Mais um jogo de sofrimento, apesar das melhoras serem visíveis, e que foi resolvido por um herói improvável. Arrisco dizer que se o Benfica não estivesse neste momento a jogar com tanto nervosismo este jogo teria sido facilmente ganho, e com um resultado mais expressivo, mas o que queremos neste momento são vitórias mesmo, nem que seja pela margem mais magra.
Mesmo com o regresso do Bah aos convocados o Aursnes continuou a ser a aposta para a lateral direita, ficando os dois laterais direitos do plantel no banco. O João Neves também manteve a titularidade no meio e desta vez formou dupla com o Florentino, o que significou ser o Chiquinho a começar no banco. Normalmente não costumam ser necessários muitos minutos para perceber qual a disposição da equipa e de que forma abordamos um jogo. E por isso achei logo de início as coisas diferentes, para melhor. Há ainda jogadores em má forma e abaixo do rendimento exigível, mas gostei da atitude e a equipa pareceu-me mais solta. A parte dos nervos continua a surgir nas alturas de finalização/definição de muitas das jogadas, e também em termos defensivos sempre que os adversários se aproximam de forma mais consistente da nossa área. Isso aconteceu mais uma vez neste jogo, em que o Gil Vicente nem sequer criou muitas jogadas de perigo, mas quando o fez foi quase sempre através de remates exteriores porque a nossa equipa hesitava demasiado na altura de sair ao portador da bola, permitindo que os remates tivessem sido feitos com relativo à vontade. O Benfica teve sempre o domínio territorial no jogo e como, ao contrário do Chaves, o Gil Vicente pareceu tentar jogar futebol, houve sempre espaço suficiente para as transições e para construirmos ocasiões de perigo. Conforme disse, a definição continua pelas ruas da amargura, mas as movimentações constantes do Neres ou do Rafa no ataque criaram sempre problemas de posicionamento à defesa do Gil, até porque apostaram muito na estratégia do fora-de-jogo - funcionou a maior parte das vezes e tivemos dois golos bem anulados por isso (embora eu ache que houve também demérito nosso na forma como o passe demorou a sair), mas quando a estratégia falha pode ter resultados desastrosos. Foi assim que o Neres se viu completamente isolado pela direita, com tempo para progredir até à área e finalizar à vontade. Infelizmente, falhou de forma escandalosa. E foi mesmo um falhanço, nem posso considerar mérito de uma grande defesa do guarda-redes. Ele já estava até no chão, mas o Neres simplesmente chutou contra ele. Esse lance deu mote para uns minutos finais da primeira parte de pressão intensa da nossa parte, com o Gil Vicente incapaz de sair do seu meio campo. E mais uma ocasião desastradamente falhada, na qual o Aursnes pela direita colocou a bola redondinha na área para o remate do Florentino à vontade. Mas o Florentino apenas conseguiu fazer um remate muito enrolado, que ainda assim obrigou uma defesa muito apertada do guarda-redes. Na recarga, o Neres voltou a ter tudo para marcar mas o guarda-redes acabou por cair em cima da bola. O intervalo chegou portanto com um sentimento de frustração, sabendo-se que estes falhanços em nada deveriam contribuir para acalmar os nervos da equipa.
Mas o Benfica jogou literalmente em casa. O estádio em Barcelos estava lotado, e quase toda o público era adepto do Benfica, não se cansando de apoiar e incentivar a equipa do princípio ao fim do jogo. Muito útil contra crises de nervos, em vez dos assobios. O Benfica continuou a mandar no jogo, se calhar de forma ainda mais declarada porque o Gil Vicente ainda atacou menos do que na primeira parte, mas paradoxalmente não era tão perigoso como tinha conseguido ser durante a o primeiro tempo. O que acabou por ser a grande diferença deste jogo para anteriores veio do banco. Um João Mário em claríssima quebra de rendimento não foi obrigado a ficar em campo os noventa minutos, e com uma hora de jogo decorrida deu o seu lugar ao Gonçalo Guedes, entrando também o Gilberto para o lugar do Neres - o que significou a subida do Aursnes na direita. E dez minutos depois, mais duas mudanças que se revelaram decisivas: entradas do Chiquinho e do Musa para os lugares do Florentino e do Gonçalo Ramos. Foi preciso esperar apenas um minuto para a bola no meio seguir do Gilberto para o Chiquinho e deste para o Musa, que abriu para o Aursnes na direita. Este levantou a cabeça e colocou a bola bem no meio da área, onde surgiu o Chiquinho solto para marcar um improvável golo de cabeça. Na jogada intervieram três dos quatro jogadores vindos do banco. Quem diria que mexer na equipa durante um jogo que está a correr mal às vezes até dá resultado? Nas bancadas, explosão enorme e o libertar de toda a tensão que se vinha a acumular ao longo dos minutos. Confesso que mesmo com a vantagem magra, ao ver a forma como o golo foi festejado pelos nossos jogadores fiquei convencido que não só a vitória já não nos fugiria como que o resultado não ficaria por ali. Porque os jogadores vindos do banco, em especial o Chiquinho e o Musa, mexeram mesmo com o jogo e com a equipa. Mesmo em termos psicológicos era importante ganhar por mais, e esse golo tão necessário surgiu já dentro dos últimos dez minutos. Uma falta sobre o Gonçalo Guedes na esquerda deu origem a um livre perigoso. No cruzamento, a bola foi disputada no ar entre o Musa e um defesa, e depois de ser afastada foi ter aos pés do Aursnes, que fez um cruzamento largo para o segundo poste. Aí apareceu o Otamendi em óptima posição para marcar, mas infelizmente tinha uma Carraça agarrada a ele que não lho permitiu fazê-lo. Para o árbitro Fábio Veríssimo estava tudo bem, mas o VAR acabou por alertá-lo e foi assinalado penálti no lance entre o Musa e o defesa do Gil Vicente, por mão deste último. Para mim, sinceramente, não seria lance para penálti. Mas sobre o Otamendi era, e não só isso mas também seria o segundo amarelo para o Carraça. O que interessa é que a bola foi para a marca dos onze metros e o Grimaldo colocou um ponto final no assunto. Pena só que até final o Musa não tenha conseguido fazer um golo que merecia, porque finalizou bem ao picar a bola sobre o guarda-redes mas esta foi embater na trave.
O jogo foi ganho a partir do banco. O Chiquinho e o Musa são por isso destaques, porque estiveram nas jogadas dos dois golos e mexeram muito com o jogo. A saída do João Mário foi também importante. Na forma actual o João Mário ajuda pouco e acaba mesmo por emperrar muito as nossas jogadas de ataque. E é por isso que tenho sempre alguma dificuldade em aceitar pacificamente quando ouço os benfiquistas a colocar o João Mário e o Rafa no mesmo saco. Estão ambos longe da melhor forma, é verdade, mas o Rafa mesmo definindo mal está sempre a entregar-se ao jogo, a pedir outra bola, e a velocidade e movimentações dele colocam uma defesa em sentido. O Neres foi outro que não esteve mal, apenas pecou na definição. Aquele falhanço podia quase transformar-se num momento Bryan Ruiz desta época. O Aursnes melhorou quando subiu no terreno, e espero que isto seja suficiente para não o voltar a colocar na defesa. O puto João Neves não esteve tão em evidência como no jogo anterior, mas a entrega ao jogo e a energia que dá ao meio campo foram muito importantes.
Mais um passinho dado, faltam mais três num caminho cheio de pedras. Sobretudo quando assistimos às pedras a serem retiradas do caminho do maior adversário, enquanto tentam a toda a força estender-lhes uma passadeira azul para o título. Certamente invejosos pelo facto de há cerca de um mês ter saído uma estatística que mostrava estarem apenas no quarto lugar mundial no que diz respeito a penáltis a favor, meteram mãos à obra em desde aí até agora encetaram uma recuperação fantástica que já os colocou no primeiro lugar dessa mesma tabela. Quanto a nós, espero mesmo que este jogo signifique uma injecção de muito necessária confiança na nossa equipa, para podermos enfrentar o que se avizinha. Tenho curiosidade no artista que virá à Luz para o jogo com o Braga - acho que não será o pasteleiro, porque esse esteve cá há pouco tempo e já deve estar reservado para a visita ao Lumiar. Pode ser que venha o artista que nos retirou da Taça de Portugal, para ver se repete a graça.
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