Estava numa comemoração de três aniversários - filha, mãe e avó - quando começou o jogo do Benfica com o Marítimo. Em cerca de 30 pessoas, fui o único a perguntar se a casa tinha SportTV. Tinha. Sentei-me assim que pude no melhor lugar da sala, mas não fui a tempo de ver o prometedor e pressagioso primeiro lance do Miccoli. De vez em quando, aparecia um ou outro conviva que me perguntava se eu "ainda acreditava". Ri-me e fui respondendo que sim. O problema começou quando os convivas decidiram fazer-me companhia: "é penálti! é penálti: só lá vão com favores!"; "este Quim não joga nada!"; "sem o Simão, não são equipa!"; "quem é que disse àquele Nélson que ele sabia jogar à bola?"; "o Benfica é uma miséria: quando vi os jogos da pré-época na Suiça, decidi que este ano ia ser do Porto - não estou para passar estas vergonhas"; "só coxos"; "olha a Amélia, olha a Amélia... só sabe mexer no cabelo, não joga nada"; "estes dois gregos vieram fazer o quê?"; "no Porto é que eles jogam"; no Sporting é que sabem formar jogadores, o Benfica não". E por aí diante. "Raios! Antes tivesse ido parar a um antro de lagartagem e andrades", pensei. Primeiro golo do Benfica: ninguém festejou. Mas o silêncio durou pouco tempo: "é o segundo penálti: estão a ser levados ao colo, é uma vergonha". E por aí diante, já se sabe. O Benfica marca o segundo golo. Festejei sozinho no silêncio da sala. Quando começou o período de compensação, levantei-me e saí: estava farto e o resultado estava feito. Diligentemente, alguém me foi chamar à rua, porque o Benfica ia marcar um penálti. Quando entrei na sala, estavam doze pares de olhos pregados ao televisor à espera de que o Katsouranis marcasse o penálti. E foi então que eu li nesse brilhozinho magoado dos olhos dos meus convivas a insustentável leveza de ser benfiquista, essa fobia ao poder, ao domínio, esse eterno e insustentável sentimento de culpa por pertencer aos mais fortes. O que leva estes adeptos a criticarem o Benfica é o mesmo motivo que nos leva a dizer instintivamente que temos dificuldade em estacionar o carro quando alguém se queixa de que não tem dinheiro para comprar um carro. Vamos lá, eu percebo esta insustentável leveza, mas não massacrem o resto da malta, ainda que tenhamos um comportamento eticamente reprovável.
Pedro, muito sinceramente (e não, NÃO sou um benfiquista 'daqueles', acho que me conhecem suficientemente bem para saberem isso), eu vejo hóquei há muito tempo, vi o primeiro jogo da final, e discordo que a arbitragem tenha sido uma 'palhaçada'. Cometeu dois erros: o penalti assinalado ao Mariano foi excessivo, e o azul ao Vítor Hugo foi mal mostrado (diga-se de passagem que ele também não estava a fazer nada em campo, e o Benfica até jogou melhor depois dele sair).
Mas um jogo de hóquei é muito rápido, tem muito contacto, e não é fácil arbitrar aquilo. Às vezes há muita tendência para levarmos a mentalidade do futebol para o hóquei, e há também muita gente que só vê dois ou três jogos por época e acha-se um entendido na matéria - no pavilhão da Luz esses tipos normalmente são os mais exaltados, e os que se dão ao luxo de berrar 'conselhos' ao Carlos Dantas. Na minha opinião o hóquei dispensa isso. O jogo foi equilibrado (tal como foram os outros dois entre estas equipas esta época - um dos quais eu vi ao vivo na Luz), qualquer uma das equipas podia ter ganho, e o Porto foi mais feliz nos penalties. É tudo, e mais polémicas dispensam-se. Palhaçada mesmo foi apenas o trabalho dos comentadores da RTP2, que foram o mais facciosos que podiam.
Amanhã em princípio lá estarei na Luz para ver o segundo jogo da final :)