Um jogo que começou por dar várias indicações que tinha tudo para correr mal, mas dois rasgos de génio mesmo a acabar a primeira parte viraram tudo do avesso e acabou numa vitória tranquila.
Acho que ninguém, mas ninguém mesmo, deve ter ficado surpreendido com o onze inicial. Obviamente que, por mais frustrante que o jogo anterior tenha sido, praticamente nada mudou - apenas a troca do Musa pelo Cabral na frente - e voltámos a apresentar a pior ala esquerda que tenho memória de ver jogar no Benfica. E tenho a leve suspeita que irá continuar a jogar até ao final da época: o João Mário é uma causa perdida, será sempre titular independentemente daquilo que jogar e das opções que existam, e o Morato provavelmente continuará a ser escolhido à frente de qualquer lateral esquerdo de raiz, aumentando para quatro o número de jogadores para essa posição que na opinião do nosso treinador não parecem ser mais competentes do que ele (Ristic, Jurásek, Álvaro e Bernat). Demos o primeiro sinal de perigo no jogo através de um livre directo do Kokçu, mas depressa deu para ver que teríamos problemas. O Estrela dava-nos a iniciativa do jogo, juntava linhas atrás, e depois aproveitava as perdas de bola do Benfica (como acontece frequentemente, perante uma equipa fechada atrás fazíamos muita circulação de bola sem criar grande perigo) para contra-atacar com apenas um ou dois jogadores, e mesmo assim criar mais perigo. Mais uma vez, tivemos uma quantidade assustadora de passes errados neste primeira fase do jogo, com especial destaque para o Otamendi neste capítulo. O cenário complicou-se perto da meia hora, quando numa demonstração de enorme passividade da nossa defesa, o Estrela marcou. O Léo Jabá, sozinho (como já o tinha tentado fazer diversas vezes), arrancou com a bola e passou pelo meio dos nossos defesas (incluiu uma entrada disparatada de carrinho à queima por parte do Otamendi), chegou à linha de fundo e tentou o cruzamento rasteiro, que o Trubin interceptou, ainda conseguiu recuperar a bola e, com toda a gente a olhar, rematou de ângulo apertado entre as pernas do Trubin, que se recolocava ao primeiro poste. O Benfica continuava a revelar dificuldades e a única situação de perigo criada foi num passe do Di María para as costas da defesa, onde o Cabral apareceu solto e tentou finalizar de primeira, mas colocou a bola com pouca força nas mãos do guarda-redes. Os momentos decisivos do jogo aconteceram perto do intervalo. Primeiro, uma bola longa para as costas da nossa defesa, o Otamendi parece ter o lance controlado mas em vez de atrasar a bola para o Trubin ou simplesmente atirá-la para fora resolve tentar um corte desnecessário de carrinho e deixa a bola nos pés do adversário, que seguiu isolado para a baliza. Valeu-nos a mancha do Trubin, que ainda tocou na bola e fez com que o adversário perdesse ângulo de remate. Depois, repetição da fórmula que tinha dado a oportunidade anterior ao Cabral, mas desta vez ele controlou o passe do Di María no peito e finalizou com um pontapé de bicicleta. Ainda estávamos a festejar este fantástico golo e de repente o Benfica consumou a cambalhota. Novo passe longo do Di María, a defesa cortou e o Cabral ganhou a segunda bola, tocando-a para o lado. De forma espontânea e de primeira, à entrada da área o Rafa desferiu um remate cruzado que colocou a bola junto ao poste mais distante. Mais um grande golo, e um grande suspiro de alívio à saída para o intervalo.
Felizmente não reentrámos no jogo desconcentrados, e ao contrário da primeira parte deixámos de permitir tanto espaço ao adversário para contra-atacar - também porque as perdas de bola diminuíram. A entrada do Florentino para o lugar do Kokçu ao intervalo pareceu-me trazer mais equilíbrio à equipa e ajudou a estabilizar o nosso jogo, mas suspeito que o turco não deva ter ficado em grandes condições depois da pancada que levou mesmo antes do apito (e o Estrela passou o jogo todo a meter bem o pé, que o digam vários jogadores nossos como o Rafa, o Di María ou o João Neves). E obviamente, o golo madrugador ainda ajudou mais. Uma situação quase inacreditável: marcámos na sequência de um pontapé de canto. Em vez de marcarmos o canto à maneira curta ou de o Di María tentar marcá-lo directo, em vez disso enviou a bola para perto da marca de penálti, onde o Cabral, sem tirar os pés do chão, cabeceou à barra para depois o Otamendi marcar na recarga. Ficámos então numa posição muito confortável no jogo e só não fizemos o quarto golo logo a seguir, numa das melhores jogadas da equipa durante todo o jogo, porque o guarda-redes conseguiu defender com o corpo um remate do Rafa isolado na área. Com o jogo já muito inclinado para o nosso lado, a vinte minutos do final o Estrela ficou reduzido a dez e o Roger Schmidt permitiu-se fazer três substituições de uma vez, trocando o Cabral, o Rafa e o João Mário pelo Marcos Leonardo, o Neres e o Bah. Foi bom ver o regresso do Bah, até porque isso permitiu a mudança do Aursnes para a esquerda do meio campo, onde prefiro vê-lo. Pareceu-me então que o Benfica se sentiu excessivamente confortável e relaxou um pouco em demasia, pelo que o jogo ficou mais partido. O nosso quarto golo aparentava poder acontecer a qualquer instante, não tanto por estarmos a criar muitas ocasiões, mas mais pelo espaço que o Estrela concedia atrás, mas no entanto foi o Trubin quem teve que se aplicar para evitar o segundo golo do Estrela no seguimento de um pontapé de canto, num cabeceamento do recém entrado Rodrigo Pinho. Perto do final, oportunidade para a estreia do Rollheiser, que entrou para o lugar do Di María, e o quarto golo a surgir já em tempo de compensação. Aproveitámos da melhor maneira uma desconcentração de um jogador do Estrela, que fez um passe para trás sem olhar, não reparando que o Neres tinha ficado atrasado após a última jogada. Este antecipou-se ao defesa para ganhar a bola, e pelo corredor central serviu o Marcos Leonardo, que esperou pela saída do guarda-redes e colocou a bola junto ao poste. Vai aproveitando da melhor forma os minutos que lhe estão a ser dados e marcando com regularidade - são três golos em pouco mais de uma hora de jogo acumulada na Liga.
A distinção de homem do jogo foi atribuída, com justiça, ao Cabral. Marcou um excelente primeiro golo que deu início à reviravolta e esteve directamente envolvido nos dois golos seguintes, sendo dele a assistência para o golo do Rafa (embora o mérito seja praticamente todo do Rafa). Conforme já escrevi antes, à medida que tem vindo a ganhar ritmo de jogo e se vai adaptando à equipa (e a equipa a ele) vai conseguindo provar a sua utilidade, e poderemos ganhar nele um ponta-de-lança para a segunda metade da época. O Rafa também é um dos destaques habituais, e o Di María, em cujos pés se iniciaram as jogadas dos três primeiros golos. O Trubin teve pouco trabalho, mas teve duas defesas que evitaram golos.
Ainda bem que tudo acabou bem, mas mais uma vez tivemos uma entrada pouco concentrada no jogo. Isto tem acontecido com alguma frequência e acabamos depois por vezes por sofrer golos (só assim de repente, nos últimos cinco jogos isso aconteceu em quatro deles, com o Braga, o Rio Ave, o Estoril, e agora o Estrela) que depois criam mais ansiedade, motivam o adversário, e obrigam a equipa a um esforço extra para recuperar. Parece-me excessivo para que seja apenas uma coincidência. Fiquei satisfeito com o regresso do Bah, que a juntar-se à recuperação do Neres nos faz uma equipa mais forte e com mais opções para atacarmos os objectivos que ainda temos.
Conseguimos, contra o Estoril, deitar fora a possibilidade de conquistar um título. Acho que esta frase será suficiente para deixar clara a nossa incompetência no jogo de ontem. O Benfica foi incapaz de ganhar ao Estoril, uma equipa que vinha de quatro derrotas consecutivas, a maior parte delas por goleadas. Já fomos penalizados várias vezes esta época pela ineficácia em frente à baliza, e ontem foi mais um episódio desta saga. Quando a mesma situação se repete vezes sem conta, já deixa de ser simples ineficácia, para mim já é displicência em frente à baliza.
Uma única surpresa no onze, com o Musa a ser o escolhido para a titularidade no ataque. De resto, tudo igual, incluindo aquela que é - e digo isto com muito poucas dúvidas - a pior ala esquerda de que me lembro ver jogar no Benfica. E o pior é que isto é por opção. Não é que não tenhamos jogadores para apresentar uma ala esquerda a sério, simplesmente escolhemos jogar desta maneira. A entrada do Benfica foi excessivamente sobranceira, permitindo demasiadas recuperações de bola ao Estoril para sair em contra-ataque, e foi daqueles cenários que me deixaram logo a pensar 'estão à espera de levar um golo para acordarem'. Dito e feito, primeiro remate do Estoril à nossa baliza (que veio a revelar-se ser o único durante todo o jogo) à passagem do quarto de hora, e golo. Com o Morato a provar toda a sua utilidade defensiva no lance, mantendo a distância para o adversário em vez de cair imediatamente em cima dele e deixando assim que preparasse o remate, que passou entre as suas pernas. Claro que sofrer um golo do Estoril não é um cenário particularmente preocupante, porque faltava muito tempo e certamente conseguiríamos criar ocasiões mais do que suficientes para recuperar. Só que a minha preocupação aumentou exponencialmente logo no minuto seguinte, quando o Rafa e o Musa apareceram completamente isolados na área em frente ao guarda-redes, e o Rafa fez tiro ao boneco e acertou nele. Foi aí que comecei logo a pensar que iria ser um 'daqueles jogos'. O que o resto do tempo veio a confirmar. O guarda-redes do Estoril ficou possuído, os nossos jogadores ficaram incompetentes, e foi um festival de desperdício e incompetência por parte da nossa equipa. Nem é que o Estoril tenha defendido particularmente bem, embora em mais do que uma situação tenha aparecido um pé ou uma perna salvadora no último segundo a desviar o remate final. Mas eles cometeram diversos erros básicos que a nossa equipa nunca soube aproveitar - eu cheguei a pensar que eles passavam a bola de propósito ao João Mário, que com toda a sua ligeireza e velocidade de execução se encarregava de não tirar partido disso. O Di María ainda na primeira parte teve outro falhanço que devia dar direito a multa - voltou a fazer tiro ao boneco, tentando passar a bola entre as pernas do guarda-redes quando tinha a baliza toda para escolher onde colocar a bola. Na segunda parte continuou o desperdício até que o Otamendi mostrou ao Rafa e ao Di María como se deve fazer, rematando de forma a desviar a bola do guarda-redes em vez de contra ele. Seria de pensar que com o empate alcançado e mais de meia hora para jogar, o Benfica conseguiria evitar o disparate de ser eliminado por uma equipa tão inferior, mas o desperdício continuou. O Di María continuou a tentar marcar de forma directa cada um dos catorze cantos de que dispusemos, o João Mário continuou a passear-se em campo e a perder bolas, o Morato continuou a mostrar todos os seus dotes técnicos para a posição de lateral. As alterações, quando vieram, não melhoraram particularmente o nosso jogo - até achei que na generalidade passámos a causar menos perigo - mas o Marcos Leonardo ainda foi a tempo de conseguir mais um falhanço olímpico, quando atirou para fora aquilo que seria um golo cantado. Quando finalmente tirámos o Morato (para a estreia do Álvaro) obviamente que tivemos que manter três centrais em campo e o Tomás Araújo entrou também para o lugar do Aursnes. Quase que houve milagre no último lance do jogo, quando o Di María desferiu um remate à meia volta bem de fora da área que levava selo de golo, mas conforme disse, o guarda-redes do Estoril já estava possuído e conseguiu desviar a bola para o poste. Nos penáltis, cada um dos guarda-redes defendeu um - o penálti do Marcos Leonardo foi marcado de forma horrível, rasteiro e para o meio, à figura do guarda-redes - e o Tomás Araújo atirou a bola para fora, selando a nossa eliminação.
Não há destaques nenhuns a fazer, uma equipa que perde contra o Estoril devia era ter vergonha de si própria e voltar a pé para Lisboa. Ao contrário daquilo que o nosso treinador afirmou, para mim sim, é uma vergonha perder contra uma equipa tão inferior, que em todo o jogo fez um remate à nossa baliza. É até mesmo degradante para o Benfica, porque é uma demonstração de profunda incompetência. Esperei várias horas para escrever sobre o jogo de forma a acalmar-me, e mesmo assim consigo sentir-me irritado ao escrever. O verdadeiro autismo que o nosso treinador insiste em por vezes mostrar é uma coisa que me custa muito a engolir. A insistência na - repito - pior ala esquerda que tenho memória de ver no Benfica e em não alterar nada quando as coisas não estão a correr bem é algo que me deixa à beira de um ataque de nervos. Já desisti de compreender o fenómeno João Mário - a sua titularidade permanente e o facto de fazer quase sempre os jogos todos é uma coisa que me ultrapassa. O Di María também acaba sempre os jogos em claro défice físico, embora imagino que não seja substituído porque pode sempre sacar um coelho da cartola a qualquer altura, como ontem quase o fez. A Taça da Liga era um troféu que o Benfica podia e devia conquistar, e só não o fizemos por claríssima incompetência nossa.
O futebol pode ser um jogo cruel, e este jogo foi uma boa prova disto. Durante uma boa parte dele o Rio Ave foi a melhor equipa no relvado da Luz, mas um instante fatídico acabou por mudar tudo e acabou goleado, podendo o resultado ter sido até ainda mais dilatado. Foi uma vitória importante para o Benfica, mas definitivamente não foi das melhores exibições que fizemos.
Entrámos com o onze que vem sendo habitual, e entrámos também como que adormecidos. Não excluo a possibilidade de ter sido também fruto de algum cansaço por causa do jogo a meio da semana contra o Braga. O Rio Ave é que entrou muito bem, a jogar no campo inteiro, de forma solta e a pressionar-nos alto. O Benfica voltou a mostrar as dificuldades que por vezes tem a jogar com equipas que são agressivas na pressão, e não conseguia jogar o seu futebol - a quantidade de passes falhados durante a primeira meia hora de jogo deve ter sido um recorde negativo para nós. Na defesa, o Morato e o Otamendi estavam francamente desinspirados e acumulavam erros. Até foi nossa a primeira ocasião de golo, um remate do Rafa que foi cortado por um defesa quando a bola levava a direcção da baliza, mas logo a seguir o Rio Ave marcou. O Guga voltou a mostrar a apetência que tem para nos marcar golos e apareceu solto na nossa área para marcar sem oposição (e mais uma vez, não festejou) num lance em que a nossa defesa foi demasiado permissiva. Nasce do lado esquerdo, sem surpresas, a bola cruza a área toda sem ser afastada e é um jogador do Rio Ave quem recupera a bola do lado oposto, tendo tempo para parar a bola, olhar e escolher o melhor momento e sítio para colocar a bola. O golo fez o Benfica abanar ainda mais e nos minutos que se seguiram acho que só mesmo o Trubin nos valeu, porque esteve sempre mais perto o Rio Ave de fazer o segundo golo do que chegarmos nós ao empate, tendo mesmo disposto de ocasiões flagrantes para o fazer. Quando tínhamos a bola, continuávamos a errar passes e éramos incapazes de encontrar forma de ultrapassar a forma de defender do Rio Ave, com linhas subidas e muito juntas. Quando a perdíamos, o Rio Ave criava sempre problemas, ou em transições, ou mesmo em ataque organizado, porque nós concedíamos sempre demasiado tempo e espaço para jogar quase à vontade. Foi literalmente contra a corrente do jogo que o Benfica marcou, já em cima da meia hora de jogo. O João Neves inventou um passe sobre a primeira linha do Rio Ave que deixou o Rafa em situação de um para um com um adversário. Ele progrediu até à entrada da área e depois deixou para o Di María, que à entrada da área e sobre a direita encheu o pé para marcar num remate em arco. O golo serviu para nos acalmar e no último quarto de hora estivemos melhor e ficámos perto de virar o resultado, o que poderia ter acontecido já perto do intervalo num remate cruzado do João Mário, que obrigou o guarda-redes a uma defesa apertada.
Pensei eu, erradamente, que a segunda parte poderia ser melhor e mais na tendência da fase final da primeira. Só que foi mais na tendência do início do jogo: o Rio Ave entrou fortíssimo, e em três minutos meteu duas vezes a bola nos ferros da nossa baliza. Ambos os lances a surgirem pelo lado esquerdo da nossa defesa, onde o Morato e o Otamendi continuavam abaixo do exigível, e o João Mário pouco ou nada ajudava - aquele lado esquerdo era um verdadeiro buraco, e o Costinha entrava quase como queria e cruzava a bola quase sempre com perigo. A única resposta por parte do Benfica foi um remate cruzado do Cabral, forte mas a sair na direcção do guarda-redes. Até que surgiu o momento decisivo do jogo. A finalizar o primeiro quarto de hora o Santos cortou deliberadamente um lance de ataque nosso com a mão e viu o segundo amarelo. Na sequência do livre, defesa do guarda-redes para canto. Primeiro o Di María tentou marcar directo e o guarda-redes cedeu novo canto. E na sequência deste segundo canto, depois de muita insistência (e mais vontade do que jeito) um remate do Cabral contra um defesa acabou por fazer a bola sobrar para o António Silva, que não esteve com meias medidas e fuzilou a baliza do Rio Ave. Mesmo antes do golo o Benfica já tinha preparadas três alterações e efectuou-as mesmo: saíram o Di María, Kokçu e Cabral, e entraram o Tiago Gouveia, o Florentino e o estreante Marcos Leonardo. Se foi pelas substituições, se pela superioridade numérica, se um misto de ambos, a verdade é que o Benfica melhorou muitíssimo a partir daí. Com o Tiago Gouveia na esquerda o Costinha ficou muito mais preso a tarefas defensivas e deixou de surgir perigo por aí, e o Florentino no meio deu-nos mais capacidade de recuperação da bola e de pressão. Depois foi ver as ocasiões a surgir para o nosso lado. Marcámos mais dois golos e ficaram mais dois ou três por marcar, com o Tiago Gouveia a estar particularmente infeliz na finalização/decisão, pois falhou dois golos praticamente feitos e ainda tomou a pior decisão noutras duas situações, nas quais tinha colegas colocados em situação excelente para finalizarem. Os golos foram marcados pelo Marcos Leonardo, de cabeça após cruzamento do Aursnes já sobre a linha de fundo, e pelo João Mário mesmo a terminar o jogo, que apareceu solto ao segundo poste para empurrar um cruzamento fabuloso do Rafa, rasteiro e de trivela a partir da esquerda.
O melhor do jogo foi mais uma vez o Rafa. Desta vez não marcou, mas fez as assistências para o primeiro e quarto golos, e ainda teve participação decisiva no terceiro, pois foi dele o passe a desmarcar o Aursnes. O Aursnes é precisamente outro jogador que esteve num bom nível, e também o Trubin e o António Silva.
Foi a sétima vitória consecutiva, mas não ganhámos para o susto. Desconfio que nos teria sido muitíssimo complicado ganhar este jogo se não tivesse ocorrido a expulsão - o Rio Ave mostrou muito mais futebol do que a posição que ocupa na tabela indica. Acho que a equipa acusou cansaço do jogo de quarta, até porque nos poupamos muito pouco: têm jogado sempre os mesmos jogadores, e quase sempre os jogos quase todos, porque normalmente fazemos a maior parte das substituições já na fase final dos jogos e muitas vezes nem sequer fazemos as cinco. O Di María, apesar do golo, esteve francamente abaixo do normal dele e de certeza que o factor cansaço deve ter tido alguma coisa a ver com isso. Segue-se novo jogo em casa e desta vez com uma semana de intervalo, que espero que dê para recuperar os níveis físicos.
Foi preciso muita tenacidade para manter o registo perfeito nos chamados jogos grandes esta época, mas o Benfica conseguiu mesmo levar de vencida o Braga e seguir em frente na Taça de Portugal, num jogo que acabou por ter um herói inesperado na noite em que voltámos a recordar Eusébio.
O Benfica entrava em campo naquele que será o seu melhor momento da época até agora, e por isso não surpreendeu que não tivessem havido mexidas no onze que tinha derrotado o Arouca com relativa facilidade. Pessoalmente, continuam a não me agradar algumas das opções, mas se é isto que está a funcionar agora, é natural que as mexidas sejam mantidas num mínimo possível. O Benfica Entrou no jogo de forma agradável, perante um Braga a jogar com linhas mais recuadas e a povoar muito o meio, mas acabou surpreendido logo nos minutos iniciais. Um péssimo passe do Di María para o meio permitiu a recuperação da bola ao Braga e um remate na zona frontal que o Trubin defendeu muito bem para canto, mas na sequência do mesmo o Braga trabalhou muito bem e fez a bola chegar ao Zalazar, solto à entrada da área. O remate saiu muito forte e acabou por desviar no João Mário e fazer a bola entrar bem junto ao poste, sem possibilidades de defesa para o Trubin. Mau início, e um teste à capacidade de reacção do Benfica. O Braga, sinceramente, foi muito pouco audaz depois de se apanhar em vantagem, optando imediatamente por quebrar o ritmo de jogo de forma declarada, jogando de forma pausada e sem arriscar quase nada (para além do golo, apenas fez mais um remate na primeira parte), retardando cada reposição de bola, com os seus jogadores a ficar no chão sempre que podiam e, perdendo a bola, recorrendo frequentemente à falta para matar as jogadas. O jogo tinha interrupções sucessivas e o cenário para o Benfica ia-se complicando, porque tendo muita posse de bola, em ataque organizado não conseguia encontrar soluções para ultrapassar a fortaleza que o Braga tinha montado em frente à sua área, e com o Braga tão cauteloso também não dispunha de muitas ocasiões de transição para explorar sobretudo a velocidade do Rafa. Apenas criámos duas situações de relativo perigo, um cabeceamento do António Silva num canto que o guarda-redes defendeu, e um remate do João Neves à entrada da área que passou perto do poste. Tudo mudou nos últimos cinco minutos, no entanto. Numa rara situação em que o Braga tinha subido as linhas, o Benfica recuperou a bola e o João Neves conseguiu desenvencilhar-se da teia que três adversários tinham montado à sua volta, soltando a bola para o Kokçu. Este de imediato solicitou a corrida do Rafa pelo meio, que fugiu entre os centrais e, isolado em frente ao guarda-redes, finalizou com calma para marcar pelo terceiro jogo consecutivo. Chegar ao empate antes do intervalo já era positivo mas o melhor ainda estava para vir. Mesmo sobre o intervalo o Cabral, na área e descaído sobre a esquerda, recebeu no peito uma bola vinda de um lançamento de linha lateral do Morato, com um toque de enorme classe virou-se sobre o defesa que o marcava em cima e escapou em direcção à linha de fundo, e de ângulo apertado rematou de pé esquerdo entre as pernas do guarda-redes para nos colocar em vantagem. Um grande apontamento individual para um grande golo.
Aquilo que me pareceu uma entrada mais macia por parte do Benfica na segunda parte foi imediatamente punida. Logo no terceiro minuto, o Braga beneficiou do segundo pontapé de canto na partida, e tal como no primeiro voltou a marcar. Desta vez a bola foi afastada para a entrada da área pelo Otamendi, e mais uma vez estava ali o Zalazar solto de marcação. Sem preparação e de primeira, desferiu um remate imparável que levou a bola ainda a bater na barra antes de entrar junto ao canto superior da baliza - foi um golão, e a bola ainda ia a subir quando entrou na baliza. Nem com asas o Trubin lá chegaria. Desta vez, ao contrário da primeira parte, o Braga não optou de imediato por uma atitude mais resguardada, e o jogo ficou mais dividido. Ainda na fase inicial o Braga fez entrar o Djaló para o lado direito e isso significou problemas para o Benfica. Ainda tivemos uma boa jogada na qual o Di María deixou a bola redondinha à entrada da área para o remate do Otamendi, mas o nosso capitão não teve a arte do Zalazar na hora de rematar e colocou a bola na bancada, e logo a seguir uma boa iniciativa do Cabral obrigou o guarda-redes a uma defesa mais apertada. Mas o Braga começou a tornar-se cada vez mais perigoso, e a demonstrar que temos uma fraqueza no nosso lado esquerdo que equipas com mais capacidade podem explorar, especialmente se tiverem um lateral direito de pendor ofensivo, como era o caso do Victor Gomez. A contribuição defensiva do João Mário é nula (a do Di María do lado oposto não é muito melhor, mas do outro lado não temos um defesa central a jogar adaptado a lateral) e o Morato já tinha dificuldades em conter o Djaló no um para um, quanto mais quando ainda lhe aparecia o lateral oposto pela frente. A minha pequena esperança é que quando o Bah estiver recuperado ele regresse ao onze e o Aursnes passe para médio esquerdo, de forma a minimizar um bocado esta fragilidade (porque sinceramente, já não tenho qualquer esperança de ver outro jogador que não o Morato a alinhar como lateral esquerdo até ao final da época). Foi no melhor período do Braga no jogo que, um pouco contra a corrente, voltámos a marcar e nos colocámos na frente do marcador. Grande mérito do Cabral na jogada, que na zona frontal da área ao receber a bola rasteira vinda do António Silva a tocou de primeira de calcanhar para a entrada do Aursnes pela direita. O norueguês progrediu para a área, e quando também podia ter tentado servir o Rafa no meio optou pelo remate cruzado que só fez a bola parar no fundo da baliza. Logo a seguir, e prova de que o Roger Schmidt também devia estar a ver aquilo que era evidente para todos, uma substituição que deve ter agradado a quase todos: saída do João Mário para a entrada do Florentino, passando o Kokçu para a esquerda. Se foi esta alteração, se foi o impacto do golo, o que é certo é que o Braga perdeu o ímpeto que tinha mostrado até aí e não voltou a criar grandes problemas à nossa defesa. Só achei que o nosso treinador demorou demasiado a perceber que o Cabral e o Di María já tinha dado o estouro, e as suas saídas apenas ao minuto 90 já foram tardias.
O homem do jogo, como foi justamente reconhecido no final, foi mesmo o Arthur Cabral. Um grande golo, uma grande assistência, e muito mais em jogo quando comparado com o que foi o seu início de época. Analisando as suas prestações nos últimos jogos, podemos bem estar a ganhar nele um avançado para a segunda metade da época. Parece estar a compreender melhor a forma de jogar da equipa, e a equipa também parece compreender melhor a forma como ele joga de maneira a tirar partido das suas características, utilizando-o mais como referência no ataque em vez de o solicitar no ataque à profundidade - para isso está lá o Rafa. De resto, destaques do costume para o João Neves ou o Rafa. Gostei também do António Silva e do Aursnes, e o Trubin apesar dos dois golos sofridos (nos quais não teve quaisquer hipóteses) ainda somou algumas boas defesas. Pelo contrário, jogo muito apagado do João Mário (pouco surpreendente) e do Di María.
Quando estamos num momento mais negativo tudo o que parece poder correr mal, corre, agora que estamos num momento positivo parece que é o contrário. A nossa equipa continua a ter algumas lacunas e fraquezas, mas como o momento é positivo isso acaba por ser compensado e as coisas correm bem. Agora até o 'flop' Arthur Cabral começa a justificar aquilo que pagámos por ele, e a dar um contributo importante à equipa - esta exibição não veio do nada porque já em Arouca, mesmo sem ter marcado, ele tinha feito uma exibição muito boa. É preciso continuarmos a aproveitar e a reforçar este momento, porque não há melhor tónico do que a confiança.
Não estava à espera de um jogo fácil na nossa deslocação a Arouca, face aos resultados mais recentes deles desde que trocaram de treinador - ainda não tinham perdido com o novo treinador e levavam cinco jogos sem derrotas, com dez pontos conquistados nas últimas quatro jornadas e vitórias dilatadas. Mas o Benfica soube tornar o jogo simples e acabou por ser um início de noite relativo tranquilo para nós, fechado com uma vitória por números claros.
O nosso onze por esta altura nunca tem grandes surpresas. Com o regresso dos argentinos saltaram do onze o Tomás Araújo e o Tiago Gouveia, e o resto da equipa foi a esperada, com o Cabral a manter a titularidade no ataque. Assinalando os dez anos da partida do King, o Benfica entrou em campo com onze Eusébios nas camisolas. O que se viu desde cedo foi o Arouca a tentar manter o ímpeto que os últimos resultados lhes deram e a adoptar uma postura agressiva, com linhas de pressão subidas - uma estratégia que, quando bem aplicada pelos adversários, já nos deu alguns dissabores. Mas o Benfica soube ser inteligente para ultrapassar a primeira linha de pressão e sair a jogar em transição, aproveitando o muito espaço deixado atrás para lançar o Rafa, com o Cabral a realizar geralmente um bom trabalho para abrir espaços para o colega de ataque. Sem que o Arouca conseguisse ver frutos da sua pressão, pois o Trubin não tinha grande trabalho, o Benfica demorou quinze minutos a marcar, num bom passe do João Neves para as costas da linha defensiva que o Cabral aproveitou para se desmarcar e servir o Rafa já na área para marcar. Só que o golo acabou por ser invalidado por uma suposta posição irregular do Cabral no início da jogada que, sinceramente, me deixou muitas dúvidas. Não deu à primeira, tentou-se a segunda, e à meia hora de jogo o Rafa voltou a introduzir a bola na baliza do Arouca, desta vez a passe do Aursnes, que tinha recuperado a bola à entrada da área adversária. Novamente anulado por fora de jogo, desta vez evidente. Mas à terceira foi mesmo de vez. O passe foi do Di María sobre a defesa do Arouca, e o inevitável Rafa escapou à marcação e surgiu isolado sobre a direita. O primeiro remate ainda foi defendido pelo guarda-redes, mas a bola acabou por sobrar para o Rafa outra vez, que fez a recarga para a baliza deserta. Com o mais difícil conseguido e a cinco minutos de sairmos para intervalo, o Benfica teve logo a seguir uns minutos de desconcentração que poderiam ter saído caros. Primeiro foi um mau passe do Kokçu à entrada da nossa área que colocou a bola nos pés de um adversário, valendo-nos uma extraordinária defesa do Trubin perante um adversário isolado para evitar o empate. E o Arouca até conseguiu mesmo fazer a bola chegar ao fundo da nossa baliza antes do intervalo, mas desta vez foram eles a ver o golo anulado por posição irregular clara.
Os minutos finais da primeira parte deverão ter servido de aviso para o quão perigoso o resultado era, e na reentrada para a segunda parte o Benfica chegou imediatamente ao segundo golo. A bola foi recuperada pelo Cabral ainda na zona defensiva do Arouca, seguiu para o Di María na direita que desmarcou o Rafa na área. À saída do guarda-redes, a bola foi tocada para a zona frontal da baliza, onde o Kokçu apareceu para empurrar com facilidade para o golo. Muito boa jogada de equipa, e resultado prático de uma boa pressão ofensiva sobre a saída de bola do Arouca. A jogada ainda foi anulada em campo por suposta posição irregular do Rafa, mas a primeira repetição da SportTV (ainda que parassem a jogada no momento errado, já depois da bola ter saído do pé do Di María) deixou antever que o golo teria todas as probabilidades de ser validado (só não deixou a certeza absoluta porque às vezes aparecem umas linhas muito imaginativas). Com a tranquilidade do segundo golo, foi possível ao Benfica adoptar uma atitude mais expectante, permitindo ao Arouca ter mais bola mas espreitando sempre a possibilidade de transições rápidas para o golo. E foi assim que fomos acumulando ocasiões para voltar a marcar. O João Mário falhou uma, por demorar demasiado a finalizar mais uma boa jogada de envolvimento do nosso ataque e, assistido pelo Cabral, permitindo uma intervenção no limite de um defesa que fez a bola desviar e sair por cima da baliza. Na sequência, o Di María quase marcou de canto directo. A seguir o Rafa, assistido de cabeça pelo Cabral, isolou-se e no último momento foi traído por um ressalto da bola no relvado que acabou por dificultar a finalização, atirando a bola para fora. Depois foi o Cabral quem foi lançado pelo Di María nas costas da defesa, o guarda-redes saiu da área ao seu encontro e acabou por embrulhar-se com ele e com um defesa, e a bola acabou por sobrar para o João Mário que, com a baliza deserta, pressionado pelos defesas apenas conseguiu atirar para fora. Já na fase final do jogo, fizemos finalmente algumas substituições, trocando o Cabral pelo Musa e depois (surpreendentemente para mim, porque eu estou sempre à espera que ele faça os jogos todos) o João Mário pelo Florentino (que imediatamente viu um amarelo). O Di María ainda tentou um golo épico num chapéu a meio do meio campo que falhou por pouco, e a cinco minutos do final o Kokçu, a jogar sobre a esquerda desde a saída do João Mário, confirmou as boas indicações que deu naquela posição durante estes poucos minutos e fez a assistência para um grande golo do Musa: antecipou-se a um defesa e com a parte de fora do pé, sem deixar a bola cair no chão, fez um desvio cheio de efeito na bola para o golo. Mesmo perto do final, tenho quase a certeza que ficou ainda um penálti por assinalar a nosso favor por um toque mais do que intencional com o braço na bola por parte de um jogador do Arouca. Com as substituições feitas perto do final, acabámos o jogo com quatro defesas centrais em campo, o que é capaz de ser um bom indicativo da falta de laterais que temos.
O homem do jogo é o Rafa. A crítica mais frequente que enfrenta é a má definição que faz das jogadas decisivas, e desta vez definiu quase sempre bem. Fez golo nas três primeiras situações (mesmo que dois tenham sido anulados), na seguinte assistiu o Kokçu na perfeição, e só foi traído na última situação por aquele ressalto no relvado. Mas para variar foi sempre o principal dinamizador do ataque, sendo muito importante a explorar o espaço deixado pelo Arouca sempre que tentava pressionar alto. O João Neves fez um bom jogo, mas isso já é normal e o Kokçu continua a mostrar subida de forma, apesar daquele erro gravíssimo que poderia ter causado grandes problemas. Por falar nisso, o Trubin mais uma vez a mostrar que é guarda-redes para uma equipa grande, com pouco trabalho difícil mas a aparecer na altura certa para ser decisivo, mostrando grande frieza e presença na baliza. Volto a repetir que com ele na baliza sinto uma tranquilidade que já há alguns anos não sentia. Uma menção também para o Cabral, que não marcou mas que achei que trabalhou muito e bem para a equipa. Criou várias situações de perigo para os colegas - assistiu o Rafa para o primeiro golo anulado, isolou o mesmo Rafa e o João Mário noutras ocasiões, e foi dele a recuperação de bola que resultou no nosso segundo golo.
A equipa parece continuar num crescendo de forma, notando-se sobretudo uma atitude mental muito mais positiva. Há muita confiança nos nossos jogadores nesta altura, e agora há que confirmar o bom momento já na quarta contra um adversário complicado. Com um Estádio da Luz mais uma vez cheio, temos tudo para continuar no bom caminho.
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