Chegou a parecer que derrubar a muralha que o Portimonense montou na Luz iria ser uma tarefa complicada, mas uma rajada de três golos em apenas quatro minutos garantiu a vitória e uma segunda parte muito tranquila para o Benfica.
Acho que quase toda a gente deve ter torcido o nariz ao ouvir a constituição da equipa e reparar que não tinha uma vez mais um ponta de lança de início. Eu não fui excepção. Depois pensei que muito provavelmente isto seria já um teste ao onze que poderemos apresentar nos próximos dois jogos, mas mesmo assim, sendo bastante previsível que o Portimonense se apresentaria na Luz com uma estratégia ultra-defensiva, não me pareceu que fosse o jogo ideal para alinhar sem pelo menos uma referência na área. Depois das exibições desastrosas em Toulouse quer do Morato, quer do Carreras, foi o Aursnes quem regressou a essa posição. O outro jogador a regressar ao onze foi o Kökçu, saindo o Tengstedt. Mas a novidade foi que o Rafa avançou para a posição mais adiantada e tivemos a oportunidade de, julgo que pela primeira vez esta época, vermos o Kokçu a jogar na sua posição natural, atrás do avançado e com dois médios atrás dele. O jogo foi o que se previa, com um Portimonense ultra defensivo e a acumular jogadores à frente da sua área, e o Benfica a tentar encontrar soluções para furar aquela muralha de corpos e pernas que tinha pela frente. Até gostei da dinâmica da equipa na fase inicial do jogo. Houve a tentativa de fazer a bola circular com alguma velocidade e os jogadores estavam em movimento constante com diversas trocas de posição, chegando até os nossos centrais a envolverem-se no movimento ofensivo já que praticamente não tinham trabalho defensivo. A directiva do Portimonense era defender, defender, defender. Depois, e para variar, o guarda-redes Nakamura, que nos últimos jogos se tem destacado por dar alguns dos frangos mais inacreditáveis desta edição da Liga (é ver o que ele fez contra o Arouca ou o Estrela) estava neste fim de tarde inspirado e resolveu defender tudo o que lhe apareceu pela frente, a começar por uma ocasião flagrante do Kökçu ainda dentro dos primeiros dez minutos que deu o mote para mais uma mão cheia de boas defesas. À medida que o tempo foi passando talvez alguma frustração se tenha apoderado da nossa equipa, e a qualidade do nosso jogo foi piorando à medida que nos aproximávamos do intervalo. Fomos mostrando uma tendência para afunilar mais o jogo e persistir em tentativas de entrar pelo meio, com tabelas pouco objectivas que resultavam quase sempre em perdas de bola. A disposição com o nulo ao intervalo não era, portanto, a melhor.
Sem alterações para a segunda parte (acho que muitos de nós esperaríamos já a entrada de um avançado), os minutos iniciais foram um prolongamento da nossa enervação, já que nem sequer conseguíamos encontrar espaço para rematar à baliza. Até que, ao fim de dez minutos, fizemos o primeiro remate e marcámos. Depois de mais uma tentativa de entrar pelo meio, onde de forma algo surpreendente tínhamos o Bah na meia lua, foi este quem encontrou o Rafa solto sobre a direita, que não pensou duas vezes e rematou de primeira e de trivela para fazer a bola entrar entre o guarda-redes e o poste, batendo finalmente o Nakamura. A partir daqui e nos minutos seguintes quase não deu para nos voltarmos a sentar. Com uma brecha finalmente aberta na muralha do Portimonense, depois tudo se desmoronou. Dois minutos depois, bola recuperada sobre a direita da nossa área, o João Mário colocou-a nos pés do Kökçu e este de imediato fez um passe fantástico para as costas da defesa onde o Neres ganhou em velocidade, aguentou uma carga e em frente ao guarda-redes teve uma finalização de classe, sentando-o para depois meter a bola na baliza deserta. Mais dois minutos passados e na esquerda o Neres solicitou a velocidade do Rafa, que chegando perto da área levantou a cabeça e viu a entrada do Di María do lado oposto, colocando lá a bola com um grande passe de trivela que depois o Di María finalizou de primeira com um toque subtil de enorme classe, com a parte de fora do pé a colocar a bola no poste mais distante. Três grandes golos em apenas quatro minutos, e tudo resolvido. De seguida trocámos o Neres e o João Neves pelo Tiago Gouveia pelo Florentino. Trocas directas portanto, e continuámos com o controlo total do jogo - o Trubin foi pouco mais do que um mero espectador e não me lembro de ter feito uma única defesa de maior dificuldade. A quinze minutos do final chegámos ao quarto golo, num lance em que o maior mérito é do Tiago Gouveia, que pela esquerda enfrentou o marcador directo numa iniciativa individual e conseguiu entrar na área e ganhar a linha de fundo para depois fazer o passe atrasado para o Kökçu. Este se calhar mais ou menos sem querer (fiquei sem perceber se foi uma tentativa de remate ou um passe deliberado) colocou a bola mais para a direita, onde perto do poste o Rafa se antecipou a um defesa para marcar. Só depois disto fizemos entrar um ponta de lança e ainda aproveitámos para proteger o António Silva de algum amarelo que o retiraria do próximo jogo. O Cabral ainda esteve perto de marcar, mas o Benfica enfrentou os minutos finais já em gestão de esforço.
O melhor em campo volta a ser o Rafa, com dois golos e uma assistência de enorme classe. Acho que esta época, que deverá ser a sua última no Benfica, está a ser a sua melhor de sempre, e se se confirmar a sua saída irá deixar saudades mesmo entre alguns dos seus maiores críticos. Eu tenho alguma dificuldade em imaginar o nosso ataque sem a velocidade dele. O Kökçu é capaz de ter feito o seu melhor jogo desde que chegou ao Benfica. Quem diria que ele iria ter melhor rendimento a jogar na sua posição e nas funções em que a época passada se destacou no Feyenoord, ao ponto de ter sido eleito o melhor jogador da liga holandesa? Duas assistências e diversos pormenores de classe no passe (por exemplo, a forma como na primeira parte isolou o Otamendi para uma grande defesa do Nakamura) a mostrar a enorme utilidade que poderá ter a jogar mais adiantado - ele próprio admitiu no final a sua satisfação por ter podido jogar ali. O Neres é outro dos destaques, e com a sua presença retiramos alguma da carga sobre os ombros do Rafa e do Di María para desequilibrar as defesas adversárias, pois passamos a contar com mais um criativo para o fazer.
Acabou por ser uma jornada muito positiva para o Benfica, que ganhou pontos a dois dos adversários mais próximos. Um bom tónico para os jogos difíceis que se seguem e que espero que saibamos aproveitar. Não me chocará que neles acabemos por apresentar um onze muito próximo deste, e até acho que poderemos tirar daí algum proveito. Pelo menos gostei da dinâmica que vi, que foi uma agradável mudança em relação ao habitual circular de bola sem grande objectividade à espera de um rasgo do Rafa ou do Di María. Com o Kokçu mais perto da baliza podemos esperar dali um passe de rotura, para além de achar que um meio campo verdadeiramente a três nos dá maior solidez (até o João Mário parece ser mais útil à equipa ali) e com o Neres na esquerda deixamos de ser uma equipa completamente balanceada à direita, com os desequilíbrios a poderem surgir de qualquer um dos lados.
Acho que o melhor é começar este post por elogiar a nossa consistência: depois de uma exibição medonha na primeira mão, de forma consistente voltámos a apresentar um futebol do mesmo nível na segunda, e assim acabámos por conseguir arrastar-nos até aos oitavos de final da Liga Europa.
O onze apresentado teve menos mudanças em relação ao jogo contra o Vizela do que eu esperava. Apenas duas mexidas, com as entradas do Di María e do António Silva para os lugares do Tiago Gouveia e do Tomás Araújo. Assumíamos portanto o risco de jogar com o Di María e o Neres nas alas, mas depois da exibição deste último contra o Vizela seria quase crime relegá-lo para o banco. A primeira parte nem foi particularmente má: a exibição não deslumbrou, mas o jogo foi relativamente repartido, com o Benfica a ter um pouco mais de bola, a não permitir grandes ocasiões de golo ao Toulouse, e a ter mesmo as ocasiões mais flagrantes para inaugurar o marcador. A primeira pelo Rafa, depois de uma boa iniciativa do Neres pela esquerda a ganhar a linha de fundo e a fazer o passe atrasado para um remate que saiu para fora; a segunda pelo Di María, após cruzamento rasteiro do Bah, que ele apenas conseguiu desviar à boca da baliza com a ponta do pé para fazer a bola passar junto ao poste; e a última e melhor de todas já a fechar a primeira parte pelo António Silva, que se isolou e acabou por rematar contra o guarda-redes. Não esperava portanto uma quebra tão acentuada da primeira para a segunda parte. Fizemos duas alterações ao intervalo, trocando o Tengstedt e o Morato pelo Cabral e o Carreras, e estas não resultaram de todo. O Cabral regressou em modo mono, e foi uma figura quase estática na frente, incapaz de ganhar ou segurar qualquer bola (acho que deve ter perdido todos os duelos aéreos). Quanto ao Carreras, que nem tinha propriamente uma herança pesada porque o Morato, mesmo numa primeira parte não muito conseguida pela equipa, tinha conseguido ser claramente um dos piores em campo, conseguiu ter uma exibição no mesmo patamar ou ainda pior. Coloco a actuação dele num nível quase épico em termos de desastre, porque perdi a conta às perdas de bola, aos maus posicionamentos defensivos, e aos passes errados - se não demorou uns vinte e cinco minutos em campo até acertar o primeiro passe, andou lá perto. Quanto ao jogo da equipa, caiu a pique em relação à primeira parte e a queda foi constante ao longo de toda a segunda parte, tornando-se progressivamente mais doloroso ver-nos jogar, ao ponto de acabarmos o jogo remetidos à nossa área e constantemente pressionados pelo décimo terceiro classificado da liga francesa, actualmente um ponto acima da linha de água. Não criámos uma ocasião de golo digna desse nome, e apenas não sofremos devido à aselhice dos jogadores franceses e à segurança do Trubin - nos lances em que ele nada poderia fazer, eram os adversários quem se encarregavam de não acertar na baliza. Passei quase toda a segunda parte a contar os minutos para o final e a desejar que aquilo chegasse ao fim o mais depressa possível.
Acho que o Trubin, o João Neves e o António Silva, em parte acompanhados pelo Rafa na primeira parte, foram aqueles que se apresentaram num nível mais alto. O nosso guarda-redes mostrou sempre muita segurança e defendeu tudo o que havia para defender, evitando mesmo o empate já sobre o final do jogo com uma grande defesa. O João Neves andou como de costume a correr pelo campo todo a acudir a tudo, e o António Silva foi o patrão da defesa (pena que tenha falhado aquele golo). De destacar que os nossos dois miúdos tenham sido dos melhores e jogado desta maneira numa semana que deverá ter sido das mais difíceis para eles em termos pessoais. Grandes jogadores e grandes profissionais, e que muito orgulho me dão por vestirem a nossa camisola.
Está ultrapassado o playoff, e à hora a que escrevo isto já sabemos que a seguir teremos o Rangers pela frente. Que é uma equipa que, pelo menos em teoria, não só está perfeitamente ao nosso alcance como o Benfica terá mesmo a obrigação de passar. Mas isso também se aplicava ao Toulouse, e vimos o que aconteceu. O que eu sei é que será preciso jogarmos muito mais e melhor para cumprirmos a nossa obrigação não só na próxima eliminatória, mas também internamente nos jogos decisivos que se aproximam, porque a jogar assim é muito difícil ter perspectivas positivas para o que aí vem.
Uma revolução no onze inicial resultou num atropelo ao Vizela e na vitória mais expressiva do Benfica esta época. Ao intervalo já tínhamos o jogo resolvido e pudemos dar-nos ao luxo de fazer uma segunda parte em ritmo de treino.
Foram meia dúzia de alterações no onze em relação ao jogo com o Toulouse: entraram Bah, Tomás Araújo, Morato, Tiago Gouveia, Neres e Tengstedt; saíram Aursnes, António Silva, Carreras, Kokçu, Di María e Cabral. Entre os cinco que mantiveram a titularidade, o João Mário mudou da esquerda para o centro do meio campo. As alterações no Benfica depressa mostraram uma enorme diferença no ataque: com uma frente de ataque bem mais móvel, fomos capazes de voltar a exercer uma pressão constante e bem mais subida, já que o Tiago Gouveia, Neres e Tengstedt são bem mais rápidos e disponíveis para pressionar do que o João Mário, o Di María ou o Cabral. Com esta primeira linha de pressão bem activa, 'empurrados' pelo João Neves, até jogadores mais recuados como o João Mário ou os laterais conseguiram ser mais participativos nesse aspecto e o Vizela cedo se viu em apuros para lidar com isso. O primeiro golo do Benfica, que surgiu à passagem do primeiro quarto de hora, é aliás um bom exemplo da forma como o Benfica pressionou. Começou com o Rafa a pressionar o guarda-redes, que se safou por pouco de ser desarmado sobre a linha de golo, e quando tentou aliviar a bola o Morato antecipou-se e voltou a devolver a bola para a frente, na direcção de um defesa do Vizela. Quando este tentou controlar e sair, foi pressionado pelo Tiago Gouveia, que interceptou a bola, surgindo depois o Tengstedt dentro da área também a pressionar e a antecipar-se aos defesas e guarda-redes para ficar com a bola. Sobre a esquerda, assistiu o Neres do outro lado que, à segunda tentativa, fez golo. Não tem sido normal vermos tantos jogadores nossos a pressionar de forma tão agressiva no último terço - e por curiosidade estive a ver alguns números deste jogo que comprovam isso mesmo: com meia hora de jogo o Vizela ainda não tinha conseguido sequer tocar(!) na bola no nosso terço defensivo, e ao intervalo o Benfica tinha quase o dobro das acções defensivas no meio campo adversário do que no seu próprio meio campo. Oito minutos depois do primeiro golo, e após uma lesão do guarda-redes do Vizela que obrigou à sua substituição, o Benfica fez o segundo golo: canto à maneira curta na esquerda e o Neres ganhou a linha de fundo para cruzar para uma entrada fulgurante de cabeça do Otamendi, que subiu mais alto do que todos. Outra grande diferença no nosso jogo, da qual já tinha saudades: verticalidade. A mobilidade e agressividade dos jogadores no ataque, com muito ataque ao espaço, permitiram isso. Bola recuperada e saída imediata em progressão (em vez daqueles passes laterais e para trás com construção 'paciente' a permitirem o reposicionamento da defesa adversária) a explorar o espaço vazio e o desposicionamento da defesa. O terceiro golo, à meia hora, um exemplo perfeito disso: bola recuperada pelo João Neves no nosso meio campo defensivo, imediatamente conduzida em progressão pelo Rafa que teve a acompanhá-lo todos os outros jogadores do ataque. Quando a bola chegou à área do Vizela já lá estavam também o Neres, o Tengstedt e o Gouveia. A bola foi passada ao Tengstedt que, solto, finalizou demasiado bem e acertou no poste, com o Tiago Gouveia a surgir mais rápido para fazer a recarga para golo. No período de descontos, mais dois golos, com o quarto deles a ser mais um exemplo de verticalidade que muito gostei de ver e do qual já tinha muitas saudades. O Benfica sai a jogar desde o seu guarda redes e sempre em progressão, pela esquerda: Trubin, João Neves, Otamendi, Gouveia, Rafa, e à entrada da área passe para a desmarcação do Neres e remate rasteiro a fazer a bola entrar entre o guarda-redes e o poste. No quinto golo, bola recuperada pelo Tiago Gouveia no círculo central, que foi parar aos pés do Tengstedt e este imediatamente desmarcou o Rafa, que fugiu aos defesas, isolou-se e em frente ao guarda-redes finalizou com enorme calma. Um completo arraso na primeira parte.
Com o jogo mais do que resolvido o Benfica baixou completamente o ritmo na segunda parte. Aproveitou o Roger Schmidt, e bem, para fazer descansar o Rafa, apenas não achei tão compreensível a entrada do Di María para o seu lugar (foi colocar-se na direita, passando o Neres para as funções anteriormente ocupadas pelo Rafa). Tendo em conta que o resultado, mais golo, menos golo, já era uma mera formalidade, não entendi a necessidade de dar minutos a um dos jogadores mais utilizados até agora e que provavelmente também poderia aproveitar algum descanso. Mas foi bem visível a diferença de andamento com o Di María em campo. Ele dá muitas coisas boas à equipa, mas perdemos muita velocidade e capacidade de pressão. O relaxamento do Benfica foi talvez até demasiado excessivo, o que chegou a provocar algumas manifestações de descontentamento por parte do público, devido a alguma displicência da parte dos nossos jogadores. A começar logo pelo Trubin, que nos minutos iniciais, depois de receber um atraso um pouco mais apertado do Otamendi, em vez de optar pela solução simples e despachar logo a bola tentou colocá-la e acabou por acertar num jogador do Vizela, com a bola a sobrar para o Essende no meio, que depois de uma primeira defesa do Trubin por instinto, à segunda e já pressionado pelo João Mário ainda conseguiu marcar. Fomos muito menos perigosos no segundo tempo e disso se aproveitou o Vizela para finalmente ter bola e, sem nada a perder, vir mais para a frente à procura de amenizar o resultado tão pesado. O Benfica também aproveitou (mais uma vez bem) para dar algum descanso ao João Neves, mas desta vez teve mesmo que entrar outro dos jogadores mais utilizados, o Aursnes, porque não havia outra opção disponível para o meio campo. Ocasião flagrante para o Vizela reduzir novamente num penálti infantil cometido pelo Morato que, lento de reflexos, quando tentou acertar na bola já só encontrou a canela do adversário, e o Trubin redimiu-se do erro no golo adversário defendendo o pontapé do Essende - boa estirada para a sua esquerda, já que o penálti não foi propriamente mal marcado. Ainda voltou a ter que se aplicar mais uma vez alguns minutos mais tarde com mais uma boa defesa no chão a um remate à queima-roupa do inevitável Essende, depois de uma atrapalhação e intervenção pouco decidida do Morato e do Otamendi. Como até ficaria mal depois daquela exibição na primeira parte o Benfica 'perder' a segunda parte, já mesmo a acabar o jogo o Marco Leonardo (que tinha entretanto entrado para o lugar do Tengstedt) fez o sexto golo, depois de uma corrida do Neres desde o meio campo até à área adversária, com dois ressaltos ganhos pelo meio.
O homem do jogo é o David Neres, porque marcar dois golos e fazer duas assistências não é para todos. É para mim, a par do Rafa, o maior desequilibrador que temos no plantel e custa-me vê-lo tanto tempo no banco, em especial em jogos que temos dificuldades para marcar. O Rafa é obviamente outro destaque, e em apenas meio jogo. Não sei até onde o resultado poderia ter ido se ele tivesse continuado em campo, porque é difícil que ele jogue noutra velocidade que não aquela. Chegou ao décimo golo e à décima assistência na Liga, o que mostra bem a influência que tem. O Tengstedt também merece destaque, e só ficou a dever-se a si próprio um golo, que bem merecia (que pena que aquela finalização da calcanhar, a centro do Bah, tenha sido defendida pelo guarda-redes). No plantel, é para mim o avançado que melhor consegue fazer as movimentações típicas que o Gonçalo Ramos fazia a época passada, mas falta-lhe o instinto finalizador dele - um exemplo concreto é uma bola que o Rafa lhe coloca em frente à baliza e em que ele em vez de finalizar de primeira prefere controlar a bola e vir para a linha de fundo. Mas a equipa beneficia muito das suas movimentações e ele está sempre disponível para jogar para a equipa, como o comprovam as duas assistências que fez ontem. O Tiago Gouveia deu-nos a profundidade e agressividade que nos têm faltado do lado esquerdo em quase todos os jogos esta época, isto mesmo quando teve atrás de si o Morato, que sem grande surpresa foi a exibição menos conseguida da equipa do Benfica. Outros jogadores que me agradaram foram o inevitável dínamo João Neves, o Bah, muito agressivo na direita, e por último, porque é justo (ainda por cima porque o critico frequentemente) gostei mais de ver o João Mário no meio do que na esquerda. Até cheguei a vê-lo por diversas vezes a usar o corpo e a meter o pé para ganhar bolas.
Foi a melhor resposta que poderíamos ter dado depois da fraquíssima exibição contra o Toulouse. E, depois de mudarmos mais de meia equipa, é importante sabermos que temos diversas opções disponíveis no plantel que nos oferecem garantias de qualidade, não sendo necessário ficarmos amarrados sempre aos mesmos jogadores, sobretudo quando eles parecem não nos conseguir dar soluções em alguns jogos. A dinâmica apresentada neste jogo foi uma agradável recordação de alguns dos melhores momentos de futebol que vivemos a época passada, e é bom saber que isso ainda existe e é possível com este plantel. Agora veremos se daqui sairão algumas mudanças para o que resta da época ou se, como diz o ditado, uma andorinha não faz a primavera.
Apesar da exibição a roçar o medíocre, que eu considero ter sido uma das piores que fizemos esta época, graças a dois penáltis marcados pelo Di María conseguimos vencer um Toulouse que mostrou ser uma equipa com muito pouca qualidade, e que em condições normais deveria ter saído da Luz já sem qualquer esperança de discutir esta eliminatória.
Não são muitas as vezes em que saio da Luz insatisfeito depois de uma vitória, mas a qualidade do futebol que apresentámos esta noite levou-me ao limite. Entrámos em campo com o Carreras na lateral esquerda, mas como existe uma regra não escrita que esta época não podemos actuar com dois laterais de raiz, lá regressou o Aursnes à lateral direita. E o inefável João Mário manteve a sua posição habitual. O jogo do Benfica na primeira parte, perante um adversário cujo futebol se pode descrever numa única palavra - zero - pode ser descrito em três palavras: devagar, devagarinho, ou parado. Chega a ser exasperante. A sensação que dá é que simplesmente não existe um plano de jogo. A gente vai para ali trocar umas bolas e pronto, depois pode ser que o Di María ou o Rafa inventem qualquer coisa e apareça um golo. Agora um plano definido sobre como ir à procura desse golo? Prefiro mesmo pensar que não existe, porque se existe e é aquilo que vimos neste jogo, estamos tramados. Para quê rematar à baliza quando se pode optar por fazer três passes e tentar duas tabelinhas em frente da área ou dentro da mesma? E o constante afunilamento do nosso jogo ofensivo em nada ajuda. O Di María não ganha a linha, vem sempre para dentro, e do outro lado o João Mário faz o mesmo. Isto só facilita a vida a adversários que acumulam jogadores em frente à sua baliza. Poderia fazer algum sentido se os alas arrastassem com eles os laterais adversários, para permitir o ataque à linha de fundo por parte dos nossos laterais, mas conforme disse, parece que nem sequer podemos jogar com dois laterais de raiz (e na primeira parte, quando o Carreras tentava dar profundidade pela esquerda, foi sistematicamente ignorado). Nulo ao intervalo certíssimo, porque o único momento que quebrou a monotonia foi um remate do Rafa que levou a bola à barra. Tacticamente nada mudou na entrada para a segunda parte, obviamente, porque estávamos todos satisfeitos com aquilo que estávamos a ver. Apesar de um pouco mais de velocidade, o futebol continuava medonho e foi mesmo necessário fazer umas alterações à hora de jogo. Entraram o Bah e o Neres, e como já estou bem ciente da regra de não podermos jogar com dois laterais de raiz, não fiquei surpreendido com a saída do Carreras para que o Aursnes fosse fazer a sua posição. Saiu também o João Mário, o que terá surpreendido muita gente, já que foi nessa altura que repararam que ele ainda estava em campo e não tinha ficado no balneário ao intervalo.
Entretanto, quatro minutos depois um defesa do Toulouse cometeu um penálti absurdo (a emular perfeitamente a técnica do Tonel há uns anos) e o Di María converteu para nos colocar na frente, isto depois de quase cinco minutos, gastos entre a avaliação do VAR num lance mais do que evidente e o tempo para marcar efectivamente o penálti. Com uma tamanha vantagem no marcador, oportunidade para baixar ainda mais o já de si ritmo frenético e relaxar ainda mais, o que obviamente resultou imediatamente num golo sofrido apenas sete minutos depois, num lance que é uma verdadeira ode ao mau defender e à displicência. Com toda a gente parada e a marcar com os olhos, o Toulouse andou ali a trocar a bola nas imediações da nossa área durante um período relativamente prolongado, depois o cruzamento foi 'afastado' pelo Aursnes de forma a que a bola apenas subiu quase na vertical. Ainda e sempre com toda a gente a olhar (com especial destaque para o António Silva) como tudo o que sobe tem que cair, a bola caiu na área sem que ninguém a atacasse, sobrando para dois jogadores do Toulouse que, na sua tentativa de a jogar, acabaram por colocá-la no segundo poste onde um colega não teve grande dificuldade em antecipar-se ao Aursnes para rematar sem hipóteses para o Trubin. Foi uma brilhante demonstração de como uma equipa profissional não deve abordar um lance. Depois foi continuar a aturar o futebol medonho, com alguma vontade de jogar mais depressa mas sem grande capacidade para fazer muito mais do que após várias trocas de bola acabar por entregar a bola ao Di María e esperar que ele acabasse por tentar colocar a bola para a área. A substituição aos 87 minutos, em que trocámos de avançado, também já não é surpresa para ninguém porque já se tornou um hábito. Tal como não fazer todas as substituições, especialmente se não estivermos a ganhar. Se não formos a única equipa no mundo que por sistema não aproveita todas as substituições, devemos ser das poucas que o fazem. De qualquer forma o génio do nosso treinador revelou-se, porque o recém-entrado Marcos Leonardo sofreu um penálti ao quinto minuto de compensação, que o Di María converteu novamente para nos dar a vitória. Isto estava tudo pensado.
Para destacar alguém só consigo mencionar o Di María, por ter marcado os dois penáltis. O João Neves lá andou a desgastar-se a correr quilómetros e a acudir a todos os fogos, e com isto começa a perder-se em alguns exageros também. É-me cada vez mais difícil estar a ver o desperdício que é o Kokçu naquelas funções, a persistência em nunca jogar com dois laterais, ou o fazer do Aursnes pau para toda a obra e andar a desgastá-lo em qualquer posição. Em Guimarães jogou a médio direito, médio esquerdo e lateral esquerdo, hoje jogou nas duas laterais, no próximo jogo quase de certeza que terá que jogar no meio porque o Kokçu e o Florentino estão suspensos. A versatilidade é louvável, mas isto não é bom para nenhum jogador. O António Silva nem estava a jogar mal, mas depois de já ter ficado mal na fotografia em Guimarães, hoje ficou ainda pior no golo dos franceses. É incompreensível como decide não atacar aquela bola de cabeça.
A eliminatória está ainda em aberto e face à diferença de qualidade entre as duas equipas o Benfica tem, pelo menos no papel, a obrigação de a passar. Mas terá que jogar bem mais do que isto se quiser evitar algum dissabor. Aquilo que vi hoje está abaixo dos mínimos exigíveis para um plantel com esta qualidade. Acho aliás que é preciso fazer um esforço especial para conseguir colocar estes jogadores a jogar um futebol tão pobre e sem imaginação.
Passo atrás em Guimarães. E nem nos podemos queixar muito do resultado, porque face ao que se passou no jogo o empate que surgiu já no último suspiro do jogo até acabou por ser melhor do que aquilo que já se perspectivava.
Jogo à partida difícil, e o Herr Schmidt resolveu inovar. Perante a obrigatoriedade de manter jogadores como os dois que compõem o pior lado esquerdo de que tenho memória, e com um campo pesadíssimo e a roçar o impraticável cujo estado só piorava face à chuva que caía, a opção foi retirar do onze o avançado que marcava há três jogos seguidos e que atravessa a sua melhor fase da época. Apresentámos uma equipa assim mais a dar para o levezinho, sem ponta-de-lança fixo, com o Rafa como jogador mais avançado e o Di María nas suas costas, e o Aursnes e o João Mário nas alas. Já tínhamos a primeira parte da Supertaça para termos uma leve ideia de como isto poderia resultar, embora o estado do terreno neste jogo fosse um factor extra. Eu não me canso de repetir que não acho que seja grande entendido em futebol, mas num jogo com estas condições eu acharia que o cenário mais óbvio seria termos que optar por futebol mais directo e ter a bola mais pelo ar, já que era difícil esta rolar no relvado. Agora fazer isto sem uma referência na área, é algo que me parece muito mais complicado. A forma como acabei por ver o jogo desenrolar-se não foi por isso muito surpreendente para mim. Foi basicamente uma primeira parte perdida, em que nós tivemos mais bola sem conseguir construir quase nada com qualidade e na qual tivemos uma quantidade assustadora de passes errados (algo que se prolongou a todo o jogo, muito por culpa do estado do terreno). A única grande oportunidade que criámos até ao golo foi num livre directo marcado pelo Kokçu, que obrigou o guarda-redes a uma defesa apertada, enquanto que o Vitória conseguia chegadas à área muito mais frequentes e perigosas, ao ponto de fazer com o que o Trubin fosse o nosso jogador em maior destaque. Quando o Vitória se colocou em vantagem, aos trinta e cinco minutos através de um penálti absolutamente disparatado cometido pelo Kokçu, o cenário complicou-se, e foi muito positivo termos conseguido uma reacção imediata e chegar ao empate apenas cinco minutos depois. Um cruzamento do Di María na esquerda encontrou o Rafa sozinho em frente à baliza para desviar para o golo. Ir para o intervalo empatados foi até lisonjeiro, porque o Vitória foi a melhor equipa na primeira parte.
O erro foi corrigido ao intervalo e entraram o Florentino e o Cabral para os lugares do Kokçu, que ainda por cima estava amarelado desde o penálti, e do João Mário - o que até me deixou surpreso. Manteve-se o Morato na esquerda, que raramente conseguiu conter a ameaça que o Jota representava por aquele lado. O Benfica pareceu melhor com as alterações mas o jogo mantinha-se perigosamente aberto e foi mesmo por ali que surgiu o segundo golo do Vitória, num cruzamento do Jota para a área que foi desviado pelo André Silva para o golo, tendo na minha opinião o António Silva ficado mal na fotografia. Abordou o lance de forma pouco decidida e deixou-se antecipar pelo jogador do Vitória. Isto aconteceu com quinze minutos decorridos, e apenas três minutos depois o Vitória ficou reduzido a dez depois de uma entrada completamente desmiolada do Borevkovic sobre o Florentino. Com o terreno neste estado, atirar-se de pitons em riste a uma bola é estar a pedir que alguma coisa má aconteça. Ou ao próprio, ou ao jogador que está à sua frente. Safou-se o Florentino, mas não se safou o Borevkovic de ir para a rua, deixando-nos com pelo menos meia hora pela frente para tentar dar a volta ao texto. Eu vou confessar que mesmo a expulsão não me deixou muito mais confiante. O estado do relvado dificultava o nosso estilo de jogo e não me pareceu que tivéssemos jogo suficiente para dar a volta a uma equipa que agora se fechava atrás e ia aproveitando cada vez mais para deixar o tempo correr. Até porque nem houve reacção imediata do nosso banco a esta situação, e passámos longos minutos não só sem criar qualquer ocasião de perigo, como a nem sequer conseguir fazer a bola chegar à área. Foi até o Vitória, deixando um único jogador sozinho na frente, a estar perto de marcar o terceiro. Valeu-nos uma vez mais o Trubin. Aos setenta e sete minutos lá se trocou o Morato pelo Marcos Leonardo, passando o Aursnes a jogar na lateral esquerda, mas só mesmo quando a três minutos dos noventa renovámos completamente a ala esquerda, com as entradas do Carreras e do Neres para os lugares do João Neves e do Aursnes, é que vi melhorias concretas. Com tão pouco tempo para jogar ainda conseguimos arrancar o empate aos noventa minutos, num cruzamento do Di María que o Cabral cabeceou de forma imparável para o golo. Se calhar teria dado jeito tê-lo lá desde início, mas eu sei lá.
O melhor jogador do Benfica neste jogo foi o Trubin. Sem qualquer dúvida para mim. E acho que isto diz muito daquilo que jogámos esta noite. Para além dele, uma menção para o Di María, que num jogo em que não teve grandes oportunidades para brilhar acabou por fazer as assistências para os nossos dois golos. Finalmente, o Cabral teve um impacto positivo no jogo, o que aliás seria de esperar. O Kokçu fez uma exibição fraca, que culminou no penálti perfeitamente desastrado que cometeu. Já não é bom obrigá-lo a jogar como médio defensivo, quando ainda por cima tem que o fazer num jogo sob estas condições não sei bem o que é que se estaria à espera que acontecesse.
Em teoria perdemos dois pontos em Guimarães. Na prática, e depois de ter visto o jogo, acho que ganhámos um ponto. Porque o empate acaba mesmo por ser um mal menor, já que a maior parte do tempo me pareceu que iríamos perder o jogo. Não achei que a nossa abordagem táctica inicial ao jogo fosse a mais correcta. Estávamos em boa forma, não percebi a necessidade de mudar tanto antes de um jogo que se antevia complicado (e na nossa história recente já tivemos outros treinadores que tinham esse mau hábito, que quase invariavelmente dava mau resultado) e ainda por cima essas mudanças pareceram-me pouco apropriadas às condiçoes em que o jogo se disputou. Quando as condições nos começaram a ser um pouco mais favoráveis - a chuva abrandou, o adversário ficou reduzido a dez - demorámos demasiado tempo a reagir de forma a tirar o melhor partido disso, simplesmente deixámos as coisas andar a ver se aquilo se resolvia. Por isso o golo do Cabral acabou por ser um bónus inesperado, numa altura em que não acreditava de todo que pudesse acontecer. Vimos assim interrompida a melhor série de resultados na Liga desta época e face à cada vez mais tradicional passadeira que o Braga estendeu na sua visita ao Lumiar, perdemos dois pontos para um adversário directo, podendo amanhã perder outros dois para outro.
Passagem às meias-finais da Taça carimbada em Vizela, com um pequeno sofrimento no final que era perfeitamente desnecessário, dada a evidente superioridade do Benfica durante quase todo o jogo. Uma vez mais, o desperdício na fase inicial acabou por causar-nos desconforto no final.
Saiu o Morato do onze para entrar o Carreras, regressou o João Mário. E com isto o Aursnes voltou à direita da defesa, relegando o Bah para o banco. Para o banco foi também o Florentino para que o Kokçu voltasse à titularidade. Entrada fortíssima do Benfica no jogo, criando oportunidades claras de golo, mas o Rafa estava num daqueles dias em que a baliza lhe foge. Envolvimento muito interessante do Carreras nas acções ofensivas, permitindo jogadas que muito dificilmente seriam possíveis com o Morato a fazer aquela posição. Um penálti por assinalar a nosso favor também fez parte da receita para que apenas aos trinta e quatro minutos fosse colocada alguma justiça no marcador, com um golo do Cabral. É ele quem está perto da nossa área a pressionar para recuperar a bola, e é ele quem, perto da marca de penálti, finaliza com um remate colocado junto ao poste o passe recebido do Rafa desde a esquerda, depois de ter sido lançado pelo João Mário. A margem mínima ao intervalo era curta para a superioridade do Benfica, mas esta era tão evidente que eu nem sequer estava particularmente enervado. A segunda parte teve menos gás da nossa parte, mas mesmo assim deu para chegar ao segundo golo numa daquelas jogadas já típicas, em que há uma entrada do Aursnes pela direita (a passe do Di María) e este coloca a bola na boca da baliza. O Cabral não conseguiu emendar, mas ao segundo poste o João Mário fez um remate meio enrolado que levou a bola a ir bater no poste mais distante e a entrar. Tudo parecia resolvido, mas o Benfica relaxou demasiado rápido e acabou por sofrer um golo inesperado, num lance em que houve demasiada passividade da nossa defesa - em particular do António Silva, que fez um corte de cabeça bastante displicente que deixou a bola num adversário. Motivação natural do Vizela para os minutos finais, mas nunca chegaram a preocupar seriamente a nossa defesa, com o Trubin a não ser obrigado a trabalho de grande dificuldade.
Não creio que alguma vez consiga ser fã do estilo de jogo do João Mário, porque na minha opinião está constantemente a travar jogadas e a perder bolas, mas neste jogo ele marcou um golo e esteve na jogada do outro. O Cabral fez mais um bom jogo e continua apostado em justificar a sua contratação. Ele e o Marcos Leonardo são avançados muito diferentes, e neste momento já se nota bastante a diferença quando o Cabral sai. Gostei do que vi do Carreras no envolvimento ofensivo, em especial durante a primeira parte. No aspecto defensivo, este jogo não serviu para o colocar verdadeiramente à prova. O João Neves foi o dínamo do costume. O Rafa acaba sempre por estar em destaque, fez a assistência para o primeiro golo, mas esteve num daqueles dias em que a finalização nos exaspera.
A continuidade na Taça implica agora um jogo contra o Sporting em vésperas de nos deslocarmos ao Porto, pelo que enfrentaremos uma semana bastante complicada já no final deste mês. Estamos numa fase decisiva da época em que os jogos se sucedem com pouco tempo de descanso entre eles, e cada um mais decisivo que o anterior. Tenho confiança que temos plantel para encarar todas as competições de forma ambiciosa, isto desde que façamos uso de todo ele e não persistamos em equívocos.
Foi quase a jogar a passo que o Benfica conseguiu vencer o Gil Vicente por uma margem confortável, num jogo que acabou por não nos trazer grandes dificuldades. A sensação com que fiquei foi que os nossos jogadores nem sequer chegaram a carregar a fundo no acelerador, porque estiveram sempre seguros da sua superioridade e de que a vitória chegaria no final.
Duas surpresas no onze, com as entradas do Bah e do Florentino. O Morato manteve a titularidade na esquerda da defesa, mas o regresso do Bah implicou a subida do Aursnes para a esquerda do meio campo e a consequente ida do João Mário para o banco. Quanto ao Florentino, foi uma troca directa com o Kokçu. O Gil Vicente veio à Luz apostado em que a pressão alta nos pudesse causar problemas, como algumas equipas já o conseguiram fazer - mais recentemente o Rio Ave. Mas apesar da boa vontade, o Benfica não se deixou intimidar e lidou com isso de forma bastante personalizada e segura, sendo frequente ver os nossos jogadores a trocar a bola com confiança em zonas recuadas para chamar a si os adversários e depois sair a jogar. Com o trio João Neves/Florentino/Aursnes no meio campo somos uma equipa bastante mais sólida e não é tão fácil sermos dominados na zona central. Os resultados práticos dessa pressão foram portanto, para o Gil Vicente, nulos. Não criaram uma única situação de perigo para a nossa baliza, e só não digo que o Trubin foi um mero espectador porque foi chamado por diversas vezes ao jogo para jogar com os pés, sendo também parte importante da solução para lidar com a pressão alta. E mostrando uma característica em particular onde a sua enorme superioridade sobre o seu antecessor na nossa baliza é por demais evidente. O Benfica, mesmo quase sempre em ritmo de cruzeiro, cedo tomou conta do jogo e logo aos cinco minutos viu o Cabral atirar ao poste: cruzamento do Di María e cabeceamento do brasileiro, que no entanto acho que poderia ter sido mais eficaz nesse lance, pois não me pareceu que tivesse acertado na bola da melhor maneira. Mas redimiu-se aos quinze minutos, cabeceando com sucesso um pontapé de canto marcado pelo Di María na esquerda. Depois de uma seca em termos de golos em pontapés de canto, duas jornadas seguidas a fazê-lo. E tal como na jornada anterior, o Cabral estava sozinho naquela zona central da área; na segunda-feira acertou nos ferros, desta vez mandou-a lá para dentro. E para repetir a dose, mesmo sem forçar muito, pouco depois da meia hora o Benfica voltou a tirar partido de um pontapé de canto para marcar. Outra vez o Di María na esquerda, desta vez foi o Otamendi quem ganhou nas alturas e enviou a bola para a zona do segundo poste, onde o João Neves ganhou na luta com um adversário, tirou outro da jogada, e rematou de trivela para marcar, com a bola ainda a sofrer um desvio num defesa. Almofada de dois golos e muita tranquilidade a deixar o tempo escorrer até ao intervalo, sem particulares motivos de interesse.
E se a coisa já estava bem encaminhada, no regresso do intervalo melhor ficou. Logo nos minutos iniciais o Artur Cabral deu o primeiro aviso ao cabecear à figura do guarda-redes após cruzamento do Aursnes, e pouco depois uma combinação pela esquerda entre o Morato, o Aursnes e o Rafa terminou este último a flectir para o meio e a rematar cruzado para colocar o resultado em três golos de diferença. A partir daqui, sinceramente, achei o jogo algo aborrecido. Com o jogo mais do que resolvido, o Benfica nunca se preocupou em impor um ritmo elevado e o Gil Vicente conseguiu ter bola durante períodos mais prolongados, ainda que sem causar grande perigo - a primeira defesa a sério que o Trubin fez foi aos 85 minutos, ainda assim uma boa defesa que contribuiu para mais um jogo sem sofrermos golos. A meio da segunda parte trocámos o Morato e o Rafa pelo Álvaro e o Neres e pudemos ver algo que já não víamos há algum tempo, que foi o Benfica a jogar com dois defesas laterais de raiz. Salvo uma ou outra jogada, que invariavelmente não foram bem finalizadas, o jogo continuou morno e com muitos poucos motivos de interesse. Mas não deixa de ser reconfortante ver o leque de opções que neste momento temos à disposição, com várias possibilidades para mudar o que quer que seja caso um jogo não esteja a correr de feição, em especial do meio campo para a frente. Ainda entraram o Marcos Leonardo e o Tiago Gouveia, e mais pertinho do final o Rollheiser voltou a ter mais uns minutinhos, mas não houve grandes ocasiões (ou vontade) para ampliar o resultado. Se bem que desconfio que o único motivo pelo qual o Marcos Leonardo não continuou a sua sequência de golos nos minutos finais vindo do banco porque o árbitro resolveu dar apenas dois minutos de compensação, o que não fez sentido nenhum dado que houve um golo e dez substituições (com seis interrupções para que fossem feitas), que pelas instruções deveriam ter sido devidamente compensadas. Mas suponho que o jogo naquela altura estivesse tão aborrecido que o próprio árbitro quis acabar depressa com aquilo.
Acho que escolho o João Neves como destaque. Foi quem mais dinâmica deu ao nosso jogo, parecendo que de uma maneira ou de outra a bola acabava sempre por passar pelos pés dele. E marcou um excelente golo, resultado da sua atitude de não dar um lance como perdido. Bom jogo dos nossos defesas centrais, em que gostei particularmente da calma mostrada pelo António Silva a jogar e a sair sob pressão. Rafa, Di María, Aursnes ou Cabral num bom nível também, e fiquei agradado com o regresso do Bah, a dar mais profundidade por aquele lado.
Com esta vitória conseguimos alargar para seis pontos a vantagem que nos separa do Porto. Já quanto ao facto de termos passado para o topo da tabela, não dou qualquer importância. O Sporting tem um jogo a menos e incomoda-me mais a possibilidade de poderem guardar esses potenciais três pontos no bolso, para depois disputarem o jogo em condições que podem ser mais favoráveis, já sabendo de antemão o quão necessários eles poderão ser ou não. E, por exemplo, poderão já contar com jogadores que neste momento estão ausentes nas suas selecções. Mas não duvido que naquelas cabeças já fervilhem conspirações nas quais o Benfica é, de alguma forma, responsável pelo que aconteceu em Famalicão, e que provavelmente até foram benfiquistas infiltrados que andaram à bordoada com as gentes de Famalicão - estas são as mesmas cabeças que congeminam conspirações para beneficiar o Benfica quando por acaso é um jogo nosso a ser adiado. Importante neste momento é irmos em sete vitórias consecutivas na Liga - desde aquele malfadado jogo com o Farense em casa que só ganhamos - e pensar que agora, entre acertos de plantel e jogadores a recuperarem de lesões, temos muito mais e melhores opções disponíveis. É por isso que encaro o resto da época com confiança reforçada (é raro para mim, talvez isto seja ainda a euforia de ter visto o João Mário descansar um jogo).
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