Após uma entrada em falso e uma primeira parte desperdiçada, uma mudança de atitude na segunda parte somada ao emendar de mão por parte do nosso treinador foi suficiente para dar volta ao resultado e levar de vencida o Braga, garantindo com isto matematicamente o segundo lugar e obrigando o Novo Banco a retardar a festa.
Não me agradaram as escolhas iniciais, pelo regresso à aposta no Aursnes para lateral esquerdo, mas sobretudo pelo regresso à titularidade do Rafa, que na prática significava abandonarmos os três médios para jogar contra uma equipa que joga precisamente dessa forma. Significava isto jogarmos com um meio campo a dois, no qual um deles era o João Mário, contra três adversários naquela zona. Nada contra o Rafa, que é um jogador que eu admiro e cujo valor eu não coloco em causa, simplesmente acho que nesta altura ele já não deverá estar com a cabeça no Benfica, e talvez por isso o seu rendimento nos últimos jogos tem deixado a desejar. Aquilo a que assistimos durante a primeira parte foi mais ou menos esperado, porque já o vimos acontecer demasiadas vezes esta época. Até entrámos com alguma vontade mas o nosso jogo geralmente chegava perto da área e complicava, faltava objectividade e acabávamos a voltar para trás ou a trocar a bola nas suas imediações até a perder, sem que a bola lá entrasse. Pelas alas, o Aursnes acabava sempre a puxar a bola para dentro e para o seu pé direito e a passar a bola para trás. Do outro lado, o Di María também puxava a bola para dentro e andava a tentar encontrar espaço para fazer algum passe em diagonal, o que raramente conseguia e portanto começava a acumular as tradicionais perdas de bola, potenciadas pelo facto da equipa andar constantemente à sua procura para lhe meter a bola nos pés, já que era dos poucos que arriscavam alguma coisa. O lance de maior perigo criado foi logo na fase inicial, quando o Cabral já dentro da pequena área cabeceou à barra da baliza, na sequência de um pontapé de canto. Após uns minutos iniciais mais retraídos o Braga começou a responder em transições. O Horta deu o primeiro aviso, num remate de fora da área que obrigou o Trubin a aplicar-se, e pouco antes de chegarmos à meia hora marcou mesmo. Aproveitando um buraco do lado esquerdo da nossa defesa, a bola foi ali colocada, e depois o Otamendi somou mais um disparate igual aos tantos outros que tem cometido esta época. Acho que com a idade que ele tem já deveria ter percebido que não tem velocidade para abordar sempre os lances à queima. Fê-lo outra vez, foi batido em antecipação, e o Djaló ficou com caminho livre para ir até à linha de fundo e fazer o passe atrasado para a entrada da área. O Braga nem atacou com muitos, mas todos os nossos defesas foram arrastados atrás do Banza, e o Horta surgiu sozinho para rematar. O remate nem foi grande coisa, mas o Banza estava para aí um metro à frente do Trubin e acabou por atrapalhar - pensei que estivesse em posição irregular, mas o golo valeu mesmo. Este golo afectou o Benfica, que ficou muito perdido em campo. A partir daí o Braga, que já não tinha grande vontade em deixar jogar, passou a quebrar ainda mais o ritmo de jogo em qualquer ocasião que pudesse aproveitar, mas quando atacava fazia-o com perigo e só não chegou ao segundo golo porque o Trubin conseguiu defender o remate do Djaló, que lhe surgiu isolado à frente (mais um disparate inacreditável do Otamendi na marcação). A resposta do Benfica foi já perto do intervalo: (mais) um cruzamento do Di María a partir da direita, corte defeituoso de um defesa do Braga, e o Aursnes em posição privilegiada, a pouco mais de um metro da linha de golo, assustou-se com a saída do guarda-redes e atirou por cima.
Nada mudou no onze ao intervalo, mas a atitude com que regressámos foi melhor. Pelo menos mais velocidade e capacidade para empurrar o Braga para a sua área, mas durante os primeiro minutos faltavam situações de finalização. A primeira alteração que ajudou a mudar o rumo do jogo aconteceu logo nos primeiros minutos e foi forçada: o Bah teve que sair, o que levou à entrada do Carreras para a esquerda e à passagem do Aursnes para o lado oposto. Não é que o Carreras tenha enchido o campo, simplesmente o facto de se ter o jogador certo no lugar certo ajuda: ter ali um jogador que tem pé esquerdo deu largura ao nosso jogo e ajudou a evitar o excessivo afunilamento que por vezes chega a ser exasperante. A segunda mudança, e a mais importante, deu-se a vinte minutos do final, quando trocámos o Cabral e o Rafa pelo Marcos Leonardo e o Kökçü. Até porque teve efeitos imediatos. Logo na jogada seguinte o Kökçü abriu para o Aursnes na direita, que foi travado em falta quando ia para a linha de fundo. Do livre resultante, marcado pelo Di María, o Matheus afastou a bola a soco para a zona frontal da entrada da área, o João Mário tentou o remate, que levou a bola a embater num jogador do Braga e sobrar para o Marcos Leonardo, descaído sobre a esquerda. De forma espontânea e inesperada, ele desferiu um remate de primeira de pé esquerdo, já de ângulo apertado, mas com a colocação exacta para levar a bola a ir embater no poste mais distante e entrar na baliza. Um grande golo, pleno de oportunidade, obtido com o primeiro toque que ele deu na bola. Empate conseguido e ainda muito tempo para jogar e ir à procura da vitória. Depois do golo, outra alteração, que também teve influência no desfecho do jogo: Di María na esquerda e Neres na direita. Como deve ser. Os cruzamentos do Di María a partir da esquerda, onde podem ser feitos de forma mais tensa, podem ser mortíferos, como já o provou diversas vezes, e muito mais úteis à equipa do que as constantes vindas para o meio para cruzar bolas em balão que são mais fáceis de abordar pelas defesas adversárias. E o Neres rende sempre mais na direita. O Benfica nesta fase estava completamente por cima no jogo mas chegou à vantagem, apenas a cinco minutos do final, num lance de contra-ataque. A bola foi recuperada pelo Carreras ainda dentro da nossa área, seguiu para o João Mário, este colocou-a nos pés do Kökçü, e daí foi lançada para a corrida do Di María pela esquerda. Levantando a cabeça, viu o Marcos Leonardo e o Neres a entrar pelo outro lado e arrancou um cruzamento largo perfeito que fez a bola ir cair direitinha no lugar certo para o Neres finalizar de cabeça, junto ao poste do lado contrário. Um lance muito bonito e exemplar de transição ofensiva. Apanhando-se em desvantagem o Braga pela primeira vez mostrou ter pressa no jogo, mas no último minuto ficou reduzido a dez depois de uma entrada má do Gomez sobre o Di María e o jogo ficou praticamente decidido. Só não ficou fechado porque o Marcos Leonardo ainda conseguiu voltar a marcar no quinto minuto da compensação, num lance em que o mérito é praticamente todo seu: recebeu a bola dentro da área vinda de um lançamento lateral do Carreras, rodou sobre o defesa que o marcava, perdeu a bola para outro defesa, não desistiu e pressionou-o, e com a ajuda do Kökçü recuperaram-na, rematando de pronto já na pequena área e fazendo a bola passar entre as pernas do guarda-redes.
O homem do jogo é o Marcos Leonardo porque marcou dois golos. Mostrou mais uma vez um enorme sentido de oportunidade, mas repito aquilo que escrevi a semana passada: acho que a vida do nosso avançado fica mais fácil quando jogamos com o Kökçü no apoio, porque o trabalho que tem que fazer quando jogamos com o Rafa é completamente diferente. Mas se tivesse que escolher aquele que para mim foi o nosso melhor jogador, escolheria o Florentino. Acho que fez um jogo enorme, ainda mais potenciado pelo facto de ter sido ele praticamente sozinho a lutar contra o meio campo do Braga durante a maior parte do jogo. O Di María voltou a ser decisivo e gostava de o ver jogar mais na esquerda. As entradas do Carreras e do Kökçü foram importantes para virar o jogo. O Otamendi tem que perceber que se continua a jogar desta forma, estará constantemente a comprometer a equipa defensivamente.
A coisa mais negativa no jogo foi a intervenção da nossa claque, que com uma chuva de tochas para dentro do campo na primeira parte acabou por provocar a interrupção do jogo. Vamos, obviamente, pagar por isto. Compreendo que haja insatisfação, mas mais uma vez, não é forma de protestar, até porque só prejudica o nosso clube - mesmo dentro do campo, porque me pareceu que depois da interrupção jogámos ainda pior. Não gostei da nossa primeira parte, mas gostei que a equipa na segunda parte tenha mostrado vontade de lutar e inverter o resultado. Mérito também para o Roger Schmidt por ter tido capacidade para identificar o que estava errado e emendar a mão, ainda a tempo de chegarmos à vitória. Não sei qual será o seu futuro no Benfica, mas a sensação que tenho é a de que a sua relação com uma fatia significativa dos nossos adeptos poderá já ter passado um ponto de não retorno, ainda que o final do jogo tenha sido tranquilo (aquele golo mesmo no final terá ajudado).
Num jogo em que, para não estarmos a dizer que foi apenas para cumprir calendário, podemos sempre dizer que tínhamos por objectivo retardar a festa do Novo Banco e deixar a questão do segundo lugar praticamente arrumada, o Benfica deslocou-se a Faro para conseguir uma vitória relativamente tranquila e deixar-nos mais uma vez a perguntar porque motivo passámos, única e exclusivamente por opção, a maior parte da época sem utilizar a vantagem de termos um plantel com tantas opções, o que nos permitiria não só gerir o desgaste nos jogadores mas também abordar diferentes jogos com diferentes soluções.
Mudámos metade da equipa, e foram cinco as alterações, que significaram até algum surpresa por vermos jogadores como o João Neves ou o Rafa começarem no banco. Os outros jogadores que saíram do onze foram o Aursnes, o Neres e o Tengstedt. Nos seus lugares, João Mário, Kökçü, Carreras, Tiago Gouveia e Cabral. Isto na prática significou jogarmos numa disposição táctica mais próxima do 4-3-3, o que eu admito que é uma solução que geralmente me agrada mais (sobretudo por estar farto de ver adversários a conseguir superioridade na zona central). A primeira parte ofereceu-nos um jogo aberto, com ambas as equipas a tentarem sair rapidamente para o ataque - ao contrário do exercício de nervos que tinha sido o jogo da primeira volta, no qual assistimos a uma espécie de tiro ao alvo perante uma equipa que passou o jogo todo enfiada na sua área. Da parte do Benfica, foi agradável ver-nos jogar a toda a largura do terreno, graças à vantagem de ter dois laterais de raiz a dar profundidade em ambas as alas - e não consigo esquecer-me que, uma vez mais por opção, passámos uma boa parte da época a jogar sem laterais. Ao optarmos por não ir buscar ninguém para substituir o Gilberto, a lesão do Bah implicou termos andado a jogar com o Aursnes ali (que deu muito boa conta do recado, mas não é a posição natural dele) e com a opção incompreensível pelo Morato na esquerda. O meio campo a três permitiu-nos também fazer uma pressão mais efectiva, com uma ocupação mais eficiente dos espaços. O sistema é também mais apropriado para um ponta-de-lança como o Cabral, que assim conta com um jogador como apoio directo, enquanto que quando jogamos com o Rafa a função principal do ponta-de-lança passa mais por ser capaz de fazer movimentações que arrastem os defesas de forma a abrir espaços para as entradas do Rafa (e eu continuo a pensar que gostaria de ver-nos jogar com os três médios, mas com o Rafa encostado à esquerda e a fazer diagonais para o meio, o que abriria espaço para a subida do lateral).
O primeiro golo do Benfica surgiu por engano, pouco depois do primeiro quarto de hora. A bola foi recuperada pelo Florentino, que se enganou e fez um grande passe em profundidade desde o meio campo defensivo até à ponta direita, onde encontrou o Di María solto (é sabido que o Florentino é incapaz de fazer tais passes - aliás, na segunda parte enganou-se outra vez e fez outro igual para o Carreras, portanto imagino que em ambas as ocasiões a sua intenção seria aliviar a bola). O Di María segurou a bola à espera da subida do Bah e soltou-a na altura certa, com o cruzamento tenso do nosso lateral a encontrar o Kökçü solto à entrada da pequena área para finalizar com um toque de primeira. O Benfica jogava de forma agradável, recuperava bolas altas e estava tranquilo no jogo, mas mais uma vez bastou que o adversário se aproximasse da nossa baliza para que marcasse, no primeiro remate que acertou na baliza. Apenas sete minutos após o nosso golo e na sequência de um pontapé de canto, o Bah não afastou a bola de forma eficiente e esta sobrou para um adversário sobre a direita, que de ângulo já apertado conseguiu acertar uma bomba de primeira que levou a bola a entrar junto ao ângulo da baliza desse lado. Mas o Benfica não pareceu acusar o golo e manteve-se tranquilo, pressionando alto e ainda e sempre com os dois laterais muito em jogo, aparecendo diversas vezes até em posições mais centrais para dar superioridade numérica e criar dúvidas nos marcadores directos. O golo que nos recolocou em vantagem apareceu aos trinta e quatro minutos e foi numa jogada semelhante à do primeiro golo. Nova bola colocada no Di María na direita, desta vez pelo António Silva, e este a solicitar a entrada do Bah (que desta vez, ao contrário do primeiro golo, apareceu por dentro) que fez o cruzamento tenso para a entrada da pequena área, onde o Cabral ganhou a frente ao marcador directo e finalizou com um toque fantástico de calcanhar. A jogar com confiança, o nosso ponta-de-lança esteve perto de marcar outra vez poucos minutos depois, num grande remate espontâneo de fora da área que levou a bola a embater na base do poste. A vantagem ao intervalo era merecida, mas parecia-me um pouco curta.
Na segunda parte o Benfica procurou claramente acalmar um pouco o ritmo do jogo, o que conseguiu fazer de forma relativamente eficaz. A qualidade do jogo pareceu-me pior, marcada por muitos passes errados e perdas de bola de parte a parte. Houve menos situações de perigo, em especial na fase inicial, mas ficou na retina uma iniciativa do Tiago Gouveia sobre a linha de fundo a colocar a bola na marca de penálti a pedir uma finalização fácil, só que o Bah chegou um tudo nada atrasado à bola (mais uma vez um lateral a surgir pela zona central). Perto da hora de jogo fizemos duas alterações, retirando o amarelado Florentino para a entrada do João Neves, e trocando o Tiago Gouveia pelo Neres. E chegámos ao golo da tranquilidade pouco depois. Mais uma vez o Di María na jogada, a fazer um passe a rasgar da direita para a esquerda, onde encontrou o Carreras desmarcado na área. O lateral espanhol tirou um defesa da frente e rematou de pé direito, fazendo a bola entrar junto ao poste mais próximo. Foi uma sensação agradável voltar a ver um lateral esquerdo espanhol a marcar pelo Benfica. O mais negativo do jogo foi que o João Neves foi obrigado a sair poucos minutos depois de estar em campo, depois de um choque de cabeças com um jogador do Farense que se calhar lhe poderá ter fracturado o nariz (entrou o Aursnes para o seu lugar). Depois de sofrer o terceiro golo o Farense procurou reagir e foi mais agressivo no ataque, conseguindo acertar o seu segundo (e último) remate do jogo na nossa baliza, que obrigou o Trubin a uma defesa mais apertada. Pouco depois, nova situação de algum perigo, com o remate cruzado do avançado algarvio a fazer a bola passar muito perto do poste quando o Trubin já estava batido. Da nossa parte, a confiança do Cabral dava para tentar até um pontapé de bicicleta que obrigou o guarda-redes a uma boa defesa. Seria um golo fantástico, mas conhecendo o nosso futebol imagino que caso a bola entrasse, arranjariam alguma forma de anular o golo por jogo perigoso do nosso avançado. Nos instantes finais, já com o Rollheiser e o Marcos Leonardo em campo nos lugares do Di María e do Cabral, duas situações criadas pelo Kökçü, a primeira mal finalizada pelo Bah, e a segunda pelo Neres.
O melhor em campo para mim foi o Bah, que fez duas assistências e nos deixou mais uma vez a lamentar o facto de termos passado tanto tempo sem poder contar com ele esta época. Esteve imparável pela direita, em constantes subidas, aparecendo ou a dar profundidade pela ala ou a criar desequilíbrios pela zona central, terminou o jogo com duas assistências e só ficou a faltar-lhe um golo, que teve oportunidade para fazer. Outra grande exibição foi o Di María. Depois dos 120 minutos em Marselha, nos quais chegou à fase final do jogo em evidentes dificuldades físicas, apareceu neste jogo muito solto e com aparente frescura física, tendo-o visto até diversas vezes a correr atrás do lateral adversário em missão defensiva. Esteve nas jogadas dos três golos do Benfica, assistindo no terceiro, o que mostra o quão influente foi. Pena que aquela iniciativa individual em que ele dentro da área consegue ultrapassar quatro adversários para depois tentar colocar a bola de pé direito no poste mais distante não tenha acabado em golo. Outros destaques para o Carreras (se calhar dá jeito jogarmos com um lateral esquerdo a sério, em vez de andar a inventar e a adaptar jogadores à posição), o Otamendi, que esteve imperial na defesa, Florentino, Kökçü e Cabral, que como disse parece beneficiar deste sistema.
No final houve manifestações de desagrado por parte dos nossos adeptos. Acho que a insatisfação é natural e perfeitamente justificada; esta época só se pode classificar como um fracasso. Mas a forma como alguns se manifestaram foi claramente incorrecta, e não me identifico com ela. Por outro lado, as declarações do nosso treinador sobre o assunto no final são simplesmente desastrosas sob o ponto de vista da comunicação. Aliás, nem percebo como é que a nossa comunicação permite que o nosso treinador se exponha desta forma; isto simplesmente não pode acontecer. Antagonizar os adeptos, seja em que clube for, seja em que situação for, é um erro enorme e algo que nunca se deve fazer. Fazê-lo apenas resultará num escalar da situação, o que me faz pensar que o ambiente que o nosso treinador poderá enfrentar no próximo jogo poderá ser francamente adverso. E o Benfica em nada beneficiará disso.
Não sei qual será a opinião de quem gere o Benfica ou sequer da maioria dos benfiquistas, mas para mim a posição do Roger Schmidt depois deste jogo é pouco mais do que insustentável. Quando se abordam jogos decisivos com vistas curtinhas, a querer poucochinho, o resultado raramente é aquele que se ambiciona.
Voltámos, previsivelmente, ao onze anterior à poupança do passado fim-de-semana. E (também previsivelmente, acrescento eu) entrámos no jogo com exactamente zero ambição. Perante uma equipa que a primeira mão já tinha mostrado ser-nos francamente inferior e que à entrada para este jogo ia em cinco derrotas consecutivas, a opção do Benfica foi entrar para defender. Ficou desde logo óbvio que não iríamos fazer absolutamente nada para sermos felizes. Diz-se que a sorte procura-se, mas a nossa opção foi ficar à espera que ela nos caísse no colo. Jogámos à defesa durante oitenta minutos por opção, não por a isso termos sido forçados. E a falta de capacidade do Marselha viu-se na forma como raramente nos conseguiram incomodar seriamente, mas quando se convida uma equipa a atacar durante todo o jogo há sempre a possibilidade de uma falha ou um azar. Foi pensar pequenino, jogar à equipa pequena, agarrarmo-nos à magra vantagem que trazíamos de Lisboa (e que era assim magra muito por nossa própria opção, já que na primeira mão achámos que já tínhamos feito o suficiente e que não era preciso mais, portanto desistimos de ir à procura de um resultado melhor e ficámo-nos pelo poucochinho - daí a razão para a manifestação de desagrado por parte do público no final) e esperar que isso fosse suficiente. Não foi, obviamente que não foi. E é por causa desta mentalidade do poucochinho, do suficiente, que a nossa época já acabou. Ganhámos apenas a Supertaça, com um plantel que deveria ter dado para fazer muito mais mas que fizemos curto por opção própria. Neste jogo aguentámos até dez minutos do final, altura em que consentimos o golo que empatava a eliminatória, e a partir daí lá demos algum sinal de vida e mostrámos um pouco que até teríamos capacidade para fazer mais. Mas a casmurrice de, mesmo com 120 minutos de futebol, não aproveitar as substituições que temos para fazer também se manteve. Fizemos apenas metade delas, e das que fizemos, tirar o Neres para meter o João Mário e tirar o Tengstedt para ficar a jogar sem ponta-de-lança era perfeitamente escusado, e mais um exemplo das vistas curtas e do poucochinho. Não fazemos substituições para ganhar, fazemo-las para gerir, para aguentar. Foi penoso vermos, por exemplo, o Di María duas horas em campo até ao ponto de quase se arrastar, com substituições por fazer e jogadores no banco que poderiam trazer algo novo ao jogo. Presumo que fosse já a pensar nos penáltis, a fazer fé que o Di María, como grande especialista na matéria, fosse útil. Não foi, se calhar porque com as pernas tão pesadas as coisas terão tendência para correr pior. Meteu a bola no poste logo no primeiro penálti, e a partir daí ficámos sempre na posição desconfortável de correr atrás. Depois o António Silva (é sempre discutível a escolha de quem marca, mas com jogadores mais experientes para marcar, tinha mesmo que ser ele o escolhido para marcar um penálti decisivo?) falhou outro penálti e acabou. Eliminados por uma equipa francamente inferior, que tem feito uma época deplorável e está a meio da tabela da sua liga, porque não tivemos ambição para mais. No fundo, o espelho de toda uma época. Ambicionámos poucochinho, ganhámos poucochinho, foi a época do poucochinho.
Não consigo escrever mais; quando vejo este tipo de mentalidade no nosso clube sinto-me completamente desmotivado. Só digo que um treinador que pensa sistematicamente assim não encaixa na visão que tenho do nosso clube. Defendi-o enquanto pude, fui criticando as opções dele com que discordava, mas acho que nunca me viram escrever aqui um apelo à sua saída. Até porque por norma sou avesso a decisões radicais ou precipitadas. Mas neste momento nem consigo sequer conceber o que será uma nova época com ele a dirigir a equipa, mantendo esta mentalidade e teimosia. Não sei o que aconteceu ao 'rogerball' da primeira época, mas nem um vislumbre dele houve esta época. Foi um investimento sem paralelo completamente desperdiçado, sempre com a sensação de que por culpa própria. Criticávamos o JJ pela gestão que fazia dos plantéis e do esforço dos jogadores, e o Roger Schmidt desta época conseguiu fazê-lo ainda pior. Não sei o que será feito, mas a mim parece óbvio que algo terá que mudar. Este tipo de mentalidade é como um cancro que depois alastra a todo o clube, e tem que ser extirpada.
Uma verdadeira revolução operada no onze, em nome da gestão de esforço, significou oito alterações no onze titular. Apesar disso o Benfica conseguiu uma vitória tranquila frente a uma das boas equipas desta liga, provando que temos um plantel com bastantes opções que poderia ter sido utilizado de forma mais eficaz durante a época.
A revolução começou na baliza e apenas deixou três 'sobreviventes' no onze: o Bah, até porque não há realmente mais nenhuma opção para a posição de lateral direito sem ser o Aursnes (que estava suspenso), o sempre presente João Neves e o Neres. Na defesa, a dupla inédita esta época Tomás Araújo e Morato, com o Carreras a ocupar o lado esquerdo. No meio campo foi o João Mário a jogar ao lado do João Neves, tendo o Kökçü jogado um pouco mais à frente como prefere - o turco jogou em vez do Rafa mas não jogou propriamente no lugar/funções dele. São jogadores com características completamente diferentes, e pode-se considerar que desta forma jogamos com um meio campo a três. O Tiago Gouveia jogou na ala esquerda, com o Cabral a regressar à frente de ataque. Os primeiros minutos mostraram mais iniciativa, natural, por parte do Benfica, mas o Moreirense tentava sempre responder. O Moreirense é uma equipa que joga bom futebol e não veio para a Luz jogar fechado atrás, o que resultou num jogo agradável de seguir, com velocidade e espaço para as duas equipas saírem para o ataque sempre que a bola era recuperada. O Benfica acabou por inaugurar o marcador um pouco depois do primeiro quarto de hora, numa transição rápida. Após a recuperação de bola, a saída rápida para o ataque conduzida pelo Kökçü deixou-nos numa situação de superioridade numérica (4x3) e o turco tabelou com o Tiago Gouveia, sobre a esquerda, para depois rematar rasteiro à entrada da área, com o guarda-redes ainda a conseguir tocar na bola mas a não a impedir de entrar. A reacção do Moreirense foi boa e o período a seguir ao nosso golo foi talvez o nosso pior momento em toda a partida. Houve algum nervosismo e cometemos alguns erros na obsessão em sair a jogar a partir da defesa, com um toque displicente do Tomás Araújo na direcção do Samuel quase a oferecer o golo ao adversário. Tomás que, a meio da primeira parte, apoiou mal o pé e fez o resto do tempo até ao intervalo claramente em sacrifício, já que não deixou mais de coxear. Já depois da meia hora de jogo a melhor ocasião de golo do Moreirense, quando o Alan veio da esquerda para o meio e rematou rasteiro à entrada da área, fazendo a bola ir ao poste com o Samuel já completamente batido. Mas foi muito boa a reacção do nosso guarda-redes a impedir o golo na recarga, mergulhando aos pés do jogador do Moreirense. A resposta do Benfica veio logo a seguir pelo Cabral, que numa iniciativa individual se virou bem sobre o marcador directo, trabalhou bem na zona central e ainda bem de fora da área desferiu um remate com selo de golo, que o guarda-redes ainda conseguiu desviar ao de leve para a barra. Seria um golo fantástico. Este lance 'acordou' o Benfica, que a partir daí voltou a ficar bem por cima do jogo e nunca mais largou essa posição. Pouco depois foi o Carreras quem veio da esquerda para o meio e viu o guarda-redes negar-lhe o golo com mais uma grande defesa, a um remate de pé direito de fora da área. Já no período de descontos, na sequência de um pontapé de canto marcado pelo Neres na direita, o Tomás Araújo surgiu ao segundo poste a ganhar no ar para cabecear e ver o guarda-redes fazer mais uma grande defesa e desviar a bola para os ferros. Depois a tentativa de cortar para canto por parte de um defesa fez a bola ir ao poste, e a bola sobrou novamente para o Tomás Araújo marcar na recarga.
Ao intervalo a gestão continuou e o Neres e o João Neves já não regressaram, sendo rendidos pelo Rollheiser e o Florentino, e o Tomás Araújo também foi substituído pelo António Silva, certamente por já não estar a 100% desde o lance em que se lesionou na primeira parte. Os dois golos de vantagem conferiram bastante segurança à nossa equipa, que jogou toda a segunda parte de forma bastante tranquila e controlou o jogo perfeitamente à vontade. Não me recordo de nenhum lance mais perigoso por parte do Moreirense (que acabou o jogo sem fazer um único remate na direcção da baliza). O terceiro golo do Benfica parecia ter grande probabilidade de acontecer, e vimos a equipa trabalhar e ir à procura dele. Com a entrada do Florentino o João Mário soltou-se mais e apareceu mais frequentemente em terrenos mais adiantados (pouco se tinha dado por ele na primeira parte) a ligar mais com o Kökçü. O Cabral trabalhou muito no ataque e na direita o Rollheiser também trouxe uma boa dinâmica, sempre bem apoiado pelo Bah. Do outro lado, o Carreras foi subindo de rendimento ao longo do jogo e também esteve sempre bastante activo. De uma forma geral foi agradável ver-nos, para variar, jogar mais como equipa, a construir jogadas a envolver vários jogadores em apoio constante, em contraponto ao processo habitual de entregar quase sempre a bola ao Di María e ver o que é que ele consegue inventar, ou tentar colocar a bola no Rafa. O terceiro golo apareceu a dez minutos do final, numa jogada em que os extremos se tocaram. Um grande passe do Tiago Gouveia, na esquerda, a picar a bola para o meio, onde o Rollheiser apareceu depois de um bom movimento de desmarcação a partir da ala, surgindo na zona do ponta-de-lança. Controlou a bola no peito e depois finalizou com um remate de pé esquerdo, fazendo a bola passar entre as pernas do guarda-redes. De realçar também o facto deste golo ser o resultado directo de uma recuperação de bola logo à entrada da área adversária. O Benfica tinha atacado pela esquerda, o cruzamento do Carreras foi afastado pela defesa, e um toque do Florentino seguido de um corte do Bah, que surgiu na zona central, permitiu-nos continuar a carregar. Foi um terceiro golo merecido e um final de jogo tranquilíssimo na Luz, que nos instantes finais permitiu a estreia do Diogo Spencer, um dos laterais mais promissores da nossa formação. No total, neste jogo utilizámos oito jogadores formados no clube.
O destaque maior do jogo vai para o Tiago Gouveia. Acaba com duas assistências, que são uma prova de que desta vez fez um jogo com muito menos ansiedade, com a preocupação de jogar para a equipa e menos individualismo, o que por vezes o traiu em jogos anteriores (mas esteve perto de assinar um grande golo numa iniciativa individual). Só jogou uma parte, mas o Tomás Araújo voltou a mostrar muita qualidade e que é uma opção muito a ter em conta para a titularidade. Velocidade, bom posicionamento e muito boa saída de bola, com o senão do excesso de confiança naquele atraso à queima para o Samuel. A jogar onde gosta o Kökçü foi outro dos destaques no jogo, a provar que pode ser muito útil à equipa, mas para o conseguir encaixar no onze de forma regular seria necessário alterar a forma habitual de jogar da nossa equipa e provavelmente isso implicaria ter que encostar ao Rafa a uma ala. O Cabral não marcou mas fez por merecê-lo. Na minha opinião fez um jogo muito positivo e a jogar assim, ao contrário do Tengstedt, é uma ameaça para as balizas adversárias. O Bah, como referido, está num momento bom e do outro lado o Carreras começou de forma hesitante, com alguns erros defensivos, mas foi ganhando confiança e fez um jogo sempre em crescendo. Os seus movimentos da esquerda para o meio podem ser um ponto forte a explorar. O Rollheiser, que pela primeira vez vimos durante mais do que meia dúzia de minutos, mostrou muito bom toque de bola e esteve muito em jogo, mostrando-se sempre disponível para receber a bola e participar nas jogadas de ataque. Gostei do que vi. Por último, confesso que gostei muito de ver o Morato de regresso à sua posição. E digo isto porque ele ao longo da época tem sido dos que mais sofreram com as críticas, por estar a jogar numa posição que não é a sua. Fez um jogo muito tranquilo, muito mais confiante com a bola nos pés do que quando tem que jogar a lateral. É um jogador pelo qual eu acredito que poderá passar o futuro próximo da nossa defesa.
Depois de jogos destes, em que no final o público se despede da equipa com um forte aplauso, a pergunta que fica no ar é sempre porque motivo não foi feita uma gestão do plantel assim mais vezes durante a época. Nem é a primeira vez que se fez isto, já no jogo em casa contra o Estoril tínhamos mudado mais de meia equipa e os que jogaram mostraram ter qualidade mais do que suficiente para dar conta do recado. Para além da gestão física jogos deste permitem também reforçar a confiança de todo plantel, porque os jogadores menos utilizados percebem que também contam e que não têm que ser sempre os mesmos a jogar, mesmo quando estão a atravessar um momento menos bom ou estão mais cansados. O Benfica para esta época construiu um plantel que regra geral oferece bastantes soluções (com uma ou outra excepção, caso da lateral direita). Pena que, por opção própria, tenhamos optado quase sempre por não explorar essa potencial vantagem.
Uma vitória que, a julgar pela reacção da maioria do público presente na Luz no final do jogo, terá sido curta em relação às expectativas, sobretudo depois daquilo a que assistimos durante o jogo. Uma noite que fica sobretudo marcada pela justa homenagem ao 'meu' treinador do Benfica, que esteve no relvado acompanhado de muitos dos jogadores que tanto ajudaram a fazer-me a mim e a tantos outros da minha geração benfiquistas.
Terceiro jogo consecutivo a apresentar o mesmo onze, o que se não foi algo inédito esta época deve andar perto disso. A história do jogo conta-se em poucas palavras: tivemos, durante cerca de uma hora de jogo, no Marselha um adversário quase inexistente. Mesmo tendo sempre a sensação de que nem estávamos a acelerar muito, dominámos completamente o jogo perante um adversário inofensivo no ataque, que revelava má organização defensiva e deixava imenso espaço à frente da sua defesa. Como habitualmente, procurámos quase incessantemente o Di María para decidir as jogadas de ataque. O Bah desperdiçou de forma quase inacreditável a primeira grande ocasião ainda numa fase inicial do jogo, mas chegámos à vantagem de forma relativamente rápida: à passagem do primeiro quarto de hora, e na finalização de uma boa jogada colectiva que começou nos pés do Trubin, o Rafa aproveitou o passe do Tengstedt na zona central da área e fez o golo (o passe nem foi particularmente bem feito, mas mérito para a forma como o Rafa ainda conseguiu recepcionar a bola apesar de lhe ter sido passada demasiado para trás). Não houve reacção do Marselha ao golo e continuou tudo na mesma, ainda e sempre com a sensação de que não havia grande urgência por parte do Benfica em voltar a marcar.
O que se manteve no regresso para a segunda parte, mas ainda nos minutos iniciais e perante tão pouca oposição, o Benfica chegou mesmo ao segundo golo. Mais uma boa jogada do Benfica, em transição após uma bola recuperada à entrada da nossa área, colocou-nos em situação de superioridade no ataque, com quatro jogadores para apenas três defesas adversários. Já dentro da área, boa combinação entre o Di María e o Neres, com este a deixar a bola atrasada para uma finalização relativamente fácil do primeiro. Uma vez mais, reacção nula por parte do Marselha, e nesta altura a sensação geral seria que com um bocadinho de esforço o Benfica até poderia deixar o assunto quase resolvido na primeira mão. Mas ao fim de uma hora mais uma vez começou a ficar a sensação de que houve alguma quebra física por parte da equipa - digo isto porque da bancada começa a ser visível que a maior parte dos jogadores começa a correr muito menos sem bola. Foi mais notória nos jogadores da frente, mas estendeu-se depois aos médios, porque começámos a perder o meio campo. Para piorar as coisas, as facilidades que encontrámos até então devem também ter influenciado o António Silva, que sendo o último defesa e perante o jogador mais perigoso do Marselha, em vez de jogar simples e cortar a bola tentou controlá-la para sair a jogar. Foi desarmado, deixando o Aubameyang sozinho para correr até à baliza e fazer o golo. Um erro muito básico do nosso defesa. Do banco, a nossa reacção ficou-se pela troca conservadora do Neres e do Tengstedt pelo João Mário e o Marcos Leonardo. Eu já não vou estar a bater na tecla das substituições, nesta altura acredito que seja uma questão religiosa da parte do nosso treinador e eu não gosto de mexer com as crenças dos outros. Com três jogos de alta intensidade no espaço de nove dias, apresentando sempre o mesmo onze e nunca fazendo todas as substituições, se se insiste nesta opção só pode mesmo ser por crença. A sensação geral que ficou foi no entanto que houve um certo conformismo da nossa parte e uma opção por segurar a vantagem mínima, em vez de ir à procura de algo mais. O que, obviamente, não caiu bem num público que durante uma hora tinha visto o quão superior o Benfica conseguia ser ao Marselha. Não foram surpresa portanto (pelo menos para mim) as manifestações de desagrado no final.
Consegue enervar muita gente pelos exageros que comete, mas acho que o Di María volta a ser o destaque do Benfica. A verdade é que a equipa está sempre à procura dele para que decida, o que também o leva aos tais exageros. Marcou um golo e esteve como sempre na maioria dos lances de perigo que criámos. Outras exibições positivas da parte do Rafa, Neres, João Neves e Bah.
Perante as manifestações de desagrado no final, o nosso treinador afirmou que os assobios parecem fazer parte do Benfica. É possível que seja verdade, mas é preciso que perceba quando e como é que eles aparecem. Os benfiquistas não assobiam por assobiar, e nem sequer o fazem por causa dos resultados. Já vi a equipa ser assobiada depois de vitórias (como ontem) e aplaudida depois de resultados negativos (como a semana passada após o empate no jogo da taça). É tudo uma questão de atitude. O que os benfiquistas querem é chegar ao final dos jogos com a sensação de que demos tudo em campo pelo melhor resultado possível. E ontem não foi essa a sensação com que ficaram. De qualquer maneira, e tendo em conta não só aquilo a que assistimos ontem mas também o momento actual do Marselha, acho que temos todas as condições para conseguir o apuramento. Desde que não decidamos ir para França jogar com mentalidade pequena - e vem-me imediatamente à memória o nosso jogo em Toulouse. Se assim for, então poderemos passar por grandes dificuldades.
Uma entrada a dormir e uma saída de rastos, e o título praticamente perdido. Tal como na terça-feira, podíamos ter ganho este jogo mas acabámos a pagar pelos nossos erros, com a sorte a sorrir ao adversário nos instantes finais num jogo que só teve golos dos laterais direitos.
O nosso treinador tem feito muito disparate, mas acho que mesmo assim ninguém esperaria que houvesse mudanças no onze titular, o que veio a verificar-se. Foi com este onze que dominámos o jogo da taça e fazia todo o sentido mantê-lo. O problema foi uma entrada completamente desastrada no jogo. Não se pode oferecer um golo na primeira vez que o adversário chega à nossa baliza. Não compreendo tamanha passividade quando o Pedro Gonçalves recuperou a bola e entrou pela direita, com os nossos jogadores a ficarem a olhar em vez de alguém cair em cima dele. O cruzamento acabou por sobrar para o lado oposto, onde o Catamo estava solto para finalizar de baliza aberta. A reacção foi boa - jogámos no mesmo registo do último jogo, a ser capazes de pressionar alto e com eficácia a saída de bola do Sporting, e assumimos o controlo do jogo, com a equipa da casa a jogar literalmente em contra-ataque, um luxo a que se podia dar dada a oferta inicial da nossa parte. Uma vez mais, no entanto, más decisões no último terço - e por mais de uma vez tivemos recuperações de bola que nos permitiram apanhar a equipa do Sporting descompensada e em situação de igualdade da defesa para o ataque - impediram-nos de criar muitas ocasiões flagrantes de golo, especialmente porque precisamente hoje tivemos um dos nossos jogadores mais determinantes, o Rafa, em noite completamente não. Na primeira parte foi dele a melhor situação de golo, quando recebeu a bola completamente à vontade à entrada da área, e depois finalizou para a bancada. O empate, que já se justificava, acabou por surgir no último lance na primeira parte: um livre marcado pelo Di María a partir da esquerda, ainda bem longe da área, com a bola a ir cair na zona do poste mais distante, onde o Bah entrou de forma fulgurante para fazer o golo de cabeça.
Para a segunda parte, o Sporting pareceu entrar mais decidido nos primeiros minutos, mas aos poucos o Benfica equilibrou e num jogo dividido conseguiu criar as situações mais perigosas para marcar. E a maior parte das vezes novamente graças a recuperações altas de bola e maus passes por parte dos jogadores do Sporting, que pressionados acabavam por nos entregar a bola. O Neres viu uma bola cortada por um defesa quando esta se encaminhava para a baliza, já depois de ter passado pelo guarda-redes (grande passe do Di María), o Rafa viu um desvio de calcanhar ser também cortado no momento certo por um defesa, e o guarda-redes do Sporting negou o golo ao Di María com uma grande defesa, com a bola ainda a tocar no ferro da baliza. A resposta do Sporting continuava quase sempre a ser em lances de transição, tendo o Gyökeres acertado com estrondo na barra num remate cruzado. À entrada para o último quarto de hora o jogo estava claramente num cenário em que quem marcasse ganharia, mas parecia mais provável que a acontecer, esse golo fosse nosso. Só que a nossa equipa começou a dar sinais de cansaço. Em especial os jogadores da frente, pelo muito trabalho que tiveram a pressionar e a cortar linhas de passe constantemente. O cansaço era dos dois lados, mas enquanto que o treinador do Sporting foi constantemente refrescando a equipa com substituições, o nosso manteve-se na sua teima de nunca fazer todas as substituições, e de fazer aquelas que ainda faz tarde e a más horas. Trocou apenas de avançado a vinte minutos do final, e depois ficámos a ver a equipa a perder progressivamente gás enquanto o Sporting crescia nos minutos finais. O Sporting retirou mesmo o Hjulmand do campo, que arriscava ver um segundo amarelo, enquanto que o Benfica nada fez e acabou com o Aursnes expulso (nota: o Benfica fez apenas dez faltas durante todo o jogo e acabou com sete cartões amarelos). Já no período de descontos, estivemos durante largos minutos com o jogo parado à espera do VAR enquanto não se marcava um pontapé de canto (depois de uma situação claríssima de golo por parte do Sporting) e eu comentei mesmo para o meu colega de bancada que com tanto tempo parado arriscavamo-nos a perder as marcações e a sofrer um golo. Que foi mesmo o que aconteceu, com o Catamo a receber a bola completamente sozinho sobre a esquerda à entrada da área e a rematar cruzado para o golo. Depois do mal feito, aí sim, duas substituições feitas para jogarem um par de minutos, o Kökçu mais uma vez para jogar na esquerda no lugar do Neres, e o Marcos Leonardo no lugar do Rafa. Ainda assim, na sequência de um livre ainda tivemos uma situação muito perigosa do Marcos Leonardo, que foi cortada nem percebi bem como por um defesa já perto da linha de golo.
Destaques no Benfica, o Di María, de cujos pés nasceram a maior parte das situações de perigo, e para o Bah, que marcou o golo e voltou a mostrar estar na sua melhor forma. Já do outro lado, o Aursnes desta vez teve um jogo para esquecer. A dupla de médios teve um jogo de muito trabalho, recuperou imensas bolas, mas também foi caindo fisicamente na fase final do jogo, em especial quando o Sporting refrescou completamente o meio campo e nós nada fizemos.
Foram dois jogos seguidos que podíamos e deveríamos ter ganho, em especial o da taça, e em que acabámos por perder dois troféus. O que acabou por marcar a diferença nestes dois jogos foi sobretudo o aproveitamento. Uns marcaram sempre mais do que as ocasiões que criaram, e nós marcámos sempre menos. O autismo do nosso treinador no que diz respeito às substituições não foi hoje que apareceu, tem-se revelado ao longo de toda a época e culminou hoje, em que provavelmente perdemos mesmo o jogo com grande peso desse factor. E não serve o argumento de falta de qualidade no banco, porque temos lá muito melhores jogadores do que o adversário (por exemplo, aquele ex-Estoril que entrou para o meio campo foi péssimo e quase que nos ofereceu um golo, mas pelo menos tinha pernas para correr). Só que o treinador adversário, perante a evidência da falência física, não hesitou em fazer as mudanças que se impunham. O nosso ficou a contemplar, perdido nas ideias dentro da sua própria cabeça.
Um empate muito frustrante que nos afasta da final da Taça de Portugal. E é frustrante porque hoje, e de forma até surpreendente para mim, fomos claramente a melhor equipa (muito melhores do que eles o conseguiram ser na primeira mão) e fizemos mais do que o suficiente para ter dado a volta à eliminatória, acabando penalizados sobretudo pela falta de eficácia no ataque e por um erro individual do nosso guarda-redes.
Pareceu-me que o nosso treinador hoje acertou no onze escolhido - pelo menos tenho pouco a apontar - e fomos capazes de fazer uma pressão eficaz sobre a defesa do Sporting, ao ponto de durante a primeira parte nem sequer terem conseguido recorrer à jogada de marca deles (chutão para o Gyokeres quando estão apertados). Foram vários os erros que conseguimos provocar na saída de bola do Sporting, conseguindo muitas recuperações de bola ainda no meio campo adversário e expondo, por exemplo, de forma bastante evidente as deficiências que o Diomande tem nesse particular (por algum motivo já não voltou do intervalo). Se tenho alguma coisa a apontar aos nossos jogadores, foi algum excesso de individualismo, em especial pelo Di María ou o Neres, que por diversas vezes se agarraram em demasia à bola quando se exigia um passe em progressão. Mas quando o Tengstedt acertou na barra e, sobretudo, quando o Di María conseguiu falhar um golo feito que lhe foi oferecido pelo Aursnes comecei a ficar pessimista sobre as nossas possibilidades. O empate ao intervalo era penalizador, e depois entrámos na segunda parte a dormir: pela primeira vez no jogo a jogada do chuto para a frente para o sueco funcionou sobre a esquerda, e depois foi-lhe permitido todo o tempo e espaço do mundo para colocar a bola na entrada da área, onde o Hjulmand também estava demasiado à vontade para rematar para o golo. A resposta foi boa e o Otamendi empatou minutos depois a centro do Neres a partir da direita (grande trabalho individual), aparecendo solto ao segundo poste depois de se antecipar ao Gyokeres, só que praticamente de seguida o Trubin borrou completamente a pintura, defendeu para a frente um cruzamento inócuo que iria sair pela linha de fundo e deu a possibilidade ao Paulinho de empatar. Voltámos a reagir bem e a reestabelecer o empate, pelo Rafa à boca da baliza depois de novo centro da direita do Bah (depois de um toque de calcanhar do Neres a desmarcá-lo) e ficámos novamente a apenas um golo de empatar a eliminatória (na jogada anterior o Gyokeres numa iniciativa individual tinha feito a bola tocar no poste num remate de fora da área). Até poderíamos ter tido uma ocasião flagrante para o fazer pouco depois, quando o tronco do Coates cometeu um penálti desastrado sobre o Rafa, mas nem o árbitro nem o VAR quiseram marcar. O andor este ano está muito poderoso e ninguém tem coragem para decidir contra eles nestes jogos - depois de dois penáltis grosseiros perdoados no jogo da Liga (pisão do Diomande ao Musa e cotovelada do Morita ao Otamendi) e um golo limpo anulado ao Di María na primeira mão, foi apenas mais um exemplo de como o Sporting é constantemente prejudicado, sobretudo contra o Benfica. Não foi penálti porque simplesmente não quiseram marcá-lo, mas já conhecemos bem o esquema de lavagem automática, e este lance absolutamente decisivo será rapidamente abafado sob o destaque ao 'grande espectáculo proporcionado por ambas as equipas' (fosse ao contrário e teríamos berreiro e luto). O Sporting passou praticamente a última meia hora a queimar tempo e a tentar responder com o habitual chuto para frente para o sueco, enquanto que nós ainda tivemos algumas ocasiões para marcar. Só que os entrados Tiago Gouveia e Marcos Leonardo (em especial o primeiro) revelaram muito pouco acerto na finalização, para além do guarda-redes do Sporting ter negado o golo ao Di María na sequência do lance do penálti não assinalado.
Gostei da atitude de quase toda a equipa e muito da nossa dupla de médios. Voltaram a provar ser a melhor dupla que temos para aquela zona, e em relação ao João Neves já me faltam palavras. Tal como gostei da exibição dos dois laterais, com o Bah finalmente a parecer chegar à sua forma ideal, pena que tão tarde na época - basta ver como o jogo do Sporting pelas laterais, que costuma ser bastante forte, foi quase inexistente e o Amorim viu-se mesmo obrigado a trocar os dois laterais ao intervalo. O Di María teve algumas das habituais perdas de bola e os referido excessos, mas foi sempre dos nossos jogadores mais perigosos quando a bola lhe chegou aos pés, e chegou muitas vezes. Eu acho que preferiria até tê-lo na esquerda, a jogar como extremo puro, com o Neres na direita. Neres que pareceu por vezes pouco ligado ao jogo, mas acabou por estar nos dois golos (na direita). Continuamos no entanto a ter um problema no ataque. O Tengstedt foi útil na pressão, mas tem uma completa falta de instinto goleador na área e deve ter perdido praticamente todas as bolas disputadas com os defesas adversários.
Deve ter sido um dos jogos mais conseguidos dos últimos tempos, mas ficou a faltar-nos um bocadinho para atingir o objectivo. Se jogássemos sempre com esta atitude provavelmente a época estaria a correr melhor. O que eu acho é que se conseguirmos jogar da mesma forma no sábado, teremos boas hipóteses de conseguir um resultado positivo. Mas vou manter as minhas expectativas baixas. Para mim, se conseguir pela primeira vez esta época sair do estádio após um jogo contra o Sporting sem estar a apalpar os bolsos para ver se ainda tenho a carteira, já será positivo.
Em casa, frente ao último classificado, o Benfica lá se conseguiu arrastar até à vitória e aos três pontos que nos mantêm perto do topo da tabela. Mas foi uma vitória que, pelo menos para mim, foi desoladora, e não são muitas as vezes em que me sinto tão desmotivado após ganharmos um jogo. Mesmo o consolo dos três pontos não é suficiente para afastar as más sensações com que fiquei deste jogo, que muito honestamente considero estar entre os piores que já jogámos esta época.
Utilizámos um onze esperado, com o Tomás Araújo no lugar do suspenso António Silva, uma dupla Florentino/João Neves no meio campo, e o ataque com as alas entregues ao Neres e ao Di María, com o Cabral como homem mais avançado. Eu sei que tenho tendência para o pessimismo, mas a verdade é que fiquei com más sensações sobre este jogo logo nos primeiros minutos. E porquê? Porque o Chaves mostrou, desde muito cedo, porque motivo está em último lugar. De uma forma excessivamente optimista, nem me pareceu ter vindo com o tradicional autocarro das equipas pequenas (apesar da excessiva calma do seu guarda-redes nas reposições de bola) mas sim com vontade de jogar de forma mais aberta, apenas sem grande capacidade para o fazer. Não sei se esta época vi alguma equipa cometer tantos erros defensivos que resultaram em verdadeiras ofertas aos nossos avançados, com perdas de bola comprometedoras em zona defensiva e passes transviados, e no entanto mostrámos uma completa incapacidade para os aproveitar. Acima de tudo, fiquei (mais uma vez) com a sensação de uma enorme falta de dinâmica de equipa. Sim, os jogadores quando tinham a bola corriam, mas o resto da equipa ficava muito estática. Inventámos uma nova jogada em que juntamos uns quatro jogadores perto da esquina da área e eles ficam ali durante um tempo exasperantemente longo a trocar a bola entre si em passes curtos, numa espécie de meiinho com os defesas adversários, até que finalmente nem se ganha a linha, nem se progride para a área, nem se cruza, e a bola ou é perdida ou é passada para um dos centrais. A sensação constante é a de que praticamos um futebol desgarrado, muito cada um por si à espera que o talento individual acabe por resolver, e quando o adversário é muito inferior, como foi o caso de hoje, há a tendência para algo que roça a displicência. Houve muito desacerto na altura de finalizar, já que à parte num livre perigoso logo na fase inicial do jogo, o guarda-redes do Chaves até nem teve muito trabalho. Mas tivemos uma oportunidade flagrante para desfazer o nulo ainda na primeira parte, quando o VAR assinalou um penálti por cotovelada na cara do Bah, mas o Di María fez a paradinha, esperou que o guarda-redes caísse para um lado, e depois passou-lhe a bola, frouxa, para as mãos. Um penálti muito, muito mal marcado e um bom indicador da desinspiração geral.
Que continuou na segunda parte, na qual voltámos a ter mais uma oportunidade soberana para ir para a frente do marcador. Novamente o VAR a detectar um penálti por falta sobre o Di María, e desta vez foi o Cabral a bater. Tal como o Di María, fez a paradinha, deixou o guarda-redes cair, e escolheu o mesmo lado do guarda-redes, permitindo a defesa deste. Mas teve direito a segunda oportunidade, pois foi detectada invasão da área por um jogador do Chaves na marcação. Papel químico da primeira marcação: paradinha, queda do guarda-redes, remate para o mesmo lado, nova defesa. Absolutamente exasperante - e louve-se a atitude do público que, perante uma exibição tão desinspirada da nossa equipa, geralmente continuou a apoiar e guardou as manifestações de desagrado para depois do apito final. Não deu para ficar muito tempo a mastigar o assunto porque pouco depois chegámos ao golo. Um livre sobre a direita do ataque, mal marcado pelo Di María, que enviou a bola tensa para a área mas demasiado baixa, quando a intenção seria colocá-la na zona do segundo poste. Mas felizmente que pelo caminho apanhou o João Neves no meio da área, que com um desvio bastante intencional de cabeça a fez ir embater no poste mais distante e entrar na baliza. Um alívio, porque começava a parecer muito complicado meter a bola na baliza. Pouco depois trocámos de avançado, e o Marcos Leonardo no tempo em que esteve em campo revelou-se um pouco mais activo do que o Cabral até então. O golo não serviu de calmante à nossa equipa, que continuou a jogar aos repelões e de forma descoordenada. A cerca de dez minutos do final, ocasião para revermos uma das inovações tácticas desta época, com as entradas do João Mário e do Kökçu (altura em que aí sim, foram audíveis assobios para o turco) para os lugares do Neres e do Di María, para jogarmos com quatro médios centro (cinco, se contarmos com o Aursnes). A outra inovação táctica desta época é obviamente a dos quatro centrais. E mais uma vez, apenas por opção, não utilizamos todas as substituições, no que se começa também a tornar uma imagem de marca. Seria de pensar que perante tanto desacerto e tendo a felicidade de estar em vantagem, o Benfica aproveitasse os minutos finais para assentar o jogo e geri-lo com uma certa dose de segurança. Puro engano. Os minutos finais foram horríveis, com o jogo aos repelões, completamente partido e aberto e sem qualquer tipo de organização táctica, sobretudo em termos defensivos. Poderíamos ter marcado um segundo golo que nos descansaria, mas também poderíamos perfeitamente ter sofrido o empate porque, repito, não vi qualquer tipo de organização na nossa equipa. Aquilo para mim deixou de ser um jogo de futebol e mais parecia uma peladinha entre amigos ao fim de semana: cada um por si, com o resto da equipa a ver jogar.
João Neves e o Florentino são os destaques que consigo fazer. Ambos estiveram constantemente em jogo, o João Neves como habitualmente pareceu ter o jogo todo a passar constantemente pelos seus pés e marcou o golo decisivo, enquanto que o Florentino teve um desempenho defensivo notável, com diversas recuperações de bola bem dentro do meio campo adversário. Continuo a achar que esta é a dupla do meio campo que neste momento melhor se complementa e resulta.
Segue-se uma sequência de três jogos de dificuldade elevada e que no fundo poderão decidir toda a época no espaço de uma semana, e é muito difícil sentir-me com a confiança em alta para os enfrentar. Será necessário superarmo-nos e fazer muito, muito mais e melhor do que isto se quisermos alguma coisa positiva deles. O problema é que o nosso treinador não parece ver grandes problemas com o que estamos a jogar e normalmente até exprime satisfação com isso, por isso não sei se será realista nesta fase esperar grande evolução. Se calhar sou eu que estou a ser demasiado pessimista, mas muito sinceramente eu hoje achei que jogámos francamente mal e que acabámos por ganhar porque simplesmente temos muito melhores jogadores do que o Chaves. Continuarei sempre a apoiar porque não sei fazer outra coisa; estive no descalabro do Dragão e estarei em Alvalade no próximo fim de semana, mas neste momento é muito difícil sentir confiança ou entusiasmo perante o que vejo esta equipa produzir. Espero sinceramente que se consigam superar esta semana.
Foi preciso persistência e uma boa dose de paciência, especialmente depois de um arranque em falso numa primeira parte pouco conseguida, mas acabámos por conseguir os importantes três pontos na visita ao Casa Pia.
Uma alteração na equipa, saiu o David Neres e entrou o João Mário. Natural, porque o João Mário não poderia ficar de fora dois jogos seguidos. A primeira parte do Benfica não foi boa. Tentámos ter a iniciativa do jogo, mas encontrámos pela frente um Casa Pia muito fechado atrás e que quando conseguia recuperar a bola contra-atacava em transições rápidas - logo nos primeiros minutos foi apenas por aselhice de um jogador do Casa Pia que não ficámos em desvantagem numa jogada destas, pois ele surgiu completamente solto em posição frontal à baliza e conseguiu rematar de forma disparatada para fora. Quanto a nós, revelávamos as dificuldades muitas vezes vistas esta época para ultrapassar equipas a defender com um bloco muito baixo: muita circulação de bola sem progressão, constantemente à procura de rasgos individuais do Di María - o que resultou em mais um jogo com muitas perdas de bola por parte deste, já acaba por estar constantemente a recorrer a arrancadas individuais ou tentativas de passes de risco. Na frente, o Marcos Leonardo nunca conseguiu antecipar-se aos defesas do Casa Pia sempre que a bola era cruzada para a área, e apenas uma vez conseguiu escapar à marcação para fazer um remate cruzado que saiu muito frouxo. Tivemos um golo anulado ao João Neves por posição irregular deste, num lance eu que eu tenho algumas dúvidas sobre o critério de considerar a bola do Otamendi um 'remate'. Para mim foi um cruzamento para a área (altura em que sim, o João Neves está adiantado) onde o António Silva disputa a bola com o guarda-redes, com este a afastar a bola de forma deficiente e a deixá-la para o João Neves finalizar. Enfim, foi decidido contra o Benfica, está sempre bem decidido. Com o Casa Pia a jogar num bloco tão baixo, havia também pouco espaço para explorar pelo Rafa, que assim teve pouca intervenção no jogo - e quando isto acontece, normalmente é mau sinal para nós - e quando apareceu foi para rematar de fora da área, o que é muito pouco usual nele.
Aparecemos completamente diferentes, para melhor, na segunda parte. Muito mais agressivos e rápidos, conseguimos dominar completamente o Casa Pia e o jogo passou a ter apenas um sentido, sempre disputado no meio campo do Casa Pia e sem permitir sequer qualquer tipo de transição mais perigosa para a nossa baliza - o Trubin foi um mero espectador. O Rafa teve a primeira grande ocasião, mas depois de lançado pelo Di María e de fugir à defesa, adiantou demasiado a bola e acabou por finalizar já quase sobre a linha final, com o guarda-redes em cima dele, fazendo a bola cruzar toda a baliza a centímetros da linha de golo. Com a pressão a intensificar-se, ao fim de um quarto de hora fizemos duas substituições que vieram a revelar-se decisivas. Entraram o Neres e o Cabral, saíram o Marcos Leonardo e o Florentino. O Neres deu maior largura ao nosso ataque, e nem sequer vou dizer que o João Marío melhorou quando passou para o meio, ele literalmente apareceu, porque até aí acho que nem tinha reparado que estava em campo. Quando ao Cabral, foi uma presença muito mais ameaçadora no ataque, mostrando mobilidade e força física para disputar os lances com os defesas - ao contrário do que o Marcos Leonardo fazia, que era esperar atrás dos defesas por uma falha destes. Logo a seguir, o António Silva falhou uma ocasião flagrante para marcar: bola cruzada pelo Aursnes da esquerda e o António conseguiu antecipar-se a toda a defesa e guarda-redes, mas cabeceou para fora quando tinha a baliza à sua mercê. A pressão do Benfica acabou por dar resultado a um quarto de hora do fim. Numa transição, o João Mário colocou a bola no Cabral sobre a direita, que progrediu até à área e tirou o defesa da jogada puxando a bola para dentro, para o seu pé esquerdo, para depois rematar cruzado. Bom golo do nosso ponta-de-lança, a desatar finalmente um nó que estava cada vez mais complicado. Tal como em Glasgow, depois do golo o Benfica conseguiu com sucesso pausar o ritmo de jogo e controlar completamente até ao apito final - o Casa Pia não conseguiu esboçar qualquer tipo de reacção ao golo. Apesar da sobrecarga de jogos, mantivemos a nossa imagem de marca de não utilizarmos todas as substituições e apenas perto do final fizemos a terceira, trocando o Bah pelo Tomás Araújo.
Num jogo que não foi exuberante, acho que acabo por escolher como destaque o Cabral mesmo. Entrou quando o jogo pedia mesmo alguém com as suas características, resolveu-o, e se calhar se não tivesse entrado não teríamos conseguido deitar abaixo a resistência do Casa Pia. É repetitivo mencionar sempre o João Neves, mas ele não sabe jogar mal e acaba por se destacar sempre pelo menos pela entrega. Gostei do António Silva e da profundidade que o Bah conseguiu dar pela direita.
Depois de termos estado quatro jogos consecutivos sem vencer fora de casa (Vitória, Toulouse, Sporting e Porto), conseguimos agora duas vitórias importantes nos últimos dois. No fundo o regresso à rotina: nada de particularmente entusiasmante mas cumprimos a nossa obrigação, vencemos e mantivemo-nos na luta. Temos agora também que lidar com o caso criado pela entrevista do Kökçu, que em nada ajuda. Eu confesso que compreendo e até concordo com muito daquilo que ele diz, pelo menos no que diz respeito às opções tácticas do nosso treinador em relação a ele, mas a oportunidade desta entrevista é completamente errada e não deixa outra opção ao clube senão agir disciplinarmente. Espero apenas que isto não tenha ramificações no balneário, porque a sensação que tenho é a de que o turco não deverá ser o único descontente com as opções do treinador.
Acho que todos nós tínhamos a noção de que o Benfica era uma equipa superior ao Rangers e por isso mesmo, apesar do empate em casa na primeira mão, havia a expectativa legítima de que um Benfica minimamente competente conseguiria ir ganhar a eliminatória a Glasgow. Tarefa cumprida, portanto.
Houve quatro alterações no onze em relação àquele que tinha vencido o Estoril: Otamendi, Di María, Rafa e João Neves voltaram, por troca com Tomás Araújo, Tiago Gouveia, Kökçu e João Mário. Pela frente apanhámos um Rangers motivado pelo resultado da primeira mão, uma estádio cheio a apoiá-los (com um cantinho vermelho que, desta vez, parece ter-se portado bem) e ainda uma intempérie que se abateu sobre Glasgow, que foi tornando o relvado cada vez mais pesado. Esperava por isso uma entrada forte por parte dos escoceses, que de facto até se verificou. Eles estiveram mais por cima na primeira fase do jogo, mas raramente criaram ocasiões de grande perigo - a situação mais complicada acabou por ser um remate à figura do Trubin, que ele acabou por deixar escapar entre as pernas e que saiu ao lado da baliza. O Benfica revelou sempre uma boa organização defensiva, com o António Silva a ser um esteio na defesa e a limpar tudo o que lhe aparecia, pelo ar ou pelo chão. O meio campo com o João Neves e o Florentino é também aquele que melhor cobertura dá aos nossos defesas que, ao contrário daquilo que tantas vezes vimos esta época, não têm que estar constantemente a apanhar com adversários embalados pela frente quase sem oposição. À medida que o tempo foi decorrendo o Benfica estabilizou o seu jogo e começou lentamente a conseguir explorar o espaço que tinha à frente, criando mesmo situações de maior aperto na área do Rangers - Di María, Rafa ou Marcos Leonardo dispuseram de situações em que poderiam ter dado melhor sequência ou finalizado melhor. Na altura em que soou o apito para o intervalo achei aliás que já estávamos mesmo por cima no jogo, e que havia maior probabilidade de sermos nós a marcar do que o Rangers.
Ao intervalo trocámos de ponta-de-lança, entrando o Tengstedt. O Marcos Leonardo ainda não parece estar na melhor forma física e já revelava dificuldades em lutar com os defesas adversários num jogo com tendência para se tornar cada vez mais físico. Dada a forma como tinha acabado a primeira parte, foi surpreendente o início da segunda. O Rangers veio com tudo, e aquele primeiro quarto de hora foi complicado e deixou-me preocupado que o Rangers pudesse chegar à vantagem - naquela altura tinha a sensação que a primeira equipa a marcar daria um passo de gigante para o apuramento. É verdade que ainda assim o Trubin nunca teve muito trabalho, e a melhor ocasião dos escoceses foi um remate que foi desviado no limite pelo Aursnes, com a bola a passar perto do poste. Ainda mais um susto quando um desvio do António Silva fez a bola passar muito perto do poste, quase acabando em autogolo. Pouco depois do primeiro quarto de hora o Benbfica deu um grande aviso ao Rangers, quando uma boa transição que começou no Di María pela direita acabou com o Aursnes do lado oposto a ganhar a linha de fundo (ultimamente ele parece estar a conseguir fazer isto muito bem) e a oferecer literalmente o golo ao Tengstedt, que acabou por fazer um passe para as mãos do guarda-redes. Dado o aviso, cinco minutos depois veio o golo. Surge numa transição após um canto para o Rangers, na qual o Florentino acabou por finalmente conseguir colocar a bola na frente. O Di María tocou-a de cabeça para o Rafa mais sobre a esquerda, e a velocidade e classe deste fez o resto, fugindo aos defesas e vindo para a zona central para finalizar de forma perfeita. O lance foi inicialmente invalidado em campo, mas o VAR acabou por confirmar que no momento do toque de cabeça do Di María o Rafa ainda estava dentro do nosso meio-campo (aposto que na nossa liga o golo teria sido anulado). Este golo matou o Rangers, que nunca mais conseguiu voltar a ser o mesmo. Até final tivemos o jogo sempre completamente controlado e até poderíamos ter ampliado a vantagem, com destaque para um falhanço do António Silva que não conseguiu fazer o desvio quando estava à vontade à frente da baliza.
Melhores do Benfica, para mim, o trio de meninos do Seixal. António Silva, João Neves e Florentino foram os esteios desta vitória, muito bem acompanhados pelo Aursnes. O António Silva esteve intransponível na defesa, lidando perfeitamente com o jogo tipicamente britânico que os escoceses tentaram implementar e sendo dominador pelo ar. Sobre o João Neves já vão faltando palavras para descrever o pequeno dínamo que alimenta todo o nosso jogo. Quanto ao Florentino, se um jogo destes não é suficiente para perceber a utilidade dele na nossa equipa, não sei o que será. O Aursnes é, objectivamente, o nosso melhor lateral esquerdo. Infelizmente, acrescento eu, porque poderia ser muito mais útil noutras funções e zonas do campo. Mas antes tê-lo a ele ali do que o Morato.
Estamos, pelo terceiro ano consecutivo, nos quartos-de-final de uma competição europeia. Todos nós, por sermos adeptos, achamos sempre que podemos e devemos fazer melhor, e raramente estamos satisfeitos com o que a nossa equipa produz. O jogo de ontem não será excepção, mas mesmo sem estarmos ao nosso melhor, creio que no conjunto das duas mãos ficou bem claro que somos melhores e fomos melhores do que o Rangers dentro do campo. No entanto toda a comunicação social parece ter muita vontade em destacar que o Benfica jogou mal, e que terá tido sorte na passagem - curiosamente, a imprensa escocesa considera que o Benfica mereceu passar, e uma visita rápida a fórums de adeptos do Rangers também me permitiu ver que eles nos consideram melhores e que ontem merecemos ganhar. Talvez porque nesta altura não há contabilidades a fazer como quantos golos o Benfica sofreu, há quantos jogos não ganha, ou há quantos jogos é que Rafa não marca, o melhor é carregar na tecla do mau jogo que o Benfica fez. A mesma comunicação social é aquela que perante dois jogos em que o Porto se enfiou na defesa contra o Arsenal, não se cansa de elogiar o épico desempenho deles. Ou que tendo o sapal sido claramente dominado pela Atalanta nos dois jogos, já tendo tido a sorte de seguir para Itália com um empate, se agarra às oportunidades por eles criadas nos últimos minutos para classificar a exibição deles como 'autoritária', com o jornal não-oficial do sapal (vulgo Record), liderando o pranto, a chegar ao absurdo de escrever que foram 'muito melhor equipa' numa negação e inversão completa da realidade. É vergonhosa a diferença de tratamento que existe. Dá a impressão que a única expectativa admissível para o Benfica é que domine todos os jogos do princípio ao fim e massacre todos os adversários. Qualquer coisa menos do que isso é motivo para crítica severa. Pois que fiquem com as suas magníficas vitórias morais, que eu me contento com mais uma má exibição e a passagem marcada para a próxima eliminatória.
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