É sempre um exercício sujeito a inflamada crítica, esta coisa de escrever sobre o Benfica.
No inicio da época, quando manifestei o meu desencanto pela pré-época desmiolada e construção pouco criteriosa da equipa, muitos benfiquistas meus amigos gritaram aqui d'el rei que eu estava a ser pouco benfiquista.
É um karma deste clube. Quem não vai com a onda dominante é menos benfiquista. Foi assim também quando não elegi Manuel Damásio ou Vale e Azevedo. É aquela veia pouco democrática que faz com que uma pessoa que esteja em desacordo com a direcção vigente seja maltratada nas assembleias gerais, por exemplo.
Este deficit democrático dentro do clube, tem sido habilmente aproveitado pelas sucessivas direcções, como forma de legitimar todas as opções, mesmo as mais erradas e prejudiciais para o futuro do clube. Areia para os olhos de quem escolhe não ver, em negação teimosa, até ao dia em que os erros são tão evidentes que já não há como não ver.
E infelizmente é preciso chegar ao ponto calamitoso em que estamos, para que agora já se possa denunciar os erros estratégicos da política desportiva do nosso clube, sem que surjam logo os auto proclamados verdadeiros benfiquistas a gritar: Fogueira!
Mas que ninguém pense que me apanha do outro lado de uma mesma demagogia . Não me apanham em manifestações à porta do centro de estágio ou na Luz, gritando, basicamente: não queremos LFV venha outro, não importa quem.
É esta atitude ligeira que faz com que apareçam nas direcções dos clubes e SADs os oportunistas do costume, vendendo os seus sonhos, comprados por sócios desesperados facilmente seduzidos por qualquer D.Sebastião da treta.
É a mesma atitude que está na base de uma cegueira quase doentia, de quem nunca vê problemas com a nossa equipa, só vê erros de arbitragem (que os há claro, mas nunca explicam tudo) e que aplaude de pé uma direcção que num jantar de aniversário do clube nunca fala de benfiquismo e enche o seu discurso com o apito dourado. O Benfica é muito maior que isso!
Para mim o escandaloso é, por exemplo, proclamar aos quatros ventos a honra, a verdade desportiva, os princípios e depois ir contratar um jogador que, ao marcar golos ao Benfica, os festeja insultando os adeptos do clube que o formou!
Não admito que alguém se diga mais benfiquista que eu. Isso não existe. Benfiquista ou se é ou não se é, ponto.
Posto isto, o óbvio: a época foi desastrosa, a política desportiva é de uma gritante incompetência e oferecemos mais um campeonato. O mais extraordinário é que o FCP nem teve de jogar muito para nos dar uma abada de 20 e tal pontos de avanço. E isso devia fazer-nos pensar. Não é desatar aos gritos, em desespero. É pensar.
Num estrutura de futebol competente, para começar. Não desatar a vender jogadores ao desbarato e ir a comprar contentores de outros de valor desconhecido.
Pensar num treinador competente, que, juntamente com a direcção desportiva esteja já a pensar na planificação da próxima época. E não cair na tentação de pegar em jovens como Bynia (é um bronco a jogar, mas se for trabalhado estou convencido que pode vir a ser útil, porque tem, parece-me, enorme potencial), Di Maria, Cardozo e dispensá-los de uma forma prematura. Ter a coragem de perceber que Luisão e Petit já não são o que eram, segurar a qualidade de um Katsouranis , de um David Luiz , de um Rodriguez e ir ao mercado, com critério.
Não desatar a contratar jogadores à parva, só porque sim. E, de uma vez por todas, ter a categoria que é imprescindível ter, sobretudo nos momentos mais difíceis , para dar a cara pelo clube. Gerir as crises internamente, ser implacável com a indisciplina, promover valores como o profissionalismo, a mística benfiquista, a responsabilidade que dela advém.
Fazer da competência um critério imprescindível, além do benfiquismo obrigatório.
O mesmo benfiquismo que implica um certo sentido de gratidão: Fernando Chalana foi o melhor jogador que jamais vi actuar com o nosso emblema ao peito. Para ele, para sempre, uma palavra: obrigado.
O que está a acontecer agora tem responsáveis, ele foi anjinho contra o Sporting, mas imolar Chalana é, parece-me, não só injusto como pouco perspicaz.
E eu acho, atenção, que o Benfica deve a esta direcção, apesar de tudo, a recuperação de uma certa credibilidade, depois dos anos da loucura de Vale e Azevedo. Mas um clube como o Benfica tem a razão da sua grandeza nas vitórias. E para essas é preciso trazer para o futebol do clube, pessoas competentes, na gestão e na orientação técnica. E humildade para reconhecer quando há áreas que não dominamos, deixando-as para quem sabe do assunto. E isso implica sim, capacidade de ouvir opiniões diferentes, de vez em quando, e parar para pensar. Sem ser preciso chegar-se ao ponto a que se chegou esta época.
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