Segunda-feira, 17 de Março de 2008
Sebastian Brant publica Das Narrenschiff (a Nave dos Loucos ou o Navio dos Loucos) em 1494. Publica essa obra marcante durante o Carnaval. E faz todo o sentido que assim tenha sido, pois o Carnaval é o tempo do mundo-às-avessas, da sem-razão. Muitos foram os que se sentiram inspirados por essa obra e outros tantos foram os que a reinterpretaram literária ou pictoricamente. De entre estes últimos destaco Bosch e o seu famoso quadro com o mesmo nome da obra de Brant. No desenvolvimento medievo-renascentista do conceito da nave dos loucos, recordo a interpretação que Nilda Guglielmi faz da leitura do poema de Brandt. Segundo Guglielmi, Brant teria imaginado duas naves: uma que se dirigia para a terra dos loucos (Narragonia), terra de deportação e provação, e outra que se dirigia para uma terra de promissão (Pays de Cocagne). Em qualquer dos casos só os excepcionais podiam aceder a qualquer das terras. O problema é que muitas vezes não se conseguiam distinguir os sábios dos loucos, e outras tantas vezes, na mesma nave, navegavam sábios e loucos. Contrariamente à lei, nem todos os loucos se distinguiam pelos guizos, nem todos os loucos se faziam anunciar pelas campainhas.
Olho para o nosso Benfica e não posso deixar de me lembrar da imagética da nave dos loucos medieva. Olho para o nosso Clube e vejo uma representação dessa mesma nave dos loucos. E vejo que vivemos um momento decisivo, um momento que pode marcar o rumo desta nave: ou vai para Narragonia ou vai para o Pays de Cocagne. Temos de conseguir distinguir nesta nave quem é sábio e quem é louco, pois corremos o risco de, na ânsia de purgar, expulsar os sábios e deixar os dementes. E todos nós sabemos como é fácil para os mais distraídos seguirem um timoneiro que os conduza para ocidente, enquanto alegremente festejam pensando que estão a ser orientados. Tivemos um recente exemplo disso mesmo na História recente do nosso Benfica e ainda hoje não recuperámos totalmente desse Carnaval.
Deixarmo-nos enganar neste momento seria um novo erro do qual dificilmente recuperaríamos. O primeiro passo, o mais importante dos passos, é não haver precipitação nas decisões. Quer sejam as decisões do comum dos adeptos, quer sejam as decisões de quem foi mandatado para as tomar. Isto é essencial, pois nem todos os que estão na nau são loucos e nem todos os que observam a nau são sábios. Não havendo, de todas as partes, a capacidade de discernir, corremos o risco de, em vez de discutir o caminho do navio, discutirmos o seu naufrágio.
Tal como na época medieval, tenhamos a noção de que, depois dos desmandos do Carnaval, virá a Quaresma. Saibamos chegar lá.
por acaso eu já me tinha lembrado de Dante e da sua Divina Comédia, mas confesso que a minha cultura literária é tão superficial qto as convicções loucas dos "sábios"
(com a vertigem do apregoar da política da terra queimada, depressa ainda nos devolverão o el dourado do "Benfica à Benfica" ;))
Sublime texto !
Realmente as comparações e semelhanças sao tristemente evidentes
http://catedraldapalavra.blogspot.com/
Completamente de acordo Pedro, o problema é que muitas vezes os Sábios aliam-se aos loucos para não saltarem do barco. Esse foi (ou é…) o grande problema do Benfica. Há pessoas que passaram nas estruturas directivas do clube que são mais valias e que podem (ou devem) acrescentar algo ao Clube. Acontece o mesmo nesta SAD (but true…). Daí a boa recuperação económica (até provas em contrário…) dos carnavais de Azevedos e Damásios… Não temos figuras de primeira linha para liderar o clube. Pelo menos não aparecem...
Neste preciso momento o que me inquieta é quem lidera a nave (ou navio). Muito mais que a falta de qualidade de alguns jogadores ou a falta de qualidade dos treinadores efectivos ou interinos. Muito mais que a falta de preparação fisica ou psicológica para envergar a camisola (o artigo deste fim de semana do Freitas Lobo no Expresso está fantástico a neste ponto). Há uma total inépcia e pior que a inépcia é a falta de consciência para reconhecer o que está mau e arranjar soluções sem serem palavras de circunstância ou o habitual discurso demagogo.
Sei bem que o António Simões não é flor que se cheire em termos directivos. Sei bem porque saiu do Benfica. Mas as palavras que o mesmo deixou no ar na entrevista que concedeu na RTP N confirmam o que eu acho. Qualquer director desportivo (seja ele Rui Costa ou outro…) vai ter o seu trabalho condicionado pelo presidente. E ao director desportivo deve ser imputada toda uma planificação de época, plantel e treinador. Estamos conversados…
Já agora, e para finalizar, são tristes os últimos ecos que vêm do plantel e equipa técnica em relação a Camacho. Como triste é ver o Presidente Vieira a afirmar que tentou demover Camacho de se demitir (e isso todos vimos…) e de repente o espanhol diz que não é verdade.
Que o futebol é campo para calúnias, difamações e mentiras já sabemos. Mas começamos perigosamente a pedalar na lama… E sem solução à vista.
De
LMB a 17 de Março de 2008
Eu cá identifico mais o momento actual do Benfica com o "menino da lagrima".
De
LMB a 17 de Março de 2008
O Simões tem toda a razão....e não se critique o Simões enquanto director desportivo do Benfica, caso não saibam, foi ele quem descobriu o Deco....!
O mal do Benfica está no presidente. Fala de mais, erra de mais.
Precisamos de arranjar urgentemente um novo presidente, mas não pode ser um jaime antunes qualquer, tem de ser alguem com um projecto e que entenda muito de futebol.
O Seara bem que pode continuar em Sintra que não faz falta, basta ouvir e ver o Dia Seguinte, para verificar, que ele para presidente também não serve.
Temos de devolver o Benfica a quem gosta do Benfica....!
De
Paulo a 17 de Março de 2008
Eis o que escrevi hoje no meu blog:
"O futuro do Sport Lisboa e Benfica, enquanto clube ganhador e conquistador de títulos a nível nacional e internacional, tem obrigatoriamente de ser planeado já, neste momento presente. E quando digo isto, julgo que estamos perante o derradeiro momento para se decidir o que se quer fazer, como se vai fazer e com quem se vai fazer. Agora, enquanto ainda há tempo.
Até esta altura, passadas que foram três décadas de erros na gestão desportiva do futebol do Benfica, erros esses que se foram acumulando sucessivamente e onde os diagnósticos dos problemas causados por esses erros foram todos feitos, nada foi feito para alterar o que estava mal. Está, portanto, mais do que na hora de agir!
Penso que o Benfica ainda vai a tempo de mudar o rumo do seu futuro. Amanhã pode ser demasiado tarde... Se o não fizer, poderá nunca mais recuperar o prestígio e a grandeza que fizeram dele o maior clube português, o que levará inevitavelmente a nunca mais poder erguer-se da profunda crise em que se encontra.
Tudo tem de ser pensado ao pormenor, o que requer uma organização estrutural profissional e sólida, capaz de pensar em todas as condicionantes que a tomada de boas decisões implica, sem cair mais uma vez nos erros do passado, com ideias firmes e claras sobre o que se quer fazer no Benfica.
Terminaram os anúncios de "novos ciclos". Acabe-se com esta palhaçada!
Há uns anos atrás, há precisamente catorze anos, António Oliveira, conhecido por Toni, na altura treinador da equipa que viria a sagrar-se campeã nacional em 1993/94, dizia que "já não tinha tempo para pedir tempo...". Hoje em dia, tal como naquela altura eu recordo estas palavras sábias e penso como elas eram e são hoje, como na altura, um alerta feito por quem ama e sente o clube como muito poucos.
Fazendo minhas as palavras de Toni, reafirmo por ele e por todos os benfiquistas que já não há muito mais tempo! O futuro do Benfica é AGORA! Ou não existirá mais futuro."
De Anónimo a 17 de Março de 2008
Excelente post mesmo.
O oniríco, onde o subjectivo e o Real se encontram.
Um paralelismo impressionante e verdadeiro.
O lógico Versus o ilógico, este ilógico que se pode tornar lógico também. Oxalá a "loucura" sã se transforme numa previsão optimista para a evolução e promova o Engenho em todos os níveis no nosso clube e no futebol benfiquista.
Benfiquista Duriense
1 - Não sei se alguém pediu ou não a Camacho para ficar, e isso interessa-me pouco. O facto é que pela segunda vez ele abandonou o Benfica numa péssima altura.
Por boas que fossem as suas razões, a única aitude digna seria comunicar o seu abandono no fim da época, mas manter-se em funções até lá. Assim, justa ou não, a imagem que fica é a de deserção - por medo de ir ao fundo com o navio.
2 - Espero que não seja verdade que o CA da SAD esteja a analisar a continuidade de Chalana até ao final da época. Estaríamos perante uma pura reacção de pânico, e o pânico é mau conselheiro em actos de gestão.
Nesta altura, o pior que nos poderia acontecer é contratarmos um treinador à pressa com a ilusão de que poderia fazer melhor do que Chalana. Para conseguirmos os objectivos que ainda nos restam esta época, qualquer treinador serve - basicamente é preciso ganhar 9 jogos. E para isso Chalana (com Shéu e Rui Águas) será sempre melhor do que alguém que ainda vai começar a conhecer o plantel.
O treinador a contratar terá de ser alguém para as próximas 2/3 épocas, não para esta, e a sua escolha terá de ter a participaçãO activa do Director Desportivo. Qualquer outra decisão será mais um disparate monumental.
Deviam tar a espera que o Malesani fosse demitido depois dos 4-1 de ontem, mas pelos vistos não tiveram essa sorte...
De Yur@n a 17 de Março de 2008
Essa noticia, mais uma, nos pasquins de hoje só pode ser mais uma noticia sem fundamento. Como é que se pode dizer bem ou mal do trabalho que o Chalana está a fazer. Já parece aquele atrasado do Rui Santos de a seguir ao jogo com o Getafe já dizia que o Chalana não tinha mãos para o plantel, um idiota a dar voz à cambada de idiotas que escreve nesses pasquins.
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