Foi mais uma noite europeia memorável. Surpreendendo muita gente, após dias muito conturbados o Benfica apareceu em Turim como uma equipa altamente personalizada e realizou uma das exibições mais sólidas desta época. A vitória, que coloca o Benfica nos playoffs com estatuto de cabeça de série, foi indiscutível e raramente foi sequer colocada em causa.
Nas opções iniciais do Bruno Lage houve algum estranheza pela escolha do Bah para ocupar a lateral esquerda face à ausência do Carreras, com o Tomás Araújo a voltar a ocupar a direita. O resto da equipa escalada foi mais ou menos o que se esperava. Os minutos iniciais deram logo para perceber que o Benfica conseguia chegar facilmente à área adversária: logo nos primeiros seis minutos, por três vezes o Benfica entrou na área com perigo, duas pelo Schjelderup e outra em que por pouco o Pavlidis não conseguiu chegar à bola passada pelo Di María. Pelo meio, uma boa oportunidade da Juventus que o Trubin parou com segurança. O Benfica foi sempre uma equipa muito solidária e com grande atitude competitiva, com os jogadores próximos uns dos outros a permitir ganhar quase sempre as segundas bolas, para depois sair de forma rápida e apoiada na transição. A Juventus tinha mais bola, mas apostava sobretudo em tentar metê-la nos pés do Conceição na direita e raramente conseguia causar grande perigo. Quando Bah não era suficiente, estavam lá o Schjelderup e o Florentino para ajudar a prevenir problemas. Se a entrada do Benfica no jogo já dava confiança, esta aumentou ainda mais quando chegámos ao golo ainda cedo, com dezasseis minutos decorridos. Na insistência a um pontapé de canto a nosso favor o Aursnes fez um passe longo para as costas da defesa italiana, onde o Bah conseguiu controlar a bola na perfeição e na área deixou a bola à disposição do Pavlidis para que este marcasse só, em frente ao guarda-redes. Se calhar por causa desta confiança reforçada, vi o resto da primeira parte muito descansado. Nunca me pareceu que a Juventus tivesse capacidade para nos ameaçar seriamente e nunca senti o resultado em perigo. Nervos só mesmo quando, mesmo a fechar a primeira parte, o Pavlidis desperdiçou uma oportunidade soberana que o Aursnes lhe ofereceu e só com o guarda-redes pela frente rematou de forma a permitir-lhe a defesa.
Na segunda parte a Juventus tentou colocar mais velocidade no jogo e pressionar mais. O Benfica recuou um pouco as linhas, mas a defesa manteve-se organizada e conseguimos lidar com quase tudo o que a Juventus tentou, acabando os italianos por recorrer sobretudo a remates exteriores. Houve um par de situações mais perigosas, numa delas o remate saiu às malhas laterais e na outra o Trubin mergulhou para ir agarrar a bola junto ao poste, num desviou que saiu bastante colocado mas sem muita força. Talvez tenha demorado um pouquinho mais do que o esperado, mas a cerca de vinte minutos do final o nosso treinador mexeu na equipa e fê-lo muito bem. Trocou os alas Schjelderup e Di María pelo Aktürkoglu e o Barreiro e o Benfica voltou a ganhar maior agressividade na pressão e conseguiu subir as linhas, afastando a Juventus da nossa área. Para mim estas alterações acabaram mesmo por ser o momento decisivo que me deixou com poucas dúvidas de que a vitória não nos fugiria. O que acabou por se confirmar a dez minutos do final, numa jogada de transição que eu achei muito bonita. Começa desde a nossa defesa, num passe vertical do António Silva para o meio campo, e acaba com um passe do Pavlidis da direita para a zona frontal da área, onde o Aktürkoglu faz uma simulação e deixa a bola passar para a subida do Kökçü, que controlou de pé esquerdo e rematou de direito de forma indefensável. O golo matou de vez a Juventus e o resultado até poderia ter sido mais confortável, porque até final foi o Benfica quem esteve sempre mais perto de voltar a marcar.
Num jogo em que o Pavlidis acabou por ser o destaque por causa do golo e da assistência, achei que quase toda a gente esteve muito bem. Em particular o nosso meio campo, onde o Florentino foi enorme e o Aursnes pareceu de regresso ao nível consistente a que nos habituou. Os nossos centrais estiveram num nível altíssimo, com o António Silva a fazer um jogo quase perfeito e a limpar tudo o que lhe apareceu pela frente.
Enorme satisfação pela exibição e resultado, que se prolonga ao ouvir o som das muitas facas a serem embainhadas novamente. Mas não consigo deixar de pensar que a jogar com esta atitude e disciplina táctica (que também apresentámos contra o Barcelona) nenhuma equipa em Portugal nos conseguiria criar muitos problemas. Por isso é que custa tanto ver jogos como este último com o Casa Pia, porque fica a sensação de que a culpa daquilo que aconteceu é quase exclusivamente nossa por não termos feito aquilo que já provámos saber fazer. Nem é jogar sempre ao nível desses jogos da Champions, porque isso é difícil, é mesmo a questão da atitude. São estas oscilações na atitude competitiva que são difíceis de compreender.
Uma completa vergonha. Espero que pelo menos possam ir para Turim descansados, porque no fundo é isso que importa, não é? No dia em que se assinala o nascimento do nosso maior jogador de sempre (e ainda a tristeza da perda do Fehèr) marcámos a data com mais um jogo patético para juntar ao rol das exibições inadmissíveis que o Benfica vai conseguindo acumular esta época, e que até para os padrões do futebol da pior fase Roger Schmidt seria inaceitável. No final conseguimos sofrer três golos nos únicos três remates que o Casa Pia fez à baliza em todo o jogo.
Mudaram-se quatro jogadores para este jogo, entrando o Bah, Barreiro, Di María e Cabral no onze, saindo o Tomás Araújo, Aursnes, Schjelderup e Pavlidis (fazer três golos num jogo parece agora dar direito a banco no jogo seguinte). Entrada boa e forte do Benfica no jogo, a pressionar alto e a causar perigo, que foi recompensada cedo, numa altura em que o Cabral já tinha 'queimado' as mãos ao guarda-redes numa situação perigosa. As linhas subidas de pressão deram resultado quando o Barreiro conseguiu desarmar, dentro da área, um defesa que se aprestava para aliviar a bola e foi pontapeado. Penálti claro, que o Di María transformou sem dificuldade. Em vantagem e com um início forte, poderíamos esperar um jogo relativamente tranquilo para o Benfica frente a uma equipa que tinha como objectivo fechar-se atrás e contra-atacar. Tivemos a seguir uma boa situação em que o Aktürkoglu acertou na barra depois de termos mais uma vez pressionado alto e recuperado a bola perto da área adversária. Mas se calhar porque o jogo em Turim já preocupa muito a nossa equipa, começámos pouco depois a baixar progressivamente a intensidade do jogo - a pressão deixou de acontecer, os jogadores começaram a preocupar-se em passar sobretudo para trás e para os lados em vez de procurarem a baliza, e com essa atitude acabou por vir por arrasto o desleixo. Mais uma vez a mostrarmos uma péssima qualidade a sair a jogar desde a defesa, mas a insistir repetidamente em tentá-lo, o desleixo do António Silva levou-o a fazer um passe directamente para um adversário na zona frontal à baliza, e no primeiro remate que o Casa Pia fez à nossa baliza, marcou. Foi pouco depois da meia hora. Não contentes, insistimos no disparate e mais um passe horroroso para trás na saída de bola, desta vez do Kökçü, deu mais uma ocasião flagrante de golo ao adversário que acabou por resultar num penálti assinalado contra nós. O VAR reverteu para livre sobre a linha da área, mas ficava mais um exemplo do desleixo absoluto. A qualidade do nosso jogo foi piorando cada vez mais, não se fazia uma transição em velocidade, e com o adversário acantonado atrás voltávamos a mostrar aquilo que eu já escrevi várias vezes aqui: qualquer equipa que consiga ficar fechadinha atrás e defender de forma organizada arrisca-se a ganhar ao Benfica.
Certamente contentes com aquilo que íamos vendo, não mudámos nada ao intervalo. Por isso foi mais do mesmo, um ataque que não criava ocasiões e uma posse de bola completamente estéril. O terreno, lento e pesado, não era nada propício aos nossos jogadores, que se fartaram de escorregar e tropeçar durante o jogo, enquanto que a bola raramente rolava em velocidade. Não era por exemplo, de todo, um jogo bom para o Di María, que deve ter conseguido travar quase todas as tentativas de transição, mas ele arrastou-se em campo até aos oitenta minutos. Era só esperar pelo inevitável contra-ataque da equipa que passava o jogo na defesa, que apareceu à hora de jogo. Subida pela nossa esquerda, com o Carreras a cair uma vez mais, e passe para alguém aparecer completamente sozinho do outro lado e ter todo o tempo do mundo para preparar o remate e marcar. Segundo remate do Casa Pia à nossa baliza, segundo golo. Quando nos decidimos finalmente a mexer, trocámos o Aktürkoglu pelo Schjelderup e o Florentino pelo Pavlidis para passarmos a jogar com dois avançados. Imediatamente comentei com amigos que não só não ganharíamos o jogo, como ainda sofreríamos um terceiro golo. Porque continuámos sem conseguir criar grande perigo, e começámos a optar cada vez mais por meter cruzamentos bombeados para a área, onde estava quase sempre um dos nove jogadores do Casa Pia que lá habitavam quase em permanência para os interceptar. Se calhar eu já estava a ver o jogo com a atitude errada, mas não me recordo de ter tido uma única vez sequer a sensação de que poderíamos chegar ao empate. A dez minutos do final, mais três substituições que mais pareceram ser algo do género 'vamos mandar mais uns tipos lá para dentro a ver se dá alguma coisa' (tínhamos tirado o médio defensivo para voltar a meter um, trocámos um avançado por outro, e um extremo por outro médio, no fundo voltando à fórmula inicial mas com intérpretes diferentes). Não deu. Ou melhor, deu sim o esperado terceiro golo do Casa Pia. Já em período de descontos, num altura em que dois terços da equipa já nem se quiseram incomodar em recuar para defender, mais um contra-ataque, terceiro remate do Casa Pia à nossa baliza, e terceiro golo.
Ninguém se safa. Foi horrível e nem um jogador se aproveitou - posso quando muito enaltecer o esforço do Barreiro enquanto lá andou, porque me pareceu o único a continuar a tentar morder os calcanhares aos adversários, mas pressionar sozinho sem o resto da equipa a ajudar não dá grande resultado. O António Silva fez uma exibição desastrosa e deu início ao descalabro com o passe que ofereceu o primeiro golo ao adversário. Os jogadores que entraram no onze, excepção feita ao Barreiro, estiveram péssimos. O Di María irreconhecível, o Bah pavoroso quer a defender, quer a atacar - não me recordo de o ver ganhar a linha de fundo uma vez que fosse - e o Cabral começou bem mas depois ficou completamente perdido no meio dos defesas adversários. O Kökçü deve ter estado o jogo todo a olhar para o relógio para ver quando é que acabava e poderia começar a descansar para Turim.
Parece-me muito bem andar a enterrar e a comprometer aquele que tem que ser o nosso objectivo principal esta época para pensarmos num jogo de uma competição em que as nossas probabilidades de sucesso são quase nulas. E se não foi isso que aconteceu, então foi o que pareceu. A partir dos vinte e cinco minutos de jogo o Benfica ficou completamente desligado de um jogo que entrou a controlar e a dominar. E não foi porque o adversário tivesse de repente caído em cima de nós, eles continuaram fechadinhos lá atrás e à espera do nosso erro. E como nós somos particularmente bons a inventar erros, era só uma questão de tempo. A minha convicção era a de que seria preciso fazer um esforço hercúleo para conseguirmos não ser campeões esta época. Mas parece-me que estamos empenhados em consegui-lo - temos uma vitória e três derrotas nos últimos quatro jogos disputados para a liga. Se a equipa do Benfica conseguir ir para casa dormir esta noite sem um pingo de vergonha na consciência por aquilo que fizeram há pouco, então não merecem estar no Benfica. E não me venham com tretas de dar já a resposta em Turim, eu estou-me nas tintas para esse jogo. Para mim o importante eram os três pontos contra o Casa Pia, mas claramente devemos ter prioridades diferentes. Tenho pena de todos aqueles adeptos que foram até Rio Maior encher o estádio e que não se cansaram de apoiar a equipa até ao último minuto.
Tivemos tudo para que fosse um jogo memorável, que praticamente garantiria o nosso apuramento para a próxima fase da Champions, mas a noite acabou por ser inglória, por culpa tanto de erros próprios como de outros factores, a que infelizmente já vamos estando demasiado habituados nesta competição (os recentes jogos com o Inter, por exemplo, ainda me estão atravessados).
A equipa quase que não mudou. Apesar da recuperação do Di María este manteve-se fora do onze, e o único a sair foi o Barreiro, autor do inesperado hat trick no último jogo. Para o seu lugar entrou o Aursnes. Se queríamos alimentar alguma esperança de um resultado positivo neste jogo, teríamos que ser o Benfica que há poucos meses atrás tinha banalizado o Atlético de Madrid, e o início de jogo não poderia ter sido melhor para nos dar esperança de que isso pudesse acontecer. Mal se tinha completado o primeiro minuto de jogo e chegámos ao golo, numa jogada bonita e simples. Abertura muito larga do Tomás Araújo para o Carreras, a variar o flanco de jogo, e já na zona lateral da área o espanhol fez o cruzamento de primeira. O Schjelderup arrastou um defesa para a zona do primeiro poste e deixou a bola passar, para o Pavlidis aparecer em posição mais frontal a finalizar de primeira, com a bola a bater ainda no poste antes de entrar. Início perfeito, e o Benfica a mostrar ter o adversário bem estudado. Seria quase impossível tentar disputar o jogo olhos nos olhos com o Barcelona, mas aproveitando a linha de defesa muito subida deles, assim que eles ultrapassavam a nossa primeira linha de pressão defendíamos num bloco baixo e tentávamos sair rapidamente para o ataque em poucos toques. O dois a zero só não apareceu logo a seguir porque o Aursnes, servido novamente pelo Carreras, conseguiu de forma inacreditável atirar para fora quando estava completamente sozinho em frente à baliza. Apesar da imensa superioridade na posse por parte do Barcelona estávamos a conseguir defender bem e a evitar que eles criassem grandes ocasiões. Mas aos treze minutos, numa jogada sem grande perigo o Tomás Araújo falhou o tempo de entrada e acabou por cometer um penálti escusado, que o Barcelona aproveitou para empatar o jogo. Seguiram-se alguns minutos de desorientação, nos quais o Barcelona só não se colocou em vantagem porque o Trubin fez uma defesa impossível. Mas a noite ia ficar marcada pelos disparates, e aos vinte e dois minutos o guarda-redes do Barcelona contribuiu com um épico, saindo de forma desmiolada da baliza para abalroar um companheiro de equipa e deixando a bola à disposição do Pavlidis para que este marcasse de baliza aberta. E à meia hora de jogo, novo contra-ataque do Benfica em que o Aursnes soltou para o Aktürkoglu sobre a direita e depois dele ter picado a bola sobre o guarda-redes acabou por ser ainda tocado por este quando tentou saltar sobre ele. Penálti convertido pelo Pavlidis, que obteve assim um hat trick que na minha cabeça era ainda mais improvável do que o hat trick do Barreiro no último jogo. Até ao intervalo, o jogo continuou na mesma. Intenso domínio territorial do Barcelona e o Benfica a sair sempre que podia de forma rápida, com o nosso lado esquerdo (Carreras/Schjelderup) em evidência.
Devo dizer que apesar da vantagem de dois golos ao intervalo nunca senti que o jogo estivesse seguro, pois tenho bem noção da capacidade ofensiva e do valor da equipa que tínhamos do outro lado. O que eu não esperava é que fôssemos nós a dar tantos tiros nos pés e a sabotar, sobretudo na parte final do jogo, o tão bom trabalho que tínhamos feito na primeira parte. Mas a segunda parte até começou exactamente nos mesmos moldes da primeira, como Benfica a desperdiçar logo na fase inicial a possibilidade de fazer um quarto golo. O Schjelderup deixou o Aursnes isolado para correr em direcção à baliza, e sinceramente nem consegui perceber o que é que ele conseguiu fazer para não marcar golo (não percebi no estádio e ainda não tenho estômago para ver qualquer resumo do jogo). O que é certo é que a bola acabou nas mãos do guarda-redes e nem me pareceu que o Aursnes tivesse chegado a rematá-la. Pouco depois, a primeira alteração no Benfica, com a troca do Aursnes pelo Barreiro. O jogo parecia estar minimamente controlado, mas aos sessenta e quatro minutos o Trubin faz um disparate inacreditável. Completamente à vontade e sem estar pressionado por ninguém, com todo o tempo do mundo para meter a bola onde quisesse, decide-se por chutar a bola para a frente mas enviou a bola demasiado baixa, com esta a ir bater na cabeça de um adversário (que estava à vontade a uns vinte metros da baliza) e a ir directamente para a baliza. Uma óptima forma de dar novo ânimo ao adversário. Mas os disparates ainda não tinham terminado no jogo, e apenas quatro minutos depois tivemos a felicidade de vermos a asneira retribuída: um cruzamento tenso do Schjelderup perto da linha de fundo acabou por ser desviado para a própria baliza por um defesa do Barcelona, evitando o poker do Pavlidis. Portanto, estamos a vencer o Barcelona por 4-2 a vinte e dois minutos do final, e achei eu que bastaria um mínimo de competência para fechar o resultado. Aos setenta e um minutos, duas alterações na equipa que me pareceram desastrosas. Saíram os dois alas, Schjelderup e Aktürkoglu, e entraram o Bah e o Di María. Tenho a certeza que os dois jogadores que saíram estariam esgotados, dado aquilo que correram até então. Mas isto não me pareceu nada o jogo ideal para o Di María (que se foi colocar à esquerda), que tem muitas qualidades mas a intensidade defensiva não é uma delas, ainda por cima com um terreno na altura já pesadíssimo. Praticamente não se viu nada do argentino enquanto esteve em campo, excepto para falhar um golo isolado aos noventa minutos. Depois, a mudança da defesa para uma linha de cinco também não resultou de todo. Para piorar, aos setenta e seis minutos o Yamal resolveu atirar-se para o chão mal sentiu a mão do Carreras no ombro e o artista holandês de serviço fez-lhe a vontade e assinalou um penálti ridículo. 4-3, e ainda tempo mais do que suficiente para o Barcelona chegar ao empate. Que surgiu, quase inevitavelmente, a quatro minutos dos noventa, num canto marcado à maneira curta em que conseguimos deixar um adversário saltar à vontade sem marcação na pequena área. Depois ainda veio a tal ocasião do Di María, a passe do Amdouni, e o golpe de teatro surgiu já depois dos quatro minutos de compensação dados. O Benfica beneficiou de um livre no ataque, e na sequência do mesmo o Barreiro foi claramente carregado pelas costas na área. O árbitro nada assinalou, e a bola foi afastada na direcção do Raphinha, que correu metade do campo para marcar o golo da vitória do Barcelona. Sinceramente, nem alimentei quaisquer esperanças de que o árbitro fizesse a coisa correcta. Nunca teria coragem para, nos últimos momentos de um jogo, anular o golo da vitória do Barcelona para assinalar penálti a nosso favor, e foi isso mesmo que aconteceu (e já que mencionei os recentes jogos contra o Inter, diga-se que foi este mesmo árbitro que a época passada não quis assinalar um penálti escandaloso a nosso favor contra o Inter, por falta sobre o Neres, num jogo que acabámos por perder por 1-0).
O homem do jogo é o surpreendente Pavlidis, de quem nunca esperei que fizesse sequer um golo ao Barcelona, quanto mais três. Um penálti, outro foi oportunismo de estar no sítio certo, e o primeiro deles foi aquilo que se espera de um ponta-de-lança. Outros destaques no Benfica foram para mim o Carreras, o Florentino e os dois alas, Schjelderup e Aktürkoglu - o Benfica caiu muitíssimo quando estes dois saíram.
Repito o que escrevi no post anterior - isto não foi nenhum hino ao futebol, foi sim um festival de disparates por parte das duas equipas, culminado com um disparate tremendo da equipa de arbitragem. O lance final só não foi assinalado como devia simplesmente porque não quiseram ou não tiveram coragem. Não gosto nem acredito em vitórias morais, para mim isto foi uma derrota que a vinte minutos do final me parecia impossível de acontecer, e que muito provavelmente nos acabará por custar a continuidade na prova. Espero apenas que a forma como conseguimos perder este jogo não tenha efeitos no estado anímico da equipa.
Peço desculpa, mas não consigo escrever nada de jeito sobre este jogo. Estou demasiado irritado e revoltado para conseguir estar a rever na cabeça tudo aquilo que se passou.
E como tenho quase a certeza que a crítica generalizada vai querer classificar o jogo como um qualquer hino ao futebol, para mim não foi nada disso. Foi sim um hino ao disparate (e só mesmo com muito disparate é que acontecem nove golos num jogo) com erros crassos de todos os intervenientes no jogo e no final, para além de termos sido nós quem mais errou, acabaram beneficiados os do costume, como já é hábito na Europa. Continuarão sempre a haver filhos e enteados, e nós não estamos incluídos no primeiro grupo.
Antes da recepção ao Barcelona o Benfica fez por facilitar as coisas e deu um verdadeiro amasso ao Famalicão, num jogo em que os médios resolveram chamar a si a responsabilidade pela finalização e acabou por isso com um herói altamente improvável. Foram quatro golos sem resposta, poderiam até ter sido mais, num jogo sem sobressaltos e dominado do princípio ao fim.
Quatro alterações em relação ao jogo da Taça: o Tomás Araújo regressou à lateral direita, o Aktürkoglu ocupou o lugar do indisponível Di María, o Kökçü entrou para o lugar do Aursnes, e no ataque jogou o Pavlidis no lugar que tinha sido do Cabral. Neste último caso, alguma surpresa tendo em conta a boa exibição do Cabral contra o Farense. No caso do Kökçü, foi um pouco inesperado que tenha sido o Aursnes a sair do onze, passando o Barreiro a fazer as usas funções, mas compreensível dada a quebra de forma por aparente cansaço do norueguês. O Benfica entrou a todo o gás, conseguindo pressionar de forma muito eficaz - o Aktürkoglu, a jogar na direita, consegue ser bastante mais eficaz nesse aspecto do que o Di María, e com o Barreiro a ajudar a cair logo em cima dos adversários, o Famalicão praticamente nada conseguiu fazer. Começámos logo a criar perigo - ao fim de um minuto já um passe longo fantástico do Otamendi descobria o Aktürkoglu solto nas costas da defesa, mas o turco atrapalhou-se e acabou por nem rematar de primeira, nem conseguir controlar a bola. Pouco depois estivemos muito perto de marcar outra vez, numa jogada em que o árbitro não quis assinalar uma falta clara sobre o Aktürkoglu, mas a pressão imediata permitiu-nos recuperar logo a bola e depois o Schjederup faz um primeiro remate, que só não vai à baliza porque bate no Barreiro, e ainda vai recuperar a bola, ultrapassa um adversário na área e é o guarda-redes quem lhe nega o golo com uma boa defesa. Mas aos onze minutos entrou mesmo o primeiro. Boa movimentação do Pavlidis, que caiu sobre a esquerda e fez o cruzamento rasteiro para a entrada da pequena área, onde o Barreiro apareceu para fazer um desvio de qualidade para o golo. Não abrandámos e continuámos a pressionar e a criar ocasiões, com o Famalicão praticamente a não passar do meio campo. O Trubin foi um mero espectador na primeira parte, já que não houve um único remate da parte do Famalicão. Por volta dos vinte e cinco minutos pareceu-me que abrandámos um pouco, mesmo que sem perder nunca o controlo do jogo, mas assim que o Famalicão pensou estar a conseguir ganhar alguma confiança levou com o segundo golo. Trinta e seis minutos, passe magnífico do Schjelderup para a área, onde o Barreiro com nova grande desmarcação apareceu solto a antecipar-se à defesa e colocou a bola por entre as pernas do guarda-redes. Acho que se ainda não tinha ficado claro antes, a partir desse momento o vencedor estava mais do que encontrado e restava saber até onde iria o resultado. Destaque ainda para o facto do artista enviado por encomenda expresso desde o Porto para apitar este jogo ter conseguido fechar uma exibição memorável na primeira parte (que me faz acreditar que terá certamente uma ascensão meteórica na carreira) com chave de ouro, apitando para o intervalo na altura em que o Pavlidis se preparava para receber um passe longo do Carreras que teria fortes possibilidades de o deixar com caminho livre para a baliza.
Segunda parte ccom mais do mesmo, sem que o Benfica fizesse alterações e portanto tivesse regressado com os três jogadores que foram generosamente amarelados na primeira parte. Se calhar o destaque maior até deveria ser dado ao facto do Famalicão ter conseguido fazer um remate no segundo tempo, que acabou por ser o seu único no jogo e nem levou a direcção da baliza. Demorámos mais tempo a voltar a marcar, muito por influência do Pavlidis, que continua de costas completamente voltadas para o golo. Honestamente, acho que qualquer avançado com um mínimo de acerto teria muito boas possibilidades de ter acabado este jogo com dois ou três golos, dadas as ocasiões flagrantes de golo de que o nosso ponta-de-lança dispôs. Quando finalmente marcou (à segunda, na recarga a um primeiro remate ao travessão) estava sem grande surpresa em posição irregular e o golo foi anulado. Mas logo a seguir a esse lance veio mesmo o terceiro golo. O Schjelderup na esquerda enfrentou os defesas e fez a jogada típica de vir para o meio, colocando depois a bola na zona do poste contrário onde mais uma vez o Barreiro se antecipou a toda a gente e marcou à vontade. Acho que antes deste jogo ninguém apostaria num hat trick do Leandro Barreiro. Não era suficiente, a noite era para carregar e procurar mais golos, e logo a seguir o guarda-redes do Famalicão teve duas defesas consecutivas, a um primeiro remate do Schjelderup e ao seguinte do Kökçü, depois do Cabral ter conseguido recuperar a bola na área adversária. A onze minutos do final entraram dois jovens da formação, o João Rego e o Bajrami (que foi jogar adaptado na lateral esquerda) e apenas um minuto depois de estar em campo o Rego recuperou a bola sobre a lateral direita ainda no nosso meio-campo, foi por ali fora sempre pressionado até se conseguir libertar e já na lateral da área colocou a bola atrasada para o Aktürkoglu à entrada da área. Este, com um passe de calcanhar, deixou a bola numa zona mais frontal para um remate de primeira, sem muita força mas muito colocado, do Kökçü para um mais do que merecido golo. Um grande golo para fechar uma noite quase perfeita.
Tem que ser inevitavelmente o homem do jogo: o Leandro Barreiro, que ainda não tinha marcado pelo Benfica, estreou-se a fazê-lo e logo com três. Já tinha mostrado noutros jogos que a jogar mais adiantado tem muito bom tempo de chegada à área e hoje comprovou-o. Muito sentido de oportunidade e frieza na finalização que se calhar o nosso ponta-de-lança não desdenharia. Mas para mim o Kökçü esteve absolutamente fantástico. Parece ter-lhe feito bem o jogo de descanso, porque surgiu a jogar a um ritmo que poucas vezes lhe tinha visto. Coloca a bola onde quer, com os dois pés e com passes de primeira, sem perder tempo a adornar as jogadas. Fez tudo neste jogo, pressionou, recuperou bolas, recuou para vir buscar jogo e organizar a partir de trás, serviu os colegas e ofereceu várias ocasiões de golo, rematou com perigo e marcou mesmo. Um pormenor: esteve envolvido nas jogadas dos três primeiros golos (são dele os passes para o Pavlidis e para o Schjelderup) e marcou o quarto. O Schjelderup é outro destaque, está cada vez mais solto e confiante e quando consegue receber a bola voltado para a baliza e arranca para cima da defesa antecipa-se sempre perigo - aquele drible curto dele é mortífero. Respondeu ao comentário do treinador sobre não ter que ir sempre à procura de marcar fazendo duas assistências, mas esteve perto de voltar a marcar também. O Otamendi esteve intratável na defesa, e o Florentino recuperou bolas sem fim. Em relação ao Pavlidis, trabalhou muito para a equipa mas de um ponta-de-lança, em especial do Benfica, esperam-se golos e isso parece estar a ser-lhe muito difícil de conseguir. Na maioria dos jogos não podemos dar-nos ao luxo de ter um avançado que desperdice os lances que ele hoje desperdiçou.
Vem aí agora um jogo de dificuldade extremamente elevada, no qual jogamos a nossa continuidade na Champions. As últimas exibições dão-nos pelo menos confiança para encararmos esse jogo com esperança de que possamos contrariar o favoritismo teórico do Barcelona, já que depois de um período muito mau na qualidade do nosso jogo parecemos agora estar a regressar à melhor forma. O Benfica que conseguiu destroçar o Atlético (que actualmente lidera a liga espanhola) conseguirá certamente fazer frente ao Barcelona.
Ainda passámos por um pequeno susto na primeira parte mas acabámos por garantir a passagem aos quartos da Taça sem demasiada dificuldade, num jogo que dominámos quase sempre e assentes numa reacção muito forte na fase inicial da segunda parte, deixando tudo resolvido num intervalo de apenas seis minutos frenéticos.
Algumas alterações no onze, poucas, a primeira das quais já tinha sido anunciada: na baliza jogou o Samuel Soares. As outras foram o regresso do Bah à direita, o Barreiro no meio campo em vez do Kökçü, e o Cabral a liderar o ataque. Nada de muito radical, portanto. Até entrámos bem no jogo, o Di María esteve perto de marcar um golo monumental logo nos primeiros minutos, mas infelizmente voltámos a conceder um golo na primeira vez que o adversário foi à nossa baliza. Aos sete minutos, na sequência de um pontapé de canto em que ninguém atacou a bola na zona do primeiro poste e o António Silva acabou por se deixar antecipar pelo avançado do Farense. A nossa reacção ao golo não foi boa. O Farense fechou-se muito atrás e nós revelámos as habituais dificuldades contra equipas muito fechadas: lentidão de processos e muita circulação de bola sem progressão. O resultado foi chegarmos ao intervalo com zero remates feitos à baliza adversária, um registo horrível para nós num jogo destes. Outra contrariedade grande foi a saída do Di María ainda no final da primeira parte com queixas físicas, entrando o Amdouni para o seu lugar. Para a segunda parte viemos com uma disposição diferente, o Amdouni mais perto do Cabral e o Aursnes mais sobre a direita, tendo ele e o Schjelderup ocupado terrenos mais interiores para que os laterais se projectassem mais sobre as alas. E conforme referido, no espaço de seis minutos resolvemos tudo. Aos cinquenta e seis o Barreiro progrediu pela esquerda e colocou a bola no Schjelderup, que encontrou espaço entre os defesas para vir mais para dentro e marcar com um remate forte. Logo a seguir foi o Carreras quem, novamente pela esquerda, começou a correr desde as imediações da nossa área, deixou quatro adversários para trás, e depois de ultrapassar a linha do meio campo fez um passe longo para o Cabral do outro lado do campo, que com um toque fez uma recepção orientada e com outro desferiu um remate cruzado para o golo. Tempo entre os dois golos: um minuto e treze segundos. Finalmente, aos sessenta e dois, um golo construído pelo outro lado, entre o Bah, o Aursnes, o Amdouni e o Cabral, com este último já muito perto da baliza e perto da linha de fundo a tirar um defesa da jogada com um grande pormenor individual e a ver o golo ser-lhe negado por uma boa defesa do guarda-redes, que já não conseguiu parar a recarga do Bah. Não houve muito mais história depois disto, apenas achei que com o Farense obrigado a atacar abriram-se mais espaços para nós que poderíamos ter aproveitado melhor, mas na fase final já tínhamos o Aktürkoglu e o Pavlidis em campo, que continuaram no registo que lhes tem sido habitual ultimamente. Nota final apenas para a estreia do Bajrami pela equipa principal, nos minutos finais do jogo.
Os jogadores em maior destaque para mim foram o Carreras, o Schjelderup e o Cabral. Em relação a este último (grande golo, à ponta-de-lança, e intervenção decisiva no lance do terceiro golo) tendo em conta a nível exibido pelo Pavlidis nos últimos tempos, se calhar merecia uma oportunidade mais a sério no onze. Bem sei que se calhar até pode ser novamente titular no próximo jogo e depois ficar em branco, mas eu não estou a falar de dar-lhe apenas um jogo e depois devolvê-lo ao banco se a coisa correr mal. Da última vez (e já foi há algum tempo) em que foi aposta mais consistente ele começou a marcar golos regularmente e depois de forma incompreensível o Roger Schmidt tirou-o da equipa. O Schjelderup vai dando sinais de que pode ser um grande reforço de inverno, e em boa hora aparece dada a quebra do Aktürkoglu. Tenho gostado do que vejo e esperemos que seja para continuar. Sobre o Carreras já não há muito a dizer, apenas espero o consigamos segurar no verão, porque não desejo ter mais um episódio da novela que costuma ser arranjarmos um defesa esquerdo em condições (e posso também acrescentar que acho muito má ideia se por acaso vendermos o Beste nesta janela de mercado).
Ultrapassada esta eliminatória temos agora um caminho favorável até à final - jogaremos os quartos em casa, e se passarmos teremos um jogo contra uma equipa do Campeonato de Portugal nas meias. Voltar a vencer a Taça de Portugal é algo que todos os benfiquistas desejam muito. Entretanto o ritmo frenético de jogos continua e temos já na sexta o jogo contra a equipa que nos derrotou logo na abertura da liga. Tenho curiosidade em ver que onze apresentaremos, dada a gestão física que terá que ser feita a pensar também no encontro da Champions que se segue.
Está feito, acabou o jejum na Taça da Liga e conquistámos a oitava taça, reforçando a estatuto de equipa com o melhor palmarés nesta competição, a larga distância do segundo.
Depois da boa exibição contra o Braga, foi sem surpresas que apresentámos o mesmo onze desse jogo. Não tivemos uma entrada tão fulgurante como contra o Braga, mas foi completamente diferente do espectáculo deprimente que tínhamos dado no jogo anterior contra este mesmo adversário, para a liga. O jogo foi geralmente equilibrado. Tentámos pressionar alto, nem sempre com grande sucesso, enquanto que o Sporting jogou mais na espera para depois tentar surpreender em transições rápidas, tendo sempre a opção de num momento para o outro esticar o jogo com bolas directas para o Gyokeres. Isto é uma opção a que infelizmente não podemos recorrer, porque o Pavlidis continua a defraudar expectativas e parece cada vez mais afastado do golo - o falhanço que ele tem na primeira parte, de cabeça depois de ser servido pelo Tomás Araújo quase na pequena área, é difícil de acreditar. Vendo o tipo de jogo que se desenrolava, em que ambas as equipas pareciam conseguir encontrar espaços com alguma facilidade atrás da primeira linha de pressão, acreditei que quem chegasse primeiro à vantagem teria uma vantagem muito decisiva, porque certamente que juntaria linhas a seguir e os espaços passariam a escassear. Foi portanto com enorme satisfação que vi o Benfica colocar-se em vantagem sobre a meia hora de jogo. O Di María progrediu pelo meio e rodeado de adversários abriu para o Schjelderup na esquerda, que na área flectiu para o meio e marcou com um remate cruzado para a poste mais distante. Infelizmente, o Sporting ainda chegou ao empate perto do intervalo numa jogada típica deles - cair em qualquer bola dividida, que normalmente dá brinde. Por exemplo, é impossível pressionar o Hjulmand porque à menor possibilidade de perder a bola ele atira-se para o chão e deve ter sacado, à vontade, mais de meia dúzia de faltas sobre ele neste jogo, quase todas iguais: agarra-se à bola, um adversário pressiona-o e mete o pé, e ele imediatamente procura o chão. Ainda por cima é um rapaz pequenino e fraquinho, é natural que caia com tanta facilidade. Foi sem grande surpresa então que os vi beneficiar de mais um penálti, assinalado numa bola dividida entre o Florentino e o Maxi na área (e quem se quiser divertir, que vá ver a forma como o Benfica foi eliminado da taça o ano passado, com este mesmo árbitro, e em particular o penálti não assinalado do Coates sobre o Rafa) e o ponta-de-lança sueco conseguiu continuar a trabalhar para o seu rácio de perto de 40% dos seus golos serem de penálti (o Trubin ficou bastante perto de defender o remate feito para o meio da baliza, tendo tocado com o pé na bola, mas o remate foi feito com muita força). Excepcionalmente, o sueco foi hoje completamente controlado pelos nossos centrais e não representou o perigo do costume (a estatística mostra que perdeu 100% dos duelos individuais contra qualquer um dos nossos centrais).
A segunda parte foi muito mais mal jogada, e não me parece que o cansaço tenha sido alheio a esse facto. Começou com a (para mim) enorme surpresa de ver o Schjelderup não regressar do balneário, para entrar o Aktürkoglu. A não ser que tenha sido por motivos físicos, a alteração não fez qualquer sentido porque o norueguês estava a ser um dos melhores na primeira parte e o turco há mais de um mês que literalmente não dá uma para a caixa. Acho que perdemos bastante como equipa com a troca. Logo no início houve um lance em que me parece evidente que a bola chega a tocar no braço de um jogador do Sporting, mas nestas coisas dá sempre jeito ter um gajo das nossas cores na cabine do VAR - siga. À medida que o tempo foi avançando pareceu-me que as equipas passaram a ter mais receio de cometer algum erro e perder o jogo, e por isso arriscaram muito menos no ataque - não me recordo de muitas ocasiões de golo para qualquer uma das equipas. As alterações que fizemos durante o jogo pouco ou nada mudaram, e foram mais para ir refrescando a equipa. O desempate por pontapés da marca de penálti depressa passou a ser o cenário mais provável, que se verificou mesmo. E olhando ao que se passou no jogo, o empate final acabou por ser o resultado mais ajustado. Na altura nem me pareceu que as nossas substituições tivessem sido feitas a pensar especificamente nos penáltis, mas a verdade é que a maioria deles foi mesmo marcada por jogadores saídos do banco - Aktürkoglu, Renato, Amdouni e Barreiro, com os outros a serem marcados pelo Di María, Otamendi e Florentino). Tinha bastante confiança no Trubin para este aspecto do jogo, mas só mesmo ao sétimo penálti alguém finalmente falhou. Esse alguém foi o Trincão, que rematou rasteiro para a esquerda do Trubin (que se lançou para esse lado praticamente em todos os pontapés) e o nosso guarda-redes defendeu e garantiu-nos o troféu.
Gostei das exibições dos nossos centrais. Continuo a achar que o António Silva é o nosso defesa que melhor sabe como defrontar o Gyokeres, o que fez com que, ao contrário do habitual, ele até fugisse muito do lado esquerdo e tentasse a sua sorte pelo lado do Otamendi, felizmente também sem grande sucesso. O Florentino esteve bem na luta do meio campo, e o Carreras também esteve num bom nível, sobretudo na primeira parte, quando teve o Schjelderup à sua frente. O norueguês seria certamente um candidato a melhor em campo caso não tivesse sido surpreendentemente substituído ao intervalo. Ainda gostaria de compreender qual o motivo ou a lógica dessa substituição.
Foi agradável acabar com o interregno e voltar a conquistar este troféu, e consequentemente fazendo-o imediatamente reverter a um estatuto sem a menor importância. Espero que estes dois jogos sejam aproveitados como factor de motivação para nos afastarmos definitivamente do péssimo mês que atravessámos no que diz respeito a resultados e exibições. E que o seja já no próximo jogo porque acabarmos com um jejum quase tão longo quanto este, que é o que temos actualmente na Taça de Portugal, tem também que ser um dos objectivos da época.
Após o jogo do passado fim-de-semana tinha deixado bastante clara a minha irritação pela derrota contra uma equipa do Braga que classifiquei de ridícula. Bastaram algumas alterações e uma mudança de atitude para deixar bem claro o quanto essa classificação era acertada. Foi um autêntico passeio do Benfica na meia-final da Taça da Liga, num jogo que dominámos do primeiro ao último minuto perante uma equipa com uma completa falta de argumentos para nos contrariar.
Três alterações no onze: António Silva, Florentino e Schjelderup foram titulares; Bah, Barreiro e Aktürkoglu saíram do onze. Significou isto que o Tomás Araújo foi desviado para a direita da defesa, e no meio campo alinhámos com o trio que me parece ser o mais forte que podemos apresentar nesta altura, como Florentino a ocupar a posição mais recuada e o Kökçü a regressar à sua posição. A história do jogo resume-se a um domínio total do Benfica desde o apito inicial, e ao desfile de ocasiões de golo criadas, que começaram com uma bola ao ferro logo aos cinco minutos, pelo Tomás Araújo na sequência de um pontapé de canto. A pressão alta funcionou bem e o adversário praticamente não passava do meio campo, com a bola a ser rapidamente recuperada pelo Benfica. O Braga foi resistindo como podia, e às vezes quase sem saber como, mas quando o primeiro golo entrou, aos vinte e sete minutos, resolvemos tudo no espaço de dez minutos. Marcou primeiro o Di María, num remate de pé esquerdo na área após combinação com o Tomás Araújo. Bola a meio campo, rapidamente recuperada, e o Kökçü abriu para o Carreras sobre a esquerda, à entrada da área, tirar um adversário da frente e marcar com um remate rasteiro e cruzado. E o terceiro golo apareceu numa transição rápida (coisa que já quase não me recordava de ver a nossa equipa fazer) que começa num lançamento de linha lateral a favor do Braga, junto da nossa área, o Otamendi faz o corte para a frente e junto à linha pelo lado esquerdo o Pavlidis ganhou em antecipação a um defesa, progrediu até perto da área e colocou a bola direitinha para o Di María no meio, que com um toque de classe e de primeira fez o golo. Tudo resolvido e domínio total do jogo, com o Braga a chegar ao intervalo com zero remates feitos.
Já há algum tempo que não vemos a nossa equipa fazer duas partes ao mesmo nível e mal a segunda parte começou o Braga teve uma boa ocasião de golo, o que poderá ter feito pensar que se calhar iríamos ter mais uma repetição deste cenário, mas nada mais longe da realidade. Acabou por ser o único remate que o Braga fez em todo o jogo, porque o Benfica voltou a dominar completamente toda a segunda parte e respondeu quase de seguida com uma ocasião flagrante de golo. Isolado por um passe do Pavlidis (mais uma transição ofensiva, um luxo) o Schjelderup tirou o Matheus do caminho e apenas com um defesa sobre a linha de golo acabou por rematar contra ele. Foi uma espécie de mote para a segunda parte, na qual o Benfica continuou o seu passeio e poderia ter construído uma goleada por número bem mais generosos. Destaque maior para um excelente jogada individual do Schjelderup na área que teria terminado num grande golo, não fosse o facto do Pavlidis, apesar do remate do norueguês ter sido feito a pouco mais de um metro da linha de fundo, mesmo assim ter conseguido encontrar espaço para se colocar em posição irregular e depois ter empurrado a bola quase sobre a linha de golo quando ela quase de certeza entraria de qualquer maneira. Apesar de termos reduzido o ritmo de jogo nunca perdemos o controlo total sobre o mesmo, que se manteve após as alterações que foram sendo feitas - primeiro entraram o Renato e o Aktürkoglu, depois o Cabral e o João Rego, e finalmente o Beste. O Braga acabou reduzido a dez jogadores quando o jovem Jonatas, que fazia a sua estreia pela equipa principal, primeiro aviou o Aktürkoglu e a seguir enfiou os pitons no tornozelo do Carreras. O árbitro tomou a decisão óbvia (falta contra o Benfica) mas alertado pelo VAR acabou por expulsar o jogador do Braga (mas manteve a falta contra o Benfica). Foi pena não termos conseguido ampliar o resultado, porque expressaria de forma mais justa a enorme diferença entre as duas equipas.
Num regresso à rotina, o Di María é o homem do jogo graças aos seus dois golos. Outro dos destaques é também habitual, o Carreras, que fez mais um grande jogo. O Schjelderup aproveitou para mostrar que é uma alternativa válida e que se calhar é escusado estarmos a insistir num jogador a titular quando ele mostra uma clara quebra de forma. Pena ter falhado aquele golo, que poderia ter sido compensado pelo golo que o Pavlidis lhe tirou. Esse lance acabou por ser a maior nódoa na exibição do grego, que no entanto jogou bastante bem para a equipa. Esteve envolvido em dois dos golos (é dele a abertura para o Di María no lance do primeiro golo) e foi ele quem colocou o Schjelderup na cara do guarda-redes no início da segunda parte. Continuam no entanto a faltar-lhe os golos, e é disso que um avançado vive. O Florentino regressou à equipa ao nível que se espera dele, o que nos permite jogar com o meio campo mais forte e equilibrado que podemos apresentar. Jogar com o Kökçü na posição mais recuada não me parece uma solução viável, como aliás o Roger Schmidt já o tinha comprovado por diversas vezes a época passada.
Foi a melhor reacção que poderíamos ter a dois jogos maus e extremamente frustrantes. Agora é esperar que isto seja para continuar e não apenas um lampejo. Pressão alta eficaz, transições ofensivas a funcionar sempre que possível e acima de tudo um nível exibicional minimamente constante ao longo de todo o jogo (por oposição às primeiras partes dadas de avanço aos adversários) são mínimos que não me parecem descabidos exigir.
Na sequência das exibições horríveis e maus resultados que temos vindo a fazer, mais uma derrota esta noite. Acho que o simples facto de termos conseguido perder, em casa, com uma equipa tão ridícula e repugnante como este Braga (e estou a fazer um esforço para não utilizar um termo mais explícito para os classificar) diz quase tudo sobre o nosso momento actual. Fomos uma equipa de verdadeiros nabos.
Somos previsíveis, por isso era muito fácil adivinhar que entraríamos em campo com o Barreiro no lugar do Florentino - mas com o Kökçü a jogar como médio mais recuado. A outra alteração foi a troca de avançados, Pavlidis no lugar do Amdouni. Sobre o jogo, já me aborrece escrever sempre as mesmas coisas. Uma oportunidade razoável ainda nos primeiros minutos, quando excepcionalmente fizemos um passe a explorar a profundidade que o Pavlidis aproveitou para ultrapassar o guarda-redes e de ângulo apertado atirar à malha lateral, e depois mais do mesmo. Muita circulação de bola, pouca objectividade, e o Braga a vir jogar como se calhar até equipas do fundo da tabela teriam alguma vergonha de jogar, mas a mostrar que actualmente é isto que basta para se poder ter uma muito boa oportunidade para bater o Benfica. Basta manter a equipa fechadinha atrás com um mínimo de organização e chutar umas bolas para a frente. Depois a nossa defesa maravilhosa trata do resto, e em duas ou três vezes que foram à nossa área marcaram dois golos. Se é para esta dupla-maravilha do centro jogar que o António Silva fica no banco, então muito mal deve estar ele. O primeiro golo é absolutamente patético, com avançado-centro do Braga a ser deixado completamente sozinho no espaço entre os dois centrais, nas costas do Otamendi e com o Tomás Araújo a contemplar (e obviamente, com o Kökçü como médio mais defensivo não se poderia esperar que fosse ele a ir fechar). O segundo, num pontapé de canto, é outra obra de arte, particularmente fantástica quando nos lembramos que nós podemos beneficiar de uns vinte cantos por jogo sem criar uma única situação de perigo, e o adversário mete quatro ou cinco jogadores na nossa área quando tem um canto e apesar de estar em manifesta inferioridade numérica mesmo assim um defesa central(!) consegue saltar completamente à vontade para fazer golo (mais uma vez com o Tomás Araújo a assistir de posição privilegiada).
A segunda parte foi um déjà vu da segunda parte do fim-de-semana passado. Uma equipa completamente remetida à defesa, a chutar bolas para onde podia, e a queimar tempo de forma despudorada em cada reposição de bola e com jogadores a atirar-se para o chão sempre que podiam. Como o crime compensa sempre contra o Benfica e ainda por cima o apitador de serviço era o famigerado Lagarto de Borba, nem cinco minutos tinham passado quando comentei imediatamente que teríamos seis minutos de compensação, independentemente daquilo que acontecesse. Acertei em cheio. Mas nem vale muito a pena meter o árbitro na equação, porque nós é que nos pusemos a jeito, ele apenas deixou que o coração o guiasse. E para além disso, acho que se nesta altura ainda estivéssemos a jogar (e são agora dez e meia da noite) com sorte talvez tivéssemos conseguido chegar ao empate, no máximo. A incompetência que uma equipa que tem tanta bola demonstra para chegar ao golo é simplesmente exasperante. O nosso treinador, perante a pobreza da primeira parte, por algum motivo achou que sendo nós uma equipa que praticamente não joga para o avançado e que raramente mete bolas na área, a solução seria voltar do intervalo com dois pontas-de-lança (Cabral no lugar do Aursnes). Correu como seria de esperar. Foi sobretudo quando o Benfica fez três alterações de uma vez - Renato, Schjelderup e Amdouni nos lugares do Bah (o Barreiro passou para a direita), Aktürkoglu e Pavlidis - que a pressão sobre a área adversária se acentuou. Mas pareceu sempre tudo muito mais feito com o coração do que com cabeça, e sobretudo do que com qualidade. Ainda reduzimos num grande golo do Cabral, que rematou cruzado, de pé esquerdo, ainda de fora da área para colocar a bola bem junto à base do poste, mas era cada vez mais óbvio que faltava cabeça aos nossos jogadores para irem mais longe. As constantes fitas e simulações dos jogadores do Braga para perder tempo iam deixando toda a gente ainda mais nervosa e mesmo o empate pareceu um objectivo difícil de alcançar. É sempre lamentável quando uma equipa que joga de forma tão nojenta como o Braga acaba recompensada de forma muito pouco meritória com os três pontos, mas nós contribuímos com demérito suficiente para este desfecho.
Não consigo destacar ninguém. O nosso jogo foi demasiado aos repelões, e nunca me pareceu que houvesse um plano concreto para este jogo. Há jogadores que atravessam momentos de forma deploráveis, mas mantém sempre a titularidade independentemente daquilo que produzam. Há outros nos quais eu simplesmente já perdi qualquer esperança que alguma vez mostrem valor suficiente para serem titulares do Benfica.
Se o nosso treinador desde o início nunca foi uma escolha consensual, eu tenho a clara sensação que nestes últimos dois jogos ele terá perdido uma boa parte dos adeptos que ainda lhe davam o benefício da dúvida. E isso acontece porque está a mostrar bastante incapacidade de reacção, e não parece reconhecer os problemas que a equipa vem atravessando há vários jogos - os seus discursos de análise aos jogos têm invariavelmente estado desfasados daquilo que vemos em campo. Alguém se recorda da última vez que o Benfica fez noventa minutos a um bom nível? Regra geral deitamos sempre fora uma das partes. E talvez por isso mesmo, os problemas têm vindo a agravar-se de jogo para jogo. Por isso é previsível que no próximo jogo apareça um onze quase inalterado, com o mesmo plano(?) de jogo.
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