Uma vitória muito importante e difícil para o Benfica, como costumam ser quase todas arrancadas no Porto, e que foi acima de tudo o resultado de um jogo feito com muita cabeça por parte do Benfica. Havia um plano para este jogo e ele foi posto em prática, com a nossa equipa a não se desviar dele mesmo quando os acontecimentos do jogo convidavam a fazê-lo. Foi uma exibição sóbria e uma vitória justa, deixando depois ao adversário o habitual papel de tentar inventar polémicas e vitimizar-se, coisa em que são peritos, mas o que não percebem é que só mesmo eles próprios é que acreditam nas fantasias que criam.
Durante todo o caminho para o estádio, no Metro, etc, nem um adereço do Benfica visível. Mas bastaram poucos minutos sentado no meu lugar para perceber que ao meu lado estava um casal de benfiquistas. Bom começo. O mesmo não se pode dizer da entrada do Benfica no jogo. Apresentando o mesmo onze de Paris, apesar do Rafa ter feito a primeira aproximação à baliza e ter conquistado o primeiro pontapé de canto, depressa o Porto assumiu o controlo do jogo. Uma pressão bastante agressiva, sobretudo sobre os nossos médios logo na saída de bola, foi algo com que não conseguimos lidar. Um pormenor interessante é que naquele estádio a pressão sobre a equipa de arbitragem começa ainda antes do apito inicial. Aos dois segundos de jogo então o povo já acha que está a ser espoliado. Urram de descontentamento com qualquer decisão tomada que lhes seja desfavorável, por mais evidente que seja, e exigem um cartão amarelo a cada falta assinalada a um adversário. Foi por isso que rejubilaram com o gatilho leve do árbitro na amostragem de cartões, que fez com que logo nos minutos iniciais e à primeira falta o Bah e o João Mário fossem logo amarelados (os amarelos pareceram-me justos, diga-se). O Benfica revelava grandes difuldades para acalmar e jogar o seu futebol, e a pressão agressiva pareceu afectar sobretudo o Enzo, a quem eu vi cometer mais erros na saída de bola só nos minutos iniciais deste jogo do que em toda a época até agora. Os amarelos aos nossos jogadores, aliás, resultaram de perdas de bola quando tentávamos sair, com muito maus passes. A pressão do Porto culminou com uma grande ocasião de golo à passagem do quarto de hora - que acabou por ser a melhor ocasião de golo de que dispuseram em todo o jogo - quando o Zaidu conseguiu o cruzamento em esforço sobre a linha de fundo e o Taremi cabeceou para uma defesa espantosa do Vlachodimos, daquelas defesas que valem pontos, voando para ir afastar a bola junto ao canto superior da baliza. Esta situação, curiosamente, foi uma espécie de canto do cisne para a pressão intensa do Porto. E não, ao contrário da fantasia que querem vender de que só após a expulsão é que o Benfica conseguiu começar a jogar, isso aconteceu antes, e mais precisamente neste momento. Logo na resposta o Rafa conduziu um contra-ataque perigoso que finalizou com um remate cruzado que infelizmente saiu frouxo, e depois disso o Benfica criou duas ocasiões perigosas. Na primeira o Grimaldo cruzou e o Rafa apareceu completamente sozinho no meio da área para cabecear directamente para as mãos do Diogo Costa, quando poderia ter feito muito melhor, e na segunda o Bah antecipou-se ao Zaidu e cabeceou em balão um cruzamento muito largo, fazendo a bola passar bastante perto do poste.
Esta tendência só se acentuou quando no espaço de três minutos o Eustáquio enfiou duas sarrafadas no Bah e viu dois amarelos, sendo excluído do jogo aos vinte e sente minutos. Amofinaram-se os da casa perante tamanho atrevimento - onde é que já se viu penalizar um jogador do Porto só por cravar uns pitons nas canelas de um adversário - e a partir desse momento o plano do Porto tornou-se óbvio. Liderados pelo Verme, e com o incentivo ululante das bancadas, dedicaram-se afincadamente a tentar fazer cumprir a longa tradição de meter um jogador do Benfica na rua. O Verme atirava-se para o relvado e contorcia-se a cada toque que levava, a turba urrava, e estava o espectáculo armado. O Benfica, em superioridade numérica, não cometeu o erro de se atirar desmioladamente para o ataque, o que certamente permitiria o tipo de jogo partido com transições rápidas de parte a parte que não só seria muito mais vantajoso para a equipa em inferioridade, como se tornaria propício a mais lances que permitissem ao Porto arrancar o tão almejado cartão amarelo. Jogando um futebol de paciência, com muita circulação da bola e variações rápidas de flanco para aproveitar o jogador que acabava sempre por 'sobrar' solto na ala, fomos esperando pela nossa oportunidade para ferir o Porto, e esta poderia ter aparecido a dez minutos do intervalo. Uma excelente iniciativa do Aursnes pela esquerda, na qual deixou o Taremi para trás, terminou com um remate já de ângulo apertado que levou a bola a embater em cheio no poste. Depois ressaltou nas costas do Diogo Costa e foi para a zona frontal da baliza, onde o Rafa se antecipou a toda a gente para cabecear, mas com tanta falta de sorte que levou a bola a embater na barra. Entretanto esta jogada acabou por motivar ainda o Porto na perseguição do seu plano, porque ao tentar rematar na recarga ao remate à barra o Enzo cometeu falta e viu amarelo. As fichas estavam todas colocadas em voltar a igualar as equipas em termos numéricos, mas o resultado prático foi apenas um amarelo patético ao Aursnes depois de uma queda do Taremi no meio campo. Já o Verme, tinha fixado o Bah como alvo e voltou a contorcer-se à procura do segundo amarelo ao dinamarquês, mas apesar de toda a pressão o árbitro lá achou que uma falta normal na zona lateral da área do Porto e outra na lateral da nossa área quando o adversário corria para trás não eram motivo para satisfazer a turba. Revoltou-se e contorceu-se o povo com saudades de um Soares Dias, mas lá fomos para intervalo.
Ou o Roger Schmidt já está informado sobre como é que as coisas funcionam normalmente em Portugal, ou alguém o terá avisado, porque ao intervalo substituímos imediatamente três dos quatro jogadores amarelados. Enzo, João Mário e Bah saíram, Neres, Draxler e Gilberto entraram. O Aursnes foi formar a dupla do meio campo com o Florentino, e os outros dois foram ocupar os lugares nas alas. E logo aí a estratégia do Porto ficou esvaziada. Era óbvio para todos que mais cedo ou mais tarde, mais mergulho menos mergulho, mais grito e espernear do Verme, e o desejado amarelo surgiria. Assim sendo, tudo o que o Porto podia fazer era tentar resistir. Até porque o Benfica veio para a segunda parte com um jogo muito paciente, escondendo a bola do Porto e esperando por uma oportunidade com a confiança de que ela acabaria por surgir. Depois, a entrada do Neres para a direita veio causar bastantes desequilíbrios, obrigando mesmo o Verme a vir ajudar a fechar esse lado e assim impedindo-o de ir para o meio tentar arrancar um amarelo ao Aursnes, o único amarelado que permanecia em campo. Durante mais de vinte minutos, desde o reinício do jogo, o Porto limitou-se a cheirar a bola enquanto o Benfica fazia o seu jogo paciente, com o desequilíbrio na estatística da posse de bola a atingir níveis raramente vistos em jogos entre estas duas equipas. A maior obrigação de vencer o jogo pertencia ao Porto e um empate não seria nunca um mau resultado para o Benfica, mas esta era uma oportunidade demasiado boa de ganhar para ser desperdiçada, pelo que convinha que o Benfica conseguisse causar mais desequilíbrios para chegar ao golo. Pela direita era o Neres quem causava problemas, pela esquerda era sobretudo o Grimaldo, sobrando para o Rafa o papel de arrancar com a bola para cima dos defesas sempre que possível.
O Draxler só durou pouco mais de quinze minutos, e infelizmente o nosso treinador decidiu-se pela entrada do Musa (acho que será muito difícil eu ser um admirador dele), o que fez com que a equipa se reorganizasse com o Gonçalo Ramos como segundo avançado e o Rafa mais encostado à esquerda - a vantagem disto foi que o Grimaldo passou a ter alguém com quem combinar. Entretanto o Porto trocou o Evanilson pelo Veron e conseguiu agitar o jogo, voltando-se a ver algumas transições rápidas. Ironicamente, foi numa delas que o Benfica chegou ao golo. Depois de uma boa iniciativa individual do Pepê pelo nosso lado esquerdo ter terminado num cruzamento a quem ninguém deu sequência, a bola foi ter com o Neres, que a deixou no Rafa. O Rafa fez a condução pela esquerda aproveitando a ausência do Pepê, combinou com o Neres e apesar do passe do Neres desde a linha de fundo ter saído demasiado atrasado, o Rafa ainda conseguiu recolher a bola no meio da área e rodar para fazer o golo com um remate colocado junto ao poste. O auxiliar levantou a bandeirola, o povo rejubilou, mas como o lance foi mesmo à minha frente eu estava com bastante confiança que o golo acabaria por ser validado, o que acabou por se verificar. Entretanto o Verme aproveitou os festejos do golo para tentar agredir o Gonçalo Ramos e obviamente passar impune. Depois, estranhamente, perdemos um bocado o controlo que tínhamos tido até então e permitimos que o Porto recuperasse mais bolas e com isso conquistasse bolas paradas para despejar para a área. Não passámos por grandes apuros, é verdade - os lances de maior perigo foram um cabeceamento do Toni Martínez solto na área, mas que foi direito às mãos do Vlachodimos, e um mau passe atrasado do António Silva que obrigou o Gilberto a fazer um atraso já apertado por um adversário e que acabou por ser mais um remate para a própria baliza - mas isto não nos permitiu um final de jogo tranquilo. Da nossa parte, o maior destaque para um lance em que na direita da área o Neres deixou o Verme sentado e centrou, com a bola a desviar no Carmo para depois o Diogo Costa fazer uma grande defesa para retirar a bola de dentro da baliza, aproveitando para emular mais um pouco o Vítor Baía, e outro lance no qual quase à vontade junto da pequena área o Musa fez aquilo que eu esperaria dele, atirando a bola para a bancada. Final do jogo, a peixeirada habitual, o Verme a agitar o dedo ao árbitro, o cão raivoso a reclamar e a ser expulso, o mergulhador a tentar provocar os nossos adeptos que, ignorando-o, celebravam, a turba ululante a acreditar na fábula de que tinham de alguma forma perdido por causa da arbitragem, e os nossos a festejar tranquilamente a vitória. Foi bonita a festa.
A minha escolha para o melhor jogador do Benfica vai para o Rafa. Não apenas pelo golo, mas também por ter sido sempre o jogador mais perigoso do Benfica durante o jogo. Foram as suas arrancadas que causaram maiores problemas à defesa do Porto e era dele que se esperavam os necessários desequilíbrios para chegarmos à vitória. Felizmente que se auto-excluiu do bando do Santos, e só tenho pena que não haja mais jogadores do Benfica a fazer o mesmo - especialmente tendo que partilhar o balneário com o Verme, o que por si só já deveria ser motivo de auto-exclusão para qualquer jogador do Benfica. Foi bem acompanhado como jogador desequilibrador pelo Neres, cuja entrada na segunda parte foi decisiva. Grande jogo também do Aursnes, que apesar do amarelo arrancado pelo Taremi nunca perdeu a compostura e foi um pêndulo do princípio ao fim; está jogo a jogo a provar o acerto da sua contratação. Gostei também do Grimaldo, em especial na segunda parte. O Vlachodimos foi um guarda-redes sólido, e aquela defesa no início do jogo foi decisiva, porque se o Porto tem marcado nesse lance duvido que o Benfica tivesse conseguido reentrar no jogo.
Vamos em dezanove jogos sem conhecer a derrota (apesar de ainda não termos enfrentado um teste a sério) mas nada está ganho. A atitude e personalidade mostradas no Porto têm que ser mantidas até ao último dia da época. Termos sabido manter a cabeça fria e sermos fiéis ao plano elaborado foi decisivo para esta vitória num jogo em que eles simplesmente aplicaram a fórmula bafienta do costume. Provocações e faltas de respeito antes e durante o jogo, pressão sobre os árbitros, quezílias e tentativas de levar o jogo para o clima conflituoso que sempre os favoreceu, a tudo isso os nossos jogadores foram incólumes. Nada de euforias desmedidas ou triunfalismos - ganhámos um jogo importante no caminho para os nossos objectivos, num campo e ambiente tradicionalmente difíceis, nada mais do que isso. E tenho poucas dúvidas que tudo poderia ter sido diferente se, por exemplo, o árbitro tivesse cedido à pressão que colocaram sobre ele - bastaria por exemplo ter tido um pasteleiro a arbitrar que não sairíamos dali com a vitória. Os dados continuam viciados, como sempre têm estado nas últimas quatro décadas. E é por isso mesmo que não nos podemos descuidar ou desviar um milímetro do caminho traçado.
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