Conseguimos uma vitória tranquila que nos permitiu a reaproximação ao segundo lugar. Parece-me que o resultado pode deixar a impressão de que foi um jogo fácil para o Benfica, o que não corresponde à realidade. Houve eficácia e algumas melhoras, mas estas foram sobretudo depois do Benfica se apanhar em vantagem no marcador, altura em que conseguiu estabilizar mais o seu jogo e assumir algum controlo.
Morato no lugar do Otamendi, Meïté no do Weigl. Ao contrário do jogo com o Ajax, no qual o Benfica pareceu jogar numa disposição táctica mais próxima de um 4-2-3-1, contra o Vitória o sistema era mais declaradamente um 4-4-2, onde o Gonçalo Ramos e o Darwin formavam dupla no ataque, em vez de vermos o Gonçalo Ramos tantas vezes envolvido em acções no meio campo. O início de jogo não foi particularmente promissor para o Benfica. Até fizemos uma boa jogada que terminou com um remate do Gilberto desviado num defesa que passou pouco ao lado, mas não demorou muito ao Vitória para criar duas ocasiões claras de golo, de forma bastante simples. Simplesmente colocaram bolas nas costas da nossa linha defensiva e o Estupiñan escapou facilmente aos nossos centrais para se isolar. Das duas vezes que isso aconteceu, o Vlachodimos respondeu à altura e evitou o golo ao Vitória. Aos vinte e três minutos no entanto o Benfica chegou ao golo. Uma abertura longa do Meïté desde o círculo central encontrou o Gilberto solto na direita (e nos últimos tempos têm sido tão raras as vezes em que fazemos este tipo de variações de flanco de jogo) e o cruzamento deste até nem parecia ser grande coisa, mas bem no centro da área o Gonçalo Ramos veio de trás e antecipou-se ao defesa, rematando de primeira sem deixar a bola cair para fazer um golaço. O golo permitiu ao Benfica assentar um pouco o seu jogo e ter mais bola, e aos trinta e sete minutos repetiu a fórmula para chegar ao golo. Mais uma abertura longa do Meïté para o Gilberto na direita e cruzamento de primeira que desta vez saiu perfeitinho para a cabeça do Darwin, que colocou muito bem a bola junto ao poste mais distante. O Benfica revelava uma eficácia que o Vitória não teve nas oportunidades que construiu, e conseguia ir assim para intervalo com o resultado muito bem encaminhado - embora face ao que aconteceu na última jornada no Bessa, sabíamos que um golo do Vitória lançaria imediatamente a incerteza na equipa.
Mas não houve oportunidade para tal, porque cinco minutos após o reinício o Benfica matava o jogo com um terceiro golo - que foi aquilo que não soubemos fazer contra o Boavista. Uma insistência do Gonçalo Ramos na esquerda permitiu-lhe recuperar uma bola a um defesa do Vitória sobre a linha de fundo, entrar na área e depois ser tocado por um adversário. O árbitro ainda hesitou uns instantes mas acabou por assinalar o penálti, que o Darwin converteu mais uma vez de forma exemplar - bola para um lado e guarda-redes para o outro. O jogo ficou mesmo resolvido nesse momento, porque o Vitória perdeu completamente o gás. Foi o Benfica quem teve ocasiões para dilatar a vantagem: um golo anulado ao Gonçalo Ramos por posição irregular do Taarabt, e defesas de recurso do Varela ao Rafa (que poderia ter finalizado melhor depois do Darwin lhe ter colocado a bola à frente na pequena área) e a um cabeceamento do Everton, que apareceu solto sobre a direita. Com o jogo resolvido o Benfica também foi relaxando e baixando a intensidade do seu jogo, trocando o Darwin pelo Yaremchuk, o que permitiu um momento bonito no qual o Vertonghen o surpreendeu entregando-lhe a braçadeira de capitão, enquanto a Luz aplaudia a sua entrada em campo. Trocámos também o Taarabt (que até nem esteve ao nível dos jogos mais recentes) pelo João Mário, o que imediatamente permite diminuir para quase metade a velocidade do nosso jogo - a julgar pela reacção impaciente do público a diversas intervenções dele, parece-me que estarei longe de estar sozinho no esgotar da paciência com a forma de jogar dele. No Vitória entrou o Quaresma para animar um bocado o público e evitar que adormecesse, já que deu para o assobiar de cada vez que tocava na bola e festejar de cada vez que perdia um duelo individual e era desarmado pelo Gilberto. No último suspiro do jogo, oportunidade para a estreia na Liga do Tomás Araújo, mas confesso que fiquei com alguma pena por não termos visto o Rafael Brito, que se estreou nos convocados, entrar.
O primeiro destaque vai para o Vlachodimos. Pode parecer estranho num jogo que vencemos por 3-0, mas se não fossem as duas defesas dele no período inicial da partida este jogo poderia ter ido por um caminho bem diferente. Outros destaques para o Darwin, o Gonçalo Ramos e o Gilberto.
A vitória representa mais um pequeno passo na recuperação anímica desta equipa e assim, aos bocadinhos, pode ser que consigam ir mostrando aos poucos um futebol mais próximo daquilo que podem valer. Não achei que fosse uma exibição de encher o olho, mas a normalidade no Benfica é e tem que ser ganhar tranquilamente mesmo quando não jogamos o nosso melhor. E é sempre agradável assinalarmos o centésimo-décimo-oitavo aniversário do nosso clube com uma vitória.
Uma mudança de atitude da primeira para a segunda parte acabou por nos permitir a obtenção de um resultado razoável perante uma equipa que tinha até agora ganho todos os seus jogos na Champions, e que mantém o desfecho da eliminatória em aberto.
O regresso do Gilberto à titularidade acabou por ser a única novidade no onze, no qual o Taarabt manteve o seu lugar na sequência da exibição positiva no descalabro do Bessa. O Benfica pareceu apostar numa disposição táctica mais A primeira parte do jogo ficou para mim marcada pelo excessivo respeito/receio que o Benfica pareceu sempre mostrar pelo Ajax. A linha de pressão começava quase sempre dentro do nosso próprio meio campo, permitindo que os jogadores do Ajax trocassem a bola quase à vontade na sua zona defensiva. Quando a bola era recuperada, creio que a tentativa seria sair rapidamente através sobretudo do Rafa ou do Darwin, mas isso raramente foi conseguido. O dogma de tentar sempre sair da defesa a jogar é uma coisa que também afecta frequentemente o Benfica, mesmo quando a situação não o recomenda, e foi por esse caminho que o Benfica acabou por conceder o primeiro golo, depois de um primeiro quarto de hora de relativo equilíbrio. Uma má recepção do Grimaldo de uma bola vinda do Vlachodimos permitiu a pressão imediata do lateral contrário e recuperação de bola. Depois o cruzamento seguiu para o lado oposto, onde o Tadic estava completamente solto no interior da área (o Gilberto estava adiantado e longe demais para recuperar quando perdemos a bola) para finalizar de primeira, colocando a bola completamente fora do alcance do nosso guarda-redes. O Benfica conseguiu reagir a este golpe e aos vinte e cinco minutos acabou por repor a igualdade. Na primeira vez em que o Rafa conseguiu fugir ao lateral pelo lado direito, o cruzamento tenso feito sobre a linha de fundo desviou ligeiramente num defesa e foi por muito pouco que o guarda-redes holandês (quero lá saber se agora são neerlandeses) não fez autogolo. Do canto resultante, saiu mesmo um autogolo. Depois de duas tentativas do Vertonghen que esbarraram em defesas adversários a bola sobrou novamente para o belga, que foi até perto da linha de fundo e cruzou tenso e rasteiro para a pequena área, tendo a bola tocado no Haller e entrado na baliza. Foi a melhor resposta possível ao golo inaugural, pena que o empate tivesse durado tão pouco porque o mesmo Vertonghen três minutos depois falhou perto da outra baliza e permitiu ao autor do autogolo redimir-se e recolocar o Ajax em vantagem. Um cruzamento vindo da direita parecia ser aparentemente inofensivo, mas o Vertonghen desviou-o na direcção da própria baliza, e depois deixou que o Haller escapasse à sua marcação para fazer a recarga com sucesso à bola que tinha sido defendida por instinto pelo Vlachodimos. Até ao intervalo o Ajax preocupou-se em circular a bola enquanto o Benfica continuava a esperar pelo adversário no seu meio-campo. Mesmo assim o Ajax conseguiu criar uma grande ocasião para marcar já em cima do intervalo, quando atirou uma bola ao poste.
Para a segunda parte o Benfica voltou com uma atitude diferente, muito menos na expectativa e tentando assumir as despesas do jogo. Os sinais já eram um pouco mais positivos, mas a partir do momento em que entrou o Yaremchuk para o lugar do Everton, pouco depois de findo o primeiro quarto de hora, então o Benfica ficou mesmo completamente por cima no jogo. O Ajax já não conseguia manter tranquilamente a bola em seu poder, e o Benfica conseguia frequentemente colocar a defesa holandesa em sentido quando recuperava a bola e partia rapidamente para o ataque explorando o adiantamento de toda a equipa adversária. O Rafa sobretudo começou a ser uma ameaça constante pela direita, onde o Blind não tinha pernas para o acompanhar quando era apanhado em posições adiantadas. As situações de finalização começaram a suceder-se (Darwin, Yaremchuk, Gonçalo Ramos) e aos setenta e dois minutos chegámos finalmente ao empate. Foi numa situação muito semelhante a outra ocorrida pouco antes, na qual o Gonçalo Ramos finalizou mal quando poderia ter passado a bola a um colega que estava mais bem colocado (o Gonçalo Ramos foi dos mais rematadores da equipa nesta fase, mas raramente o fez com boa direcção). Desta vez a fuga do Rafa pela direita foi bem acompanhada e vimo-nos numa situação de quatro jogadores nossos para três defesas do Ajax. A bola foi passada ao Gonçalo Ramos, que à entrada da área fez um bom remate, defendido com alguma dificuldade pelo guarda-redes. A bola subiu, e na queda o Yaremchuk adiantou-se a todos os adversários e cabeceou para a baliza deserta. O treinador do Ajax reagiu de imediato e deverá ter achado que se o Rafa continuasse a fazer os estragos que estava a fazer pela direita o Benfica não ficaria por ali, trocando o Blind pelo Tagliafico, conseguindo estancar um pouco a iniciativa benfiquista. Os nossos jogadores também pareceram começar a acusar o esforço da segunda parte, com alguns deles a queixarem-se de cãibras (Taarabt, Gilberto) ou a mostrar bastante fadiga (Darwin), e por isso não conseguimos manter a pressão sobre o Ajax ao mesmo nível. O empate acabou por ficar até final, com as duas equipas nos instantes finais a parecerem aceitar o resultado. Como nota final, achei que o árbitro sérvio mostrou que não são apenas os árbitros portugueses a ter falta de qualidade.
No Benfica destaco sobretudo mais um bom jogo do Taarabt, o que começa a ser surpreendente dada a frequência com que isto começa a acontecer. O Rafa também esteve em destaque, sobretudo na segunda parte.
Não é caso para festejarmos um empate, mas tendo em conta o valor do adversário e as previsões que se faziam antes deste jogo não deixa de ser um resultado positivo. Acima de tudo foi bom ver a atitude da equipa na segunda parte a a capacidade para reagir por duas vezes à desvantagem. Veremos como corre a segunda mão, mas partirmos para ela com a eliminatória ainda em aberto já estará a superar as expectativas de muita gente.
É absolutamente indesculpável a quebra de qualidade/rendimento/autocontrolo da nossa equipa da primeira para a segunda parte, que fez com que acabássemos por empatar um jogo que ao intervalo estava mais do que controlado. No final da primeira parte a interrogação mais óbvia seria quantos mais golos acabaria por marcar o Benfica, no final do jogo poderíamos considerar-nos felizes por não o termos perdido.
Especulou-se que o João Mário poderia assumir a titularidade no meio campo no lugar que tem sido do Paulo Bernardo, mas o joker para esta partida foi a inclusão do Taarabt no onze. E de uma forma sucinta, foi uma aposta ganha. De forma surpreendente o marroquino acabou por ser mesmo um dos melhores, se não mesmo o melhor, enquanto esteve em campo. A primeira parte do Benfica foi bastante positiva, e arrisco mesmo dizer que foi o melhor que já vi o Benfica fazer desde que o Veríssimo tomou conta da equipa. O Boavista praticamente não chegou à nossa baliza (chegou a estar mais de meia hora sem fazer um remate) e o Benfica contrariava a tentativa de pressão alta deles com um futebol vertical feito de passes a explorar o espaço que deixavam nas costas. Acho que durante a primeira parte vi mais profundidade no jogo do Benfica do que durante todos os jogos feitos sob a orientação do Veríssimo juntos até hoje. Então a partir do momento em que o Benfica se colocou em vantagem, à passagem do vigésimo minuto, a nossa superioridade no jogo foi total. O Taarabt foi o autor do golo, num remate cruzado à entrada da área, e uma coisa que me ficou na retina foi a quantidade de jogadores que o Benfica nesse lance tinha em zona de finalização: estavam ali cinco jogadores - Rafa, Everton, Darwin, Gonçalo Ramos e Taarabt. E não demorou muito a aparecer o segundo: foi à meia hora de jogo, pelo Grimaldo. Passe deste a desmarcar o Darwin pela esquerda, que devolveu para o meio da área. O guarda-redes ainda defendeu o primeiro remate do Rafa, mas o Grimaldo tinha acompanhado o lance e recolheu a bola para fazer a recarga. Nem um esboço de reacção por parte do Boavista, enquanto o Benfica continuava por cima e a ameaçar o terceiro golo, que muito provavelmente colocaria uma pedra sobre o resultado. Sempre com passes verticais a explorar o espaço nas costas das linhas do Boavista, tivemos dois golos anulados por foras de jogo de centímetros, um ao Everton (por fora de jogo ao Gonçalo Ramos no início da jogada) e outro ao Darwin.
A segunda parte começou logo com um mau sinal, quando o Boavista nos primeiros minutos conseguiu criar pela primeira vez uma boa ocasião de perigo, e que só não deu golo porque o Vlachodimos defendeu bem o remate do Musa quando este se escapou à defesa e ficou cara a cara com ele. Estava dado o mote para aquilo que nós bem conhecemos em jogos destes, e que se costuma denominar por 'pôr-se a jeito'. O Benfica foi progressivamente desaparecendo do ataque, enquanto que a agressividade do Boavista ia dando cada vez mais frutos, ganhando cada vez mais superioridade no meio campo e encostando o Benfica à sua área. Perante a incapacidade do Benfica para guardar a bola e acalmar o ritmo de jogo, o Boavista começou a ficar completamente à vontade no mesmo e a pressão foi aumentando para níveis francamente desconfortáveis. Ao ponto de, creio, qualquer um de nós ter quase a certeza que se o Boavista conseguisse marcar um golo, então o empate ou até mesmo a derrota seria uma inevitabilidade. Perante este cenário de luta feroz pela posse da bola no meio campo e termos que lidar com a agressividade dos jogadores do Boavista, a reacção do nosso banco foi fazer entrar um dos jogadores menos intensos que temos no plantel: o inevitável João Mário, por troca com o Taarabt. Entrou também o Radonjic para o lugar do Everton, que foi um verdadeiro desaparecido em combate - não sei se cheguei a vê-lo tocar na bola. Não direi que o que se passou a seguir foi uma consequência directa das substituições porque conforme tenho estado a referir, as coisas já estavam más antes. Mas imediatamente a seguir às substituições o Boavista marcou. O Benfica foi incapaz de sair com a bola, esta foi recuperada pelo Boavista ainda no nosso meio campo, sobre a esquerda, e uma tabela simples deixou o Sauer com espaço para rematar à entrada da área para o golo. E fiquei logo a achar que o segundo não tardaria, o que infelizmente se verificou. O descontrolo da equipa era completo, e a sensação com que fiquei foi a de que estavam literalmente em pânico. Não havia maneira de sairmos da defesa, concedemos uma série de pontapés de canto seguidos e por isso foram apenas seis minutos até surgir o empate. Que nasce num passe falhado do Otamendi para o Lázaro, que estava uns cinco metros ao lado dele. A bola saiu pela lateral, o Boavista executou o lançamento rapidamente e a bola foi para um jogador completamente sozinho nas costas da nossa defesa, sobre a direita. O passe foi feito para a entrada da área, onde surgiu o Makouta vindo de trás sem qualquer acompanhamento para rematar de forma imparável. A vitória já se tinha escapado, restava saber se não acabaríamos mesmo por perder o jogo. Mas a partir do empate a pressão do Boavista amenizou-se, e nos minutos finais ainda dispusemos de um livre numa posição muito perigosa, descaído sobre a direita. Mas minutos antes o nosso treinador tinha trocado o Grimaldo pelo Gilberto, por isso não o tínhamos em campo para marcar um livre perfeitamente à sua medida.
O melhor do Benfica - e acho que nunca me passou pela cabeça que algum dia viesse a escrever isto - foi o Taarabt. Ao fim de uns cem jogos marcou o seu segundo golo pelo Benfica, mas sobretudo durante a primeira parte jogou e fez jogar a equipa. Mesmo durante a má segunda parte, nunca se escondeu e andou sempre envolvido nas disputas da bola a meio campo, tentando sair a jogar em vez de despachar a bola em pânico para onde estava virado, como vários colegas o fizeram.
Não é uma coisa simpática de se dizer, mas este jogo apenas reforçou a minha ideia que o Nélson Veríssimo é muito boa pessoa mas não parece ter unhas para tocar esta guitarra. Falha frequentemente nas substituições, não parecendo capaz de ler o jogo e reagir de forma adequada ao que se está a passar. Não percebi porque motivo o Benfica mudou tanto a sua forma de jogar da primeira para a segunda parte, mas perante o cenário que se apresentava naquele momento a opção mais óbvia seria tentar congelar o jogo, e para isso impunha-se a entrada de um terceiro médio. A entrada do João Mário apenas veio piorar o que já de si estava mal. Eu sei que é muito difícil, se não impossível mesmo, conseguir que um treinador que desejemos para a próxima época assumisse a equipa nesta altura, mas a sensação que tenho é que estamos a desperdiçar seis meses, que poderiam ser aproveitados para começar a lançar bases para a mesma.
A qualidade do nosso futebol continua longe dos mínimos exigidos mas conseguimos duas vitórias consecutivas, o que nos tempos que correm tem sido uma raridade. Pelo menos realce para o facto da equipa ter conseguido durante a segunda parte reagir a um golo que na altura veio contra a corrente do jogo e dado a volta ao resultado, o que só pode ser algo que contribua para melhorar a confiança.
Outra raridade: o mesmo onze em dois jogos seguidos. Logo, a mesma táctica também. A entrada do Benfica no jogo nem foi particularmente má: durante os primeiros vinte minutos a iniciativa do jogo pertenceu-nos quase exclusivamente. Depois de uma boa jogada de equipa logo nos primeiros minutos, na qual colocámos vários jogadores no ataque e fizemos a bola circular bem entre eles, sem que no entanto alguém acabasse por finalizar a jogada, a seguir começámos a revelar as nossas habituais dificuldades em jogar contra equipas a jogar fechadas num bloco muito baixo e por isso não conseguíamos criar situações de perigo. Era aquele cenário habitual de demasiados passes laterais ou para trás, com circulação de bola feita de forma lenta e que assim favorecia a equipa que defendia. Ficou-me especialmente na retina o pouco atrevimento do Lázaro na direita, hesitante em avançar mais do terreno de forma a dar uma opção de passe mais arriscado para aquela zona, acabando quase sempre por receber a bola numa situação em que já estava controlado pelo médio daquele lado e por isso a bola voltava sempre a ser devolvida para um colega mais atrasado. O Everton tem sido um dos jogadores em melhor forma ultimamente, e pareceu-me também que o Santa Clara teve isso em atenção, já que raramente lhe concedeu espaço e normalmente fazia mesmo mais do que um jogador cair-lhe imediatamente em cima de forma a que não pudesse arrancar com a bola controlada. Quando o Benfica começou a dar alguns sinais mais positivos e num curto espaço de tempo criou duas grandes ocasiões para marcar - o Darwin, isolado pelo Rafa, atirou ao lado e o Vertonghen, depois de uma recuperação de bola numa zona adiantada, já dentro da área atirou ao poste - o Santa Clara chegou ao golo na primeira situação clara de golo que criou. Uma transição rápida na qual fomos batidos pela direita, e depois quando o passe seguiu para a zona central o Otamendi estava atrasado e colocou o adversário em jogo. O Vlachodimos ainda defendeu o primeiro remate cruzado, mas a bola acabou por sobrar para a recarga de um adversário, que se antecipou ao Grimaldo para marcar. O golo foi inicialmente invalidado pelo auxiliar mas o VAR reverteu a decisão, e a nossa equipa acusou, e bem, o golpe. O futebol que praticámos até ao intervalo foi muito fraco, e até nos arriscámos mesmo a conceder mais um golo que nos colocaria em situação muito complicada.
Voltámos para a segunda parte sem alterações na equipa e também sem melhorias no futebol praticado. Ainda e sempre uma exasperante falta de objectividade, demasiadas lateralizações e jogadas aparentemente sem o objectivo de chegar ao golo, mas sim de apenas manter a posse da bola. Acima de tudo, a sensação com que fico ao ver-nos jogar é a de que quase todos os jogadores têm um enorme receio de falhar, e por isso quase não arriscam nada. Não arriscam um passe de ruptura, um remate espontâneo, às vezes nem sequer um cruzamento e preferem entregar essa responsabilidade ao colega mais próximo - se há coisa que me irrita é ver um lateral ou um extremo a chegar perto da linha de fundo e a fazer a bola voltar para trás. Felizmente que do banco cedo chegou a decisão de que alguma coisa teria que mudar e desta vez acertámos nas substituições, porque elas fizeram efeito imediato. Aos cinquenta e oito minutos trocámos o Paulo Bernardo e o Everton pelo Taarabt e o Yaremchuk. O ucraniano foi colocar-se no centro do ataque e o Darwin caiu para a esquerda. A loucura do Taarabt fez com que finalmente houvesse alguém em campo sem medo de tentar passes de ruptura, e foi com dois desses passes para o Rafa na ponta direita que no espaço de dois minutos marcámos dois golos e demos a volta ao resultado. Primeiro, o Rafa depois de receber a bola veio para dentro e quando estava mesmo a vir para trás e a sair da área sofreu um penálti desastrado, que o Darwin converteu com classe. Logo a seguir fez a bola seguir para o Yaremchuk que, mesmo sobre a linha final, conseguiu fazer um cruzamento em esforço que foi encontrar o Darwin completamente sozinho na zona do segundo poste, e este com a baliza completamente à sua mercê rematou de forma a ainda fazer a bola bater na trave antes de entrar. Com o mais difícil feito, o melhor seria termos marcado um terceiro para nos colocarmos a salvo de surpresas, mas não revelámos muita arte para o fazer - lembro-me apenas de uma situação na qual o Gonçalo Ramos ficou em muito boa posição na área mas acabou por rematar para as mãos do guarda-redes. Depois nos minutos finais acabámos por recuar as linhas, trocámos o Gonçalo Ramos pelo Meïté para tentar segurar mais o meio campo e foi o Santa Clara quem teve mais iniciativa, mas não chegou a criar qualquer tipo de ameaça à nossa baliza. Uma coisa que eu não consegui perceber foi que já mesmo na fase final o Grimaldo ficou em dificuldades físicas, mas mesmo tendo ainda uma substituição por fazer optámos por mantê-lo em campo, tendo o recentemente entrado Diogo Gonçalves recuado para lateral esquerdo e o Grimaldo passado a jogar mais adiantado (fui agora recordado que já tínhamos feito as três interrupções permitidas para substituições, por isso já não seria possível substituí-lo).
O destaque é fácil de fazer: é o Darwin por ter marcado os dois golos que nos permitiram conquistar os três pontos. O Taarabt foi importante para dar um safanão no jogo, mas depois da entrada fulgurante depressa o apanhámos de regresso às asneiras e jogadas sem nexo do costume (embora também tenha sido dele o passe que deixou o Gonçalo Ramos em posição para marcar). O Rafa esteve um pouco melhor neste jogo, já que esteve nas jogadas dos dois golos e na primeira parte já tinha deixado o Darwin isolado em frente ao guarda-redes.
Já que não parece haver maneira de apresentarmos um futebol de qualidade, ao menos que consigamos ir ganhando os jogos com maior ou menor dificuldade. Não me é fácil ultimamente ver os jogos do Benfica, porque os níveis de irritação andam quase sempre altos durante os noventa minutos, e só mesmo a sensação de alívio quando o árbitro apita para o final connosco em vantagem é que acaba por compensar. O caminho faz-se caminhando, e nós parecemos estar a fazê-lo com passos muito pequeninos. Mas vitórias são vitórias, e com elas deverá vir confiança. Que esta vá crescendo e nos ajude a produzir algo mais próximo da qualidade que o Benfica merece.
Uma vitória para curar a depressão. Apesar de termos estado longe de atingir níveis brilhantes a vitória foi inequívoca e poderia ter sido por números mais dilatados. A parte menos positiva foi a quebra de rendimento quando começámos a fazer substituições, que redundou mesmo em sofrermos um golo quando o adversário já estava reduzido a dez.
As alterações efectuadas no onze esta noite significaram um regresso ao 4-4-2. Em relação ao último jogo, saíram da equipa André Almeida, Meïté e Diogo Gonçalves, entrando Lázaro, Rafa e Darwin. Sem praticar um futebol vistoso, uma das primeiras coisas que no entanto me saltaram à vista foi o facto de ver os nossos jogadores a ganharem bolas divididas, o que costuma ser uma raridade. Outra diferença foi ver o Benfica conseguir situações em que perdida a bola conseguia reagir imediatamente e recuperá-la - outra coisa rara de se ver recentemente. Mas durante os primeiros minutos o jogo não foi particularmente bem jogado, com muitas perdas de bola de parte a parte e poucas situações de perigo. O Benfica foi quem deu o primeiro sinal, logo nos primeiros minutos e através do Darwin, mas o guarda-redes do Tondela saiu-lhe aos pés e fez bem a mancha depois dele se ter escapado à defesa, descaído sobre a direita. A resposta do Tondela poderia ter sido mais uma repetição de um cenário que já vimos demasiadas vezes nos últimos tempos, porque na primeira situação real de algum perigo que criaram, a bola entrou na nossa baliza. Foi aos vinte minutos, mas o lance acabou por ser invalidado por posição irregular do Agra, que tinha fugido pelo lado direito da nossa defesa e da linha de fundo feito o passe atrasado para o golo. Não valeu esse golo mas valeu o nosso, apenas três minutos depois. Até fiquei espantado (e não fui o único) por obtermos um golo através de uma jogada digna desse nome. O Everton tabelou com o Grimaldo na esquerda, isolou-se e já de ângulo apertado colocou a bola entre as pernas do guarda-redes. O golo soltou a equipa que a partir daí até ao intervalo construiu situações mais do que suficientes para ter ido para o descanso com o jogo no bolso, intervaladas por poucos minutos entre si (foi mais ou menos uma situação a cada três minutos). Primeiro o Paulo Bernardo, bem no meio da área, tinha tudo para marcar mas acertou mal na bola e o remate saiu fraco e à figura do guarda-redes. Depois foi o Everton que teve um dos seus lances típicos, veio da esquerda para o meio e rematou cruzado de fora da área, valendo a defesa do Trigueira com a pontinha dos dedos para desviar a bola para a trave da baliza. Mas o mesmo Trigueira já nada conseguiu fazer aos trinta e quatro minutos contra o remate do Darwin. Desmarcado pelo Everton sobre a esquerda, tirou o defesa da frente e sobre o canto da área desferiu um remate imparável para o ângulo oposto da baliza. Um golão sem qualquer possibilidade para o guarda-redes. Logo a seguir, nova ocasião de golo, depois do Gonçalo Ramos ser derrubado à entrada da área, sobre a esquerda. Livre marcado pelo Darwin com a bola a ir ao poste e a sair. Numa altura em que já começava a ficar irritado com as duas bolas nos ferros, a coisa poderia ter-se complicado para nós se o Tondela tivesse reduzido a fechar a primeira parte. Primeiro foi o Vlachodimos a negar o golo ao nosso ex-jogador Daniel dos Anjos, e já nas compensações o Agra recebeu em boa posição no interior da área, mas pressionado pelo Lázaro acabou por atirar para fora.
Portanto, o jogo parecia bem encaminhado, mas era importante vir para a segunda parte com o objectivo de marcar um terceiro golo de forma a acabar com quaisquer dúvidas e não deixar que o Tondela pudesse ambicionar marcar um golo que os relançasse na luta pelo resultado. E foi rápido, porque demorou apenas oito minutos para que isso acontecesse. Novamente o Everton na jogada, fazendo o passe entre os centrais do Tondela para o Gonçalo Ramos receber, puxar a bola para a direita e, numa altura em que até já parecia que o lance se poderia perder, rematar para o golo, com a bola a entrar junto do poste. Foi a terceira jornada consecutiva do Gonçalo Ramos a marcar. E o Benfica continuou bem por cima no jogo, até que pouco depois da hora de jogo trocámos o Everton pelo Diogo Gonçalves e a partir daí achei que o rendimento da equipa começou a cair. O Gonçalo Ramos ainda teve mais uma boa ocasião, na qual atirou por cima depois do Darwin o ter deixado em posição para fazer muito melhor, mas logo a seguir o Tondela ficou reduzido a dez quando faltavam vinte e cinco minutos do final e mesmo assim não conseguimos traduzir essa superioridade numérica em ocasiões de golo. Quando trocámos o Paulo Bernardo e o Darwin pelo Meïté e o Taarabt o cenário piorou mesmo, e já mesmo a terminar acabámos por consentir um golo ao adversário. Pelo terceiro jogo consecutivo, um canto na direita da nossa defesa e um adversário surgiu na zona do primeiro poste a antecipar-se à defesa e a ganhar a bola. O Vlachodimos ainda defendeu a primeira bola, mas esta sobrou para uma zona quase em cima da linha onde o Lázaro foi incapaz de evitar a recarga por parte do Eduardo Quaresma. Estes dois remates, diga-se, foram os únicos que o Tondela fez na direcção da baliza durante todo o jogo. Foi pena o golo sofrido, mas isso não teve grande peso no desenrolar do jogo, tendo o Benfica até melhorado um pouco e controlado facilmente os minutos finais.
O melhor em campo para mim foi o Everton. Esteve nos três golos da equipa, marcando um golo e assistindo nos outros dois. Para além disso esteve perto de marcar pelo menos mais um, e regra geral foi interveniente na maioria dos lances de perigo criados pelo Benfica. A prova disso foi também a quebra de rendimento da equipa quando ele saiu. Sendo um jogador que tem estado quase constantemente em níveis desapontantes desde que chegou ao Benfica, parece ser daqueles que mais beneficiaram com a saída do anterior treinador, apresentando-se como um dos poucos em níveis minimamente aceitáveis nesta fase negativa. Espero que possa continuar neste caminho e atingir o nível que nos levou a contratá-lo, porque pode ser um jogador decisivo para nós. Pelo caminho contrário, o Rafa parece estar a perder a influência que tinha, jogando mais amarrado à linha. Bom regresso do Darwin, que mesmo complicando alguns lances é um jogador que tem sempre o potencial para desequilibrar.
Não foi um resultado ou exibição para embandeirar em arco, mas a vitória foi indiscutível e foi bom quebrarmos o ciclo de resultados negativos. Não sei se este jogo vai significar o regresso ao 4-4-2, que nos oferece mais presença na zona de finalização, mas na minha opinião este esquema só terá maiores probabilidades de funcionar se o segundo médio for o Paulo Bernardo e não o João Mário. E também ajuda ter o Gonçalo Ramos como segundo avançado, já que este está rotinado nas funções de falso ponta-de-lança e nos movimentos de recuo para o maio-campo. Veremos se este resultado consegue dar alguma confiança à equipa e ser o safanão de que precisam.
O Benfica perdeu hoje em casa com o Gil Vicente. Perdermos em casa com o Gil Vicente é mau, mas dramático mesmo é quando pensamos que a vitória do Gil Vicente já nem sequer é um escândalo: é normal. O Gil Vicente ganhou de forma quase fácil, isto porque o Benfica não joga quase nada.
Quando vi a constituição da equipa, com quatro alterações no onze em relação ao último jogo, a satisfação por ver o João Mário fora da equipa, por troca com o Paulo Bernardo, foi de imediato abafada pela constatação da titularidade do André Almeida. As outras duas alterações foram o Otamendi e o Gonçalo Ramos em vez do Morato e do Yaremchuk. Mas de uma forma mais racional, estar a querer individualizar e a achar que jogar este ou aquele jogador fará alguma diferença é estar a simplificar demasiado a situação. Tenho obviamente embirrações pessoais com certos jogadores, mas elas acabam por ser mais uma válvula de escape para a frustração. O problema é mais geral, com a equipa num todo e também fora do campo, na estrutura que nos devia liderar. E digo 'devia', porque neste momento o que eu vejo é um vazio de liderança. Não é um assunto no qual eu goste de me meter, porque prefiro falar de futebol, mas quero apenas dizer uma coisa que me está atravessada (e que julgo que estará também a muitos outros): é absolutamente incompreensível para mim que o nosso presidente assuma publicamente que houve jogadores que literalmente despediram o anterior treinador, e que esses mesmos jogadores não tenham saído pela mesma porta no próprio dia. Se não se arranjava colocação para eles, ficavam afastados do plantel. É assim que se começa a limpar a casa. O que nunca pode acontecer é assobiar-se para o ar e deixar tudo na mesma, porque então quem quer que venha a seguir - neste caso, o Veríssimo - tem o trabalho minado logo à partida. Depois, há lacunas no plantel e deixámos passar a janela de transferências de Janeiro mais uma vez não fazendo absolutamente nada, como se vivêssemos uma situação idílica. A imagem que passa para fora é de uma completa inacção perante o estado lastimoso a que chegámos. Ou, por outras palavras, de uma total ausência de liderança e, consequentemente, de rumo. Navegar à vista nunca deu grande resultado, e então quando navegamos em cima de recifes e parecemos querer continuar por essas águas, é ainda pior. Neste momento qualquer um se sente à vontade para desrespeitar o Benfica em toda a linha, dentro e fora dos campos. São os incessantes ataques da Cofina, a tentar manter uma constante instabilidade. São as nomeações e consequentes arbitragens quase sempre em nosso prejuízo, porque basta ler os nomes dos nomeados para adivinhar o que aí vem - e depois, como o Benfica joga pessimamente, varrem-se para baixo do tapete os autênticos roubos a que temos assistido sobretudo desde a época passada porque 'o Benfica tem obrigação de fazer muito melhor'. E até nas pequenas coisas se nota a falta de respeito: por exemplo, esta noite o Gil Vicente entra na Luz e escolhe o campo 'ao contrário'. Isto era uma coisa que quase nunca acontecia na Luz, agora é uma constante, o que a mim me provoca a sensação de que qualquer um chega a nossa casa e se sente como se estivesse em casa dele, à vontade para pôr os pés em cima da mesa, cuspir no tapete e apagar a beata no braço do sofá.
Quanto ao jogo, mais do mesmo. O Benfica joga muito pouco. E tendo eu hoje regressado ao estádio ao fim de algumas semanas, observando o jogo sem ser através da televisão, que só nos mostra aquilo que querem mostrar, é ainda mais visível o profundo abismo no qual nos encontramos. É que se nós já jogamos mal quando temos a bola, quando não a temos é ainda pior. Não é por acaso que vemos os nossos adversários ganharem quase sempre as segundas bolas, ou surpreenderem-nos nas transições. É que a nossa equipa não sabe sequer como posicionar-se sem bola. Não estamos preparados para reagir à perda de bola, não sabemos pressionar como um bloco, e quando temos a bola os jogadores que não a têm raramente sabem como se movimentar entre linhas, atacar o espaço e proporcionar opções de passe ao colega que tem a bola. Depois os jogadores estão a jogar completamente sobre brasas e os níveis de confiança são inexistentes, por isso perdem quase todos os duelos individuais, precipitam-se nas finalizações e falham passes fáceis ou recepções de bola simples. E como se tudo isto não bastasse, tudo o que puder correr mal em cima disso, corre, e se for necessário as tais nomeações cirúrgicas ainda ajudam à festa. Caso em questão, esta noite o Benfica colocou-se em vantagem logo aos seis minutos de jogo, o que poderia ter ajudado muito a equipa a tranqulizar-se e se calhar as coisas teriam corrido melhor. Mas na marcação do livre lateral que levou a bola à área, o sabujo do Artur Soares Dias inventou uma falta fictícia e apitou antes que a bola tivesse entrado, invalidando assim qualquer possibilidade de revisão do lance pelo VAR (embora, com o Hugo Macron no VAR, não apostasse nas nossas possibilidades de sucesso). Já revi o lance quando cheguei a casa. Não houve obviamente absolutamente nada. O jogador do Gil Vicente encosta-se ao Vertonghen, deixa-se cair, e o pasteleiro bufou no apito. Trabalhinho feito - e a má intenção da criatura ficou por demais evidente. A mesma pessoa que, como VAR, na final da Taça da Liga não conseguiu ver um puxão evidente sobre o Henrique Araújo, neste lance conseguiu ver o que mais ninguém viu. Depois, para continuar na senda de tudo correr mal, no primeiro remate que o Gil Vicente fez no jogo, marcou. Foi aos onze minutos numa transição ofensiva após o Benfica perder a bola no ataque, claro, conduzida apenas por dois jogadores. Um deles correu quase dois terços do campo com a bola, tabelou com um colega, e já dentro da área fez um remate pífio que passou entre as pernas do Vertonghen sem que o Vlachodimos tivesse reacção. E fiquei logo com a sensação de que o caldo estava entornado.
O Benfica continuou a jogar aquele seu futebol sem objectividade, cheio de lateralizações e hesitações quando chegamos perto da área - as excepções foram uma ocasião do Gonçalo Ramos na qual a bola passou muito perto da baliza, e uma iniciativa individual do Vertonghen na qual o guarda-redes fez uma grande defesa - com o Paulo Bernardo a ter um posicionamento algo incompreensível durante quase todo o jogo, actuando quase como segundo avançado. Se é para o promover à equipa principal para depois o meter constantemente a jogar fora de posição, como a médio esquerdo ou segundo avançado, então acho que me verei obrigado a pedir desculpa ao JJ por o ter criticado depois de o ter experimentado a lateral direito em alguns jogos de preparação. Ao intervalo adivinhei logo que entraria o João Mário para o lugar do Meïté, para ajudar a lateralizar e a engonhar ainda mais, o que veio a verificar-se e ele não me desiludiu. Também entrou o Rafa para o lugar do Diogo Gonçalves, que de início ainda teve algumas arrancadas entusiasmantes pelo meio, mas que depois se foi encostar à esquerda quando o Everton saiu e se foi progressivamente apagando até quase desaparecer. Apesar da pressão estapafúrdia do Benfica, o que se começava a adivinhar era mais um golo do Gil Vicente (que o Vlachodimos evitou duas vezes) e isso aconteceu mesmo aos sessenta e quatro minutos, na altura em que o Benfica se preparava para para fazer mais duas trocas (Everton e André Almeida por Henrique Araújo e Lázaro). Mais um exemplo que nos deixa a pensar se o Benfica fará algum tipo de trabalho defensivo nos treinos, porque o golo foi quase a papel químico do primeiro golo da lagartagem no último jogo: pontapé de canto do lado direito da nossa defesa e bola para a zona da pequena área, onde um dos centrais adversários apareceu a antecipar-se para marcar de cabeça. Embora, verdade seja dita, o golo tenha parecido um bocado às três pancadas, aparentando ter sido a bola a bater mais nas costas do que na cabeça dele e depois a descrever uma trajectória estranha em balão para o segundo poste. Onde, mais uma vez, não estava ninguém - é uma coisa que me faz confusão, porque era uma situação clássica quando jogava futebol que nos cantos se colocassem os laterais a defender os postes, mas suponho que isso tenha caído em desuso. O Benfica continuou a tentar pressionar sobre brasas, nos minutos finais trocámos o Vertonghen pelo Radonjic (recuou o Weigl - péssimo jogo - para central) e o sérvio ainda dinamizou um bocado a ala direita, embora tenha sido tão desastrado como os restantes colegas. Conseguimos reduzir a um minuto do final, num cabeceamento do Gonçalo Ramos após cruzamento do Rafa a partir da esquerda, mas o Gil Vicente tinha o jogo na mão e facilmente queimou os míseros cinco minutos de compensação (o crime do antijogo compensa sempre nos jogos contra o Benfica) para segurar a vitória. Acho sempre estranha a quantidade de cãibras que os adversários do Benfica parecem sofrer, porque certamente que elas não serão resultado do ritmo alucinante que o Benfica impõe no seu futebol.
Mais uma vez, não consigo fazer destaques no meio de tamanha mediocridade.
Honestamente, não sei como será possível sairmos desta espiral negativa. Existe valor no plantel para fazer muito mais e melhor. Mas não estou a ver de onde virá a liderança e o pulso firme necessários para conseguir pegar nestes jogadores e puxá-los na direcção certa, porque essa tarefa é hercúlea. Os níveis de motivação estão num mínimo, quer da parte dos atletas, quer da parte dos próprios adeptos - o Estádio da Luz esta noite teve um ambiente quase fúnebre. Seja como for, alguma coisa tem que acontecer. Não é possível deixar as coisas irem andando como se nada de anormal se estivesse a passar. Não fazer nada é morrer por suicídio.
P.S.- Entretanto, vi que também ficou por assinalar um penálti sobre o Otamendi. Mas se assinalar penáltis a favor do Benfica já é normalmente muito raro, então com o pasteleiro a apitar e o Macron no VAR isso torna-se numa impossibilidade.
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