Depois da desilusão de vermos outras boas gerações de talentos da nossa formação perderem três finais da UEFA Youth League, a compensação de vermos nova geração conquistar de forma brilhante esta competição, à quarta tentativa. Não se limitaram a vencê-la, fizeram-no de forma brilhante e a jogar 'à Benfica', da forma como todos ambicionamos sempre ver as nossas equipas jogar. A cair em cima do adversário desde o apito inicial e a colocar-se cedo numa posição vantajosa - o famoso 'quarto de hora à Benfica' - e depois, mesmo com o jogo mais do que resolvido, a não entrar na exasperante 'gestão do resultado' e a ir sempre à procura de mais (e porque a atitude já tinha sido a mesma, não me custa muito imaginar que se não tem havido aquela expulsão o resultado contra a Juventus nas meias poderia ter sido muito parecido). Um enorme prazer ver a alegria com que estes miúdos jogam, e o orgulho que mostram a defender o nosso símbolo. E não é grande surpresa, porque já há várias épocas que se queremos ver aquilo que melhor deve retratar o que é a Mística, encontramo-lo nas nossas equipas jovens. Já há muito tempo que muitos benfiquistas desejam ver um melhor aproveitamento da nossa formação; será que depois desta brilhante vitória vamos desperdiçar mais uma geração? Muitos deste jogadores já poderiam perfeitamente ter lugar no plantel - não digo sequer a titulares, mas como segundas opções para irem ganhando experiência certamente. Pior do que muitos, na maior parte das vezes estrangeiros e bem mais caros, que lá temos e temos tido para segundas escolhas de certeza que não fariam.
P.S.- Esta semana acabei por nada escrever sobre o triste empate em casa com o Famalicão. Estive longe de Lisboa, sem acesso a um computador, e obviamente que nem pude ir à Luz ver o jogo. Mas pelo que já vi entretanto, pareceu-me um regresso evidente à triste normalidade que tem sido esta época, em todos os sentidos. Quando olho para trás e vejo doze pontos perdidos contra Portimonense, Moreirense, Gil Vicente, Vizela e Famalicão em casa, penso que esta deve ter sido uma das épocas mais desastrosas que fizemos. Nenhuma equipa que tenha qualquer tipo de ambições em conquistar o que quer que seja pode perder tantos pontos em casa contra equipas deste calibre - ainda que todos estes jogos que citei, sem excepção, tenham tido os cada vez mais habituais factores externos a ajudar a empurrar ainda mais para baixo (e agora até já nos jogos da equipa B ando a ver repetidamente decisões inexplicáveis, invariavelmente tomadas contra nós).
- Então boa sorte para o jogo...
- Isto hoje são quatro ou cinco!
- Olha, podem ser sete a um para recordarmos!
Este foi o diálogo que apanhei ente dois viscondes quando estava a entrar para o estádio. Foi por isso uma questão de brio. Mesmo que em termos desportivos pouco houvesse a ganhar, já que o segundo lugar está praticamente entregue, porque somos o Benfica tínhamos a obrigação de ganhar este jogo. Quanto mais não fosse para mais uma vez castigar a soberba habitual daquele clube, que achava que isto ia ser fácil. Desde as várias declarações do seu treinador sobre a 'certeza' de que iam ganhar todos os jogos até ao final do campeonato, à bazófia de adeptos pouco habituados a ganhar e que sempre que se apanham um bocadinho por cima agem como se tivessem o rei na barriga. E foi mesmo por ter uma inexplicável confiança (quase certeza) de que iríamos ganhar (e que o Darwin iria desequilibrar) que mais uma vez não podia deixar de acompanhar a minha equipa na visita a Alvalade.
O mesmo onze de Liverpool iniciou o jogo, e foi com uma enorme tranquilidade que a nossa equipa pisou o relvado. Ignorando a euforia da casa e o habitual hilariante (perdão, solene) momento de karaoke do Frank Sinatra, por uma rara ocasião esta época fiquei logo com a sensação de que havia um plano para este jogo, e que toda a equipa sabia exactamente como executá-lo. O Sporting por norma é muito agressivo no ataque ao espaço e explora eficazmente o mau posicionamento dos adversários nas transições defensivas, especialmente nas laterais - foi assim que, na primeira volta, nos ganharam com relativa facilidade. O Benfica acautelou isso e baixou a linha defensiva, com os extremos a terem mais preocupações defensivas, chegando a formar mesmo uma linha de seis quando estes acompanhavam as subidas dos laterais do Sporting - ainda que, em especial na primeira parte, o Everton se tenha frequentemente esquecido de fechar sobre o Porro. A equipa esteve sempre tranquila com a bola nos pés, conseguindo sair eficazmente a jogar mesmo quando pressionada, e durante o primeiro quarto de hora teve mesmo mais posse de bola, mantendo sempre o Sporting perfeitamente sob controlo (o Sporting teve uma ocasião na qual, apesar de estar claramente em posição irregular, o Paulinho se isolou e conseguiu mesmo assim mostrar toda a sua classe na finalização). E a fechar este período, o golo. Passe muito longo do Vertonghen, desde a defesa, para as costas dos centrais do Sporting, e depois o Darwin fez o resto. Ganhou em velocidade ao Neto, ganhou em força ao Coates, tocando a bola de cabeça para a frente, e ganhou em classe ao Adán, passando-lhe a bola por cima com um toque subtil. Já ouvi muitos sportinguistas a dizer que foi simplesmente um chuto para a frente e depois foi 'sorte'. Acho que não têm prestado muita atenção aos jogos do seu próprio clube desde que o Amorim chegou, porque isto para mim até foi um golo bastante típico deles. Aliás, estive esta época em Alvalade a ver o Dortmund e o primeiro golo do Sporting surge de um chutão para a frente do Coates, e não me recordo de os ver desvalorizarem esse golo. Depois do golo o Sporting foi obrigado a ter mais iniciativa e passou a ter mais bola, o que regra geral não são boas notícias para eles porque me parece sempre que em ataque organizado, contra equipas que se fecham, têm muito mais dificuldades com a falta de espaço e rapidamente ficam sem ideias, passando a abusar dos cruzamentos sucessivos, muitas vezes feito sem grande nexo. Eu não quero ser arrogante ao ponto de dizer que a tarefa do Benfica foi fácil, mas a verdade é que fomos bastante eficazes a manter o Sporting longe da nossa baliza e o Vlachodimos teve muito pouco trabalho, recordando-me apenas de uma situação em que teve que sair aos pés do Pote quando este conseguiu libertar-se nas costas da nossa defesa. Já na outra baliza, o Diogo Gonçalves entrou pela direita e teve um remate cruzado perigoso que obrigou o Adán a uma defesa apertada, e tivemos um golo bem anulado ao Otamendi, na recarga a um cabeceamento perigoso do Gonçalo Ramos que mais uma vez obrigou o Adán a uma boa defesa (o Otamendi estava fora de jogo, mas o Ramos não e valeu mesmo a defesa do Adán para evitar o segundo).
Sem alterações para a segunda parte, começámos com uma grande ocasião de golo para o Benfica, quando o Gonçalo Ramos deixou o Everton em óptima posição na zona frontal da área e o remate do brasileiro acabou por tirar tinta ao poste. Na resposta, o Sporting teve a sua melhor (e se calhar única) ocasião de perigo, num cruzamento largo do Nuno Santos desde a direita da nossa defesa que permitiu ao Sarabia aparecer na zona do segundo poste a ganhar ao Grimaldo de cabeça e acertar no poste/barra da baliza. Isto foi aos quarenta e oito minutos de jogo e, por estranho que pareça dizer isto, foi praticamente o canto do cisne do Sporting no jogo. Daí para a frente a tendência para o chuveirinho intensificou-se, e se é verdade que eu acho que os nossos centrais estão já numa fase descendente da carreira, quando jogamos com linhas mais recuadas e eles não têm a preocupação de defender o espaço vazio nas costas, então ficam muito mais confortáveis porque a experiência conta muito em termos posicionais. Por isso foram limpando quase tudo sem grandes problemas. Isto inclui também as bolas paradas, situação na qual o Sporting costuma ser forte (e onde o Benfica comete erros crassos com frequência) mas que ontem não foram relevantes - nem uma situação minimamente perigosa resultante de uma bola parada, e entre cantos e livres estas não foram poucas. Se eu já me sentia confiante antes do jogo, bastaram poucos minutos na segunda parte para ficar quase com a certeza que, salvo alguma intervenção estranha no jogo (daquelas que já nos habituámos a ver tantas vezes esta época) a vitória já não nos fugiria. Porque ao fim de uns quinze minutos o jogo do Sporting já estava praticamente caótico, enquanto que o Benfica mantinha a organização e era apenas uma questão de sermos mais espertos a aproveitar os espaços cada vez maiores que eles iam deixando atrás. Nem mesmo a entrada do cotoveleiro para o ataque do Sporting serviu para nos causar mais incómodos, enquanto que o Benfica até demorou bastante tempo até mexer na equipa. Fizemo-lo apenas a um quarto de hora do final e confesso que nem fiquei particularmente agradado. Trocámos o Taarabt e o Everton pelo Paulo Bernardo e o Gil Dias, e se a primeira troca me pareceu normal, já a saída do Everton não me agradou tanto porque ele estava a fazer um bom jogo e ser um jogador incómodo pelo seu lado à medida que havia cada vez mais espaço. Além disso parecia-me que o Gonçalo Ramos já estava fisicamente no limite há algum tempo, e estranhei que se mantivesse em campo (foi trocado já muito perto do fim pelo João Mário, para animar um bocado as bancadas). Um pouco mais tarde entrou o André Almeida para o lugar do Diogo Gonçalves e o Gilberto passou a fazer de médio direito. Nos minutos finais para mim a dúvida era apenas quando é que finalmente aproveitaríamos para marcar o segundo golo, porque cada vez que a bola era recuperada e chegava aos pés do Darwin sentia-se que poderia sair dali alguma coisa. Já a resposta do Sporting era a tradicional alteração táctica revolucionária de meter o Coates na frente para incentivar ainda mais o chuveiro. O árbitro decidiu adicionar sete minutos que me pareceram de todo exagerados (que foram anunciados pelo speaker de Alvalade de uma forma quase triunfal) mas saiu-lhe o tiro pela culatra, porque bastaram apenas dois desses minutos para dar a estocada final. Na jogada anterior o Benfica tinha recuperado a bola e o Gil Dias subiu pela esquerda, preferindo de forma errada tentar fazer tudo sozinho em vez de soltar a bola no Darwin. Desta vez foi o Darwin a conduzir pela esquerda (depois da bola ter sido recuperada pelo Grimaldo e passado pelo Gil Dias) e não foi egoísta: de tão pouco preocupados estarem com ele, os quatro jogadores do Sporting que acompanharam o ataque do Benfica foram todos para cima do Darwin, e ele só teve que passar a bola para a zona frontal da área, onde estavam sozinhos o Gil Dias e o João Mário. Depois o primeiro limitou-se a marcar um golo quase fácil perante o Adán.
Festejei o golo de forma mais visível e o tipo que estava sentado à minha frente, que se tinha mantido bastante sossegado durante todo o jogo, volta-se para trás:
- É benfiquista?
- Sim
*fist bump*
Sobre a dupla Fábio Veríssimo/Hugo Macron, tenho um grande elogio a fazer-lhes: parabéns por terem protegido o espectáculo e terem adoptado a atitude pedagógica de forma a permitir que as duas equipas acabassem em jogo com onze elementos em campo. Em particular a equipa da casa. Aliás, a pedagogia foi aplicada do primeiro ao último segundo do jogo, ficando bem expressa quando aos noventa e sete minutos o Darwin se escapava mais uma vez numa jogada perigosa e foi ceifado sem dó nem piedade pelo Esgaio, sem qualquer intenção de jogar a bola. O árbitro, sensatamente, optou por deixar o amarelo no bolso porque sabemos que sacar dos amarelos demasiado cedo num jogo pode levar ao descontrolo. Agradeço também terem ignorado as sucessivas patadas gratuitas dos jogadores do Sporting nos nossos jogadores, porque se calhar algum deles até podia ter que ser expulso e depois eles já teriam uma desculpa para a derrota. Foi portanto a arbitragem que eu esperava desta equipa e não saí defraudado. A propósito do tema arbitragem, quero também deixar um grande elogio às palavras do nosso jovem avançado Henrique Araújo, proferidas no final do jogo da nossa equipa B ontem em Vila do Conde (no qual houve mais um episódio de racismo dirigido a um jogador do Benfica, mas tal como aconteceu no caso do Nélson Semedo, nenhum deles é o Marega nem joga noutro clube, por isso o mais provável é passar-se uma esponja por cima do assunto): aquilo que o Henrique disse é o que vai na alma de todos os benfiquistas há muito tempo. Haja quem o exteriorize de forma pública. Quanto mais calados nos mantivermos, mais eles vão aproveitar para continuar a abusar.
O Darwin foi obviamente o homem do jogo. O maior bluff da liga portuguesa voltou a deixar a sua marca, com um golo em que conseguiu combinar velocidade, força e classe na finalização, e uma assistência que foi meio golo. Como eu levo sempre muito a sério a sapiência futebolística dos sportinguistas, e eles estão fartos de me avisar que o Darwin é um flop que só marca a equipas fracas, tinha a certeza que ele iria brilhar neste jogo. Mais a sério, é por demais evidente para qualquer um com pelo menos um olho e que não tenha má vontade ou inveja que ele é um jogador superlativo, bem acima da mediania da nossa liga. Por isso é aproveitar bem os próximos quatro jogos para o vermos com a nossa camisola, porque infelizmente é daqueles jogadores que já sabemos que é impossível manter. Como era também óbvio em relação ao João Félix, ou outros antes dele. Custa dizê-lo, mas o Darwin merece melhor do que a Liga Portuguesa. E não custa nada dizê-lo, a Liga Portuguesa não merece um jogador como o Darwin porque em Portugal a mentalidade é nivelar por baixo, por isso sempre que alguém se destaca o que tentam fazer é puxar para baixo e desvalorizar. As críticas e ataques que ele sofreu só pelo facto do Benfica ter pago o que pagou por 'um jogador da segunda liga espanhola' são um exemplo disso. Esta época, sem a lesão grave que sofreu a época passada, são vinte e cinco golos noutros tantos jogos na liga, com uma média de um golo a cada setenta minutos. Os números falam por si. Para além do Darwin, e porque é também da mais elementar justiça, espero que no plantel da próxima época haja um lugar para o Gilberto. A adaptação não foi fácil, mas acho que já terá convencido quase toda a gente. Nunca vira a cara à luta, tem a raça que queremos ver num jogador do Benfica, e ontem fez mais um grande jogo. Estou farto de andarmos constantemente a fazer mudanças, à procura de uma solução para a lateral direita, e o Gilberto neste momento é o melhor que ali tivemos nas últimas épocas. Aliás, toda a defesa esteve excepcionalmente acertada. Tacticamente, achei que o Everton fez um bom jogo, mas dele espero que produza mais em termos ofensivos.
São muito poucos os objectivos que temos para os quatro jogos que faltam, para além da defesa da honra do nosso emblema. É continuar com a mesma atitude e empenho, que são ainda mais de louvar precisamente por já não termos títulos a conquistar. O próximo objectivo chama-se Famalicão, mas até ao final da época devemos fazer uma prioridade interromper a série sem derrotas do Porto. Mesmo que, previsivelmente, venha mais uma vez o Artur Soares Dias.
Seria necessário marcar três golos em Anfield para conseguirmos dar a volta à eliminatória. Era pouco provável, mas conseguimo-lo. Infelizmente a defesa voltou a comprometer e por isso acabámos por ser eliminados. Mas conseguimos ser dignos na eliminação e podemos sair de cabeça erguida com a nossa prestação na Champions esta época.
Conforme referido, era preciso marcar e por isso não houve qualquer autocarro. Perante um Liverpool que fez descansar vários titulares (mas cujos substitutos chegariam e sobrariam para vencer a maioria dos seus jogos) o Benfica apresentou-se a jogar da forma como seria mais habitual em qualquer jogo da nossa liga, com o Diogo Gonçalves no lugar do Rafa e sem particulares cautelas defensivas. Alinhámos num esquema táctico semelhante ao apresentado contra a B SAD, com o Taarabt ao lado do Weigl e o Gonçalo Ramos no vértice mais adiantado do triângulo do meio campo. O Liverpool tomou naturalmente conta das operações, mas o Benfica tentava sair em transição sempre que recuperava a bola e deixava a ideia de que poderia mesmo marcar, tendo o primeiro sinal de perigo sido dado pelo Everton, com um remate de fora da área que levou a bola a passar muito próxima do poste com o Alisson já batido. Só que a forma como defendemos é o nosso grande problema, e aos vinte e dois minutos o Liverpool colocou-se em vantagem num lance quase igual ao que lhes tinha dado a vantagem na primeira mão. Canto do lado direito da nossa defesa, marcado com a bola a fugir da baliza, e o Konaté a saltar entre os nossos centrais para cabecear, fazendo outra vez a bola entrar bem junto ao poste. A resposta do Benfica foi dada com um golo anulado ao Darwin logo no minuto seguinte, por fora-de-jogo do uruguaio, mas fica pelo menos na retina a boa finalização dele com o Alisson pela frente. Podíamos ter sofrido o segundo golo em duas ocasiões, mas numa delas o Vlachodimos fez uma grande defesa ao um remate do Díaz depois de ter deitado o Weigl, e na outra o cabeceamento do Firmino desviou nas costas do Vertonghen e saiu por cima. E assim chegámos ao empate dez minutos depois do golo do Liverpool. Um desarme do Milner ao Diogo Gonçalves acabou por oferecer a bola ao Gonçalo Ramos, que em frente ao Alisson finalizou com um bom remate, forte e colocado. A defesa do Liverpool jogava subida no terreno e deixava bastante espaço nas suas costas, mas cometia alguns erros na organização da linha defensiva que nos permitiam tentar explorar esse espaço. Até ao intervalo, foram do Liverpool as melhores situações para voltar a marcar, primeiro num contra-ataque depois de uma muito má falha defensiva do Benfica, que deixou um espaço enorme no meio da defesa que bastou ao Liverpool chutar a bola para a frente para aproveitar. O Firmino tentou servir o Díaz, mas no momento exacto o Grimaldo fez um corte fantástico para evitar o golo. Depois, mesmo a acabar a primeira parte, num remate do Keita de fora da área que fez a bola tirar tinta ao poste.
Ao intervalo o Benfica trocou o Diogo Gonçalves pelo Yaremchuk e como habitualmente encostou o Darwin à esquerda. Na fase inicial o jogo esteve muito morno, disputado a um ritmo bastante lento e sem ocasiões para nenhuma das equipas, mas já sabemos que nunca podemos estar completamente tranquilos quando defendemos da forma habitual, porque os disparates acabam sempre por surgir. Ao fim de dez minutos, portanto, o Liverpool marcou, em mais um lance digno para aí dos distritais. O Vlachodimos saiu aos pés do Díaz, que não tinha conseguido controlar bem uma bola que lhe fora passada, mas desajeitadamente não a conseguiu agarrar. Com a bola ali solta e sem pressão de ninguém, o melhor que o Vertonghen se lembrou de fazer foi um alívio pífio que deixou a bola nos pés do Diogo Jota sobre o vértice da área do outro lado. Depois o Jota apenas teve que passar a bola (ou falhar o remate, não sei bem) para o Firmino aparecer à vontade ao segundo poste para encostar (o Vertonghen, dando sequência ao primeiro disparate, depois deve ter achado que marcar o avançado não valia a pena). Ainda mais confortável no jogo, o Klopp fez entrar os habitualmente titulares Salah, Fabinho e Thiago, e dez minutos depois do segundo golo chegou ao terceiro. Mais uma falha defensiva que só se pode classificar de grotesca, e mais um golo sofrido numa bola parada. Livre marcado desde o lado direito da nossa defesa, bola metida no segundo poste, Otamendi a falhar o cabeceamento de forma patética, e o Firmino a passar entre uns estáticos Gilberto e Gonçalo Ramos para marcar mais uma vez à vontade. Parecia que estava tudo acabado e que até deveríamos começar a preocupar-nos com a possibilidade de uma goleada, dadas as facilidades concedidas na defesa, mas a resposta do Benfica foi excelente e até surpreendente. Já com o João Mário em campo no lugar do Taarabt, aos setenta e três minutos uma boa saída a jogar do Benfica viu o Vertonghen colocar a bola nos pés do Grimaldo sobre a linha do meio campo, e depois a assistência do espanhol saiu perfeita para isolar o Yaremchuk, que ultrapassou o Alisson e marcou. O golo foi inicialmente invalidado por fora-de-jogo, mas o VAR reverteu a decisão. Animou-se a equipa e animaram-se os nossos adeptos que a acompanharam, que durante todo o jogo não se cansaram de manifestar o seu fantástico apoio, e oito minutos depois do golo do Yaremchuk, o Benfica empatava o jogo. Grande passe do Weigl a desmarcar o João Mário nas costas da defesa, que não conseguiu controlar bem a bola mas esta sobrou para o Darwin e o uruguaio, sobre a esquerda, marcou com um toque de classe de primeira a desviar a bola do Alisson. Mais uma vez, golo anulado pelo auxiliar e decisão revertida pelo VAR. E foi o Alisson quem evitou que o jogo entrasse em ebulição logo no pontapé de saída do Liverpool, porque o Gilberto recuperou imediatamente a bola, lançou o Paulo Bernardo (tinha entretanto substituído o Gonçalo Ramos) pela direita, e o cruzamento largo deste desde a linha de fundo foi finalizado pelo Darwin com um pontapé fantástico de primeira que obrigou o Alisson a mergulhar para ir defender a bola bem juntinho da base do poste. Já no perído de descontos, novamente o Darwin a marcar, mas desta vez o auxiliar lá acertou mesmo uma e o golo foi bem invalidado por posição irregular do uruguaio.
O Darwin é naturalmente um dos maiores destaques. Marcou apenas um golo que valeu, mas teve quatro finalizações no jogo, todas de grande classe. Em frente a um guarda-redes de nível mundial como é o Alisson, marcou três em três, sempre com qualidade, ainda que duas tenham depois sido invalidadas. O remate que o Alisson defendeu é outra finalização ao alcance de poucos, e se tem entrado acho que ele ficava já em Inglaterra. Neste momento o Darwin é daqueles jogadores que nos faz ficar entusiasmados mal a bola lhe chega aos pés, porque imediatamente antecipamos alguma coisa especial. Já tinha saudades de ter um jogador assim no Benfica. Outro grande destaque no Benfica foi o Grimaldo. Da defesa foi o único que esteve a um nível superior, tendo fechado sempre bem o seu flanco, evitado um golo quase certo, e ainda feito a assistência para o segundo golo. O pior para mim foi mesmo a dupla de centrais. O Benfica tem neste momento um central de grande nível, Veríssimo, e os que jogaram ontem já estão na fase descendente das suas carreiras. Para mim seria uma boa medida para a próxima época arranjar um central para fazer dupla com o Veríssimo, e não continuarmos a apostar nestes dois.
Segue-se no domingo a visita à equipa da junta de salvação bancária. O terreno já está naturalmente preparado, tendo previsto há duas semanas quem seriam os árbitros nomeados para o jogo: Fábio Veríssimo no campo e o inefável Hugo Miguel no VAR, pela décima segunda vez(!) num jogo do Benfica esta época. Não que eu ache que o Benfica seja o grande favorito para esse jogo, mas assim já temos a garantia de que começamos o jogo com o campo inclinado. Com uma dupla destas, por exemplo, não tenho dúvidas que o Benfica ontem teria perdido 3-0 porque os nossos três golos, que tiveram todos que passar pelo crivo do VAR, seriam invalidados após uma minuciosa escolha do frame certo e de uma linha traçada de forma cirúrgica para descortinar uma unha em fora-de-jogo (este mesmo VAR já no jogo da primeira volta anulou um golo ao Darwin por 4 centímetros). Mas tal como neste jogo, temos que jogar pela honra do nosso emblema, e espero que a exibição de ontem e comunhão com os adeptos (que será a mesma no domingo) sirvam de motivação adicional para esse jogo.
P.S.- Também ontem os nossos miúdos foram dar um (previsível) amasso à melhor academia do mundo, que pode pelo menos celebrar o feito de pela primeira vez na história ter chegado aos quartos de final da UEFA Youth League. Já nós, juntamo-nos a Chelsea, Real Madrid e Barcelona como recordistas de presenças nas meias-finais (quatro) e já somamos três presenças na final, faltando-nos mesmo é o título que já merecemos há algum tempo. Naturalmente que as justificações chovem, inventando coisas como os jogadores do Benfica já jogarem juntos há muito tempo, enquanto que os pobres bancários só se juntaram para este jogo (só pode dizer isto quem não acompanhe de todo os jogos das camadas jovens, já que a nossa equipa na Youth League é também formada por um misto de jogadores que alinham nos juniores, Sub-23 e equipa B). O que eu vi foi uma enorme (e esperada) diferença de classe, e até os prodígios que desceram da equipa principal dos bancários para vir ajudar neste jogo (os laterais Gonçalo Esteves e Nazinho, e o famoso Essugo) foram dos que mais comprometeram, pois os nossos extremos Pedro Santos e Diego Moreira fizeram deles o que quiseram e foram os homens do jogo, enquanto que no meio campo o Martim Neto e o Cher N'Dour mandaram naquilo tudo.
Apesar da entrada em falso e de termos apresentado uma equipa com várias alterações, a vitória do Benfica nunca chegou a estar em causa. A superioridade perante a B SAD foi tão evidente que no final até ficámos a dever-nos uma goleada, mas bastou a inspiração do Darwin em frente à baliza para nos garantir um vitória inteiramente justa.
Foram meia dúzia de alterações em relação ao jogo contra o Liverpool, com as entradas no onze do André Almeida, Lázaro (para a lateral esquerda), Morato, João Mário, Diogo Gonçalves e Meïté. Em termos tácticos, a inovação de jogarmos num sistema de 4-2-3-1, com o João Mário a actuar mais próximo do avançado. Digo desde já que este seria o sistema que, na minha opinião, seria o mais favorável para jogar com um jogador como o Weigl, em vez de o obrigarmos a ser constantemente o único médio mais recuado, mas acabámos por o utilizar precisamente num jogo em que ele ficou de fora. O início de jogo não podia ser pior, com a repetição de um cenário frequente, no qual a equipa adversária marca na primeira vez que se aproxima da nossa baliza. Desta vez foi logo aos dois minutos, num lance em que o Morato sobre com a bola até ficar pressionado e ver-se livre dela de forma atabalhoada, o Taarabt ainda tenta tocar-lhe mas acaba por entregá-la directamente a um adversário. Depois foi apenas o Benfica a mostrar mais uma vez que é uma das equipas que pior defendem em Portugal. Apesar da transição ser feita com apenas dois jogadores da B SAD contra quatro defensores nossos, de alguma forma o jogador que não conduzia a bola conseguiu aparecer completamente solto de marcação à boca da baliza para empurrar a bola para o golo (de alguma forma quer dizer: o Meïté, que o estava a acompanhar, decidiu esquecer-se dele e deixá-lo à vontade para aparecer nas suas costas). Felizmente o golo não pareceu ter grande impacto, e a reacção da equipa foi lançar-se abertamente ao ataque sobre o adversário, começando a acumular ocasiões de perigo. Foi por isso com naturalidade que fiquei com a sensação de que seria apenas uma questão de tempo até o golo surgir, o que aconteceu aos vinte e dois minutos. O Taarabt começou a redimir-se da intervenção no golo adversário e recuperou a bola sobre a direita numa tentativa de sair a jogar por parte da B SAD. Depois assistiu o Darwin na área, que fugiu a um defesa e rematou para o poste mais distante. A pressão do Benfica continuou de forma constante, pese um ou outro descuido defensivo que ainda permitiu que a B SAD tivesse contra-ataques com perigo, mas a produção do Benfica justificava claramente termos ido em vantagem para o intervalo em vez do empate que ainda se verificava. O Everton ainda acertou no ferro da baliza, num remate rasteiro de fora da área, e o André Almeida foi derrubado na área num lance que obviamente teria dado penálti para qualquer um dos amigos do Altis, mas que no nosso caso foi obviamente culpa do André Almeida por se ter colocado debaixo do braço do adversário.
Na segunda parte a pressão continuou, mas desta vez com resultados mais imediatos, pois antes de completado o primeiro quarto de hora já o Benfica tinha dado a volta ao resultado e praticamente garantido a vitória. Já depois do Everton ter estado uma vez mais perto de marcar, no espaço de quatro minutos (aos cinquenta e quatro e cinquenta e oito) o Darwin fez mais dois golos e ficou tudo resolvido. No primeiro, uma excelente desmarcação sobre a direita foi correspondida com um excelente passe do Taarabt, à entrada da área por entre vários adversários, e depois o remate saiu mais uma vez cruzado para o fundo da baliza. No segundo, pelo outro lado, o Darwin foi solicitado por um bom passe do João Mário num lance em que, depois de recuperada a bola, de forma pouco usual conseguimos fazer a transição rápida para o ataque. Depois o remate saiu outra vez para o poste mais distante, desta vez desferido de pé esquerdo. Mais um hat trick e são agora vinte e quatro golos em vinte e quatro jogos no campeonato, e trinta e um golos em trinta e seis jogos no total. Com o jogo resolvido, o Benfica ainda assim continuou a carregar no ataque e a criar ocasiões para dilatar a vantagem, mas a definição das jogadas não foi a melhor - o Lázaro por exemplo rematou à figura do guarda-redes depois de isolado por um grande passe longo do Taarabt. Depois, com as saídas do Taarabt, do Everton e a seguir do Darwin, o jogo acalmou e a avalanche ofensiva do Benfica foi menos marcada. Apesar de não ser obviamente uma comparação muito justa, a diferença entre ter o Darwin ou o Yaremchuk no ataque é abissal, e o ucraniano cada vez mais me parece um enorme erro de casting, porque não parece de todo ser um bom encaixe para o tipo de futebol que queremos praticar. Depois de um susto causado por uma asneira do Meïté, que deixou um adversário isolado que poderia ter relançado a incerteza no resultado, já na fase final do jogo os miúdos Tomás Araújo e Paulo Bernardo tiveram a oportunidade de somar mais alguns minutos na equipa principal, e todos são poucos já que assumo que eles farão parte do plantel na próxima época.
O melhor (e isto começa a tornar-se repetitivo) foi obviamente o Darwin. É claramente um jogador bastante acima da média da equipa, e com uma equipa de recurso como a que jogou neste jogo a diferença foi ainda mais óbvia. Fisicamente é quase imparável, e quando cai sobre a esquerda e consegue acelerar e meter o corpo entre o adversário e a bola, é praticamente imparável e consegue quase sempre entrar na área, só que nem sempre é bem acompanhado - por mais de uma vez ele fez isto, e depois quando entrava na área não havia nenhum colega de equipa lá a quem passar a bola. Acho que nesta fase já começo a sentir saudades dele, porque me parece cada vez mais evidente que não contaremos com ele na próxima época. Haverá ainda quem critique o que pagámos por ele? O Taarabt começou mal o jogo mas redimiu-se rapidamente e foi também um dos melhores, com duas assistências e diversos passes de qualidade. Gostei também da exibição do Everton, que nos últimos jogos se tem mostrado bastante trabalhador.
Neste momento estamos praticamente a cumprir calendário, porque já é praticamente impossível sairmos do terceiro lugar. A aliança do Altis está confortavelmente instalada nos dois primeiros e vão competindo ferozmente para ver qual dos dois é mais ajudado, enquanto acusam o outro (e o Benfica, sempre) de o ser. Eu gostei do esquema táctico que apresentámos neste jogo, que pode ser uma solução válida para que nos falta jogar esta época, já que oferece mais alguma solidez ao meio campo ter dois médios mais recuados, com um deles a ter liberdade para subir. Para a semana temos a visita a casa da equipa que chumbou na matemática da instrução primária e que sobrevive graças à preciosa ajuda da junta de salvação bancária, e apesar de já nada termos a conquistar em termos de campeonato temos a obrigação de defender condignamente o nosso símbolo.
As minhas expectativas para este jogo eram poucas e a primeira parte confirmou o que esperava. Felizmente uma boa reacção do Benfica na segunda parte acabou por melhorar um pouco o cenário, mas tal como previ no final do último post uma equipa que defende tão mal como o Benfica acaba quase sempre penalizada pelos seus erros, e apesar do Liverpool ser uma equipa muito superior ao Benfica é sobretudo por isso que sai de Lisboa com a eliminatória praticamente resolvida.
O onze foi o esperado, o que incluiu o regresso do Taarabt à titularidade (não desiludiu e foi o desastre do costume). O Benfica assumiu a esperada postura defensiva, fechando atrás para depois, em teoria, sair rapidamente explorando a velocidade do trio da frente, Rafa, Everton e Darwin. Em teoria, porque na prática isso não aconteceu muitas vezes, dado que o passe ou não saía e preferíamos voltar para trás, ou saía mal (com o Taarabt sempre em destaque nesse aspecto). O Liverpool, talvez ciente do perigo que isso poderia constituir, não pareceu querer lançar-se abertamente ao ataque e privilegiou a posse de bola e os ataques organizados, exercendo sempre enorme pressão assim que o Benfica a recuperava - raramente passávamos do meio campo. O Benfica na primeira fase do jogo até fez algo que me pareceu acertado, que foi perante a pressão do Liverpool na saída de bola optar por não tentar sair a jogar, já que para o conseguir fazer acabava por ter que encostar os dois centrais à linha de fundo e qualquer perda de bola resultaria em deixar os adversários em jogo. Além disso cedo se percebeu que o árbitro espanhol que veio esta noite à Luz permitia ao Liverpool jogar à inglesa, raramente assinalando qualquer falta, por isso os jogadores ingleses podiam cair rapidamente e em força sobre o portador da bola. Mas defendendo o Benfica mal como defende não é uma questão de se o erro vai acontecer mas sim de quando é que ele vai acontecer. E aconteceu várias vezes, porque só na primeira parte o Vlachodimos deve ter defendido três situações em que tinha um adversário isolado na sua frente. Mas brilhante mesmo foi o lance que deu o primeiro golo do Liverpool: aos dezassete minutos, canto para o Liverpool e na sequência do mesmo o Everton(!) estava a marcar um dos centrais, o Konaté, que obviamente não teve qualquer dificuldade em marcar de cabeça. Fiquei a perguntar-me se por acaso treinamos estes lances (prefiro pensar que não os treinamos, porque se o fazemos então é ainda pior). O segundo golo do Liverpool nasce do génio do Taarabt, pouco depois de, num pontapé de canto, o Otamendi não ter conseguido cabecear a bola para a baliza depois de aparecer sem marcação em posição frontal na pequena área. Numa saída do Benfica para o ataque o Grimaldo conseguiu colocar a bola no marroquino que, excepcionalmente, estava completamente sozinho perto do círculo central. Podia receber a bola tranquilamente, mas não é isso que os génios da bola, que pensam com os pés, fazem. Não, o Taarabt fez um passe de primeira direitinho para os pés de um adversário (como já tinha feito diversos outros maus passes até então). Com a equipa descompensada a sair para o ataque, o Liverpool fez golo em quatro toques. Passe para o Alexander-Arnold, passe longo para o Luiz Diaz na área, que assistiu de cabeça para o golo do Mané. Dois a zero ao intervalo (podia ter sido ainda pior) e tudo tranquilo para os ingleses.
De forma surpreendente não houve alterações ao intervalo e até o Taarabt regressou apesar de ter sido o pior jogador em campo durante a primeira parte. Mas o Benfica veio com uma atitude melhor, e foi mais eficaz a explorar o espaço vazio (que o havia) que o Liverpool deixava nas costas. E deu resultados logo ao fim de quatro minutos, quando o Rafa fugiu pela direita, cruzou rasteiro para a área e uma falha grosseira do Konaté deixou a bola nos pés do Darwin. Depois o Darwin finalizou com calma e classe, colocando a bola no poste mais distante. O Estádio da Luz animou-se, a equipa motivou-se, passámos a ganhar mais duelos individuais e bolas divididas, e durante os minutos que se seguiram o Liverpool passou por dificuldades que eram de todo inesperadas para quem quer que tivesse assistido à primeira parte. O Benfica podia perfeitamente ter chegado ao empate neste período. Durante toda a primeira parte acho que o Benfica fez um remate, e nos primeiros quinze minutos da segunda parte fez cinco. O Darwin cabeceou mal depois de mais um bom cruzamento para a área, rematou para a bancada quando estava em posição frontal (e podia ter tentado o passe para o Rafa), mas a melhor situação foi um remate do Everton, que o Alisson defendeu com dificuldade. O Klopp depressa percebeu o perigo do jogo estar assim partido e de uma assentada fez três substituições, sendo que uma delas foi para encostar o Jota à direita, por onde o Benfica estava a criar mais perigo devido ao facto do Salah quase não defender. Imediatamente o Liverpool conseguiu acalmar o jogo e adormeceu-o para um ritmo que lhe era muito mais conveniente. Houve ainda uma situação na qual acho que poderá ter ficado um penálti por assinalar sobre o Darwin, mas com os critérios de arbitragem do espanhol esta noite, era difícil. Depois foi a repetição da história: é esperar que o erro defensivo aconteça, porque ele vai inevitavelmente acontecer. O Benfica só mais tarde mexeu na equipa, e já depois da entrada do Meïté para o lugar do Taarabt a vinte minutos do final, já dentro dos últimos dez minutos não gostei quando trocámos o Everton pelo Yaremchuk, porque o brasileiro estava a fazer um jogo bastante positivo. Voltando à questão de como defendemos, eu acho sinceramente que somos das equipas que pior defendem em Portugal. Vejo melhor organização defensiva em qualquer equipa do fundo da tabela do que no Benfica, onde nem sequer parece existir a noção de uma linha de fora de jogo. Por isso mesmo sofremos o terceiro golo a três minutos do final e numa altura em que o Liverpool não o justificava de todo, depois de uma perda de bola do Otamendi que resultou numa bola metida nas costas da defesa, tendo o Díaz sido deixado em jogo para marcar (pareceu-me que o Vlachodimos hesitou na saída, o que acontece quase sempre nestas situações). E não sofremos o quarto, pelo Jota, de uma forma quase igual (mais uma perda de bola disparatada do Otamendi) porque o Vlachodimos defendeu.
A primeira parte do Benfica foi para esquecer, mas houve vários jogadores que lutaram muito na segunda. O Darwin foi dos melhores, sendo dos poucos a conseguir ganhar no corpo a corpo com os defesas adversários. Gostei do trabalho do Everton, que ajudou muito o Grimaldo nas tarefas defensivas. O Gonçalo Ramos foi outro que correu muito. Deu pouco nas vistas, até porque jogou claramente como médio e não como avançado. Gostei também do Gilberto e do Weigl, e obviamente que o Vlachodimos é um dos maiores destaques, porque sem as suas intervenções o resultado teria sido muito mais pesado. Não gostei nada do Taarabt nem do Otamendi.
Não tinha grandes ilusões para este jogo e agora menos ainda tenho para a segunda mão. Acho que a segunda parte nos permitiu pelo menos perder com alguma dignidade e é pena que os constantes erros defensivos não nos tenham permitido fazer um pouco melhor, mas se até contra equipas menores na nossa liga os cometemos e pagamos por eles, a este nível é ainda pior. Estou particularmente chateado porque detesto o Liverpool, apesar de ser treinado por um dos meus treinadores preferidos, mas como pontos positivos levo a atitude mostrada na segunda parte, e o ter matado saudades de estar num Estádio da Luz assim. Desde antes da pandemia que não o via assim cheio, e o público foi inexcedível no apoio, até mesmo perante a horrível primeira parte que fizemos.
Ainda a meio da primeira parte deste jogo dei comigo a pensar por que motivo é que eu ainda me incomodo a ver os nossos jogos. Porque é de facto frequentemente um incómodo vê-los, e por uma razão muito simples: o Benfica joga mal.
Com o Darwin a chegar em cima da hora e sem o Taarabt, avançaram o Meïté e o Yaremchuk para a titularidade. Não que eu ache que neste momento, e salvo uma ou outra honrosa excepção, faça grande diferença que é ou não titular, porque a qualidade do futebol é a mesma. Disse na introdução que acho que o Benfica joga mal. Mas se preferirem, podemos dizê-lo por outras palavras: o Benfica não sabe jogar. Quando lhe oferecem a iniciativa de jogo e o deixam ter bola, simplesmente não sabe o que fazer com ela. É um vazio gritante de ideias. O Braga ganhou este jogo fechando-se atrás e dando a iniciativa ao Benfica, saindo depois para o contra-ataque sempre que uma das infindáveis trocas de bola e lateralizações acabava inevitavelmente na perda da posse. Basta isso para ganhar a este Benfica. A título de exemplo, basta dizer que quase no final da primeira parte o Benfica tinha mais do dobro da posse de bola do Braga, e metade dos remates. O Vertonghen ainda meteu a bola na baliza do Braga numa ocasião, mas o golo foi anulado por toque com a mão quando controlou a bola, e pouco depois num livre completamente inventado sobre a linha da área o Braga marcou pelo Iuri Medeiros, num remate que eu considero ser um frango do Vlachodimos. Ainda antes do livre ser marcado dizia para mim próprio que o remate ia sair para o lado do guarda-redes. Mas o guarda-redes não conseguiu prever isso e teve enormes responsabilidades no golo.
Ao intervalo, Darwin e João Mário para os lugares do Everton e do Gonçalo Ramos (dada a absoluta inutilidade do Yaremchuk, surpreendeu-me a sua continuidade) mas mais do mesmo e segundo golo do Braga, pelo André Horta, em mais um lance em que a nossa equipa defendeu de uma forma que envergonharia até uma equipa de infantis. O Vertonghen veio até à esquerda aliviar uma bola, que foi parar aos pés de um adversário, e como ninguém compensou ficou ali uma bela cratera bem no meio da defesa onde o Ricardo Horta ficou simplesmente à espera que a bola lhe chegasse, para depois assistir o irmão, que entrou como quis pelo meio dos jogadores do Benfica. Uma hora de jogo decorrida e o jogo parecia arrumado, até porque o Braga parecia ser mais capaz de ampliar a vantagem. Cinco minutos depois o Benfica fez três substituições de uma vez - Paulo Bernardo, Diogo Gonçalves e Seferovic para os lugares do Vertonghen, Meïté e Yaremchuk, descendo o Weigl para central - e pouco depois, no espaço de apenas três minutos, o jogo estava empatado. Os golos aconteceram aos setenta e quatro e setenta e sete minutos. O primeiro pelo Darwin, na marcação de um penálti por mão do André Horta - atenção que assitimos a um momento histórico, em que o Hugo Miguel como VAR assinalou um penálti a favor do Benfica, já que ele tem um longo historial em fazer precisamente o contrário, revertendo penáltis a nosso favor. O segundo foi na sequência da melhor (se calhar a única) jogada que fizemos em todo o jogo. Cruzamento largo do Seferovic da direita para o segundo poste, onde o Darwin amorteceu de cabeça para o João Mário finalizar em cima da baliza. Jogo relançado, mas isto já era competência a mais: um minuto depois, mais uma vez o Benfica a defender de forma atroz e o Braga novamente em vantagem. Na sequência de um pontapé de canto contra nós, a bola viajou até à esquerda, a defesa não subiu, e um cruzamento muito largo foi encontrar o Vitinha completamente sozinho do outro lado para marcar com um remate cruzado. Depois disso foi pressionar com o coração e sem cabeça, mas o resultado estava feito (mas gostei muito de um lance no qual o Darwin é agarrado pela camisola, consegue mesmo assim libertar-se e ganhar uma boa posição na área, e o árbitro apitou para marcar falta... contra o Benfica).
Destaque no Benfica só se for o Darwin, que provou mais uma vez que sem ele o nosso ataque pura e simplesmente é inexistente. Só mesmo quando ele está em campo é que parece que conseguimos dar pelo menos a sensação de perigo junto da baliza adversária.
Era difícil conseguirmos um resultado positivo num jogo em que jogámos decentemente para aí durante cinco minutos. Custa-me muito ver a nossa equipa e ter a clara sensação de que não têm um plano e não sabem o que fazer. Até mesmo nas bolas paradas: tivemos nove pontapés de canto durante o jogo e não criámos uma única situação de perigo, sendo muitos deles marcados para uma zona onde o guarda-redes saltava à bola sem qualquer oposição. Em contrapartida, conseguimos sofrer um golo na sequência de um dos dois pontapés de canto de que o Braga dispôs. Não sei o que irá acontecer na terça frente ao Liverpool, nem estou particularmente preocupado com isso porque já escrevi várias vezes aqui que a Champions é uma competição que não me entusiasma absolutamente nada. Mas a defender com a qualidade que mostrámos hoje é que não vamos a lado nenhum.
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