi assim, com este tipo de inacção, que permitimos que se chegasse à situação presente, em que o respeito pelo Benfica por parte das instituições é nulo. Quando somos roubados, ignora-se o roubo e aproveita-se para desancar o Benfica por ter perdido. O que me parece evidente é que a próxima época tem fortes probabilidades de começar em tons bem sombrios e carregada de negatividade, que explodirá ao menor contratempo.
Seja no masculino ou no feminino, é para mim sempre um prazer e um orgulho ver atletas que envergam a nossa camisola saberem dignificá-la e, sobretudo, senti-la como benfiquistas. Muita gente há que poderia e deveria seguir-lhes o exemplo.
Vencemos o Sporting, como eu esperava. Não acho que seja motivo para qualquer celebração, até porque ficou confirmado o terceiro lugar neste campeonato. Simplesmente cumprimos a nossa obrigação. Apesar das lacunas, continuo a achar que temos o melhor plantel do campeonato e portanto tinha poucas dúvidas que jogando aquilo que podem, vencer o até agora invicto líder não deveria ser uma tarefa especialmente complicada. Obviamente que eles agora argumentam que não estavam na máxima força e que ainda estavam em clima de festa, mas não os vi especialmente preocupados com o facto do Benfica estar dizimado pela COVID-19 quando nos ganharam quase sem saber como na primeira volta.
Três centrais, e a opção que talvez terá sido mais surpreendente foi a titularidade do Pizzi quando se esperava o Rafa, mas essa opção acabou mesmo por se revelar determinante. A primeira parte foi praticamente toda nossa, muito por culpa da presença frequente do Pizzi no meio, que ajudava a ganhar superioridade nessa zona. Explorámos bem o muito espaço que o Sporting dava atrás quando tentava projectar os laterais no ataque, o que deixava os três defesas demasiado expostos sempre que o Benfica recuperava a bola e saía rapidamente para o contra-ataque, sobretudo porque os dois médios deles se revelavam incapazes de ajudar e deixavam os colegas da defesa sistematicamente desprotegidos. O lado direito deles, onde o João Pereira foi desastroso, foi um dos principais pontos por onde insistimos mais. Demorámos doze minutos a chegar à vantagem, pelo Seferovic. Uma avenida aberta pelo meio da defesa adversária, passe do Pizzi a deixar o Seferovic em frente ao guarda-redes, e este a finalizar anormalmente bem, picando a bola à saída do guarda-redes. O Nuno Mendes ainda tentou o corte em desespero mas apenas confirmou o golo. Reacção do Sporting praticamente inexistente, Benfica sempre por cima, e o segundo golo à beira da meia hora apenas a confirmar isso mesmo. Uma jogada de equipa muito boa, com o Everton em destaque a fazer o que quis pela direita, para depois a jogada prosseguir e ele acabar por combinar com o Pizzi, fazendo a assistência de calcanhar para o Pizzi ficar isolado. Mais uma vez, finalização perfeita com a bola a ser picada sobre o guarda-redes. E quase nem deu tempo para qualquer reacção do Sporting, porque oito minutos depois já a bola morava dentro da baliza deles pela terceira vez. Canto marcado pelo Pizzi na esquerda (depois de uma defesa do guarda-redes a um livre directo marcado por ele) e o Lucas Veríssimo antecipou-se com aparente facilidade ao Coates para cabecear quase sem oposição. Três a zero após trinta e sete minutos creio que não deixavam quaisquer dúvidas sobre a nossa superioridade durante a primeira parte, mas nos minutos finais veio o habitual relaxamento, que o Sporting aproveitou para reduzir a diferença já nos descontos, no único remate que fizeram à baliza durante a primeira parte. Marcou o Pedro Gonçalves, num remate rasteiro à entrada da área no qual o Helton me pareceu mal batido.
A segunda parte começou praticamente com um momento quase inacreditável: a equipa com menos penáltis a favor na primeira liga beneficiou de um contra a equipa com menos penáltis contra na mesma competição. Claro que a reacção normal nestas situações é ficarmos à espera que o VAR encontre uma qualquer desculpa para reverter a decisão, mas a verdade é que o penálti sobre o Grimaldo foi tão evidente quanto estúpido, e nem o VAR conseguiu reverter este. A mostrar que estamos de facto interessados em que o Seferovic seja o melhor marcador, foi este quem converteu o penálti sem problemas de maior. Aos cinquenta minutos de jogo, vencíamos por 4-1, e efectivamente tínhamos o jogo ganho. Infelizmente já todos sabemos muito bem o que é que isto normalmente significa com esta equipa: displicência. Este jogo esteve muito longe de ser um exemplo único disso, é uma coisa constante e a que estamos fartos de assistir esta época. O nosso treinador chama-lhe não sabermos segurar um resultado, eu chamo-lhe displicência. Deixamos de jogar como equipa, as acções individuais aumentam de forma exasperante, deixamos de encostar e meter o pé e passamos longos períodos a ver o adversário jogar, como se já não fosse necessário trabalhar muito. Para ajudar à festa, entrou o Gabriel, que três minutos depois já estava amarelado, portanto mais um motivo tinha para deixar de meter o pé. O Taarabt estava a ser importante nas saídas rápidas para o ataque assim que a bola era recuperada, e que tantos problemas causaram ao Sporting. Como Gabriel, isso acabou. O Sporting começou portanto a ganhar superioridade na zona do meio campo, ajudado também pelas trocas ao intervalo, onde mudou a dupla do meio campo ao intervalo e fez entrar o João Mário e o inimputável Palhinha. A pouco menos de meia hora do final as distâncias foram reduzidas, num lance em que a diferença de atitude fica bem expressa quando os jogadores deles ganham duas bolas em antecipação dentro da nossa área. Marcou o Nuno Santos, que nós tão simpaticamente oferecemos ao Sporting esta época. O jogo ficava um pouco mais relançado, porque bastaria mais um golo ao Sporting para entrar na discussão do resultado. O Grimaldo teve uma situação em que ficou isolado mas finalizou mal, e a quinze minutos do final esse golo do Sporting surgiu mesmo. Penálti assinalado ao Lucas Veríssimo (com os jogadores do Sporting obviamente a aproveitarem para tentar forçar a expulsão, apesar de ser óbvio que ele tentou jogar a bola e me ter parecido até que lhe tocou de raspão) e o Pedro Gonçalves converteu, mantendo-se empatado com o Seferovic na luta pelos melhores marcadores. E o empate podia ter surgido quase de seguida, com um remate do mesmo jogador ainda a levar a bola a tocar no poste. Felizmente isso pareceu acordar de vez os nossos jogadores, e esse lance acabou por ser uma espécie de canto do cisne do Sporting, que não voltou a criar mais perigo. A entrada do Rafa para os dez minutos finais foi importante, só não provocou a expulsão do Nuno Mendes porque o árbitro não quis fazê-lo, e foi dele a melhor ocasião até final. Foi mais uma das típicas arrancadas pela esquerda do Darwin (que tinha entretanto entrado) que depois de ficar na cara do guarda-redes preferiu mais uma vez não finalizar e passar a bola. O guarda-redes do Sporting evitou depois o golo do Rafa com uma defesa quase miraculosa com o pé.
O Pizzi é o homem do jogo. Um golo com uma grande finalização depois de uma grande jogada da equipa, assistências para os golos do Seferovic e do Lucas Veríssimo, e um papel táctico importante na superioridade clara do Benfica na primeira parte. O Everton mantém o bom registo das últimas semanas e foi outro dos jogadores em destaque. Na defesa, o melhor foi o Otamendi, com diversos cortes e intercepções decisivas. O Seferovic fez o que se lhe pedia e marcou dois golos.
Não houve obviamente guarda de honra nem poderia haver, muito menos a este adversário. Estamos a falar do clube que mais desrespeita o Benfica no mundo, e que faz de ser ordinário para o Benfica uma forma de estar na vida. São demasiados os exemplos ao longo das vidas dos dois clubes para os estar a enumerar. Se eu não gosto do Sporting, não é por vê-los como rivais. Nunca achei que nos fizessem sombra desportivamente, e muito menos em termos de dimensão. Não gosto deles simplesmente porque são extremamente ordinários para o Benfica. A nossa única obrigação era fazer o melhor neste jogo e vencê-lo, tal como é a nossa obrigação contra qualquer outro adversário. O bónus que veio com a vitória foi não deixar que eles conseguissem igualar aquilo que já fizemos por duas vezes, que é acabar um campeonato sem derrotas. Quanto ao resto, é olharmos para dentro e corrigir os nossos erros. Temos matéria e qualidade para fazer muito mais e melhor do que foi feito esta época, sobretudo se soubermos corrigir as lacunas que estão mais do que identificadas.
Em mais um jogo em que resolvemos oferecer uma parte ao adversário, foi no banco que encontrámos as soluções para dar a volta a um resultado negativo e evitar perder novamente pontos contra a pior equipa do campeonato. Como bónus, praticamente selámos o regresso do Nacional à segunda liga, o que depois da vergonha de comportamento que tiveram quando fomos afectados pela vaga de COVID-19, passou a ser um dos meus maiores desejos para esta época.
A primeira parte do Benfica só se pode descrever como deplorável. As muitas alterações no onze não podem justificar tamanha pobreza exibicional. Num regresso ao 4-4-2, Gilberto, Nuno Tavares, Chiquinho, Pedrinho e Cervi foram titulares, e a primeira parte foi toda do Nacional. Sofremos um golo ainda cedo (oito minutos) na sequência de um pontapé de canto, depois de uma boa assistência de cabeça do Seferovic para que um adversário aparecesse completamente sozinho à frente da baliza a atirar ao ferro, e um segundo adversário estivesse depois também completamente sozinho para fazer a recarga. O Benfica foi simplesmente inexistente na primeira parte, e quem estivesse a ver o jogo sem saber quais eram as equipas provavelmente pensaria que era a equipa de vermelho quem ocupava o último lugar da tabela. A desvantagem de apenas um golo ao intervalo, aliás, era até algo lisonjeira para o Benfica, porque o Nacional poderia perfeitamente ter marcado mais golos. Perante tamanha vergonha exigia-se uma reacção forte, e foram logo três as alterações ao intervalo: entraram Grimaldo, Pizzi e Everton para os lugares do Cervi, Chiquinho e Pedrinho. Sem deslumbrar, o Benfica melhorou claramente e passou a controlar o jogo, criando ocasiões de golo que quase nem tinham existido na primeira parte. Chegámos ao golo logo aos cinco minutos, numa cavalgada individual do Nuno Tavares na qual flectiu para o meio e depois rematou ainda bem de longe para o golo, com a bola a sofrer ainda um desvio num adversário que impossibilitou a defesa ao guarda-redes. Mas o VAR puxou a jogada até ao seu início e invalidou o golo devido a uma falta (clara, diga-se) do Lucas Veríssimo logo no início da jogada. O mesmo rigor já não conseguiu ter quando aos sessenta e cinco minutos de jogo assistimos a mais um lance para juntar ao compêndio de arbitragem que têm sido esta época os jogos do Benfica. No seguimento de um pontapé de canto, um jogador do Nacional conseguiu jogar a bola não com um, mas com os dois braços, assim como se estivesse quase a jogar vólei. Presumo que tenha sido surpreendido pela curta distância a que a bola foi jogada - afinal de contas, da bandeirola de canto até ao primeiro poste são dois passinhos. Não sei o que foi mais patético: se o facto de quer o árbitro (por sinal, exactamente o mesmo que na primeira volta não assinalou um dos penáltis mais escandalosos desta época quando defrontámos este mesmo Nacional, e que por curiosidade é um dos árbitros que mais penáltis assinalou esta época) quer o VAR não terem assinalado o penálti, ou as tentativas absolutamente esfarrapadas da dupla da SportTV que passou o jogo todo a mostrar alegremente a sua parcialidade anti-Benfica para justificar a decisão. O que é certo é que o jogo não atava nem desatava, o tempo corria para o final e o Benfica arriscava-se a mais uma vergonha esta época. Foi então que do banco vieram as soluções para dar a volta ao texto. De lá vieram primeiro o Darwin e depois o Gonçalo Ramos, que foram os artífices da reviravolta. O empate chegou aos setenta e oito minutos, em mais um lance de 'inspiração' do matador Seferovic. O Everton fez tudo bem pela esquerda, entrou na área, tirou o defesa da jogada e ofereceu um golo feito ao Seferovic, que estava em frente à baliza na linha da pequena área. O Seferovic fez aquilo que se esperava: chutou ao lado da baliza. Mas felizmente um defesa do Nacional (o mesmo que tinha feito o golo deles) na ânsia de cortar o lance ainda tocou na bola e enviou-a para a baliza. Três minutos depois, consumou-se a reviravolta. O Seferovic lançou bem o Darwin pela esquerda, que foi imparável por ali fora e colocou a bola bem no meio da área para que o Gonçalo Ramos mostrasse ao Seferovic como se faz: deixou-se atrasar para fugir à marcação do defesa e de primeira colocou a bola fora do alcance do guarda-redes. Até parece simples. E a quatro minutos do fim, o ponto final no jogo, com os mesmos intervenientes. Primeiro a bola foi recuperada pelo Weigl e o Everton, e este voltou a lançar o Darwin pela esquerda. Mais uma vez uma cavalgada impressionante, sentou o defesa já dentro da área, e quando estava só com o guarda-redes pela frente preferiu fazer o passe atrasado para o meio, onde surgiu mais uma vez o Gonçalo Ramos a finalizar de primeira, com a bola ainda a bater num defesa e o guarda-redes quase a conseguir evitar o golo.
O homem do jogo é evidentemente o Gonçalo Ramos, que em 16 minutos em campo fez dois golos e mostrou a eficácia que tanto tem faltado aos nossos jogadores em tantos jogos. Foi muito bem acompanhado pelo Darwin, que fez duas assistências e que parece estar cada vez mais confiante, embora ainda não o suficiente para tentar finalizar lances quando se apanha na cara do guarda-redes - ao menos hoje quando o fez acabou em golo, provavelmente porque a bola não foi passada ao Seferovic. O Everton deu sequência ao bom final de época que está a fazer e a sua entrada ao intervalo foi também importante para ganharmos este jogo.
O que de positivo retiro deste jogo foi que achei que os jogadores do Benfica na segunda parte mostraram algum brio e vontade de mudar o rumo dos acontecimentos. De negativo, ainda e sempre a falta de qualidade do nosso jogo, com aquela primeira parte a ser uma autêntica vergonha. Negativo também que as segundas escolhas tenham mostrado tanta incapacidade - a equipa que entrou em campo tinha mais do que obrigação de vencer este Nacional sem grandes problemas. E para finalizar, apenas mais uma das muitas confirmações de que nos critérios de arbitragem desta época, em especial no que diz respeito aos penáltis, há um critério para o Benfica e outro para todos os outros. Conseguiu criar-se um clima em que qualquer árbitro se sente condicionado e com receio de tomar uma decisão que seja favorável ao Benfica. E não me parece que esta situação esteja para mudar em breve.
Um empate em casa contra o Porto, que na prática significa o fim de quaisquer aspirações realistas ao segundo lugar e consequente apuramento directo para a Champions da próxima época. Não é que eu seja um fã particular da Champions ou lhe dê especial importância, mas o aspecto financeiro é algo que infelizmente não podemos desprezar. E este jogo, para mim, acabou por ser exemplar no que diz respeito a uma série de aspectos.
Foi exemplar da forma como de há algum tempo a esta parte abordamos os nossos jogos. Incapazes de ser mandões em casa e de determinarmos o rumo de um jogo, qualquer equipa (neste caso foi o Porto, recentemente foram o Gil Vicente ou o Santa Clara) consegue vir a nossa casa e se lhes apetecer, impõem o seu futebol durante largos períodos de tempo. Foi também mais um exemplo daquilo que neste momento já quase consideramos rotina nos nossos jogos: entramos no jogo, estamos relativamente bem (umas vezes muito bem, outras vezes apenas o q.b.) até chegarmos à vantagem e assim que isso é alcançado desligamos um interruptor qualquer, desaparecemos do ataque e entregamos o rumo do jogo ao adversário. Depois é uma questão do adversário conseguir ou não aproveitar essa iniciativa que lhe foi concedida para chegar novamente à igualdade. Se conseguir, normalmente acordamos outra vez e passamos os últimos minutos a tentar voltar à vantagem, mostrando que só não atacámos mais e criámos situações de perigo antes porque simplesmente não estávamos para aí virados. Foi exactamente o que aconteceu, com estes períodos a serem separados pelo golo inaugural do Everton e o do empate do Uribe. Exemplar também este jogo naquilo que têm sido os critérios gerais de arbitragem esta época. De uma forma simples, qualquer situação de dúvida é em geral decidida contra o Benfica. O Benfica não é apenas, incrivelmente, a equipa com menos penáltis a favor na liga (temos menos penáltis do que o último classificado, o Nacional, ou do que o pior ataque do campeonato, o Rio Ave, que apesar de ter quase um terço dos nossos golos marcados consegue ter cinco vezes mais penáltis do que nós). Nós somos também, e por larguíssima margem, a equipa com mais penáltis revertidos pelo VAR - eu nesta altura mesmo nas raras vezes em que é apitado um penálti a nosso favor já nem reajo, e fico apenas à espera da inevitável justificação que o VAR vai arranjar para o reverter. A questão nem é tanto a reversão por si só, porque se esta for justa, nada a apontar. A questão é que esta reversão não acontece nem ao contrário (ou seja, penáltis que de facto existem a nosso favor, o árbitro não marca, e o VAR não o alerta para alterar a decisão e assinalar penálti) nem para outras equipas, quando vemos diversos exemplos de lances que resultam indevidamente em penáltis e que o VAR não reverte. O jogo de ontem continuou a ser exemplar para perceber porque é que o Porto gosta tanto de ter o Artur Soares Dias a arbitrar os seus jogos contra o Benfica, e no aspecto mais geral, exemplar da forma como é permitido ao Porto jogar e ao Benfica não jogar. O Benfica acabou o jogo com mais do dobro dos cartões do Porto (oito contra três), não se percebendo como jogadores como o Sérgio Oliveira e em especial o Pepe (que adicionou a cabeça do Rafa à sua colecção de troféus e ainda conseguiu reclamar do amarelo visto nesse lance) conseguiram acabar o jogo. Exemplar da nossa falta de sorte e de como quando algo começa mal raramente se endireita, com uma bola no ferro e um golo anulado por centímetros no período de descontos. Mas obviamente que não nos podemos esquecer que a sorte procura-se e nós insistimos em não a procurar durante largos períodos dos jogos, ficando em vez disso na expectativa e à espera que essa sorte nos caia no colo.
Enfim, mais um triste episódio numa época que só se pode considerar, em qualquer vertente (financeira, desportiva, estrutural...) absolutamente desastrosa. E que não se pense que as observações feitas acima desculpam por si só este desastre. A culpa não morre solteira: ela é, acima de tudo, nossa. Pelos (muitos) erros internos cometidos e pela sistemática falta de reacção a todos os incessantes ataques externos que prepararam o terreno para culminar no presente status quo. E se não soubermos reconhecer e identificar isso mesmo, estamos condenados a prolongar o desastre.
Uma vitória conquistada de forma madrugadora em Tondela, assente numa entrada fortíssima no jogo que nos deixou logo com uma vantagem relativamente tranquila para depois gerir, ainda que com alguns sobressaltos, o resultado. No final podemos ficar mais uma vez a lamentar a falta de eficácia na concretização, que nos negou uma vitória bem mais folgada.
Tínhamos ausências garantidas por motivos disciplinares para este jogo (Weigl e Otamendi), a que se somaram as indisponibilidades físicas do Darwin e do Taarabt. Assim sendo, o Benfica regressou à defesa a quatro, com o Diogo Gonçalves a ser preterido pelo Gilberto (imagino que o facto de estar à beira do quinto amarelo também terá pesado na decisão. O meio campo ficou assim entregue à dupla Gabriel/Pizzi, com o Waldschmidt a regressar à titularidade e o Everton a manter-se no onze. E foi precisamente o Everton um dos grandes impulsionadores para a entrada fortíssima do Benfica em jogo. Parecia haver pressa em resolver as coisas, eo Tondela só conseguiu dar o primeiro sinal no ataque aos vinte minutos. Por essa altura já o Benfica tinha dois golos de vantagem. O nosso lado esquerdo, com o Everton e o Grimaldo em destaque, revelou-se extremamente activo e foi por aí que começaram a surgir as ocasiões de golo umas a seguir às outras. O Seferovic deu o mote cumprindo aquilo que já começa a ser um hábito: falhar um golo feito. O Grimaldo escapou-se pela esquerda, colocou a bola bem no centro da área para que o suíço, livre de marcação, só tivesse que empurrar a bola para a baliza, e este com um toque destrambelhado de pé direito mandou a bola para a bancada. O Seferovic pode ser o melhor marcador do campeonato, mas os golos cantados que falha em todos os jogos dar-lhe-iam à vontade para já ter chegado aos trinta esta época. Custa-me perceber como é que um jogador profissional de futebol e internacional consegue falhar ocasiões destas sistematicamente. Enfim, logo a seguir foi o Everton quem ficou perto de marcar de cabeça, mas o guarda-redes Trigueira negou-lhe a oportunidade. Mas à terceira foi de vez: o Everton escapou pela esquerda depois de combinar com o Grimaldo, felizmente resistiu à tentação de colocar a bola no meio para o Seferovic, e em vez disso fez a bola cruzar toda a área para a zona do segundo poste, onde surgiu o Pizzi a rematar cruzado para o golo. Estavam decorridos apenas onze minutos de jogo, e o Benfica já tinha feito mais do que o suficiente para justificar a vantagem. E felizmente não se ficou por aí, porque a pressão continuou incessante, e o Everton e o Waldschmidt tiveram situações de perigo que indicavam que o segundo golo estava perto. Isso aconteceu pelos pés do Everton, numa jogada em que o Benfica conseguiu fugir de forma perfeita à tentativa de pressão alta do Tondela. Com a equipa a sair a jogar, o Seferovic conseguiu colocar a bola no círculo central, onde o Pizzi tinha tempo e espaço para progredir. A bola seguiu para o Everton na esquerda, que perto da área flectiu para o meio e marcou com um belo remate cruzado e colocado. O tipo de golos que nos habituámos a vê-lo fazer no Grêmio, e que aqui ainda pouco mostrou. Só depois disso, conforme referido, o Tondela deu o primeiro sinal no ataque, mas o Helton saiu rápido aos pés do González e resolveu a situação. Aliás, o Tondela pouco mais fez do que isso na primeira parte. A seguir ao segundo golo o Benfica abrandou um pouco o ritmo diabólico dos primeiros vinte minutos, mas nunca deixou de ter o controlo quase absoluto do jogo.
Nada fazia por isso prever aquilo que foi o início da segunda parte. De alguma maneira o Benfica pareceu perder esse mesmo controlo, e o Tondela regressou bastante forte e a ameaçar reduzir a desvantagem - o que, a ter acontecido, provavelmente mudaria o rumo do jogo. No primeiro quarto de hora o Tondela criou três ocasiões de muito perigo, todas elas através do González, que mostrou porque motivo é neste momento o terceiro melhor marcador da Liga, podendo o Benfica agradecer ao Helton o facto do resultado se ter mantido como estava. Logo aos quarto minutos, uma saída de bola pouco eficaz do Benfica resultou numa perda de bola comprometedora do Lucas Veríssimo, ainda dentro da nossa área. O Helton resolveu a situação com uma defesa muito boa ao remate de ângulo apertado do espanhol. A seguir, na sequência de uma jogada de contra-ataque o espanhol surgiu na cara do nosso guarda-redes, mas o remate fez a bola passar rente à base do poste quando o Helton já nada podia fazer. Depois, mais uma vez o González a escapar-se pela direita e a rematar cruzado, para mais uma boa defesa do Helton, que com uma palmada na bola evitou o pior. A situação não podia continuar assim, pois a qualquer momento o Tondela poderia reduzir colocar-nos numa situação mais complicada. Houve mexidas na equipa, com as entradas do Chiquinho e do Pedrinho para os lugares do Waldschmidt e do Rafa, e o Benfica acabou por retomar o controlo da partida. E com isso voltaram a surgir as situações de perigo para o nosso lado, enquanto que o Tondela desapareceu do ataque. Contei quase uma mão cheia de ocasiões de golo para o Benfica, que poderiam ter colocado um ponto final definitivo na partida. A primeira, sem surpresas, teve a marca do Seferovic. O Pizzi colocou-o na cara do guarda-redes, e o Seferovic permitiu a defesa. Depois foi o próprio Pizzi a falhar. O Chiquinho ganhou pela direita e cruzou para a área, com o Everton a fazer a simulação e a deixar a bola passar e o Pizzi, à vontade, tentou colocar tanto o remate ao ângulo que a bola saiu ligeiramente por cima. A seguir, um livre directo do Grimaldo levou a bola a sair muito rente ao poste. Para acabar, o Pizzi deixou o recém-entrado Cervi em frente ao guarda-redes e este rematou-lhe à figura. Poderia ter finalizado bastante melhor ou mesmo enviado a bola para o segundo poste, onde estavam o Pizzi e o Seferovic à espera dela (o Seferovic muito provavelmente enviá-la-ia na direcção da bandeirola de canto). Uma pequena menção final para a estreia do Morato na Liga. Foi apenas um minuto, mas uma estreia é sempre de assinalar, e acredito que ele possa vir a ser um jogador importante no futuro.
O Everton fez um dos melhores jogos desde que chegou ao Benfica, e foi um dos principais responsáveis pela boa entrada do Benfica no jogo. Um golo e uma assistência, os mesmos números registados pelo Pizzi, que foi outro dos destaques. Esteve muito activo e envolvido em quase todas as jogadas de ataque do Benfica. O terceiro destaque vai para o Helton, que respondeu sempre muito bem quando foi chamado e foi o principal responsável por manter a baliza a zeros. O Seferovic voltou a mostrar uma qualidade de finalização inadmissível num ponta-de-lança do Benfica. Se acabar como o melhor marcador deste campeonato, acho que isso diz mais sobre a falta de qualidade dos adversários do que sobre a sua qualidade. O que o redimiu foi ter tido uma participação positiva em muitas das nossas jogadas de ataque, mas perdidas como as que ele tem tido custam pontos.
Por cada jogo que passa o segundo lugar fica mais complicado de atingir, porque não estamos dependentes só de nós. Neste momento só podemos queixar-nos de nós próprios pela falta de comparência no jogo com o Gil Vicente, que impediu uma sequência perfeita de vitórias nesta fase final da época e nos deixou nesta situação. No próximo jogo decidir-se-á muito: qualquer resultado que não a vitória creio que deixará o segundo lugar irremediavelmente fora do nosso alcance.
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