Um Benfica a atravessar uma grave crise de confiança conseguiu o feito inacreditável de desperdiçar, em casa, dois pontos contra uma equipa tão má como o Casa Pia. Não estou a exagerar, o Casa Pia é capaz de ter sido a pior equipa contra a qual eu vi o Benfica jogar esta época, que entrou em campo com um futebol ultra-negativo, sempre a queimar tempo nas reposições de bola, com preocupações exclusivamente defensivas, e mesmo assim isso foi suficiente para conseguir arrancar um empate por culpa quase exclusiva do Benfica e dos sucessivos tiros nos pés que persistiu em dar.
O onze inicial acabou por ser afectado pelas baixas um tanto ou quanto inesperadas que foram conhecidas pouco antes: Bah, Kokçu e Musa ficaram de fora por lesão. Sabendo-se agora que a indisponibilidade do Bah vai ser relativamente prolongada, mais uma vez confirmamos o quão mau foi o planeamento de vender o Gilberto e ficarmos apenas com um lateral direito no plantel. Obviamente que será o bombeiro Aursnes a ocupar essa posição, que foi o que aconteceu neste jogo. Na esquerda da defesa jogou o Bernat, e no meio campo regressou o Florentino para fazer dupla com o João Neves. A posição de ponta de lança foi ocupada pelo Cabral, com o João Mário e o Neres a ocuparem as alas - o Di María começou no banco. Confesso que não tenho uma boa opinião do Casa Pia, e em especial do seu treinador. É alguém que contra o Benfica apresenta sempre um futebol extremamente negativo, e foi exactamente isso que veio fazer à Luz, com irritantes perdas de tempo em cada reposição de bola. O Casa Pia preocupou-se apenas em defender, com duas linhas muito recuadas e juntas, quase sempre toda a gente atrás de bola, e assim a primeira parte foi um exercício de monotonia, jogada quase exclusivamente em metade do campo, com o Benfica a ter perto de 80% de posse de bola. Só que o problema é que o Benfica não está a jogar grande coisa e não sabe o que fazer com tanta posse de bola. Há duas diferenças muito grandes em relação à época passada: primeiro, praticamente que deixámos de fazer transições ofensivas. Aquilo que era uma imagem de marca da equipa, este ano quase não acontece, o que é pouco compreensível porque continuamos a ter jogadores rápidos na condução da bola como o são o Rafa ou o Neres. Recuperamos a bola e as saídas para o ataque são quase sempre travadas para se fazer um passe atrasado e optar pelo ataque organizado. E aqui surge o segundo problema: incapacidade de jogar entre linhas. É por isso que assistimos a longos períodos daquele futebol exasperante em que andamos a circular a bola da esquerda para a direita, e da direita para a esquerda, em sucessivas lateralizações e nenhum passe em progressão, perante as linhas defensivas adversárias. Já vimos isto antes, com vários treinadores que antecederam o Roger Schmidt, e o prolongamento deste futebol nunca acabou bem. O golo do Benfica acabou por surgir numa jogada que contrariou este cenário já mesmo a acabar a primeira parte, na qual o Florentino fez um bom passe longo para o Aursnes na direita, que tocou para a entrada do João Mário na área, e este deu um toque na bola para a controlar e outro para fazer um grande remate cruzado para um grande golo.
O mais difícil estava feito - o primeiro golo contra uma equipa que só queria defender o nulo. Tratava-se agora de, na segunda parte, ir rapidamente à procura de um segundo para nos colocarmos a salvo de imprevistos. Que foi aquilo que não fizemos; em vez de ir à procura desse golo o Benfica simplesmente ficou à espera que ele aparecesse. Há clara falta de confiança nesta equipa, que pareceu satisfeita e conformada com a vantagem mínima e sem vontade de correr muito na procura do golo da tranquilidade. Foram longos minutos de mais monotonia e mau futebol, a exasperar o público que mais uma vez preencheu as bancadas da Luz. Depois, os tais imprevistos - que podemos chamar de tiros nos pés - começaram a surgir. O primeiro foi logo na fase inicial da segunda parte, quando o Florentino teve uma entrada fora de tempo e acabou por cometer um penálti infantil. Honestamente, ele não acerta no adversário e é o adversário quem, aproveitando a entrada fora de tempo, vai à procura do contacto, mas contra o Benfica é sempre penálti. A propósito disto, não me recordo de alguma vez ver uma época com tantos penáltis assinalados contra nós. Neste momento temos catorze jogos oficiais disputados e sete penáltis contra, numa média de um penálti contra a cada dois jogos. Não digo isto para insinuar qualquer teoria de perseguição, simplesmente pode ser também mais um sinal de intranquilidade da nossa parte. O Trubin acabou por fazer uma grande defesa no penálti e tornou-se temporariamente o herói do jogo. O penálti poderia ter servido de aviso que o segundo golo era uma necessidade, mas nada mudou - um golo anulado ao António Silva por posição irregular e um bom remate do Di María para uma igualmente boa defesa do guarda-redes foram as principais notas dignas de registo. Pouco depois da meia hora, as primeira alterações na equipa, com as trocas do Bernat e do Neres pelo Jurasek e Di María. No caso do Neres até nem fiquei muito satisfeito por vê-lo sair, porque estava a ser dos poucos que ainda iam agitando um pouco o jogo, mas sabemos agora que já estava lesionado desde a primeira parte e agora enfrenta uma paragem longa. Quanto ao Bernat, compreendo a saída porque ele não fez praticamente nada e passou o jogo todo a esconder-se. O Neres vinha repetidamente para dentro, arrastando marcador directo e abrindo caminho para que o lateral subisse, e ele deixava-se ficar atrás e raramente oferecia linhas de passe. eu sinceramente não me recordo sequer de uma tentativa de cruzamento por parte do Bernat. O problema é que o Jurasek foi outra vez um desastre a defender (as estatísticas mostram que em pouco mais de meia hora ele conseguiu ser um dos jogadores com maior número de perdas de bola, no total de onze) e a partir da sua entrada ficámos muito expostos daquele lado. E foi mesmo dali que apareceu o golo do Casa Pia a nove minutos dos noventa, num lançamento longo para as suas costas que depois resultou num remate quase sem ângulo no qual o Trubin se transformou em vilão, deixando a bola passar entre as pernas com total culpa no lance. A partir daí lá chegámos à conclusão de que era necessário jogar de forma mais rápida e incisiva, e em pouco mais de um quarto de hora construímos uma mão cheia de ocasiões de golo, que incluíram duas bolas nos ferros (Florentino e António Silva) e um lance sobre o Tengstedt (empurrão nas costas) que tenho poucas dúvidas que daria penálti para outra equipa que não nós, mas sendo o Benfica o factor 'intensidade' entra sempre na equação. A pergunta é: porque motivo não jogaram com esta vontade antes do mal estar feito?
Sem grandes destaques, o João Neves, João Mário ou David Neres estiveram num nível aceitável. Gostei de ver o Florentino de regresso, provavelmente terá sido o jogador com maior número de recuperações de bola, muitas delas bem dentro do meio campo adversário, e quase acabou como herói, mas a sua cabeçada encontrou a barra da baliza. A exibição fica apenas manchada pelo penálti infantil que cometeu, que só não teve consequências de maior devido à grande defesa do Trubin. Trubin que poderia também ter acabado como herói, mas apesar do remate ter sido surpreendente nenhum guarda-redes pode sofrer um golo daqueles e ficar isento de culpas. O Cabral voltou a mostrar que é o jogador errado para esta equipa e a forma como jogamos. Teve um bom remate na primeira parte, que saiu à figura do guarda-redes, e pouco mais. Não é um avançado com a mobilidade que é necessária para nós - vi-o várias vezes a sair da posição para se dar ao jogo, mas depois quando chega a altura da bola seguir para a área ele ainda não conseguiu recolocar-se, porque simplesmente não tem características para isso.
É incompreensível que deixemos que a má campanha europeia comece agora a contaminar o percurso interno. Até ontem levávamos sete vitórias consecutivas e estávamos a um ponto do primeiro lugar, e no entanto entramos em campo como se uma tempestade de proporções épicas pairasse sobre a nossa cabeça. Conseguimos assim realizar uma exibição muito pobre frente a um adversário paupérrimo e sem a menor qualidade que justificasse saírem da Luz com qualquer resultado que não a derrota. Entretanto, vamos alimentando os críticos e motivando os adversários.
Um confronto entre uma equipa com uma ideia sólida de jogo, que soube implementar, e um Benfica sem ideias nenhumas. Já saí do estádio há uma hora e vim para casa, e neste momento continuo sem perceber exactamente qual era o objectivo do Benfica no jogo. Ganhou a melhor equipa, de forma natural e merecida, e o Benfica ficou não só com a continuidade na Champions praticamente excluída mas também com a própria continuidade nas provas europeias seriamente comprometida.
Este Benfica é, neste momento, uma manta de equívocos. Na forma como vejo as coisas, da época passada para esta perdemos três jogadores que eram absolutamente fundamentais na forma como jogávamos e também tínhamos capacidade para pressionar alto o adversário (e nem vou incluir o Enzo na lista): Grimaldo, Gonçalo Ramos e Florentino. Os dois primeiros não foram adequadamente substituídos, como aliás ficou espectacularmente demonstrado no jogo desta noite. Não tenho palavras para classificar a exibição do Jurásek, repetidamente batido no um para um com os adversários por insistir em entrar à queima em qualquer jogada, e incapaz de dar a profundidade por aquele lado que o Grimaldo dava. Quanto ao Ramos, o único avançado do plantel com características semelhantes a ele está emprestado ao Famalicão, temos um avançado que em condições normais seria a terceira escolha no Benfica a ter que ser titular quase indiscutível, e gastámos vinte milhões num avançado que não tem absolutamente nada a ver com o Gonçalo Ramos, muito mais posicional e que me parece que quando inserido no nosso modelo de jogo terá extremas dificuldades em adaptar-se e a render aquilo que se espera de um investimento desta monta. Já o caso do Florentino, para mim é simplesmente um incompreensível suicídio táctico da parte do nosso treinador. A forma como passa de um dos jogadores mais utilizados a época passada para praticamente proscrito esta época é um mistério para mim, ainda para mais quando é dolorosamente evidente a falta que faz ao equilíbrio táctico da equipa. Esta noite apresentámo-nos com o Aursnes na sua posição de origem no meio, mas que face à rotina quase que já parece uma posição nova, e com o João Neves ao seu lado. Na esquerda regressou o João Mário e o Neres jogou na direita, já que o Di María não recuperou a tempo de participar neste jogo. A primeira parte foi de relativo equilíbrio, mas deu para perceber que a Real Sociedad estava suficientemente tranquila no jogo e não abdicava de jogar o futebol com que mais se sente confortável. Cada uma das equipas teve um golo anulado, o do Benfica surgindo ainda numa fase inicial do jogo quando o Rafa conseguiu fugir pela direita e colocar a bola para uma finalização do Musa ao segundo poste. Foi anulado por fora de jogo do Rafa, mas é capaz de ter sido a única vez durante todo o jogo em que fomos capazes de fazer um passe em condições para as costas da defesa adversária de forma a solicitar a velocidade do Rafa. Eles jogaram sempre com a equipa bastante subida, mas a nossa qualidade de passe foi quase sempre deplorável e nunca conseguimos explorar esse aspecto. O nosso futebol foi sempre, repito-o, sem ideias. Tudo aos repelões, sem objectivos visíveis e parecendo estar à espera de uma qualquer inspiração individual súbita, ao contrário do futebol apoiado e com muito boa ocupação de espaços por parte de uma equipa muito compacta do nosso adversário. Ainda assim, o nulo ao intervalo era aceitável para aquilo que as duas equipas produziram em termos atacantes.
Ao intervalo o nosso treinador mexeu na equipa com duas substituições de uma vez, e borrou completamente a pintura. Se as coisas já não estavam bem na primeira parte, com as alterações ficaram ainda piores. É certo que a saída do João Mário era quase uma certeza depois daquilo que fez na primeira parte - lento, a perder todos os lances divididos ou em velocidade, a não soltar a bola com rapidez quando o devia fazer, e a optar quase exclusivamente por passes para trás. Isto quando esteve em jogo, porque a maior parte do tempo passou ao lado dele. Mas fazer entrar o Kokçu para jogar como médio mais recuado é uma coisa que não faz qualquer sentido. Para quê utilizar o único médio defensivo que temos no plantel, de forma a tentar ganhar uma luta a meio campo que se estava a revelar já desequilibrada, quando podemos meter um número dez nessa posição? O Aursnes entretanto passou para a esquerda, de forma a ir cumprindo a sua obrigatoriedade de fazer pelo menos três posições por jogo. A outra alteração foi a troca do Musa pelo Cabral, com os resultados esperados. O brasileiro também passou completamente ao lado do jogo e nunca representou qualquer incómodo para os defesas bascos, já que nem sequer os conseguia pressionar. Os resultados foram quase imediatos, a Real Sociedad tomou conta do jogo e passou-se a jogar quase sempre dentro do nosso meio campo, com o Benfica a passar a maior parte do tempo a cheirar a bola. Dada a forma como nós, de forma quase exasperante e atípica, continuávamos a permitir aos bascos receber a bola e jogar entre as nossas linhas média e defensiva, era uma questão de esperar por um golo que acabaria quase de certeza por vir. E chegou mesmo com dezoito minutos decorridos, pouco depois do Benfica ter trocado o Jurásek pelo Bernat. O golo surgiu pelo outro lado da defesa, que estava completamente descompensada e permitiu que um adversário entrasse completamente à vontade na área - isto depois de terem andado a jogar com demasiado à vontade mais uma vez entre linhas à entrada da área, fazendo a bola viajar da esquerda até ao outro lado - para ficar um para um com o Bah, ganhar a linha de fundo e colocar na zona frontal da baliza para a finalização. Não tenho vergonha de admitir que apesar de ainda termos meia hora de futebol pela frente, pensei imediatamente que o jogo já estava perdido. Na fase final do jogo o Benfica até tentou, com muito mais coração do que cabeça, chegar ao golo, mas raramente conseguiu deixar a Real Sociedad em apuros - um livre cruzado da esquerda do Kokçu foi o único lance que me ficou na memória. A entrada do Tiago Gouveia ainda conseguiu agitar um pouco as coisas (saiu o Neres) e perto do final ainda houve tempo para o fétiche Chiquinho, saindo o Bah para permitir finalmente ao Aursnes fazer a inevitável terceira posição.
Impossível fazer destaques numa exibição destas. Poderia elogiar a entrega de alguns dos jogadores (curiosamente, achei que foram sobretudo os miúdos formados no clube quem mais se evidenciou nesse aspecto) mas em termos de qualidade futebolística foi tudo muito pobre.
Temos a época europeia praticamente lixada, depois de uma segunda parte que deve ter sido das piores exibições que me lembro de ver o Benfica fazer em casa. O nosso treinador continua a mostrar uma teimosia sem precedentes e difícil de compreender, na qual se continuar a persistir poderá trazer-lhe ainda mais dissabores. Somos neste momento uma equipa sem um plano de jogo definido, sem um onze-padrão estabelecido, com vários jogadores que nem sequer estarão rotinados a uma posição porque continuam constantemente a mudar de posição não só de jogo para jogo mas até mesmo durante um único jogo, e a anos-luz da qualidade e competência que o ano passado mostrávamos por esta altura. Não sei quando é que tencionam arrepiar caminho, mas cada dia que passa é um dia a menos para o fazer.
O nosso treinador surpreendeu com diversas alterações no onze, mas sem grandes resultados práticos: o Benfica realizou uma exibição muito pobre frente ao último classificado Estoril, e foi só no último suspiro do jogo que evitou deixar pontos na Amoreira.
Quando a equipa foi conhecida deu para ficar surpreendido. Jurasek, Florentino, Chiquinho, João Mário e Tengstedt de início. Em relação ao jogo da Champions, ficaram de fora o Bah, Kokçu, João Neves, Di María e Bernat. O Aursnes continuou a sua época nomádica e iniciou o jogo na direita, no lugar do Bah. A primeira parte do Benfica foi geralmente má. Falha de ideias, com futebol lento e previsível e geralmente presa fácil para a linha defensiva de cinco do Estoril, à frente da qual se colocava outra de quatro. Nem foram necessários muitos minutos disto para se perceber que iria ser um jogo complicado. No meio campo, falta de imaginação e atrevimento para ver ou arriscar passes mais incisivos - vi várias vezes os jogadores da frente a movimentarem-se bem no ataque ao espaço vazio, mas o passe ou não saía na altura certa, ou nem sequer saía porque os jogadores davam toques a mais na bola e ficavam na posse dela durante demasiado tempo. Por falar nisso, achei que o Tengstedt até mostrou boa mobilidade, mas o problema foi a péssima definição. Nas poucas ocasiões em que o passe surgiu mesmo e o deixou em boa posição, decidiu sempre mal: ou não passou a um colega mais bem colocado, ou finalizou mal, ou na altura errada, fazendo-o quando já se tinha colocado numa posição em que o ângulo era demasiado fechado. Foram poucas as ocasiões de golo, mas durante o último quarto de hora o Benfica pareceu conseguir aumentar o ritmo e foi durante esse período que o golo pareceu, enfim, ser mas provável. O Neres deu o primeiro aviso num remate cruzado a que o guarda-redes correspondeu bem. A seguir houve um lance em que para mim, que sou obviamente faccioso, seria falta em qualquer lado do campo e, na área, penálti. O Tengstedt preparava-se para cabecear uma bola na área e foi abalroado pelas costas por um adversário, sem qualquer possibilidade ou intenção de jogar a bola. Nada foi assinalado, e pelas justificações que ouvi no final pelos vistos muito bem, porque aprendi que a culpa foi do Tengstedt, que ao querer jogar a bola cometeu o erro capital de mudar de direcção e de velocidade à frente do adversário, tornando o contacto inevitável. Interessante que, por exemplo, quando o batoteiro profissional que dá pelo nome de Paulinho o ano passado se meteu à frente do António Silva sem a menor intenção de jogar sequer a bola e ficou à espera de um contacto para se atirar para o chão, aí foi o António quem foi 'anjinho'. Enfim. O jogo prosseguiu com o Benfica a carregar mais, mas o melhor que conseguimos foi sempre colocar o Tengstedt em situações decentes de finalização para depois ele atirar invariavelmente para a bancada.
Segunda parte muito diferente, com o Estoril a abandonar a postura completamente defensiva da primeira parte e a vir pressionar mais à frente, o que resultou num jogo mais partido do qual, estranhamente, não conseguimos tirar vantagem. Tornou-se aliás mais perigoso para nós, porque logo durante os primeiros minutos o Estoril teve uma série de remates que incluíram até um do noss ex-jogador Heriberto ao poste, com o Trubin sem ter qualquer possibilidade de defesa. A resposta do Benfica foi quase imediata, num remate de longe do Otamendi, forte mas à figura do guarda-redes, que não conseguiu segurar a bola. Sobrou para o João Mário, que fez a recarga para nova defesa do guarda-redes. Pouco depois houve penálti assinalado a favor do Benfica, num lance dividido com o Chiquinho na área. Era demasiado fácil e acabou mesmo por ser revertido pelo VAR, e na minha opinião bem, porque o jogador do Estoril consegue tocar a bola e é depois o Chiquinho quem acerta no pé dele. Depois de longos minutos de contemplação ao magnífico jogo que íamos fazendo no relvado da Amoreira, o nosso treinador, a vinte minutos do final, finalmente decidiu-se a fazer alguma coisa e trocou o Florentino e o Tengstedt pelo João Neves e o Musa. O Benfica começou a tentar carregar mais nos minutos finais, mas não de forma inspirada ou particularmente perigosa e o nulo parecia estar para durar. A substituição seguinte foi a troca directa de laterais, entrando o Bernat para o lugar do Jurasek curiosamente logo após alguns minutos em que o checo parecia ter estado mais em jogo, com algumas iniciativas individuais pelo seu lado. Tudo na mesma. E a quatro minutos do final saiu o João Mário, com mais uma exibição muito apagada, para a estreia do Gonçalo Guedes esta época, que pelo menos pareceu entrar com vontade de agitar as águas. Mas o Benfica não conseguia nada que se parecesse a um sufoco ao adversário. O Estoril parecia aliás relativamente confortável no jogo e o empate era uma possibilidade cada vez mais real. Especialmente quando quase sobre o minuto noventa o Musa ganhou uma bola de cabeça na área e ofereceu o golo ao Otamendi, que em posição frontal e a meio caminho entre a marca de penálti e a pequena área fez um remate absolutamente disparatado de pé esquerdo e enviou a bola para fora. O drama estava reservado para o período de compensação, como em tantos jogos tem acontecido nesta liga. Aos noventa e três minutos, canto a nosso favor, o Neres marcou-o na direita e o Musa voltou a ganhar de cabeça na área, só que desta vez a bola ficou ao alcance do António Silva, que mergulhou para cabecear junto ao relvado e com toda a intenção fazer a bola entrar colocada junto à base do poste mais distante. Poderíamos pensar que estava tudo resolvido, mas nos poucos minutos que restavam não soubemos conservar a bola ou meter o jogo no congelador, e o Estoril veio para cima de nós. O acto final do jogo aconteceu no décimo minuto dos oito de compensação, quando após um canto o António Silva teve dois cortes de cabeça, o segundo dos quais decisivo para evitar que a bola entrasse na nossa baliza, porque o Trubin certamente não lhe chegaria após o remate à meia volta de um jogador do Estoril bem no meio da área.
O homem do jogo é obviamente o António Silva por tudo aquilo que acabei de descrever. Se ganhámos o jogo, foi por causa dele. Não houve mais motivos para grandes destaques, mas a entrada do Musa acabou por ser importante porque deu-nos uma presença forte na área e entre os centrais do Estoril. Ofereceu um golo a cada um dos nossos centrais. O Otamendi desperdiçou, o António não.
Estranhei um pouco a constituição inicial da equipa, mas é necessária alguma rotação (e o jogo da Champions também deixou algumas mazelas físicas) e também pensei que se a equipa apresentada não fosse suficiente para ganhar ao Estoril, então era muito mau sinal. E foi por pouco que isso não aconteceu. Não estamos a jogar um bom futebol, e as exibições da época passada estão muito longe de aparecer esta época. Faltam-nos rotinas de jogo e é desagradável que chegados a Outubro, não me pareça particularmente óbvio qual é o onze tipo da equipa. E não sei se eu serei o único a ter dúvidas, porque às vezes pergunto-me se o nosso treinador também terá neste momento uma ideia concreta daquilo que deseja para a equipa.
Segunda derrota noutros tantos jogos na Champions, que nos deixa numa situação bastante complicada. Último lugar no grupo, com zero pontos conquistados e a quatro de um lugar de apuramento, e os dois jogos contra a Real Sociedad vão agora ser verdadeiras finais.
Algumas surpresas no onze inicial, com a estreia do Bernat na esquerda da defesa e a não inclusão de um ponta de lança de início - o Aursnes subiu no terreno e foi o Neres quem acabou por ser o jogador mais adiantado da equipa. A primeira parte foi marcada pelo equilíbrio. Não se viram muitas ocasiões de perigo junto das balizas, o Benfica até conseguiu ter mais bola e teve mesmo a melhor ocasião de golo, nos pés do Aursnes quando o Inter ficou a dormir e ele ficou isolado depois de um lançamento de linha lateral do Bah, mas permitiu a defesa ao guarda-redes. O empate ao intervalo ajustava-se ao que se tinha visto, embora nos possamos queixar de um penálti relativamente claro cometido sobre o David Neres que a equipa de arbitragem holandesa, de forma algo incompreensível, resolveu ignorar. Durante a primeira parte perdemos o Bah por lesão (já andava há alguns jogos a ameaçar) e ficou bem evidente o erro de planeamento que foi não termos contratado qualquer lateral para substituir o Gilberto e ser alternativa ao dinamarquês. Assim sendo, teve que entrar o Tomás Araújo para jogar ali. A segunda parte foi completamente diferente, com o Inter a pressionar muito desde o início e o Benfica incapaz de responder. Os ataques do Inter iam-se sucedendo uns aos outros e o Benfica limitava-se a ceder a bola ao Inter, sem conseguir sair de forma organizada para o ataque. Em termos concretos, o Benfica jogava com menos três jogadores, porque os três mais adiantados (Rafa, Neres e Di María) praticamente não recebiam qualquer jogo e pouco participavam na manobra defensiva da equipa. Sem grande surpresa, a maior parte da insistência do Inter surgia pela direita, onde tínhamos um lateral improvisado a deparar-se frequentemente com dois ou três adversários pela frente, porque o Di María não recuava e o Kokçu (e parece-me incrível que nesta fase da época ainda andemos com este equívoco) não é trinco e portanto não consegue andar a fazer dobras no auxílio aos defesas. Nunca foi, não sei porque esperamos que o seja agora e assim desperdiçamos aquilo em que ele é realmente bom.
Não me canso de dizer isto, mesmo que haja quem não concorde: em especial nos jogos de dificuldade mais elevada, o Florentino deveria jogar sempre, porque é o único médio defensivo que temos. Pelo equilíbrio que dá à equipa, pela agressividade e capacidade de recuperação (que permite à equipa jogar mais adiantada) e pela liberdade que acaba por dar ao Kokçu. A época passada, quando tínhamos o Enzo - que era muito mais forte defensivamente do que o Kokçu - mesmo assim jogávamos sempre com o Florentino ao lado dele. Quando o Enzo saiu, quem o substituiu no onze foi o Chiquinho. O João Neves, quando entrou na equipa, foi também nas funções do Enzo, como box-to-box. Não percebo porque raio esta época se acha que a solução é utilizar dois jogadores com as mesmas características no meio campo, e abdicar do fulcro defensivo da equipa. É um erro, qualquer equipa precisa de um jogador com as características do Florentino no meio campo. Não faz malabarismos com a bola? Não faz passes progressivos de ruptura? Não é isso que espero dele, e não é disso que a equipa precisa que ele dê - ele está lá para libertar o colega do lado para que ele possa fazer essas coisas. Mas enfim, é muito fácil bater no Florentino e desprezar aquilo que ele faz, por isso eu estar aqui a defender a sua titularidade é chover no molhado. Esperava-se qualquer reacção do banco, até porque o Benfica era cada vez mais empurrado para a sua baliza e o golo só ia sendo adiado ou por falta de pontaria dos adversários, pelos ferros da baliza ou pela exibição inspirada do Trubin. Em vez disso, o que vimos foi uma completa inacção da parte do nosso banco, passando-se literalmente aquilo que na bancada costumamos designar por 'este está à espera de sofrer um golo para fazer alguma coisa'. E o golo, quase inevitável, surgiu mesmo, embora estranhamente até tenha sido pela esquerda. O Dumphries isolou-se após um passe longo para as costas da defesa e da linha final fez o passe atrasado para um remate do Thuram que o Trubin não conseguiu deter. Depois sim, veio a reacção do banco e essa foi... o Chiquinho (e também o Musa). Saíram o Rafa e o Kokçu, manteve-se o Di María, desinspirado e já claramente em défice físico em campo. Nos minutos finais, já depois do Di María ter finalmente dado o berro e com o Arthur e o Jurasek em campo ainda tivemos um assomo de brio e voltámos a aproximar-nos da área adversária, mas o mal já estava feito.
O melhor do Benfica foi o Trubin. Não fosse o acerto dele e provavelmente teríamos sido goleados na segunda parte. Pode ser que depois desta noite alguns comecem a perceber porque motivo há quem tenha interesse em que ele não resulte no Benfica, mas tenho poucas dúvidas que ainda haverá gente a contribuir para o luto pelo Vlachodimos. Foi apenas o quarto jogo dele pelo Benfica e para mim já mostrou mais do que o suficiente para perceber que fizemos um upgrade na baliza (e nem precisava de o fazer, aquilo que eu conhecia dele antes de ser contratado já era para mim garantia mais do que suficiente). Para além dele, acho que podemos elogiar a entrega total do João Neves no pior período do Benfica - na primeira parte achei que esteve algo desastrado no passe. O Otamendi foi melhorando ao longo do jogo e salvou um golo certo (numa situação que foi causada por ele inicialmente) e o Morato foi no sentido oposto, com uma primeira parte de bom nível e erros progressivos à medida que a pressão do Inter foi aumentando.
Perdemos bem, o Inter foi a melhor equipa durante os noventa minutos, e nós não mostrámos capacidade de reacção quando eles subiram o nível e o ritmo. O nosso banco demorou demasiado tempo a ler o jogo e a reagir ao que estava a acontecer. Ficar simplesmente sem fazer nada à espera que as coisas mudem de forma mágica é que não me pareceu a opção correcta. É uma tendência irritante e cada vez mais marcante no nosso treinador. Precisamos de uma reacção imediata no próximo jogo para a liga e, no que diz respeito à Champions, qualquer coisa que não seja a vitória no próximo jogo frente à Real Sociedad deverá significar o adeus à prova.
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