No regresso à competição oficial o Benfica deixou a pré-eliminatória da Champions bastante bem encaminhada, com uma vitória clara por 4-1 frente aos dinamarqueses do Midtjylland num jogo em que a diferença de qualidade entre as duas equipas foi bastante clara. Mas creio mesmo assim serão poucos os benfiquistas que não acharão que este resultado peca por ser bastante escasso face ao voluma de situações claras de golo criadas (e desperdiçadas) pelo Benfica.
O onze apresentado foi o mais esperado, já que foi aquele que mais vezes vinha a ser utilizado nas primeiras partes dos jogos de preparação. Esta equipa apresenta apenas dois reforços 'e meio': Enzo Fernandez e Neres, mais o regressado Florentino. Todos os outros são jogadores que já estavam no clube, e a diferença na forma de jogar é um bom exemplo da influência que um treinador pode ter numa equipa, mesmo com tão pouco tempo de trabalho. Quanto ao jogo, foi praticamente de sentido único, com o Benfica a assumir as despesas do mesmo durante quase todo o tempo e os dinamarqueses quase todos acantonados dentro da sua área. Até fiquei com a sensação de que o Benfica não foi tão sufocante como o vimos nos jogos de preparação, mas a pressão alta também acaba por ser menos visível quando o adversário não mostra grandes intenções de sair a jogar, e em vez disso opta por despachar a bola para a frente em futebol directo a maior parte das vezes. Também achei que houve menos jogo pelos flancos do que o habitual, sendo o Neres a evidente excepção. A resistência dos dinamarqueses durou cerca de um quarto de hora, altura em que o Neres fabricou o golo no flanco direito para o oferecer ao Gonçalo Ramos, que num grande movimento de ponta-de-lança ganhou a frente ao marcador directo para dentro da pequena área fazer o cabeceamento. Pouco depois da meia hora, lance quase a papel químico: mais uma vez o Neres na direita a fazer o que quis do adversário e a centrar depois de ganhar a linha de fundo, e o Gonçalo Ramos a cabecear para o segundo. O Gonçalo Ramos antes já tinha ficado a centímetros de chegar ao um cruzamento do Gilberto, e logo a seguir voltou a fazer o mesmo, quando o Benfica pressionou alto e depois de recuperada a bola, o Rafa na cara do guarda-redes tentou servi-lo, mas o passe saiu uns centímetros adiantado. Mas o terceiro golo surgiu mesmo a cinco minutos do intervalo: canto na esquerda marcado pelo João Mário em balão para a entrada da área, e o Enzo rematou de primeira, com a bola a sofrer um ligeiro desvio num defesa e a seguir imparável para o fundo da baliza.
Três a zero ao intervalo, e era razoável esperar pelo menos outros tantos na segunda parte. Que só não aconteceram por falta de aproveitamento, porque o número de ocasiões de golo que criámos até foi superior ao da primeira parte. Quase sempre com o Gonçalo Ramos em destaque, só no primeiro quarto de hora foram quatro situações clamorosas de golo. Gonçalo Ramos a abrir, num cabeceamento que o guarda-redes defendeu levando a bola ainda a embater novamente no Ramos e a sair, João Mário em posição frontal privilegiada a atirar ligeiramente por cima, novamente o Gonçalo Ramos dentro da área a tirar um defesa da frente e depois só com o guarda-redes pela frente a permitir a defesa (e ainda tinha dois colegas à frente da baliza a quem poderia ter passado a bola) e finalmente o Neres, num contra-ataque conduzido pelo Rafa que o deixou à frente do guarda-redes, a atirar à barra. Mas a fechar estes quinze minutos frenéticos o golo praticamente inevitável apareceu mesmo, e quase sem surpresas pelo Gonçalo Ramos, que assim completou o hat trick. Insistência do Rafa pela direita, que depois de receber a bola na área vinda de um lançamento de linha lateral ainda conseguiu em esforço tocá-la para trás e evitar que se perdesse pela linha de fundo, e depois grande recepção do Gonçalo Ramos e rotação para rematar cruzado por entre as pernas do guarda-redes. O Benfica pareceu então abrandar um pouco o ritmo, e o Midtjylland aproveitou para chegar ao golo de honra (que pouco ou nada fez por merecer) a um quarto de hora do final, num penálti cometido pelo Morato. Já com o Henrique Araújo e o Yaremchuk nos lugares do Rafa e Gonçalo Ramos, alinhando num esquema mais próximo do 4-4-2 em vez do 4-2-3-1 inicial, ainda assim a dupla de avançados criou já perto do fim duas ocasiões flagrantes para marcar, tendo numa o Henrique Araújo atirado ao lado e na outra o Yaremchuk viu o seu remate ser defendido, para depois um defesa cortar em cima da linha.
O destaque maior tem que ser o Gonçalo Ramos, pelo hat trick e ainda as várias ocasiões que criou, mostrando o erro que foi a época passada colocá-lo a jogar em posições mais afastadas da zona de finalização. Pode não ser um avançado exuberante, mas tem golo e é perto da baliza que tem que estar. Outro grande destaque é o David Neres, que é uma das grandes contratações para esta época. É um upgrade brutal em relação ao Everton, até porque preferindo o pé esquerdo está também à vontade para cruzar com o pé direito, como o fez nos dois primeiros golos - que foram por si fabricados. Por isso um defesa fica sempre na dúvida sobre o que ele irá fazer, e se por acaso decidir entrar com tudo o mais provável será ser irremediavelmente ultrapassado. Menção também para os dois médios: o Enzo é talvez o primeiro número oito a sério que temos desde que o Renato Sanches saiu. É um verdadeiro box-to-box, com capacidade de recuperação da bola mas também técnica de passe e visão para fazer o importante primeiro passe na saída em transição assim que a bola é recuperada (e é também capaz de fazer ele o transporte da bola, se for necessário). Mais uma contratação em cheio para uma posição em que andamos em claro défice há anos. Finalmente, o Florentino. Eu admito ser altamente suspeito para falar sobre ele, porque sou admirador do futebol dele desde as camadas jovens. Para mim é daqueles jogadores que quando está em campo faz logo com que a equipa possa jogar dez metros mais adiantada - a capacidade de leitura do jogo e tempo de entrada aos lances que ele tem permitem-lhe recuperar inúmeras bolas. É o único verdadeiro número seis que temos no plantel, o que mostra o quão incompreensível e errada foi a sua dispensa nas duas épocas anteriores. Parece-me que está na calha para ser uma peça chave na estratégia do nosso novo treinador, e pode ser que seja esta a sua época de afirmação definitiva.
Salvo alguma hecatombe, a eliminatória deverá estar quase resolvida. Agora é vermos de que forma é que esta equipa estará preparada para fazer frente às habituais armadilhas e condicionantes que nos atiram internamente. Há até alguns que a semana passada já prometiam ir festejar o título a uma terra qualquer (ai se fosse alguém do Benfica a dizer uma coisa parecida...). É preciso um grande grau de confiança no status quo instalado no futebol português para se andar já a fazer essas previsões.
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