Andámos anos a assistir, de cadeirinha, ao saneamento de tudo o que tivesse a menor conotação com o Benfica, à boleia da golpada planeada e coordenada das fábulas dos vouchers + e-mails. Calados continuámos enquanto o vazio deixado por esse saneamento foi sendo invariavelmente ocupado por gente submissa ou afecta aos autores dessa golpada, e que olham para o Benfica como o inimigo a abater a qualquer custo. Não contentes, ainda apoiámos publicamente quem ajudou a que toda esta estrutura fosse sendo montada. Posto isto, vir agora falar é chorar sobre leite derramado e dá aos adversários a possibilidade de dizerem que é apenas mau perder. Vai demorar anos, se não mesmo décadas, a limpar o cancro que deixámos que se instalasse não só nas estruturas (e não falo apenas das desportivas) como também nos meios de manipulação da opinião pública.
Não foi por falta de aviso. O guião foi seguido à risca e uma das equipas foi previsivelmente empurrada até à vitória. Quanto a nós, aposto que ficaremos mais uma vez calados perante o Apito Marquise, porque está obviamente tudo bem. E ainda ficamos no relvado até final da cerimónia de entrega, porque gostamos de ser enganados. Ah, e é continuar a apoiar o Proença também.
No domingo fiz este comentário:
Entretanto, hoje:
Nem é preciso ser bruxo, simplesmente há coisas que são demasiado previsíveis quando já se está familiarizado com o sistema. O Veríssimo já tinha sido queimado na última jornada, sobravam estes dois. Enfim, não será por isto que deixaremos de entrar com tudo para vencer (mas à cautela, é manter pelo menos um metro de distância sempre que eles entrem na área, e dois do Hjulmand, que esse cai com a respiração dos adversários).
Está acabado um dos campeonatos mais mal perdidos de que tenho memória. Foi difícil, mas perante a incompetência amparada dos outros, e mesmo depois de termos recuperado do handicap inicial, conseguimos exceder-nos e ser ainda mais incompetentes. E nem sequer conseguimos acabá-lo com uma vitória. Nem vou escrever sobre o jogo porque recusei-me a ver o que quer que fosse hoje, já que nunca fui fã de finais pré-determinados.
É frustrante conseguir desperdiçar, em casa, a oportunidade de se ser campeão perante uma equipa inferior. Em vez de elevarmos o nosso nível à altura da ocasião, fizemos um jogo em que dominámos mas nos faltou inspiração e mais qualidade de jogo para ultrapassar a estratégia defensiva do adversário, e obter o resultado desejado.
O Sporting apanhou-se a ganhar na primeira vez que foi ao ataque, através da principal jogada que tem no seu repertório (bola para o sueco a ver no que dá) perante uma passividade atroz da defesa do Benfica (é incrível como, estando fartos de saber como eles jogam, entramos no jogo a ser surpreendidos precisamente assim, metendo três jogadores a cercar o portador da bola sem que ninguém a ataque, e deixando uma clareira à entrada da área) e depois passou o resto do jogo a tirar partido do facto de terem um treinador de equipa pequena, com um festival de perda de tempo e de jogadores a atirar-se para o chão que faria inveja a uma qualquer equipa a lutar pela manutenção. Este jogo sozinho daria ao Hjulmand direito a um prémio qualquer que fosse instituído para dar a quem melhor consegue trapacear árbitros (com a agravante de ser um déjà vu do jogo da Taça da Liga, no qual também consegue arrancar pelo menos meia dúzia de faltas a atirar-se para o chão, enquanto vai de forma completamente impune a partir do momento em que é amarelado distribuindo pancada, sobretudo com os braços). Quanto ao Benfica e ao Bruno Lage, fica mais uma vez clara a sua falta de coragem para deixar o Di María no banco seja em que condição ele estiver, alterando assim a dinâmica da equipa e contribuindo também com isso para voltar a desperdiçar uma parte inteira. E nem é que não estivesse avisado, porque o jogo foi praticamente uma fotocópia do jogo da primeira volta, em que depois de uma má primeira parte também tivemos que correr atrás do resultado e levámos com o Sporting a simular quedas e a queimar tempo a segunda parte toda, com a diferença que desta vez ainda conseguimos evitar a injustiça absurda que teria sido perder este jogo graças a uma jogada individual incrível do Pavlidis. A vitória, essa, esbarrou no poste. E à parte a óbvia saída do Di María ao intervalo e a saída forçada do Tomás Araújo, as restantes substituições pouco contribuíram para melhorar o nosso jogo e acho que até quebraram o nosso ímpeto. Estivemos mal, entregámos o ouro ao bandido (neste caso, aos ladrões de bancos) e só podemos queixar-nos da nossa incompetência. Depois de recuperar todos aqueles pontos de atraso, deixar escapar esta oportunidade fazendo um jogo destes em casa é morrer na praia. Faltou-nos mais personalidade para, tal como contra o Arouca, impor o nosso jogo e conseguir vencer uma equipa que veio à Luz com o único objectivo de não perder. Passamos a maior parte da época a jogar contra tácticas defensivas, já deveríamos ter aprendido a ser mais competentes a jogar contra equipas que se apresentam assim.
Mais um jogo com duas partes distintas acabou com a necessária vitória do Benfica, uma vitória que devia ter sido bastante mais tranquila do que aquilo que o resultado sugere. Mas acabámos por ter que levar com uma desnecessária incerteza até final, suportada também numa encomenda de apito que voltou a aparecer na Amoreira para tentar complicar-nos a tarefa.
O Benfica fez apenas uma alteração no onze em relação ao último jogo - entrou o Florentino para o lugar do castigado Carreras, com o Dahl a recuar para a sua posição natural. A entrada do Benfica no jogo foi muito boa. O adversário terá sido bem estudado, e aproveitando a tentativa do Estoril para pressionar alto acabava por conseguir sair bem com futebol directo para os jogadores mais adiantados, que depois solicitavam ou os colegas de ataque ou algum dos médios vindos de trás, que aproveitavam todo o espaço livre que tinham à frente. Foi assim que logo aos cinco minutos o Amdouni colocou o Aursnes isolado em frente ao guarda-redes, mas o norueguês finalizou mal, rematando à figura. Repetiu-se o cenário dois minutos depois, desta vez numa tabela entre o Pavlidis e o Aktürkoglu que deixou a bola nos pés do Kökçu, que apareceu lançado de trás e já perto da área voltou a deixar o Aursnes na cara do guarda-redes. Desta vez ele colocou a bola entre as pernas do guarda-redes e deixou o Benfica na frente do marcador. O jogo corria de feição ao Benfica, que não deixava o Estoril criar qualquer perigo (não conseguiram fazer um único remate na direcção da nossa baliza durante a primeira parte) e mostrava capacidade para poder marcar mais golos, sempre seguindo o modelo do futebol mais directo para os homens da frente de forma a ultrapassar as primeiras linhas de pressão do Estoril. Perto da meia hora de jogo, o Pavlidis foi brindado com um amarelo por suposta simulação após sofrer uma falta em posição frontal à área do Estoril, o que de imediato limitou o nosso primeiro jogador a pressionar. Chegámos ao segundo golo aos trinta e seis minutos, numa das raras faltas que terão sido assinaladas a nosso favor na zona ofensiva. Livre marcado sobre a direita do ataque, com o Dahl a mostrar a sua utilidade nas bolas paradas e a colocar a bola na cabeça do Otamendi, que se antecipou ao guarda-redes. Controlo completo do jogo por parte do Benfica, que jogava praticamente em casa e tinha tudo para passar uma noite tranquila na Amoreira.
Era necessário é que o Benfica não voltasse a mudar de cara ao intervalo. E se nos primeiros minutos da segunda parte até pareceu que isso iria acontecer, depois isso mudou. Foi também responsável por isso a alteração na forma de jogar por parte do Estoril. Depois do que se tinha passado na primeira parte, o Estoril deixou de tentar vir pressionar logo a nossa defesa e em vez disso recuou as linhas e ficou à espera do Benfica - um cenário no qual estamos fartos de saber que o Benfica não se sente tão confortável. Nada de muito grave, o Estoril também não estava a ser propriamente muito incómodo e não criava grandes problemas à nossa defesa, mas nós também desaparecemos do ataque e com isso fomos deixando também o adversário mais confortável para arriscar. As coisas complicaram-se a partir da hora de jogo. Primeiro, uma expulsão perdoada ao Estoril após uma entrada muito dura sobre o Florentino (foi amarelo, mas o VAR tinha a obrigação de ter visto o que se passou e alertar o árbitro). A seguir, um passe horrível do Otamendi colocou a bola directamente nos pés de um adversário, que correu em direcção à área e acabou tocado pelo próprio Otamendi (confesso que fiquei plenamente convencido que o toque ocorre no pé do jogador do Estoril que estava fora da área, mas nem vou discutir esse lance porque admito poder estar errado). Penálti contra o Benfica, que felizmente não foi marcado da melhor maneira e permitiu a defesa do Trubin, com a recarga ainda a fazer a bola ir à barra da nossa baliza. Achei que a nossa equipa ficou intranquila com este lance, e isso notou-se nos minutos seguintes, que culminaram com o golo do Estoril aos setenta e oito minutos. Depois de alguma insistência, com a nossa equipa a ser incapaz de afastar a bola e a permitir cruzamentos sucessivos, a bola acabou cruzada para a nossa área, onde surgiu um médio vindo de trás demasiado à vontade e sem marcação para cabecear. Só depois disso o Benfica refrescou finalmente a equipa (só tínhamos feito até então uma substituição forçada do Amdouni, tocado, pelo Schjelderup) e trocámos o Pavlidis e o Aktürkoglu pelo Belotti e o Barreiro. As substituições foram bem feitas e ajudaram a devolver algum controlo do jogo ao Benfica, com o Barreiro a revelar-se muito importante na luta do meio campo e o Belotti a ser mais incómodo para a defesa do Estoril. Até ao final não me recordo sequer de algum lance mais perigoso do Estoril, enquanto que o Benfica voltou a aparecer mais na área adversária e teve até dois lances que de certeza teriam dado penálti a favor de outra equipa, mas obviamente que isso não aconteceu no nosso caso. Foi preciso esperar mais pelo final do jogo devido a uns totalmente incompreensíveis e injustificáveis oito minutos de compensação dados pelo apitador, ainda mais irritantes quando nos lembramos dos ridículos dois minutos da semana passada.
Apesar do erro grave que resultou no penálti, acho que ainda assim escolho o Otamendi como o maior destaque da nossa equipa. Esse erro deve mesmo ter sido o único durante todo um jogo em que deve ter ganho todos os lances aéreos que disputou, incluindo aquele que resultou no nosso segundo golo. Gostei do Aursnes e do Florentino, muito importante na batalha do meio campo na segunda parte.
Este resultado significa que existe a possibilidade de nos sagrarmos campeões na próxima jornada, em casa. Julgo que trazer a decisão do título para nossa casa é já uma pequena conquista. É apenas uma possibilidade, o adversário também poderá sagrar-se campeão ou pode ficar tudo adiado para a última jornada. Mas já estivemos a oito pontos do primeiro lugar e temos agora a possibilidade de ter o nosso destino nas próprias mãos, há portanto que dar tudo por isso. Mantenho aquilo que já escrevi mais do que uma vez esta época: quando esta equipa do Benfica joga o melhor pode e sabe, então não há nenhuma outra equipa em Portugal, mesmo no seu melhor, que consiga superá-la. É preciso é que consigamos apresentar-nos nesse nível, e durante os noventa minutos.
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