Escreveu Eduardo Lourenço que “habitados a tal ponto pela saudade, os Portugueses renunciaram a defini-la.” Esta saudade que vive na nossa portugalidade leva à obrigação da recordação, mas não obrigatoriamente à obrigação da memória. Para que houvesse memória seria necessário que se tivesse produzido real, que (nas palavras de José Gil) tivesse havido “inscrição”. No entanto, nesta nossa vivência da portugalidade, a “não-inscrição” é mais confortável do que a capacidade de produzir o real.
Serve este pequeno intróito para escrever um pouco sobre a nossa capacidade de viver a saudade sem conhecer a memória. Ontem, morreu o Carlos Alhinho. Em Portugal, o Alhinho jogou futebol profissional na Académica, no FC Porto, no Sporting, no nosso Benfica, no Portimonense e no Farense. Foi 15 vezes internacional A. No nosso Benfica jogou 4 épocas (de 1976 a 1980), ganhou 2 campeonatos nacionais, 2 Taças de Portugal e 1 Super Taça. Jogava como defesa e foi, salvo erro, o primeiro futebolista português a jogar nos denominados “três grandes”. No passado dia 17, O Cromo dos Cromos (o outro site para o qual escrevo) ia homenageá-lo em Coimbra, juntamente com o Simões (FCPorto, Académica, Portimonense) e com o Rui Rodrigues (Académica, Benfica). O Alhinho não pôde estar presente porque o Benfica o convidara a acompanhá-lo na recente deslocação de final de época a África. No entanto, ficara combinado que não faltaria ao nosso próximo encontro. Ontem, chegou a notícia de que morrera de uma forma absurda. Sei que, no próximo encontro que fizermos, ele, mesmo não estando, estará presente. E sei-o porque este futebolista, como tantos outros, povoa o imaginário infanto-juvenil de todos os que viveram o futebol português nas décadas de 70 e 80. O Alhinho faz parte do tempo em que se coleccionavam os cromos dos nossos ídolos com a capacidade de inscrever o sonho na realidade. Enfim, produzia-se real. E é esse real produzido que me (nos) impede de permitir que não haja memória. Mais do que a saudade é urgente a memória.
O Carlos Alhinho faleceu ontem. Saibamos ter a memória de um dos grandes futebolistas que muito honrado se sentia por ter um dia representado o nosso Clube.
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