Uma sempre importante vitória sobre o Porto permitiu-nos ultrapassá-los na tabela classificativa. Saí da Luz obviamente satisfeito com a indiscutível vitória, mas ao mesmo tempo com aquela habitual sensação a pouco. O Benfica foi claramente superior ao Porto durante o jogo mas a exibição teve mais de paciência e trabalho do que de brilho e fica a ideia de que mais uma vez poderíamos ter produzido um pouco mais, especialmente face às circunstâncias do próprio jogo.
Surpresas no onze, a maior e mais agradável delas a presença do Neres e do Di María no ataque, caindo o João Mário para o banco. O regresso do António Silva era também esperado e assim se verificou. Já em relação à manutenção do Aursnes como lateral esquerdo e ao regresso do João Neves ao lugar do Florentino, torci um bocado o nariz, mas ambos (em especial o segundo) encarregaram-se de mostrar durante o jogo que foram opções acertadas. O Porto apareceu com uma equipa que de jornada para jornada parece sempre ser de recurso. O Conceição baralha e volta a dar e vai distribuindo os poucos jogadores de maior valia conforme pode, de forma a espremer o máximo que pode dele, e atira lá para o meio uns outros que quase parecem ser escolhidos ao calhas porque joguem eles ou outro qualquer, pouca diferença fará no futebol da equipa. Desta vez apareceu um Romário Baró a titular que às vezes até nos esquecemos que faz parte do plantel, como poderia ter surgido um André Franco ou um Gonçalo Borges, que olharíamos para a equipa e nem pensaríamos mais no assunto e no que eles poderiam trazer ao jogo. Independentemente disto, e para não variar, o Benfica entrou mal no jogo. Nem vou dizer que foi o Porto quem entrou particularmente bem, porque se calhar estaria à espera de um Porto a pressionar de forma muito agressiva como o faz habitualmente nos jogos contra nós com bons resultados, mas não foi assim que eles abordaram o jogo. Mas foram certamente mais decididos do que nós, que parecemos entrar de uma forma demasiado macia e expectante. O que, na minha opinião, apenas ajuda o adversário a ficar confortável e mais confiante no jogo, e a verdade é que no primeiro quarto de hora foi o Porto quem teve mais bola e quem mais jogou no meio campo adversário. Como de costume, alguma superioridade no meio campo e insistência pelo nosso lado direito aproveitando a sempre pouca disponibilidade do Di María para defender. O momento decisivo do jogo surge aos dezanove minutos, depois do Porto ter feito um remate directamente para as mãos do Trubin. Na resposta, a bola foi para o Kokçu, que lançou a corrida do Neres e este foi derrubado pelo Fábio Cardoso quando se ia escapar em direcção à baliza. Vermelho directo, e a partir daí o jogo mudou. A mudança não foi imediata; o Benfica não começou logo a mandar no jogo e a ir de forma avassaladora para cima do adversário, mas houve um natural retrair do Porto, até porque foi obrigado a retirar um médio (Romário) para colocar um defesa (mais um jogador virtualmente desconhecido, Zé António, que aos 26 anos anda pela equipa B) e perdeu a superioridade no meio - alterou o habitual 4-3-3 para um 4-4-1, deixando o Taremi só na frente. Mas mesmo assim o Porto ainda conseguiu ir mantendo o jogo relativamente equilibrado para quem estava em desvantagem numérica, evitando que o Benfica conseguisse qualquer tipo de sufoco e tendo até conseguido um par de situações de perigo, obrigando o Trubin a sair aos pés do Taremi para o desarmar quando este lhe aparecia em boa posição, e num remate do Pepê de fora da área a obrigá-lo a uma defesa mais aparatosa. A única ocasião de verdadeiro perigo por parte do Benfica surgiu quase que por acaso, num cruzamento rasteiro do Neres que quase foi desviado para a própria baliza por um jogador do Porto, valendo-lhes a boa reacção do Diogo Costa a evitar o golo com o pé, para depois ainda conseguir com uma segunda defesa que a bola pingasse para dentro da baliza. Mas na maioria do tempo fomos incapazes de ter arte ou imaginação para encontrar espaços quando o Porto se fechava atrás Houve ainda novo momento de possível expulsão para um defesa do Porto, neste caso o Carmo, que derrubou o Rafa quando este se lhe escapava. O árbitro decidiu-se pelo amarelo, de forma absolutamente incrível o Pasteleiro no VAR achou que seria lance para vermelho e chamou o João Pinheiro, mas este manteve a decisão tomada em campo.
Não fizemos alterações para a segunda parte, mas viemos com uma atitude mais decidida, empurrando o Porto para a seu último terço. A posse de bola começou a desequilibrar-se de forma muito acentuada para nós, e o Porto simplesmente desapareceu do ataque, porque já nem sequer conseguia sair em transição. A única forma que teve de fazer a bola chegar à nossa área era através de bolas paradas, e já nos minutos finais, que eram despejadas para lá. Começaram também a surgir ocasiões de perigo, quase sempre pela esquerda onde o Neres tomava a iniciativa, quase sempre bem apoiado por um surpreendente Aursnes. No meio, o João Neves ia enchendo o campo parecendo estar em toda a parte ao mesmo tempo, e até pelo ar conseguia ganhar a maioria dos lances que disputava. Assistido pelo Neres, o Musa atirou ao lado no primeiro aviso da segunda parte. A seguir, no seguimento de um canto, a bola sobrou para o Kokçu na esquerda que rematou de primeira, fazendo a bola ir ainda bater no poste. O Porto não conseguia sair da sua zona defensiva e momentos depois a bola foi ter com o Neres na área que sobre a esquerda e em posição privilegiada não rematou de primeira e em vez disso sentou o Pepê, para depois em situação ainda mais flagrante ver o Diogo Costa negar-lhe o golo com uma enorme defesa. No seguimento do canto, foi o Otamendi a surgir solto ao segundo poste para emendar um cruzamento largo do João Neves e atirar à malha lateral. O golo parecia cada vez mais perto, mas foi preciso esperar até ao minuto sessenta e oito para ele aparecer. Novamente o Neres a entrar na área pela esquerda e a fazer o cruzamento rasteiro e atrasado a partir da linha final, para o Di María aparecer no meio e com um remate bastante enrolado, que ainda desviou ligeiramente num adversário, trair finalmente o Diogo Costa. Sinceramente, depois deste golo e face ao que eu via, mesmo com as alterações que o Porto fez, não achei que tivessem força ou sequer talento para ir buscar o empate. Mas poderia sempre haver algum lance fortuito, e neste campeonato se há equipa que se tem mostrado capaz de tirar estes coelhos da cartola nos últimos suspiros dos jogos é precisamente o Porto. Mas nem chegaram perto, não conseguiram criar qualquer ocasião de perigo e o Trubin teve uma segunda parte muito descansada. O lance mais perigoso foi mesmo para o Benfica, quando o Otamendi, a passe do Kokçu e em posição muito boa na área, rematou de primeira para fora, com a bola a passar muito perto do ângulo superior da baliza, mas pareceu-me que depois de chegar à vantagem o Benfica preferiu abordar o resto do jogo de uma forma mais racional e não correr demasiados riscos em busca de mais um golo. Lamento apenas alguns comportamentos pouco espertos dos nossos jogadores, porque o lance no final do jogo em que o Conceição pequeno faz falta para amarelo sobre o Otamendi e nós acabamos por ver dois amarelos (Otamendi e Jurasek) é ridículo. Como se já não bastasse o amarelo ao Di María por ter tirado a camisola nos festejos.
Para mim os maiores destaques da equipa do Benfica foram o João Neves e o David Neres, sobretudo por aquilo que fizeram na segunda parte. O João Neves foi incansável, esteve um pouco por toda a parte, a atacar, a defender, a construir e a destruir se preciso fosse. Como referi antes, até pelo ar ele se fartou de ganhar lances, e se calhar era um dos jogadores mais baixos em campo. O Neres foi o jogador mais perigoso do Benfica - quase todos os desequilíbrios que conseguimos causar na defesa do Porto e o perigo daí resultante vieram das incursões dele pela esquerda. Continua esta época a jogar mais como extremo puro pela esquerda a tentar assistir os colegas , e neste jogo somou mais uma assistência, esta decisiva. Bem merecia o golo que o Diogo Costa lhe negou, numa jogada em que fez tudo bem mas há o mérito inegável do guarda-redes do Porto. O Di María vai ficar com o mérito de ter feito o golo que decidiu o jogo, mas honestamente achei que foi dos jogos mais apagados que lhe vi fazer esta época.
E porque é que a vitória me soube a pouco? Porque na minha opinião, depois do que eu vi esta época até agora é que a maior valia do Porto neste momento é mesmo o seu treinador, porque este parece-me ser, em termos de qualidade individual, um dos piores plantéis do Porto de que tenho memória. Do onze que entrou na Luz acho que apenas quatro jogadores têm qualidade acima da média: o Pepê e o Diogo Costa (acima de todos) e depois o Taremi e o Galeno (talvez o Varela seja também bom jogador, mas ainda não teve tempo de mostrar muito). A diferença em termos de qualidade individual das opções à disposição do Sérgio Conceição e do Roger Schmidt é muito notória. Um exemplo concreto: a sério que pagaram vinte milhões pelo David Carmo? Viram o lance com o Rafa em que ele arriscou ser expulso? Alguma vez o Pepe, com quase quarenta e um anos, seria comido assim pelo Rafa? A diferença de velocidade entre os dois seria provavelmente a mesma ou se calhar até maior, mas não tenho dúvidas que o Pepe se colocaria à frente do Rafa, abria os braços ou estendia os cotovelos e provavelmente caía e sacava uma falta ao Rafa. Agora que o Rafa não passava por ele assim (quase que parecia que o Carmo estava a correr para trás), não passava. Com uma tão grande diferença de qualidade é frustrante que apenas tenhamos conseguido bater o Porto por um golo, e com eles reduzidos a dez - e não tenho problemas em admitir que, pelo menos com base naquilo que vi enquanto estivemos em igualdade numérica, a não ser que o Benfica se transfigurasse como o fez no jogo da Supertaça seria difícil ganharmos o jogo. É óbvio que o Porto agora vai fazer a sua campanha habitual e tentar vender a ideia (que será certamente comprada cegamente por uma boa faixa de adeptos) de que perderam por causa do árbitro, como se a expulsão não fosse justa. É tão óbvia que até o Conceição teve que o admitir, mas começou logo a campanha tentando comparar o lance à defesa do Trubin aos pés do Taremi, como se os lances fossem sequer comparáveis. O único reparo que eu faço em relação à arbitragem é apenas que mais uma vez verifico que na nossa liga cravar os pitons na perna ou no tornozelo adversário apenas dá vermelho se for um jogador nosso a fazê-lo, porque o tal Zé António já perto do final tentou arrancar um pé ao João Neves e ficou-se com um amarelo. Mas o mais importante: depois do início em falso levamos a melhor série de vitórias consecutivas da liga, ultrapassámos o adversário de hoje e estamos mais perto do topo. Andaram a semana toda a falar do registo do Conceição contra o Benfica, e do Porto na Luz, pelos vistos esqueceram-se que em três jogos entre o Schmidt e o Conceição o resultado era 2-1. Agora está 3-1.
Podia ter sido um simples passeio até ao Algarve, mas acabou por ser mais um jogo com muitas semelhanças à maioria daqueles que temos disputado fora de portas nesta liga, e com o mesmo resultado: uma vitória do Benfica, com uns sobressaltos nada justificados e perfeitamente dispensáveis pelo meio. No final, e para não variar, a sensação de que os números da vitória sabem a pouco.
Fiquei algo surpreendido com a constituição da equipa, já que esperava que o Roger Schmidt fosse o Roger Schmidt e nada mudasse. Em vez disso, o Morato, o Florentino e o Neres avançaram para a titularidade, saindo do onze o António Silva, o João Neves e o Di María (que nem no banco se sentou). Pensando bem, a titularidade do Morato fazia sentido: era um bom jogo para lhe dar minutos, em vez de o lançar sem grande ritmo directamente para a titularidade no próximo jogo da Champions em Milão. Veremos agora se no jogo contra o Porto regressa o António Silva (espero que sim) ou se se mantém a aposta no Morato. O Di María pelos vistos teve um pequeno problema físico, e feliz do clube que pode substituí-lo por um jogador com o nível do David Neres. Quanto ao Florentino, fiquei pessoalmente muito feliz por vê-lo regressar. Já o escrevi antes, lamento pelo João Neves, que é um excelente jogador, mas a bem do equilíbrio táctico da equipa o Florentino tem que jogar quase sempre. Por algum motivo foi um dos mais utilizados a época passada, e faz-me confusão vê-lo frequentemente relegado para o banco esta época. Vejo mais o João Neves como uma alternativa ao Kokçu, ou até mesmo ao João Mário. E quem beneficia bastante com a presença do Florentino no onze é o Kokçu, que pode jogar com maior liberdade e aparecer com maior frequência em zonas mais adiantadas. Não é de todo coincidência que os melhores jogos que (na minha opinião) ele fez esta época foram quando fez dupla com o Florentino. Neste jogo fez apenas 45 minutos, mas foram de altíssimo nível. Passando ao jogo, e a exemplo de todos os outros jogos que o Benfica disputou fora esta época, os primeiros quarenta e cinco minutos foram de domínio quase absoluto. Gostei muito do futebol que a equipa apresentou, solto, alegre e com velocidade, onde o inevitável Rafa e o Neres eram dos principais dinamizadores. Bastaram apenas cinco minutos para nos colocarmos em vantagem: arranque do Neres pela esquerda, bola colocada na zona frontal da área e o Kokçu solicitou a entrada do Bah pela direita, com este a marcar um belo golo com um remate seco e cruzado para o poste mais distante. Bonito, simples e eficaz. Logo a seguir o Neres e o Rafa construíram mais uma jogada rápida de transição, com o brasileiro a finalizar num remate de ângulo apertado que só não deu golo por mérito do guarda-redes. Dezassete minutos decorridos, e segundo golo. Passe fantástico do Kokçu ainda antes do círculo central a rasgar por completo a defesa do Portimonense e a solicitar a corrida do Neres pela esquerda, que entrou na área e colocou rasteiro para a finalização fácil do Musa na marca de penálti. O domínio do Benfica continuou, e acho que todos devemos ter ficado com aquela sensação de déjà vu. É que o jogo parecia estar a ser tão fácil e a nossa superioridade tão evidente que à medida que íamos vendo o Benfica falhar consecutivamente o terceiro golo só dava mesmo para pensar no cenário em que de repente o adversário fazia um golo contra a corrente do jogo e ficava tudo virado do avesso - tal como aconteceu nos outros jogos fora. E foram boas as ocasiões que o Benfica teve para fazer esse terceiro golo, com destaque para o Rafa, que numa delas se isolou, ultrapassou mesmo o guarda-redes e depois não arriscou a finalização de pé esquerdo, acabando o lance por se perder junto à linha final. Na outra, novamente isolado (mais um passe em profundidade brilhante do Kokçu) até tentou finalizar bem colocando a bola ao poste mais distante, mas o guarda-redes defendeu com o pé.
Ao intervalo, e mais uma vez de forma talvez surpreendente (porque o nosso treinador costuma ser muito mais conservador nas substituições) houve três trocas de uma vez: Kokçu, Musa e Bah já não voltaram, e vieram nos seus lugares o João Neves, o Arthur Cabral e o Jurasek - o Aursnes passou para lateral direito. Em relação ao Bah, talvez fosse o menos surpreendente porque já se tinha queixado no decorrer da primeira parte. As alterações não pareceram afectar muito o Benfica, que continuou sempre por cima no jogo. Mas no futebol as coisas podem sempre mudar de um momento para o outro, e foi isso que aconteceu quando o Portimonense, praticamente da primeira vez que atacou com perigo, reduziu. O golo não só foi contra a corrente do jogo, como a própria jogada foi atípica e até algo consentida pelo Benfica. Com a equipa toda no ataque, o Portimonense recuperou a bola e um único jogador ultrapassou creio que quatro ou cinco jogadores nossos pelo meio sem que ninguém o travasse, para depois abrir num colega solto pela direita da nossa defesa. Este entrou pela área e finalizou com um remate forte e colocado ao poste mais distante. Foi aos cinquenta e seis minutos, o Portimonense acordou com o golo e sentiu-se algum nervosismo da nossa parte. Para piorar a situação, apenas três minutos depois foi assinalado penálti por um desvio da bola com a mão do Morato. É preocupante que com apenas oito jogos disputados esta época já tenhamos cinco penáltis assinalados contra, sendo que em quatro jogos fora para a liga houve penáltis contra nós em três deles. Felizmente o mal maior foi evitado pelo Trubin, que manteve a calma e defendeu o penálti. Seguiram-se alguns minutos em que o jogo esteve demasiado partido para o meu gosto, mas com a obtenção do terceiro golo, aos sessenta e seis minutos, recuperámos a calma e o controlo do jogo. Nova transição rápida conduzida pelo Rafa, que levou a bola até à zona frontal da área e aguentou até soltar a bola na altura certa para a entrada do Neres pela esquerda, com este a finalizar o lance com um remate por entre as pernas do guarda-redes. Este golo acabou de vez com o Portimonense, e o Benfica conseguiu gerir tranquilamente o jogo até final, ficando até a dever a si próprio não ter aumentado ainda mais a vantagem (ainda estou para perceber como é que o João Mário falhou aquele golo que o Neres lhe ofereceu depois de entrar pela esquerda até à linha de fundo). Até final, nota para o facto do Florentino ter saído, o que obrigou o Aursnes a ocupar a terceira posição diferente em noventa minutos (entrou o Tomás Araújo para a lateral direita) e ainda para ter ficado bastante evidente que o Arthur Cabral está longe da forma ideal.
O homem do jogo é inevitavelmente o David Neres. Esteve na jogada do primeiro golo, fez a assistência para o segundo e marcou o terceiro. Acho que isto basta. Esta época, ao contrário da anterior, tem jogado mais como extremo puro do lado esquerdo, quando a época passada actuava preferencialmente pela direita para vir para o meio. Não deve ser uma situação fácil de gerir ter um jogador deste nível no banco, mas espero que o nosso treinador saiba aproveitar ao máximo e tirar todo o rendimento dele e do Di María, fazendo uma gestão apropriada do esforço de ambos. Grandes quarenta e cinco minutos do Kokçu que, conforme disse, parece jogar bem melhor quando tem as costas quentes pela presença do Florentino. A qualidade de passe do turco não é surpresa para ninguém, e nesta primeira parte vimo-la de forma bem evidente. O Rafa esteve também mais uma vez em evidência - é a chama mais forte do nosso ataque e quase tudo passa por ele. Se tivesse sido mais feliz na finalização seria ele o homem do jogo, mas também se ele finalizasse melhor já não estaria por cá há algum tempo. O Trubin foi decisivo ao defender o penálti que poderia ter virado o jogo de pernas para o ar, mas eu sei como funciona a mentalidade dos nossos adeptos, por isso não sei se será suficiente para o deixarem em paz por muito tempo. Muitos deverão continuar a escrutinar os noventa minutos à procura daquela falha que lhes permita afirmar de forma triunfante 'eu disse logo que ele não era bom'. O principal que eu retiro deste jogo nem foi o penálti defendido porque há sempre alguma dose de felicidade nisso, foi sim a enorme diferença no que diz respeito ao critério a jogar com os pés. Ele não é daqueles guarda-redes que se limita a chutar a bola para a frente quando lha passam (e não querendo eu atacar o Vlachodimos só para valorizar o novo guarda-redes, a verdade é que essa era quase sempre a opção dele) e procura sempre na medida do possível colocar a bola de forma jogável num colega. Vimo-lo fazer isso diversas vezes neste jogo, e um dos golos até começa nos pés dele. Gostaria que o nosso treinador deixasse de utilizar o Aursnes como pau para toda a obra. Não beneficia o jogador (foi dos mais apagados da equipa) nem a equipa.
Estamos apenas na sexta jornada, mas segue-se um jogo que eu não tenho dúvidas que será daqueles em que jogamos potencialmente a época. É um jogo muito decisivo em termos de motivação (nossa e dos adversários). E eu espero que, ao contrário daquilo que vi a época passada, tenham incutido na cabeça dos nossos jogadores precisamente isso. Eles têm que ter a noção de que um jogo contra o Porto não é apenas mais um jogo, e que se entram em campo a pensar assim (ao contrário daquilo que eles fazem sempre) então é meio caminho andado para não o ganhar. Espero também que os meus receios não se confirmem e que não tenhamos mais uma sessão de pastelaria reservada para a próxima sexta-feira. É que fico logo mal disposto assim que anunciam a nomeação dele.
O Benfica teve uma entrada absolutamente desastrosa (se calhar a mais desastrosa que tenho memória de ver) no jogo e na Champions, e em apenas quinze minutos de desacerto total hipotecou seriamente a possibilidade de vencer o jogo. Começar a campanha europeia perdendo aquele que seria teoricamente o jogo mais fácil do calendário não é um bom presságio.
Não esperava revoluções no onze e naturalmente nem uma alteração houve - jogámos com a mesma equipa que tinha entrado em campo em Vizela. O jogo, foi basicamente aquilo que escrevi no parágrafo de abertura. A entrada do Benfica no jogo foi completamente disparatada e antes de se completarem dois minutos já tínhamos um penálti assinalado contra nós. O Salzburg saiu com a bola, conquistou um pontapé de canto, e na sequência do mesmo o Trubin chegou atrasado ao cruzamento e atingiu com as mãos a cabeça de um adversário. O penálti foi marcado de forma desastrada para a bancada, mas o que eu vi foi um Benfica a mostrar mais uma vez a velha lacuna de não conseguir lidar com equipas que pressionam de forma muito agressiva, que foi aquilo que os austríacos fizeram. Caíam logo em cima da bola e dos nossos jogadores à saída da nossa área, pressionavam em bloco, e nós acabávamos por parecer intimidados e com receio de arriscar passes em progressão de forma a ultrapassar esta primeira linha de pressão - o que é a chave para quebrar estas equipas. É difícil descrever a minha irritação quando por diversas vezes via a bola seguir para um jogador que até conseguiria uma linha de passe para a frente, ou que poderia correr com a bola, mas em vez disso optava imediatamente por um passe de primeira para trás, voltando a colocar a equipa sob pressão. Durante este período apenas por uma vez o Benfica conseguiu construir uma boa jogada, que terminou com um remate do João Mário ao poste, mas praticamente na resposta aconteceu a jogada que eventualmente decidiu o jogo. Um péssimo atraso do Bah colocou a bola nos pés de um adversário, a tentativa de remate deste ainda foi interceptada pelo Otamendi e a bola subiu em balão, passou sobre o Trubin que entretanto tinha saído da baliza, e foi na direcção da baliza com o António Silva em perseguição. Acabou por bater na barra e cair para a mão do António Silva, que por ter assim impedido que a bola ficasse ao alcance de um adversário acabou expulso, para além do inevitável penálti ser assinalado. Parece-me que dentro do primeiro quarto de hora num jogo da Champions cometer dois penáltis e ter um jogador expulso é uma receita quase infalível para o insucesso. Após a expulsão, trocámos o João Mário pelo Morato e passámos a jogar em 4-2-3, deixando sempre muito espaço no meio campo porque o Kokçu e o João Neves não chegam para tudo.
O resto do jogo ficou naturalmente condicionado pela inferioridade numérica, mas verdade seja dita que o Benfica conseguiu disputá-lo olhos nos olhos, mostrando que em condições normais o adversário estaria perfeitamente ao nosso alcance. Mas mais uma vez o problema da finalização também voltou a mostrar-se. Desde o início da época que a equipa me parece órfã do Grimaldo - e a colocação do Aursnes naquela posição em nada ajuda a esquecê-lo - mas parece-me que a falta do Gonçalo Ramos também se vai fazer sentir muito. O Salzburg ficou confortável no jogo e aplicou uma receita mista de toda a calma do mundo em qualquer reposição de bola, de forma a quebrar o ritmo do jogo, em contraste com uma permanente agressividade sempre que a bola estava em jogo. Apesar da superioridade numérica, conseguiram acabar com mais do dobro das faltas cometidas pelo Benfica, porque não tinham qualquer problema em matar as jogadas com faltas sempre que possível. Apesar do Benfica se manter vivo, acho que todos sabíamos que um segundo golo dos austríacos acabaria com a questão de vez, e este surgiu na fase inicial da segunda parte numa jogada absurda. O Benfica, pressionado, tem os dois centrais junto à linha lateral direita. E o Morato, em vez de jogar simples, no meio de uma multidão de adversários tenta um passe ao longo da linha para o Otamendi. claro que um adversário se antecipou, e a partir do momento em que eles recuperam a bola a nossa equipa está completamente descompensada. Na enorme cratera aberta no meio estava apenas o Aursnes em clara inferioridade numérica, que ainda por cima tentou imediatamente o corte à queima. Foi batido, e ficaram dois jogadores do Salzburg isolados em frente ao Trubin, não tendo qualquer dificuldade em marcar. Daí até final foi simplesmente um exercício de paciência. Não deixámos de tentar, mas quando o João Neves consegue cabecear à figura do guarda-redes a um metro da baliza acho que é evidente que a bola não vai mesmo entrar. Achei que o Roger Schmidt voltou a mexer tarde na equipa - não que eu achasse que do banco pudesse sair algum milagre (ao contrário do público, que achou que o Neres iria resolver tudo) mas chegou uma altura em que vários jogadores já pareciam exaustos sem que do banco houvesse reacção. Quando mexeu, lá fez a troca do Kokçu pelo Chiquinho que continua a fazer-me confusão quanto à sua eficácia, e acabámos o jogo com uma frente de ataque completamente nova - Neres, Tengstedt e Tiago Gouveia.
Foi um jogo completamente atípico disputado em circunstâncias pouco habituais, e como tal tenho dificuldade em destacar algum jogador. Acho que a equipa continua a querer viver muito à custa do Rafa e do Di María em termos ofensivos, e quando os adversários os conseguem travar, mesmo que seja á custa de faltas como o fizeram muitas vezes ontem, temos problemas.
Foi a pior entrada possível na Champions já que, como referi, perdemos aquele que em teoria seria o jogo mais fácil. Salvou-se o facto do outro jogo ter dado empate, mas qualquer um dos outros adversários não será fácil, pelo que desperdiçar assim três pontos num grupo que se prevê equilibrado em nada abona a favor do nosso sucesso.
Umas últimas palavras sobre o Trubin. Mostrou-se nervoso, provavelmente por ter cometido aquele penálti logo no início, e depois teve uma falha na saída a um cruzamento no final da primeira parte. Mas eu não tenho muita paciência para os 'adeptos de Champions' que começaram imediatamente a criticá-lo e até a assobiá-lo. Eu não sei se as pessoas têm memória curta, mas qualquer guarda-redes que o Benfica contrate é imediatamente colocado sob escrutínio e pressão pela comunicação social, e irrita-me quando somos nós próprios a alinhar no regabofe e a fazer o trabalho por eles. Estamos fartos de queimar guarda-redes assim, e eles tentam fazê-lo com todos. O Vlachodimos estava cá há cinco anos, mas também ele passou por isto no início (sofreu um golo de fora da área em Chaves e foi logo acusado de não saber defender remates de longe, por exemplo). O Júlio César era o acabado que tinha levado sete da Alemanha. O Svilar marcou um autogolo quando se estreou com 16 ou 17 anos na Champions (porque não tínhamos sequer alternativa) e ficou queimado para sempre. Nenhum guarda-redes contratado pelos adversários tem que passar por isto. O Trubin foi colocado sob pressão ainda antes de se estrear, porque nunca mais se estreava, e depois de se estrear até foram buscar um treinador ucraniano qualquer da segunda divisão para o criticar e dizer que não devia começar já a jogar. Não sei bem que tipo de satisfação é que os benfiquistas poderão tirar se conseguirem queimar mais um guarda-redes (que, acreditem ou não, é mesmo um dos mais promissores jovens guarda-redes europeus) mas se quiserem fazê-lo, pela amostra de ontem estamos no bom caminho.
Mais um jogo que acabou numa vitória mas com algum sofrimento totalmente desnecessário. E isto porque o Benfica não soube reflectir no resultado a sua mais do que evidente superioridade, deixando-se exposto a um qualquer acaso que recolocasse o Vizela na partida. Assim, aquilo que poderia ter sido uma vitória perfeitamente tranquila acabou por ser uma vitória magra pela margem mínima - acabou por me recordar muito daquilo que já tinha sido o nosso jogo em Barcelos.
Depois de muito barulho e especulação, lá surgiu o Trubin na baliza. Conforme sabemos, no Benfica tudo serve para construir histórias, porque o Benfica é o único clube no mundo que não pode ter bons jogadores para além dos onze que jogam - se isso acontecer, temos logo um caso (eu agora aguardo pacientemente o 'caso' criado pela perda de titularidade do Samuel Soares). De resto não houve nada de surpreendente, o Bah recuperou a tempo de jogar, o Aursnes continua a sua etapa de formação na posição de lateral esquerdo, o João Neves voltou a formar dupla com o Kokçu, o Neres continua no banco para desgosto da sua mulher, e o Musa conseguiu manter o Arthur fora do onze. O jogo, foi o que se esperava. Superioridade e domínio territorial quase total por parte do Benfica desde o apito inicial, com a maioria das jogadas de ataque a passar obrigatoriamente pelos suspeitos do costume (Rafa e Di María), que eram aqueles que criavam quase todos os desequilíbrios ofensivos. O Vizela foi literalmente inexistente no ataque, o que não permitiu ver quase nada do Trubin, excepto quando era obrigado a jogar com os pés as bolas que eventualmente lhe eram atrasadas pelos colegas. Desta vez nem deu tempo para ficar muito nervoso com o resultado, porque chegámos cedo ao golo. Passe do Kokçu a desmarcar o inevitável Rafa sobre a esquerda, que progrediu até à área e quando se calhar já se esperaria o remate colocou a bola no meio, onde o Musa atirou a contar, beneficiando ainda de um desvio da bola num defesa. Estavam decorridos nove minutos. Logo a seguir, quase o segundo golo, num lance em que depois de um cruzamento do Di María na esquerda o Bah não conseguiu o desvio de cabeça, foi atingido na cara pelo pé do João Mário que também se fez ao lance, e foi um defesa do Vizela quem acabou por cabecear a bola contra o poste da sua baliza. O jogo continuou a ter sentido único e a seguir foi o Kokçu quem falhou o golo, depois de uma boa jogada colectiva do Benfica na qual tabelou com o Di María, entrou isolado na área sobre a esquerda, e quando podia simplesmente ter passado para uma finalização que seria fácil do Bah acabou por fazer algo que não foi nem um passe, nem um remate, fazendo a bola sair ao lado da baliza. De uma forma simples, a primeira parte foi isto. Sempre jogada no meio campo do Vizela, com o Benfica a construir oportunidades e a não as concretizar, numa demonstração de superioridade total em que nem sequer parecia estar a fazer grande esforço. Só a cinco minutos do intervalo é que finalmente surgiu o mais do que merecido segundo golo, num livre directo à entrada da área marcado pelo Di María. Os dois golos de vantagem ao intervalo davam alguma tranquilidade, mas ainda assim pareciam escassos e deixavam a desejar pelo menos mais um golo para nos colocarmos a salvo de surpresas desagradáveis.
Na segunda parte, fiquei logo com a impressão que o Benfica começou a pensar no jogo da Champions e abrandou o ritmo, ainda que tenha continuado a estar completamente à vontade no jogo e a dar a sensação de que mais cedo ou mais tarde o terceiro golo surgiria. Se calhar também foi essa a atitude da própria equipa, que se deixou embalar pela enorme superioridade de que ia gozando no campo numa quase certeza de que a vitória já não fugiria. Assistimos também a mais momentos caricatos do nosso futebol, neste caso uma jogada na qual o Otamendi foi pisado de forma bastante dolorosa por um adversário e foi assinalada falta contra o Benfica, enquanto os sempre imparciais e informados comentários do Freitas Lobo nos explicavam que era visível que o Otamendi tinha 'torcido o pé' depois de fazer a falta. Por favor não mandem este homem comentar para o Porto Canal que ele faz cá falta. Mais ou menos a meio da segunda parte, tivemos uns minutos que acabaram por se revelar decisivos para o rumo do jogo. Primeiro, o Benfica falhou de forma escandalosa o terceiro golo, quando o Rafa se escapou na área e colocou a bola ao dispor do Musa, que rematou de forma a permitir uma grande defesa do guarda-redes do Vizela (e a situação era tão flagrante que ainda estava o Di María completamente sozinho ao lado do Musa para finalizar se fosse necessário). Pouco depois, e numa raríssima situação em que o Vizela chegou à nossa área, fez um cruzamento largo e o Aursnes, com pouco conhecimento da sua própria força, tocou nas costas de um jogador do Vizela, que perante a violência do contacto tropeçou em si próprio e estatelou-se no chão. Penálti evidente, porque houve 'toque' e nestas coisas dentro da nossa área a questão da intensidade nunca se coloca. O Vizela converteu a grande penalidade, o Freitas Lobo deve ter feito um bocadinho de xixi nas calças com a excitação, e tínhamos agora um jogo que até aqui tinha estado completamente controlado em risco de dar para o torto. A reacção da parte do nosso banco foi um bocado estranha, pois trocámos o Kokçu (que na minha opinião estava a jogar bem) pelo Chiquinho, o que não me pareceu que trouxesse nada de novo. Mas isto do jogo estar em risco de dar para o torto era mais uma coisa psicológica, porque a verdade é que o Vizela nunca conseguiu assumir o jogo ou colocar-nos sob qualquer tipo de pressão mais intensa. E já mesmo no final dos noventa minutos, mais um lance 'interessante'. O Rafa isolou-se, e quando tentou atirar para a baliza o guarda-redes do Vizela cortou o lance com o braço, fora da área. O árbitro nada assinalou apesar dos protestos dos nossos jogadores, mas depois de interrompido o jogo acabou mesmo por ser chamado pelo VAR. As imagens mostraram que o corte foi claramente feito com o braço, e perante isto o árbitro não teve outra possibilidade senão... assinalar fora-de jogo ao Rafa. Se calhar até estava mesmo, mas foi muito conveniente, porque no lance corrido a sensação que me ficou foi que depois do passe vindo da defesa o Neres disputa a bola com um defesa e é ele quem toca a bola para o Rafa, sendo que nessa altura ele já não estaria em posição irregular. Infelizmente, e por grande azar, a infalível SportTV não nos conseguiu mostrar qualquer repetição de outro ângulo que eventualmente nos permitisse verificar isso e portanto temos que aceitar a decisão como válida. Já mais difícil de aceitar foram os oito minutos de compensação, completamente injustificados, e que depois de forma ainda mais injustificada foram prolongados até aos doze. Mas acho que nem que tivesse sido dada mais meia hora o Vizela conseguiria chegar ao empate. Foi aliás o Benfica quem durante a compensação voltou a falhar o terceiro, com o Rafa a isolar-se novamente e a permitir a defesa ao guarda-redes.
Os destaques do Benfica são os suspeitos do costume, Di María e Rafa, porque são eles quem faz andar o carrossel do nosso ataque e acabam por estar na origem de quase todas as nossas jogadas de perigo. O João Neves também esteve muito bem durante todo o jogo, e gostei do Kokçu. Do estreante Trubin, acho que pouco se pode dizer porque não teve trabalho nenhum. Sofreu um golo de penálti, e acho que não deve ter feito uma única defesa durante todo o jogo.
Cumprida a obrigação de ganhar, fica apenas algum amargo por mais uma vez o resultado não reflectir de forma correcta não só a diferença entre as duas equipas mas também o que se passou no terreno de jogo. O Benfica precisa de recuperar o killer instinct para arrumar de vez com os jogos o mais cedo possível e não deixar os adversários com qualquer tipo de pretensões a incomodar sequer. A justeza da vitória não está de forma alguma em causa, mas quando nos vejo jogar tem-me ficado frequentemente a sensação de que temos qualidade (e obrigação) para produzir mais, em vez de nos limitarmos simplesmente a ganhar, muitas vezes pela margem mínima.
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