Foi uma grande noite europeia na Luz. Uma exibição brilhante do Benfica, em especial na segunda parte, permitiu ao Benfica vencer de forma claríssima o Barcelona. Face ao momento actual das duas equipas, creio que eram legítimas as esperanças num bom resultado, mas duvido que muitos de nós pensassem ser possível uma vitória por três golos sem resposta.
Creio que o onze base do Benfica está encontrado, e por isso a equipa inicial não deverá ter surpreendido muito. Com o Diogo Gonçalves lesionado, há sempre a dúvida sobre quem ocupará o lado direito, e eu pensei que neste jogo esse papel seria entregue ao Gilberto, que tem jogado frequentemente nos confrontos europeus e dado boa conta do recado, mas um pouco inesperadamente a aposta foi no Lázaro. A nossa disposição táctica foi também na linha daquilo que temos vindo a apresentar nos últimos jogos, com o Rafa mais uma vez a actuar como um falso interior, a jogar entre linhas muitas vezes a par do João Mário, mas com bastante liberdade para se soltar nas alas. O início de jogo foi de sonho para o Benfica, pois decorridos dois minutos já o Darwin fazia explodir o vulcão da Luz - estar no estádio a assistir a um jogo destes, com este ambiente, faz-nos recordar a força que o Benfica perdeu com a pandemia, enquanto não pôde contar com o apoio dos seus adeptos nas bancada. No golo, o Weigl colocou a bola em profundidade na esquerda, onde o Darwin a recolheu, entrou na área pela lateral e já perto da linha de fundo, tendo depois flectido para dentro, tirando o defesa da frente para depois rematar rasteiro e puxado ao poste mais próximo. Logo a seguir foi o Yaremchuk quem se libertou novamente descaído para a esquerda, mas a tentativa de colocar a bola no poste mais distante saiu rasteira e foi fácil para o Ter Stegen. Mas depois o Barcelona conseguiu reagir e foi empurrando o Benfica para trás. Estávamos a revelar alguma dificuldade para controlar o meio campo do Barcelona, que aproveitava a superioridade numérica para trocar a bola e a mobilidade do Pedri e o De Jong para nos causar dificuldades. No banco o JJ bem gritava com o Rafa, que me pareceu que ele quereria que recuasse mais no terreno para contrariar este desequilíbrio, mas não estávamos a consegui-lo. O Barcelona criou algumas ocasiões de bastante perigo, umas delas que foram anuladas por posição irregular (ou seriam eventualmente, caso acabasse em golo) e outras por intervenções fantásticas dos nossos defesas centrais - o corte do Lucas Veríssimo é uma coisa extraordinária. Por volta da meia hora de jogo, acho que foi claro que o Barcelona não ficou reduzido a dez apenas porque era o Barcelona e o jogador em questão era o Piqué, porque já com um amarelo ele virou o Rafa. Até o Koeman no banco percebeu o que se passava e substituiu-o imediatamente. Isto, na minha opinião, foi efectivamente o fim do Barcelona no jogo. Porque a opção do Koeman foi recuar o Frenkie De Jong para central, e o meio campo do Barcelona não voltou a ser o mesmo, porque o Pedri deixou de ter acompanhamento. Com o Barcelona a ter mais bola mas já sem ser tão perigoso, pouco antes do intervalo vimos o Lázaro a ter que sair por lesão, sendo substituído pelo Gilberto, mas esta era uma noite feliz e esta alteração acabou por melhorar ainda mais as coisas para nós, porque o Gilberto entrou muito bem no jogo.
A segunda parte nada teve a ver com a primeira. De uma forma simples, ela foi toda do Benfica. Em primeiro lugar, o Gilberto na direita conseguiu travar de forma muito mais eficaz as constantes tentativas do Memphis de entrar por aquele lado, levando-o até a procurar outros terrenos. Depois, a solução encontrada para equilibrar o meio campo foi um aumento da agressividade dos nossos centrais. Vimos frequentemente um deles a sair da linha para cair imediatamente em cima do médio que recebia a bola e pressioná-lo, de forma a que não se pudesse virar e jogar à vontade. Cheguei mesmo a ver várias vezes qualquer um dos três centrais a fazer isto sobre a linha do meio campo. Depois, as sucessivas recuperações de bola que o Benfica conseguia permitiam-lhe sair em transições rápidas, com especial destaque para o Darwin e o Rafa, para os quais o Barcelona não conseguia encontrar soluções, mostrando uma dificuldade enorme para controlar a profundidade. Resumindo tudo isto, a segunda parte só deu Benfica. O segundo golo podia aliás ter surgido bem cedo na segunda parte, quando o Darwin conseguiu antecipar-se a uma saída disparatada do Ter Stegen a meio do meio campo, e junto à linha lateral do lado direito atirou a bola para a baliza, com esta a ir embater no poste e a sair. O Barcelona apenas criou uma situação de perigo durante toda a segunda parte, na qual o Grimaldo conseguiu interceptar uma tentativa de remate do Sergi Roberto junto ao poste esquerdo. O Vlachodimos aliás acabou por não ter que fazer uma defesa durante todo o jogo, porque o Barcelona acabou com zero remates à baliza. Aos sessenta e oito minutos, ainda a perder apenas por um golo sem saber muito bem como, o Koeman voltou a mexer mal na equipa, fez três substituições de uma assentada que incluíram as saídas do Pedri e do Busquets, e perdeu o meio campo de vez. Ainda por cima, um minuto depois o Benfica chegou mesmo ao segundo golo. Isto numa altura em que eu até amaldiçoava o facto do Benfica ter desperdiçado uma situação em que de repente vi cinco jogadores do Benfica dentro da área quase sem oposição. A bola seguiu para a esquerda, à entrada da área o João Mário tabelou com o Yaremchuk e isolou-se por esse lado e tentou finalizar (quando tinha, surpreendentemente, o Gilberto em zona de finalização). O Ter Stegen conseguiu defender, mas a bola sobrou para o centro da área onde surgiu o Rafa a finalizar de trivela. E nesse momento acho que percebemos todos que não só o Benfica tinha o jogo ganho, como que muito provavelmente o resultado não ficaria por ali. É que logo a seguir o Yaremchuk atirou para fora quando estava em óptima posição, isto depois de mais uma transição em que os três da frente apareceram na área em boa posição. A quinze minutos do final trocámos o Grimaldo e o Yaremchuk pelo André Almeida e o Taarabt, e um par de minutos depois apareceu mais uma vez o Gilberto na posição de ponta-de-lança para cabecear um cruzamento do André Almeida, o que resultou num penálti claro por corte com a mão do Dest (assinalado pelo VAR). O Darwin concretizou com classe e nos minutos finais deu para tudo. Deu para as substituições do Darwin e do Rafa para os merecidíssimos aplausos, deu para o público gritar 'olés' (coisa que eu não aprecio nada e que acho uma falta de classe) e também para gritar pelo Messi, e deu para o Barcelona ficar finalmente reduzido a dez, por expulsão do Eric García.
É difícil escolher o melhor em campo. Obviamente que o Darwin é um grande destaque pelos dois golos que fez, mas também pelas inúmeras dores de cabeça que causou à defesa do Barcelona. Mas para mim o melhor em campo foi mesmo o Rafa. Eu imagino que nesta fase já pareça um bocado repetitivo por estar constantemente a destacar o Rafa em todos os jogos, mas se eu já era admirador das características do Rafa, desde que ele assumiu estas novas funções mais interiores acho que tem sido absolutamente decisivo, e voltou a sê-lo hoje. Acho que o Barcelona nunca conseguiu encontrar solução para o parar, marcou um golo, causou inúmeros desequilíbrios e ainda conseguiu ter um compromisso defensivo exemplar, sendo sempre um dos primeiros (juntamente com os colegas do ataque) a pressionar e a tentar a recuperação. Jogo enorme também do Weigl (outro dos meus preferidos) que deve ter sido o jogador que mais correu e é um prazer ver a forma como lê o jogo e instintivamente consegue fazer as compensações defensivas quase de olhos fechados, e do João Mário, importantíssimo na ligação entre sectores. Finalmente, os nossos centrais foram quase perfeitos. Quem acabou por ser se calhar o elo mais fraco foi o Grimaldo, que esteve bastante apagado frente ao clube onde se formou.
Uma vitória importantíssima para prolongar e reforçar o óptimo momento que atravessamos. A nossa equipa parece estar com níveis de confiança altíssimos e cada vez mais entrosada - acho que ainda pode render mais e melhor. O Barcelona pode estar num péssimo momento, mas repito o que disse: o Barcelona não é uma equipa qualquer e vencer por três golos sem resposta é sempre muito motivante. Nesta competição seguem-se dois jogos contra o Bayern, que será um nível completamente diferente. Ainda há muito por jogar, mas é sempre bom colocar logo pontos no bolso na fase inicial.
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