Que vergonha, Herr Schmidt. Parabéns por ter conseguido igualar o JJ neste aspecto, e deixar o seu nome directamente ligado a uma mancha tão negra na história desportiva do Benfica. Uma exibição completamente desastrosa, com a agravante que no caso do JJ enfrentámos uma equipa altamente motivada numa das suas melhores épocas da história, enquanto que hoje defrontámos um Porto absolutamente banal, que consegue perder ou empatar com equipas pequenas e estava nove pontos atrás de nós. Não é vergonha do Benfica, porque só me orgulha ser benfiquista, é vergonha na forma como as pessoas não souberam estar à altura dos nossos ideais.
A época passada vim ao Dragão com uma confiança quase absoluta de que conseguiríamos ganhar o jogo. Esta época regressei com a convicção de que só um milagre nos impediria de perder este jogo. Vim na mesma, porque eu vou ver jogos para ver a minha equipa, não apenas para nos ver ganhar, e se fosse possível e necessário amanhã estaria aqui no Porto outra vez. Mas depois de saber a constituição da equipa, e como tantas vezes tem acontecido esta época, levei mais um forte golpe na minha já escassa confiança e não só passei a achar que não aconteceria qualquer milagre, como também que o que acabou por acontecer era uma possibilidade forte. Não há muito para dizer sobre o jogo da nossa parte, porque fomos uma nulidade completa. Uma única ocasião de perigo, em que o Tengstedt fez aquilo que normalmente faz: aparece em frente à baliza e foge dela, para depois finalizar de ângulo mais difícil (para fora). Aguentámos vinte minutos num jogo em que o Porto fazia o que queria pelas alas, sobretudo na esquerda, onde o Morato, de forma absolutamente expectável para o mundo inteiro menos uma pessoa, era incapaz de parar o Conceição no 1x1, quanto mais quando levava com mais jogadores a surgirem-lhe por ali sem serem devidamente acompanhados. O primeiro golo surge num pontapé de canto, com a bola a ser desviada no meio (e logo pelo Morato, quem mais) para o segundo poste, onde o Galeno estava completamente sozinho para marcar. Lá conseguimos fazer um par de remates, um do Rafa e outro do Di María, um defendido (se não estiver enganado, foi o único remate que o Benfica fez à baliza em todo o jogo) e o outro para fora. Para fechar da melhor forma a primeira parte, sofremos o segundo golo, em mais um dos muitos cruzamentos vindos da esquerda e com uma demonstração de falta de intensidade e permissividade defensiva, com os jogadores do Porto a ganharem as duas bolas divididas dentro da nossa área para o Galeno voltar a marcar - muito mal o António Silva, demasiado macio na abordagem à segunda bola. Não tive quaisquer dúvidas que o jogo estava acabado ali mesmo.
Ao intervalo, Florentino e Carreras nos lugares do Kökçu e do Morato, nada de novo e o Porto a chegar ao terceiro golo aos dez minutos praticamente no primeiro remate que fez, com a bola rematada pelo Wendell (que veio completamente desacompanhado da nossa direita até à entrada da área) a desviar em alguém para bater o Trubin. Trocámos de imediato de ponta de lança, lançando o Cabral, e também o Neres para o lugar do Di María. Depois o nosso capitão, provavelmente a querer dar sequência à brilhante exibição de quinta-feira em Alvalade, onde foi um dos principais responsáveis pela derrota, voltou a fazer asneira, viu dois amarelos no espaço de dez minutos e foi para a rua. Não é que estivéssemos a jogar alguma coisa até esse momento (acho que não fizemos um único remate na segunda parte) mas sabendo que obrigatoriamente estaríamos completamente remetidos ao contra-ataque, consegui irritar-me ainda mais com a opção de retirar o Rafa para colocar outro central, o Tomás Araújo. No fundo, foi um convite ao Porto para subir ainda mais as suas linhas e não ter que se preocupar com algum espaço que pudesse deixar atrás, já que o Cabral encostou-se aos centrais e foi sempre presa muito fácil. A desculpa de poupar o Rafa num jogo que já estava perdido também não pega. Se não o poupámos antes em jogos contra equipas mais fracas que já estavam mais do que ganhos e ele continuou a fazer os noventa minutos ou quase em todos eles, não sei porque o faríamos agora. A goleada era agora quase uma certeza, era apenas uma questão de saber quantos golos o Porto conseguiria marcar frente a uma equipa que parecia ter aceite o seu destino, em inferioridade numérica e encostada atrás. Sobretudo quando era mais do que visível a forma como a nossa esquerda continuava a ser uma via aberta - para além do Conceição, o Pepê vinha sempre do meio para aquele lado, e surpreendentemente o supersónico João Mário não revelava ser grande ajuda defensiva. Portanto foram mais dois golos surgidos por ali, o primeiro pelo Pepê, que simplesmente fugiu por ali e com o Trubin pela frente colocou-lhe a bola no poste mais próximo (péssimo acompanhamento defensivo do Carreras, e Trubin mal batido), e o último pelo Namaso, aproveitando um centro vindo daquele lado (completa falta de agressividade da nossa defesa, incapaz de afastar a bola das imediações da nossa área por um largo período de tempo, e depois o Tomás Araújo ou o Aursnes nem sequer atacam a bola, com o avançado a surgir à vontade no espaço entre eles).
E porque é que menciono directamente o treinador na abertura deste post? Porque acho que é preciso um talento muito peculiar ou uma teimosia inabalável, a ultrapassar a linha da casmurrice, para conseguir extrair tão pouco do plantel que lhe colocaram à disposição. Perante um dos Portos mais banais de que me recordo nos últimos anos conseguimos jogar pior do que uma qualquer equipa que lute pela manutenção e ser goleados. Estamos em Março. Nesta altura ainda não temos um onze base definido. Mudamos de jogo para jogo, quanto mais não seja para baralhar e voltar a dar, redistribuindo os jogadores por diferentes posições ou funções. Continuamos, de forma absurda, a jogar com adaptações, forçando jogadores a jogar fora das suas posições naturais em detrimento das opções naturais para as posições. Ristic, Juràsek, Bernat, Carreras, nenhum deles serviu ou serve para a posição de lateral esquerdo, e em vez disso continuamos a ter que levar com a aberração Morato, ou o Aursnes. Na direita, ainda bem que não gastámos dinheiro em mais um lateral neste mercado porque certamente não jogaria também. O Bah regressou da lesão, estava a subir de rendimento à medida que somava os necessários minutos, voltou para o banco para metermos um médio centro na sua posição. Temos dois médios que podem desempenhar as funções mais defensivas no plantel. Um anda ocupado a jogar a defesa direito, esquerdo, ou médio ala. O outro foi uma peça importante a época passada, mas este ano para jogar ali levamos sistematicamente com um número dez que custou 30 milhões ou ultimamente com o João Mário, que não tem a intensidade física necessária para essa posição, sobretudo em jogos mais exigentes. João Mário que também serve para jogar na direita. Ou na esquerda. Ou atrás do avançado. Tal como o Aursnes ou o Kökçu. Já os inúmeros alas que temos no plantel, são quase sempre segundas opções ou nem isso para o lado esquerdo. Até gastámos um pouco mais para trazer um ala já em Janeiro. Não joga, há sempre um médio centro que pode fazer a posição. Gastámos vinte milhões num ponta-de-lança, depois mais dezoito noutro. Não jogam também, e quando um até começava a dar sinais de alguma utilidade e a marcar golos com alguma regularidade, foi recambiado para o banco. Repito: estamos em Março, e parece que ainda andamos a fazer experiências típicas de uma pré-época. Eu já nem peço muito ao nosso treinador, simplesmente que estabeleça um onze base que consiga criar rotinas de jogo e que coloque os jogadores a jogar nas suas posições. Acho que não é estar a pedir demasiado.
Depois de uma derrota destas espero que haja alguém com o mínimo de noção para dar um murro na mesa, porque este pode ser um momento absolutamente fulcral nesta época. A capacidade ou não da equipa para reagir a isto determinará o resto da época. E espero também que haja um mínimo de noção para perceber que este resultado não veio do nada, muita gente previa esta possibilidade quando chegássemos a estes jogos. Houve razões para que isto acontecesse, e essas razões têm sido cada vez mais óbvias a cada jogo que passa. Acho que todos tínhamos pelo menos algum receio de que isto poderia acontecer contra uma equipa que jogasse com a intensidade suficiente e a esperteza para explorar as lacunas e fraquezas que a nossa equipa persiste em demonstrar desde o início da época. Temos andado a tentar a sorte constantemente e desta vez acabou por correr mesmo muito mal.
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