Estamos outra vez na chamada silly season, e por norma eu entro num hiato até ao início do futebol a sério. Até porque a tendência está a ser cada vez mais para que a parte tonta seja predominante. Este ano temos um treinador novo, e isso estimula ainda mais a imaginação dos inventores de 'notícias' (recuso-me chamar-lhes jornalistas), que nesta altura já venderam três quartos do nosso plantel e noticiaram o interesse em jogadores suficientes para construir três plantéis. Este post fica por isso em aberto até ao início oficial da época, para que se possam comentar todos os acontecimentos e disparates que a antecedem.
Entretanto ontem o nosso andebol (que é porventura a modalidade de pavilhão com menor palmarés no clube) teve uma vitória épica que encheu os benfiquistas orgulho. Eu posso não ser o maior apreciador de uma ou outra modalidade, mas se há coisa que tem sempre o condão de me irritar é quando ouço benfiquistas defender a extinção de qualquer uma das modalidades, por eventualmente não ser competitiva. O ecletismo faz parte do Benfica. Uns com mais tradição, outros com menos, mas todos a contribuir para o mesmo objectivo: o engrandecimento do Benfica. Parabéns portanto ao nosso andebol pela conquista da EHF European League, que é o culminar de um projecto bem estruturado que começou com a contratação do treinador Chema Rodriguez há dois anos, para pela primeira vez assumir o cargo de treinador principal numa equipa. A ambição será agora reconquistar o título nacional que nos foge desde 2008, o que não é nada fácil dado que o nível dos adversários é também altíssimo.
Finalmente chegou o ponto mais agradável da época de 2021/22 para o Benfica: o seu final. O fecho ficou assinalado por uma vitória em Paços de Ferreira, num jogo aberto entre duas equipas que pouco ou nada tinham a conquistar e cujo ponto de maior realce foram os vários jogadores da formação que foram utilizados pelo Benfica, incluindo duas estreias absolutas.
Foram dois os 'sobreviventes' do onze que tinha ficado a dois centímetros da vitória na última jornada: Gilberto e Gil Dias. Depois, vários jovens no onze: Tomás Araújo, Morato, Sandro, Paulo Bernardo, Henrique Araújo e Tiago Gouveia, acompanhados pelos mais experientes Helton na baliza, Meïté e João Mário. O jogo não tem muito sobre o qual dizer. Foi disputado a um ritmo interessante, com ambas as equipas a não mostrarem grandes preocupações defensivas, o que resultou em diversas situações de golo nas duas balizas. Acho que se tivesse havido menos inspiração dos guarda-redes (ou maior acerto dos avançados) o resultado poderia ter tido mais um par de golos para cada uma das equipas. O Benfica mostrou-se bastante activo pelas alas, sobretudo no lado direito onde o Gil Dias e o Gilberto estiveram muito em jogo, com o segundo a aparecer até diversas vezes em posições mais adiantadas do que o primeiro, como se de um extremo se tratasse. Mas foi do outro lado que, ainda muito cedo no jogo, nasceu o primeiro golo. Logo aos cinco minutos, passe do Tiago Gouveia (que tinha ele mesmo recuperado a bola quando o Paços tentava sair para o ataque) a solicitar uma boa movimentação do Henrique Araújo nas costas da defesa, e o miúdo fez aquilo que faz melhor e mostrou a sua eficácia, marcado de pé esquerdo à saída do guarda-redes. O Paços teve uma boa reacção ao golo sofrido - com o 'nosso' Gaitán sempre muito em jogo - e foi sobretudo graças às intervenções do Helton que conseguimos manter a vantagem. A fechar a primeira parte o Henrique Araújo voltou a marcar, em mais uma jogada que começa nos pés do Tiago Gouveia. Remate cruzado defendido para o lado pelo André Ferreira (por acaso também outro jogador formado no Seixal, tal como o Pedro Ganchas, que também alinhou pelo Paços), o Gil Dias na direita recuperou a bola e fez um cruzamento perfeito para a boca da baliza, onde no poste mais distante o madeirense apareceu no lugar certo a empurrar para o golo. A segunda parte foi apenas mais do mesmo, com ocasiões nas duas balizas e os guarda-redes a evidenciarem-se, assinalando-se especialmente o minuto sessenta e oito, altura em que mais dois jovens promissores, Martim Neto e Diego Moreira, tiveram oportunidade para se estrearem pela equipa principal. Houve um período na segunda parte durante o qual o Benfica alinhou com oito jogadores formados no clube, as excepções sendo o Helton, o Gil Dias e o Meïté, o que se não é inédito, é-o pelo menos desde que me lembro de começar a ver o Benfica. No final a vitória ajusta-se, embora como tenha referido inicialmente talvez pudessem ter havido mais golos para ambas as equipas.
O destaque maior do jogo é evidentemente o Henrique Araújo, autor de dois golos e a mostrar argumentos para ser uma aposta mais séria na próxima época. Outro grande destaque no jogo foi o Helton, que foi o maior responsável pelo nulo do Paços, porque só à sua conta defendeu quatro bolas que em condições normais dariam quase sempre golo. Também bem esteve o Tiago Gouveia, o que não será certamente surpresa para quem tenha acompanhado aquilo que ele fez esta época ao serviço da equipa B. Relativamente aos outros miúdos, achei que o Tomás Araújo mostrou tranquilidade na defesa, o Sandro Cruz esteve melhor do que tinha estado quando se estreou contra o Marítimo, e quanto ao Diego e ao Martim, mantiveram o nível da equipa com a sua entrada. Por último, o João Mário até num jogo destes parece jogar a uma velocidade inferior à de todos os outros.
Vou ser honesto e admitir que não estou particularmente entusiasmado com a próxima época. O que vi nestas duas últimas épocas, culminando com o que se passou a semana passada, faz-me crer que em qualquer jogo o Benfica entrará logo em desvantagem à partida. É verdade que até me dá algum entusiasmo ver jovens formados no clube chegar à equipa principal e temos a promessa teórica de ver isto acontecer mais frequentemente, mas as contratações que vão sendo anunciadas (nenhuma delas concretizada, saliente-se) deixam-me a pensar no quão séria será essa promessa. Depois, a perspectiva de um novo treinador (que vai chocar de frente com a realidade viciada do futebol português) e mais uma revolução no balneário (que no entanto julgo ser mesmo necessária) deixa-me perante o cenário de mais um dito 'ano zero' no futebol do Benfica, e isso nunca me deixa tranquilo ou confiante. Enfim, é renovar o Red Pass e estar como sempre a apoiar e à espera do melhor.
Não conseguimos evitar a festa no nosso estádio daquela fossa séptica mascarada de equipa, que representa aquilo que é hoje o futebol em Portugal. Não jogámos particularmente bem, é verdade, mas até jogámos o suficiente para poder ter vencido este jogo - só que não nos deixaram. Mas mesmo que tivéssemos jogado muito melhor, a sensação com que saímos daquele estádio é que a festa estava já decidia de antemão, tal como o campeão também já o estava desde Agosto passado.
Ironicamente, considero que este jogo foi exemplar. Foi o exemplo perfeito do que é a realidade do futebol português neste momento. Quando cheguei a casa e liguei o computador, quase que me surpreendi por não ter visto o Windows 95 a arrancar, e por não ter tido que fazer o dial up do modem para me ligar à internet, porque pelo caminho cheguei a estar convencido que ainda estava nos anos 90. O jogo foi exemplar porque se quiserem explicar a alguém porque motivo nos últimos 40 anos o Porto, mesmo numa época em que tiver uma equipa de refugo, com jogadores contratados a equipas de terceira linha, jogadores com 40 anos, ou emprestados rejeitados por clubes que não lhes reconheceram qualidade suficiente para pagar as cláusulas de opção, consegue sempre estar até ao fim na luta por qualquer campeonato e é até o maior favorito a vencê-los, não vale a pena falar; mostrem-lhes simplesmente este jogo. O Benfica comete erros, mas mesmo que não os cometesse, e mesmo que investisse 300 milhões em vez de 100, no final o Porto, com a equipa de refugo que conseguisse montar essa época, estaria a lutar pelo título até ao fim. O Darwin hoje marcou mais um golo excepcional. Marcou, toda a gente festejou, o lance foi validado em campo, a bola foi ao meio campo, passaram-se largos minutos, e durante esse tempo o VAR dedicou-se a fazer aquilo que tem feito toda a época em relação ao qualquer golo do Benfica, ou seja, a procurar qualquer motivo para o anular (perdão, roubar). Após grande esforço, conseguiu-o num frame onde colocava o Darwin fora-de-jogo por dois centímetros, ainda por cima um no qual a bola já saiu do pé do Otamendi, que fez o passe (para quem não saiba, a regra aplica-se assim que o pé do jogador que faz o passe contacta com a bola, não quando esta lhe sai do pé). O Darwin este ano teve um golo anulado contra o Porto por 2 centímetros, outro anulado também contra o Porto por 4 centímetros, e um anulado contra o Sporting por 6 centímetros. Muitos acharão que é apenas azar ou coincidência. Para mim, eu acho é que só há uma forma de se conseguir manter uma equipa a ganhar regularmente, seja com que jogadores ou treinador forem: quando montam uma equipa medíocre, é puxar toda a gente para baixo de forma a nivelar pela mediocridade. É este o futebol que querem manter em Portugal. E é por isso que o futebol português não merece jogadores como o Darwin, porque todos se deliciam com a mediocridade e um jogador que ouse destacar-se tem que ser abatido. Quando o Benfica se libertou e recomeçou a ganhar, o contra-ataque foi feito com a farsa dos e-mails, que condicionou tudo e todos contra o Benfica e deu carta branca aos nossos adversários para reinstalar o 'sistema', mas desta vez com raízes ainda mais profundas.
Isto foi o que me deixou completamente desmotivado no jogo de hoje. Não foi a porcaria da festa dos ladrões, essa já estava marcada desde Agosto. Foi ver a coisa feita à minha frente e de todos, à descarada, para mostrar mesmo que nem todos lutam com as mesmas armas. Foi uma espécie de vangloriar daquilo que conseguiram. Quando o golo foi anulado, eu senti que não só a equipa como todo o estádio se esvaziou de crença. Fez-me lembrar um jogo a que assisti na antiga Luz, arbitrado pelo Fortunato Azevedo, em que o Porto ganha 3-2 com uma roubalheira épica (com o Fortunato Azevedo à noite a insistir no Domingo Desportivo que o penálti assinalado a favor do Porto era evidente enquanto o Rui Tovar respondia perplexo que nas imagens não se conseguia ver nada daquilo que ele descrevia). Isto é a nova (e velha) realidade. Num jogo em que o Porto se podia limitar em deixar correr o marfim à espera do nulo final, temos uma equipa de arbitragem que tudo fez para impedir que se jogasse. Assinalou faltas inexistentes de cada vez que um jogador se atirava para o chão - chegámos ao ridículo do auxiliar, a um metro do lance, não assinalar faltas e o árbitro, do outro lado do campo, assinalava-as. Interrompeu por mais do que uma vez jogadas de contra-ataque para assinalar faltas a favor da equipa que saía para o ataque. É saber que teremos sempre árbitros e VAR capazes de encontrar um fora de jogo de 4 centímetros se for para decidir contra nós, mas incapazes de ver um jogador controlar a bola com a mão se for para decidir a favor dos mesmos de sempre. Ou que não conseguem ver um defesa jogar voleibol dentro da sua área, porque isso implicaria assinalar um penálti a favor do Benfica. É impossível achar normal que nas duas últimas épocas os outros dois tenham mais de três vezes mais penáltis a favor do que o Benfica. É porque atacam mais? O Benfica tem melhor ataque do que o Sporting. Aliás, o Tondela só esta época tem mais penáltis a favor do que o Benfica nas duas últimas junta. Será pelo estonteante e sufocante vendaval ofensivo que praticam em todos os jogos? Os árbitros em Portugal estão todos severamente condicionados contra o Benfica - eu nem vou ao ponto de achar que eles roubam intencionalmente, acho é que todos eles têm pavor de eventualmente errar a favor do Benfica, e para se protegerem decidem sistematicamente contra o Benfica. Por outro lado, têm também pavor de errar contra os do costume, e para se protegerem decidem sistematicamente a favor deles.
Depois do que eu vi hoje, o meu estado de espírito para a próxima época é simples de descrever: podemos trocar de treinador, podemos mudar metade do plantel, podíamos até trocar de direcção. O Porto reforça-se com jogadores do Arrentela e do Canelas, mantém o Pepe com 41 anos para ter sempre mais um árbitro em campo, e lá será mais uma vez o grande favorito à conquista do campeonato.
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