Foi uma grande noite europeia na Luz. Uma exibição brilhante do Benfica, em especial na segunda parte, permitiu ao Benfica vencer de forma claríssima o Barcelona. Face ao momento actual das duas equipas, creio que eram legítimas as esperanças num bom resultado, mas duvido que muitos de nós pensassem ser possível uma vitória por três golos sem resposta.
Creio que o onze base do Benfica está encontrado, e por isso a equipa inicial não deverá ter surpreendido muito. Com o Diogo Gonçalves lesionado, há sempre a dúvida sobre quem ocupará o lado direito, e eu pensei que neste jogo esse papel seria entregue ao Gilberto, que tem jogado frequentemente nos confrontos europeus e dado boa conta do recado, mas um pouco inesperadamente a aposta foi no Lázaro. A nossa disposição táctica foi também na linha daquilo que temos vindo a apresentar nos últimos jogos, com o Rafa mais uma vez a actuar como um falso interior, a jogar entre linhas muitas vezes a par do João Mário, mas com bastante liberdade para se soltar nas alas. O início de jogo foi de sonho para o Benfica, pois decorridos dois minutos já o Darwin fazia explodir o vulcão da Luz - estar no estádio a assistir a um jogo destes, com este ambiente, faz-nos recordar a força que o Benfica perdeu com a pandemia, enquanto não pôde contar com o apoio dos seus adeptos nas bancada. No golo, o Weigl colocou a bola em profundidade na esquerda, onde o Darwin a recolheu, entrou na área pela lateral e já perto da linha de fundo, tendo depois flectido para dentro, tirando o defesa da frente para depois rematar rasteiro e puxado ao poste mais próximo. Logo a seguir foi o Yaremchuk quem se libertou novamente descaído para a esquerda, mas a tentativa de colocar a bola no poste mais distante saiu rasteira e foi fácil para o Ter Stegen. Mas depois o Barcelona conseguiu reagir e foi empurrando o Benfica para trás. Estávamos a revelar alguma dificuldade para controlar o meio campo do Barcelona, que aproveitava a superioridade numérica para trocar a bola e a mobilidade do Pedri e o De Jong para nos causar dificuldades. No banco o JJ bem gritava com o Rafa, que me pareceu que ele quereria que recuasse mais no terreno para contrariar este desequilíbrio, mas não estávamos a consegui-lo. O Barcelona criou algumas ocasiões de bastante perigo, umas delas que foram anuladas por posição irregular (ou seriam eventualmente, caso acabasse em golo) e outras por intervenções fantásticas dos nossos defesas centrais - o corte do Lucas Veríssimo é uma coisa extraordinária. Por volta da meia hora de jogo, acho que foi claro que o Barcelona não ficou reduzido a dez apenas porque era o Barcelona e o jogador em questão era o Piqué, porque já com um amarelo ele virou o Rafa. Até o Koeman no banco percebeu o que se passava e substituiu-o imediatamente. Isto, na minha opinião, foi efectivamente o fim do Barcelona no jogo. Porque a opção do Koeman foi recuar o Frenkie De Jong para central, e o meio campo do Barcelona não voltou a ser o mesmo, porque o Pedri deixou de ter acompanhamento. Com o Barcelona a ter mais bola mas já sem ser tão perigoso, pouco antes do intervalo vimos o Lázaro a ter que sair por lesão, sendo substituído pelo Gilberto, mas esta era uma noite feliz e esta alteração acabou por melhorar ainda mais as coisas para nós, porque o Gilberto entrou muito bem no jogo.
A segunda parte nada teve a ver com a primeira. De uma forma simples, ela foi toda do Benfica. Em primeiro lugar, o Gilberto na direita conseguiu travar de forma muito mais eficaz as constantes tentativas do Memphis de entrar por aquele lado, levando-o até a procurar outros terrenos. Depois, a solução encontrada para equilibrar o meio campo foi um aumento da agressividade dos nossos centrais. Vimos frequentemente um deles a sair da linha para cair imediatamente em cima do médio que recebia a bola e pressioná-lo, de forma a que não se pudesse virar e jogar à vontade. Cheguei mesmo a ver várias vezes qualquer um dos três centrais a fazer isto sobre a linha do meio campo. Depois, as sucessivas recuperações de bola que o Benfica conseguia permitiam-lhe sair em transições rápidas, com especial destaque para o Darwin e o Rafa, para os quais o Barcelona não conseguia encontrar soluções, mostrando uma dificuldade enorme para controlar a profundidade. Resumindo tudo isto, a segunda parte só deu Benfica. O segundo golo podia aliás ter surgido bem cedo na segunda parte, quando o Darwin conseguiu antecipar-se a uma saída disparatada do Ter Stegen a meio do meio campo, e junto à linha lateral do lado direito atirou a bola para a baliza, com esta a ir embater no poste e a sair. O Barcelona apenas criou uma situação de perigo durante toda a segunda parte, na qual o Grimaldo conseguiu interceptar uma tentativa de remate do Sergi Roberto junto ao poste esquerdo. O Vlachodimos aliás acabou por não ter que fazer uma defesa durante todo o jogo, porque o Barcelona acabou com zero remates à baliza. Aos sessenta e oito minutos, ainda a perder apenas por um golo sem saber muito bem como, o Koeman voltou a mexer mal na equipa, fez três substituições de uma assentada que incluíram as saídas do Pedri e do Busquets, e perdeu o meio campo de vez. Ainda por cima, um minuto depois o Benfica chegou mesmo ao segundo golo. Isto numa altura em que eu até amaldiçoava o facto do Benfica ter desperdiçado uma situação em que de repente vi cinco jogadores do Benfica dentro da área quase sem oposição. A bola seguiu para a esquerda, à entrada da área o João Mário tabelou com o Yaremchuk e isolou-se por esse lado e tentou finalizar (quando tinha, surpreendentemente, o Gilberto em zona de finalização). O Ter Stegen conseguiu defender, mas a bola sobrou para o centro da área onde surgiu o Rafa a finalizar de trivela. E nesse momento acho que percebemos todos que não só o Benfica tinha o jogo ganho, como que muito provavelmente o resultado não ficaria por ali. É que logo a seguir o Yaremchuk atirou para fora quando estava em óptima posição, isto depois de mais uma transição em que os três da frente apareceram na área em boa posição. A quinze minutos do final trocámos o Grimaldo e o Yaremchuk pelo André Almeida e o Taarabt, e um par de minutos depois apareceu mais uma vez o Gilberto na posição de ponta-de-lança para cabecear um cruzamento do André Almeida, o que resultou num penálti claro por corte com a mão do Dest (assinalado pelo VAR). O Darwin concretizou com classe e nos minutos finais deu para tudo. Deu para as substituições do Darwin e do Rafa para os merecidíssimos aplausos, deu para o público gritar 'olés' (coisa que eu não aprecio nada e que acho uma falta de classe) e também para gritar pelo Messi, e deu para o Barcelona ficar finalmente reduzido a dez, por expulsão do Eric García.
É difícil escolher o melhor em campo. Obviamente que o Darwin é um grande destaque pelos dois golos que fez, mas também pelas inúmeras dores de cabeça que causou à defesa do Barcelona. Mas para mim o melhor em campo foi mesmo o Rafa. Eu imagino que nesta fase já pareça um bocado repetitivo por estar constantemente a destacar o Rafa em todos os jogos, mas se eu já era admirador das características do Rafa, desde que ele assumiu estas novas funções mais interiores acho que tem sido absolutamente decisivo, e voltou a sê-lo hoje. Acho que o Barcelona nunca conseguiu encontrar solução para o parar, marcou um golo, causou inúmeros desequilíbrios e ainda conseguiu ter um compromisso defensivo exemplar, sendo sempre um dos primeiros (juntamente com os colegas do ataque) a pressionar e a tentar a recuperação. Jogo enorme também do Weigl (outro dos meus preferidos) que deve ter sido o jogador que mais correu e é um prazer ver a forma como lê o jogo e instintivamente consegue fazer as compensações defensivas quase de olhos fechados, e do João Mário, importantíssimo na ligação entre sectores. Finalmente, os nossos centrais foram quase perfeitos. Quem acabou por ser se calhar o elo mais fraco foi o Grimaldo, que esteve bastante apagado frente ao clube onde se formou.
Uma vitória importantíssima para prolongar e reforçar o óptimo momento que atravessamos. A nossa equipa parece estar com níveis de confiança altíssimos e cada vez mais entrosada - acho que ainda pode render mais e melhor. O Barcelona pode estar num péssimo momento, mas repito o que disse: o Barcelona não é uma equipa qualquer e vencer por três golos sem resposta é sempre muito motivante. Nesta competição seguem-se dois jogos contra o Bayern, que será um nível completamente diferente. Ainda há muito por jogar, mas é sempre bom colocar logo pontos no bolso na fase inicial.
Uma vitória contra o Vitória na cidade-berço permite-nos continuar embalados no topo da tabela e manter o registo perfeito na Liga. Apesar da relativa tranquilidade com que os três pontos foram obtidos, confesso que deu para ficar alguma dose de irritação por ter a sensação que poderíamos ter acabado este jogo com uma goleada, caso os nossos jogadores tivessem sido capazes de ter maior frieza na altura da decisão.
Houve apenas uma alteração, e forçada, no onze: Lázaro no lugar do Diogo Gonçalves no lado direito. Depois das vitórias dos principais perseguidores na véspera, entrámos em campo pressionados para manter a nossa almofada pontual confortável. E entrámos em campo decididos a garantir esses três pontos, porque a exibição do Benfica na primeira parte e a superioridade exibida em campo foram incontestáveis. O Vitória, apesar de não ser assim no papel, em campo apresentou-se com uma linha de cinco atrás - o Semedo juntava-se aos centrais - com uma linha média de quatro a jogar muito junta à defesa. Mas mesmo assim o Benfica conseguiu sempre encontrar espaços entre linhas, muito por culpa da constante mobilidade do Rafa nesse espaço. Já se tinha visto isso contra o Boavista, e neste jogo foi ainda mais claro o posicionamento dele como médio interior, actuando nas costas dos dois avançados e muitas vezes a par do João Mário. No fundo, a disposição táctica foi mais próxima de um 3-5-2. Onde pecámos mais, foi na decisão. Quando a bola chegava às zonas mais adiantadas, muitas vezes os nossos jogadores não tomaram as melhores decisões e perdemos assim a oportunidade de criar situações claras de finalização. Chegámos com dois golos de vantagem ao intervalo, mas acho que face ao que assistimos quase todos sentimos que o jogo já poderia estar mais do que resolvido nessa altura. O primeiro golo chegou à meia hora de jogo, com a assistência a surgir de um jogador inesperado: o Vertonghen subiu no terreno e com um passe metido no espaço entre o lateral direito e o central desse lado, deixou o Darwin e o Yaremchuk isolados. O ucraniano depois limitou-se a picar a bola com classe sobre o guarda-redes quando este lhe saiu ao caminho. O segundo golo apareceu a quatro minutos do intervalo, pelo mesmo autor. Foi ele quem pressionou o central do Vitória, causando a perda da bola. O Grimaldo soltou-a de imediato para o Rafa, que depois isolou o Yaremchuk. O defesa do Vitória ainda conseguiu evitar uma tentativa de finalização semelhante à do primeiro golo, mas a bola continuou na posse do ucraniano, que de ângulo quase fechado beneficiou da tentativa de corte de outro defesa sobre a linha de golo para fazer a bola entrar. Nesta fase o Vitória estava completamente perdido em campo, e nos poucos minutos até ao intervalo podíamos ter feito mais dois golos. Primeiro o Yaremchuk, novamente isolado pelo Rafa, que controlou mal a bola e depois finalizou mal. A seguir foi o Darwin quem se isolou mas a tentativa de chapéu ao guarda-redes saiu demasiado por cima.
Era improvável que o Vitória não tentasse mudar alguma coisa para a segunda parte, porque se tudo continuasse igual à primeira um massacre era quase inevitável. Entraram por isso fortes e tiveram uma grande ocasião de golo logo nos instantes iniciais, quando o Marcus Edwards apareceu solto no meio da área para finalizar um cruzamento da direita e atirou para a bancada. Pouco depois o mesmo Edwards isolou-se e foi desarmado pelo Vertonghen quando já tinha ultrapassado o Vlachodimos, mas creio que o lance foi invalidado por fora de jogo. O jogo estava bastante partido nesta fase, o que o tornava algo enervante, pois com dois golos de vantagem eu desejava que o Benfica fosse capaz de congelar mais a bola e evitar este tipo de jogo - a possibilidade do Vitória de repente marcar um golo e deixar tudo em aberto tinha sempre que ser considerada. Ainda mais enervante eram as sucessivas saídas falhadas do Benfica para o ataque sempre que recuperava a bola. O Vitória estava muito exposto atrás, e de cada vez que o Benfica recuperava a bola e fazia bem a transição criava situações em que colocava os nossos jogadores em igualdade numérica ou até mesmo superioridade face aos defensores adversários. Por isso ficava-se com a sensação de que poderíamos marcar um golo em cada ataque que fazíamos, mas depois chegávamos à fase da decisão e ou o passe não saía, ou era mal feito, ou saía para o jogador errado. O caso mais gritante foi uma situação em que o Darwin e o Rafa fugiram pela esquerda, levando com eles dois defesas e deixando o Yaremchuk completamente sozinho a correr pelo meio. Bastaria colocar a bola para o meio e o ucraniano ficaria completamente isolado. Pois o Darwin conseguiu correr mais de metade do campo junto à linha sem sequer levantar a cabeça, acabando por perder a bola e a jogada. Se calhar foi 'vingança' por um lance na primeira parte no qual o Yaremchuk preferiu rematar à baliza quando estava descaído sobre a direita e tinha o Darwin completamente sozinho no meio. O que é certo é que o lance foi de tal forma gritante que levou o nosso treinador a descompor o Darwin, e pensou-se que seria ele a sair de imediato (até o Darwin pensou que iria sair). No entanto, foi o Yaremchuk a sair (entrou o Pizzi), o que a frio até poderá ter sido uma excelente decisão por parte do JJ, já que assim matou à nascença qualquer tipo de caso que quisessem criar. Finalmente aos setenta e três minutos lá fizemos uma transição bem feita com princípio, meio e fim, e obviamente com o Rafa no papel principal. Recolheu sobre a esquerda a bola que tinha sido cortada pelo Vertonghen, progrediu até perto da área para a zona frontal, e soltou-a para o João Mário, que tinha acompanhado bem o lance (com o Darwin a soltar-se pela esquerda). O remate à entrada da área ainda desviou num defesa mas entrou mesmo, e finalmente pudemos descansar mais um pouco - o que incluiu retirar os dois médios centro do campo. Cinco minutos depois do nosso terceiro golo, o Lucas Veríssimo cometeu um penálti disparatado e permitiu ao Vitória reduzir, o que de alguma forma os fez acreditar que seria possível a recuperação, mas apesar de muita correria e gritaria das bancadas, a verdade é que não conseguiram incomodar grandemente.
O Yaremchuk é o homem do jogo pelos dois golos, e poderia até ter feito mais, pois teve ocasiões para isso. A dupla com o Darwin parece causar bastantes problemas aos adversários, e quando estiverem mais e melhor coordenados poderá ser ainda melhor. O outro homem em destaque foi o Rafa. Duas assistências e mais outros passes de qualidade para os colegas. Está constantemente em movimento entre linhas e a oferecer soluções de passe para os colegas, tendo depois a capacidade para se voltar rapidamente para a baliza e servir a dupla de ataque. É neste momento um dos jogadores mais importantes no bom momento do Benfica. A dupla do meio campo entende-se na perfeição, e a presença mais constante do Rafa no meio também os beneficia. O Darwin fez um jogo perfeitamente disparatado.
Segue-se o Barcelona para a Champions. Digo desde já que não concordo com o cenário que andam a tentar criar: hoje já assisti a 'experts' a dizer que o Benfica vai defrontar o 'pior Barcelona de sempre' e que tem a obrigação de ganhar. Isto serve para dois cenários: se o Benfica ganhar, então não é nada de especial porque é 'o pior Barcelona de sempre'. Se não ganhar, então é escandaloso por ser 'o pior Barcelona de sempre' e dá azo a tentar criar uma crise qualquer, já que até agora isso está complicado internamente. A verdade é que o Barcelona é sempre o Barcelona, mesmo sem o Messi, e é um clube com uma experiência enorme na Champions. Três ou quatro jogadores do plantel do Barcelona pagam todo o nosso plantel. Se acho que podemos ganhar e que devemos jogar para ganhar, acho. Mas a obrigação de ganhar? Nem por sombras.
E vão seis seguidas. O bom início de época do Benfica continua apesar de toda a instabilidade criada em redor do clube. A vitória frente ao Boavista acabou por ser tranquila, apesar da boa réplica oferecida por um adversário que nunca baixou os braços, mesmo quando a superioridade do Benfica no jogo parecia ser difícil de contrariar.
A maior parte do onze mais forte do Benfica já é relativamente fácil de adivinhar, restando sempre alguma dúvida em relação aos jogadores que alinharão no sector ofensivo. Ontem foram o Rafa, o Yaremchuk e o Darwin, com este último a cair diversas vezes sobre a esquerda e o Yaremchuk a vir mais para a direita. Mas em posse de bola vi muitas vezes o Benfica a jogar com um triângulo no meio campo, onde o Weigl era o vértice mais recuado e o Rafa, que jogou com bastante liberdade, fazia de interior esquerdo, com o João Mário a fazer o mesmo mais sobre a direita. Os laterais projectavam-se no ataque e os dois pontas-de-lança ficavam em zona de finalização, o que permitia maior presença na área para finalizar - a estes juntava-se muitas vezes um ou mesmo os dois 'interiores'. O Benfica iniciou o jogo naturalmente muito por cima, praticamente não permitindo ao Boavista ter bola. As ocasiões de golo não eram muitas, mas quando marcámos o primeiro ainda relativamente cedo (aos treze minutos) o Boavista ainda mal tinha entrado no nosso meio campo e antes disso já o Darwin tinha desperdiçado uma flagrante ocasião de golo, quando apareceu solto na área para finalizar um passe da direita do Yaremchuk. No golo, o Darwin estava mais uma vez solto de marcação bem no meio para cabecear o cruzamento perfeito do Diogo Gonçalves, sendo de destacar que também o João Mário estava naquela zona a criar uma situação de superioridade numérica sobre o defesa central do Boavista. Já sabemos que nestas coisas nunca se pode facilitar e bastou o Benfica relaxar um pouco por volta da meia hora para sofrer as consequências. No espaço de um minuto o Boavista, que até aí não tinha feito um remate, teve um primeiro remate de fora pelo Sauer, ao qual o Vlachodimos se opôs, e logo a seguir um passe mais arriscado do Otamendi para o Weigl permitiu ao Boavista pressionar e desarmar o alemão logo à entrada da nossa área, para depois o mesmo Sauer desferir um remate de primeira que não deu qualquer hipótese ao nosso guarda-redes. Foi um grande golo mesmo. Mas a reacção do público foi óptima no apoio à equipa e a reacção da equipa foi ainda melhor. No minuto seguinte beneficiámos de um livre sobre a direita e o João Mário cruzou largo para a zona do segundo poste, onde o Otamendi ganhou nas alturas e devolveu a bola para o primeiro poste e permitiu o cabeceamento precisamente do Weigl para voltar a colocar-nos em vantagem. De uma assentada a equipa recuperava a relativa tranquilidade da vantagem no marcador e o Weigl redimia-se do erro cometido instantes antes. Depois disso não voltámos a permitir qualquer aproximação do Boavista à nossa área até ao intervalo.
Durante o descanso fizemos uma alteração forçada, tendo entrado o Lázaro para o lugar do lesionado Diogo Gonçalves. O Boavista veio para a segunda parte mais agressivo e a tentar pressionar mais alto, pelo que apesar do Benfica estar por cima no jogo nunca deu para me sentir completamente confortável com o resultado, isto apesar de a nossa defesa ter conseguido quase sempre manter o perigo longe da nossa baliza - até porque a partir de uma determinada altura o nosso velho 'amigo' Hugo Miguel começou a querer ganhar mais protagonismo e a enervar quer o público, quer a nossa equipa, permitindo o endurecer do jogo por parte do Boavista (o ponta-de-lança Musa, por exemplo, andou por ali alegremente a distribuir pancada até que finalmente viu um amarelo a quinze minutos do final). Era fundamental marcarmos um terceiro golo de forma a colocarmo-nos a salvo de qualquer contratempo. O Yaremchuk tinha dado o primeiro aviso, obrigando o guarda-redes do Boavista a uma defesa mais apertada, e pouco depois foi o Lucas Veríssimo a cabecear por cima após um cruzamento do Grimaldo, quando parecia ter tudo para marcar. O golo surgiu mesmo a fim de um quarto de hora jogado, e num lance aparentemente simples. O Benfica aliás tentou por diversas vezes este tipo de lances, em que um dos centrais colocava a bola longa nas costas da defesa adversária, sobre uma das faixas laterais. O Yaremchuk foi um dos jogadores que explorou estes lances sobre a direita, mas desta vez foi o Rafa quem aproveitou o grande passe do Lucas Veríssimo. O controlo da bola foi perfeito, e depois foi só entrar na área e soltá-la para o lado oposto, onde o Darwin apareceu à vontade para a empurrar para a baliza. O jogo ficou então muito bem encaminhado, e até poderíamos ter construído um resultado ainda mais confortável: o Darwin perdeu uma boa ocasião para o hat trick, quando se isolou pela esquerda depois de um bom passe do Grimaldo mas permitiu a defesa ao guarda-redes, e pouco depois foi o Everton, que tinha entrado para o lugar do Yaremchuk, a ver o mesmo Braccali negar-lhe o golo depois de um bom cabeceamento. Mas parece-me que um quarto golo talvez já fosse um castigo demasiado pesado para aquilo que o Boavista fez, sobretudo durante a segunda parte. O Benfica foi mais forte, mas o Boavista deixou uma boa imagem e fiquei especialmente impressionado com o médio Makouta.
O Darwin acaba por ser o destaque pelos dois golos marcados, mas poderia ter marcado outros tantos já que teve ocasiões para isso. Apesar do erro que resultou no golo do Boavista, ainda assim achei que o Weigl foi um dos melhores, tal como o Otamendi (que também teve algumas responsabilidades nesse lance). O Lucas Veríssimo voltou a exibir-se num nível muito alto e o Rafa foi mais uma vez decisivo - é surpreendente pensarmos que só à sexta jornada foi titular pela primeira vez, mas mesmo saltando do banco tem sido sempre um jogador importantíssimo neste bom arranque.
Com a sexta vitória noutros tantos jogos ficámos ainda mais confortáveis no topo da tabela, já que o segundo classificado (Estoril) perdeu. A almofada pontual é agora de quatro pontos, o que significa que aconteça o que acontecer, continuaremos isolados no primeiro lugar no final da próxima jornada. Teremos uma deslocação difícil a Guimarães, e será fundamental continuarmos no registo de competência que temos tido até agora. Por cada semana que passamos no topo da tabela aumenta a nossa confiança e o nervosismo dos nossos adversários.
Um jogo frustrante em que ficamos com a sensação que estaria perfeitamente ao nosso alcance ganhá-lo, e no qual acabámos por não ganhar para o susto pois poderíamos tê-lo perdido mesmo a acabar, comprovando mais uma vez o velho chavão de que quem não mata, morre.
Optámos pelo esquema de três centrais de início, o que nesta fase já não é surpresa nenhuma. Com o Lucas Veríssimo suspenso, avançou o Morato para a titularidade. Na direita jogou o Gilberto, e na frente jogaram o Everton e o Yaremchuk, para além do inevitável Rafa. Aquilo que acabou por ser o jogo quase todo ficou bem visível logo nos minutos iniciais. O Dínamo parecia não ter problemas em aguardar pelo Benfica com todos os seus jogadores fechados atrás, tentando depois sair no contra-ataque sempre que possível, o que nem foram tantas vezes assim. Acho que nos primeiros cinco minutos nem devem ter passado do meio campo e só tocaram na bola para a chutar para onde estavam virados. Já o Benfica, mostrou as habituais dificuldades para dar a volta a uma equipa acantonada na defesa. A posse de bola foi avassaladora (a chegar perto dos 80%) mas era sobretudo circulação de bola de um lado para o outro sem conseguirmos colocar jogadores em situação de finalização. Sem surpresas, era quase sempre o Rafa quem conseguia criar acelerações e situações de desequilíbrio, mas demorou muito tempo até conseguirmos obrigar o guarda-redes adversário a intervir. Pelo contrário, o Vlachodimos teve que se mostrar atento logo na fase inicial, quando um mau passe do Otamendi resultou num livre à entrada da área que criou muito perigo. As melhores situações do Benfica tiveram a intervenção do Weigl: uma recuperação de bola muito alta colocou o Everton em situação perigosa dentro da área, mas o brasileiro embrulhou-se com os defesas e não conseguiu finalizar (num lance em que se calhar até poderia ter sido assinalado penálti); e nova recuperação de bola no meio campo adversário com um passe para o Yaremchuck rematar forte à entrada da área, só que à figura do guarda-redes. O Rafa também surgiu em boa posição depois de um livre estudado, mas a tentativa de chapéu saiu demasiado por cima.
Na segunda parte manteve-se o mesmo cenário. O Benfica continuou sempre por cima e até criou a melhor oportunidade em todo o jogo para chegar à vantagem. Depois de uma insistência do Rafa, que nunca desistiu do lance, a bola sobrou dentro da área para o Yaremchuk, que rematou quase à queima-roupa para uma defesa do guarda-redes ucraniano com o pé, puramente por instinto. Pouco depois o nosso treinador mexeu na equipa, fazendo entrar o Darwin, o Lázaro e o Radonjic para os lugares do Yaremchuk, Everton e Gilberto, mas as alterações não trouxeram nada de novo. Aliás, até me pareceu que perdemos alguma coisa com elas - nem tanto por causa dos jogadores trocados, dado que nenhum dos jogadores que saiu estava a ter um rendimento relevante, mas o que é certo é que depois das alterações o Benfica não pareceu capaz de manter o adversário tão encostado à sua área, e ainda criámos menos ocasiões perigosas. O Rafa era o único que continuava a causar maiores dores de cabeça à defesa ucraniana, mas perto do fim arrumaram com ele num lance que me custa a compreender como é que o VAR não indicou que deveria ter sido mostrado um cartão vermelho. Para o final estava reservado o golpe de teatro. O Dínamo, que tinha sido inofensivo durante quase toda a segunda parte - o único lance de perigo tinha sido uma fuga pela esquerda da nossa defesa que resultou num cruzamento que o Otamendi apenas conseguiu desviar ligeiramente, mas o suficiente para atrapalhar a finalização do adversário no segundo poste - conseguiu nos três minutos de compensação ser mais perigoso do que as duas equipas juntas na soma dos noventa minutos anteriores. Primeiro, um remate de fora da área levou a bola a embater no ferro da baliza, na recarga ao mesmo o Vlachodimos fez uma defesa quase impossível, e depois o Otamendi na tentativa de corte ainda fez a bola bater no poste antes de sair. Na sequência do pontapé de canto que se seguiu, novamente o Vlachodimos a ter que se aplicar para evitar o golo depois de um cabeceamento ao segundo poste. E com o Dínamo a não sair da nossa área, mesmo a acabar um cruzamento largo desde a direita resultou num golo clássico, em que aparece um adversário solto do outro lado para finalizar. Parecia estar tudo perdido, mas o VAR desta vez interveio e assinalou a posição irregular do jogador que fez o cruzamento na altura em que recebeu a bola.
Os melhores do Benfica foram, para mim, o Vlachodimos, que não teve muito trabalho mas as três intervenções que teve foram todas de alto nível e decisivas, o Weigl, que foi o patrão do meio campo, e o Rafa, que é sempre o jogador que acaba por estar envolvido na maior parte das situações de perigo que criamos, porque é aquele que traz mais imprevisibilidade ao ataque e causa desequilíbrios com as suas acelerações. Só foi pena ter falhado o controlo da bola num passe longo que o poderia ter deixado isolado. Não consigo compreender o motivo pelo qual foi o Otamendi o eleito como o melhor em campo no final.
Um ponto é melhor do que nada e normalmente um empate fora é considerado um resultado positivo na Champions. É positivo não termos sofrido golos mais uma vez, mas depois de termos assistido ao jogo é impossível não sentir alguma frustração, porque o Dínamo pareceu ser uma equipa perfeitamente ao nosso alcance. À partida a responsabilidade pelo apuramento neste grupo recai sobre o Bayern e o Barcelona, mas somarmos os seis pontos nos dois jogos com o Dínamo, para além de praticamente nos garantir o terceiro lugar, também poderia deixar alguma ambição para aproveitar alguma eventual instabilidade pós-Messi no Barcelona.
Foi um festival de eficácia, e graças a isso o Benfica goleou nos Açores e viu a sua vantagem para os mais directos rivais aumentar em dois pontos, ficando mais confortável no topo da tabela.
Os compromissos das selecções forçaram algumas alterações na equipa, com o Lucas Veríssimo a ter que fazer um contra-relógio para chegar a tempo de jogar - como estará impedido de jogar em Kiev para a Champions, foi submetido a este esforço. Já o Otamendi, ficou em Lisboa, avançando o Morato para a titularidade. Nota ainda para o regresso do Diogo Gonçalves ao onze, e para a estreia a titular do Rodrigo Pinho, a maior surpresa na constituição inicial da equipa. Em termos tácticos houve alguma inovação, já que em vez de um mais habitual tridente ofensivo pareceu-me que jogámos com uma dupla de pontas-de-lança e com o Everton mais solto atrás deles, com a missão de jogar entre linhas. Sobre a primeira parte, infelizmente pouco há de positivo a dizer. Tivemos uma enorme superioridade na posse de bola, mas fomos completamente inofensivos no ataque, incapazes de encontrar soluções de finalização. O Santa Clara, com a pouca bola que tinha, conseguia ser mais perigoso em contra-ataques através de futebol directo. Foi com alguma felicidade que não nos vimos atrás no marcador, depois de vermos uma bola embater na barra no seguimento de um livre directo mesmo à entrada da área, que resultou de um corte muito perigoso do Vlachodimos quando um adversário se ia isolar. Só perto do intervalo é que o Grimaldo descobriu o Rodrigo Pinho com um passe para as costas da defesa e este, descaído sobre a esquerda, entrou na área e bateu o guarda-redes com um remate forte que entrou junto ao poste mais próximo. Uma vantagem feliz e que o Benfica pouco justificava nessa altura.
A segunda parte foi uma história completamente diferente, que começou a ser escrita com a entrada do Rafa precisamente para o lugar do jogador que tinha desfeito o nulo. Já o escrevi antes, acho que o Rafa é o maior desequilibrador que o Benfica tem no plantel. Quando não há espaços, ele inventa-os, e a mobilidade dele consegue criar o caos nas defesas adversárias. Depois, a incrível eficácia do Benfica neste jogo continuou a mostrar-se - uma excepção, já que normalmente estamos mais habituados ao desperdício constante. Por isso a história da segunda parte pode escrever-se com os golos que o Benfica foi marcando, que lhe permitiram controlar o jogo completamente à vontade. Aos cinquenta e quatro minutos, passe do Everton a solicitar a corrida do Darwin, que se escapou à defesa e perante o guarda-redes finalizou facilmente. Dois minutos depois, o Rafa recebeu a bola vinda do Weigl, na rotação libertou-se da marcação e ainda de fora da área desferiu um remate forte e colocadíssimo, que fez a bola entrar junto ao poste com o guarda-redes pregado ao relvado. Aos sessenta e dois, o Darwin libertou-se sobre a esquerda e fez um remate meio enrolado que conseguiu tabelar em dois defesas e assim trair o guarda-redes. E finalmente aos sessenta e oito, com o Santa Clara já derrotado e quando já tínhamos trocado o João Mário e o Darwin pelo Gedson e o Yaremchuk, fechámos o resultado. Passe do Gedson a desmarcar o Grimaldo na esquerda e cruzamento tenso e perfeitamente medido para que o Yaremchuk se antecipasse ao defesa e ao guarda-redes e empurrasse para a baliza. Depois foi só mesmo gerir até final e deu para assistirmos à estreia do Lázaro, embora pouco se tenha visto nos minutos que esteve em campo.
O melhor em campo foi para mim o Grimaldo, com duas assistências, a primeira das quais ajudou a desatar um nó que se previa cada vez mais complicado. O Rafa é outro dos destaques por ter revolucionado completamente o jogo com a sua entrada, tendo marcado o golo mais bonito da tarde. Os centrais estiveram bem, mas acho que o Morato merece ser mencionado por ter mais uma vez dado uma resposta muito convincente e mostrado que é uma opção perfeitamente válida sempre que um dos titulares estiver indisponível. No meio campo, o João Mário fez o jogo mais discreto desde que chegou ao Benfica, mas em compensação o Weigl esteve muito bem.
Estamos sozinhos no topo com um registo perfeito. E com os principais rivais a quatro pontos, isto significa que vão certamente começar os habituais ataques e acusações de favorecimento, com o intuito de criar o clima a que assistimos durante toda a época passada, porque esse é o cenário ideal para os nossos adversários - em caso de dúvida, decide-se contra o Benfica. A diferença é que esta época voltou a ouvir-se a voz benfiquista nas bancadas, e isso ajuda a diminuir a impunidade e o à vontade com que isso era feito. De qualquer maneira a situação actual não é caso para excessos de confiança: a época passada também começámos com cinco vitórias de enfiada e à sexta jornada - precisamente contra o Boavista, o nosso próximo adversário - caímos estrondosamente e depois foi o que se viu. É preciso continuar neste caminho e a fazer o nosso trabalho, sem ligar às provocações e distracções que nos atiram.
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