Uma vitória em Portimão algo inesperada pelos números da mesma, mas começa a ser difícil saber o que esperar de um Benfica cujo traço mais previsível é mesmo a sua imprevisibilidade, com oscilações exibicionais radicais não só de jogo para jogo como até por vezes dentro do mesmo jogo. Esta inconsistência é para mim um dos principais factores que ajudam a explicar a má época realizada.
Depois do descalabro contra o Gil Vicente especulou-se que poderíamos abandonar o esquema de três centrais, mas tal não se verificou. Fizemos duas alterações no onze, com a saída do Weigl (forçada) e do Waldschmidt, entrando para os seus lugares o Gabriel e o Pizzi. Pela frente apanhámos um Portimonense cuja estratégia passava por entregar-nos o comando do jogo enquanto se encolhia atrás, para depois tentar sair com futebol muito directo para os três jogadores da frente, em especial para o Beto. E a estratégia pareceu resultar durante a primeira parte. O Benfica teve um óbvio ascendente territorial durante este período, assumindo quase na totalidade as despesas do ataque, mas para tanto domínio foram poucas as vezes que conseguiu criar perigo ou sequer situações de finalização. O Portimonense por sua vez, das raras vezes que ia à frente conseguia, quase sempre pelo Beto, causar incómodo à nossa defesa. Dos três centrais, o Vertonghen jogava mais solto e descaído sobre a esquerda, dando maior liberdade ofensiva ao Grimaldo e subindo ele próprio muitas vezes até terrenos mais adiantados, e o Boa Morte tentava frequentemente explorar o eventual espaço deixado na esquerda. Mas o maior problema era mesmo o Beto, que os restantes dois centrais tinham bastante dificuldade em controlar, não só por causa da mobilidade dele mas também pela força física. A dois minutos do intervalo, foi mesmo ele quem colocou o Portimonense em vantagem. Depois de uma iniciativa do Boa Morte pelo lado esquerdo da nossa defesa, a bola foi colocada nas costas dos centrais e o Beto escapou pelo meio do Lucas Veríssimo e do Otamendi para finalizar com um remate cheio de força. Apesar da exibição do Benfica não ser a mais colorida, chegar em desvantagem ao intervalo era um castigo demasiado cruel e injusto para aquilo que se tinha passado na primeira parte, e felizmente que conseguimos evitar que isso acontecesse, pois literalmente no último segundo dos dois minutos de tempo de compensação conseguimos chegar ao empate. O Vertonghen subiu com a bola pela esquerda e colocou-a na área para o Grimaldo de cabeça assistir o Pizzi, que com uma boa recepção tirou da jogada o marcador directo e depois colocou muito bem a bola junto da base do poste mais distante. Um golo muito importante, porque certamente que a disposição da equipa seria diferente caso chegássemos ao intervalo em desvantagem.
Para a segunda parte, uma alteração táctica que acabou por se revelar decisiva: saiu o Gabriel, amarelado desde o sexto minuto e que na verdade não estava a fazer uma exibição muito positiva, e entrou o Darwin. Assumíamos o risco de jogar com o Taarabt como médio em teoria mais defensivo, passando o Pizzi a actuar numa zona mais central, mas tendo em conta a forma como o Portimonense se fechava constantemente atrás e pouco pressionava no meio campo era uma alteração que fazia sentido e que nos dava maior presença na área. Não começou bem o Darwin: logo no primeiro minuto desperdiçou de forma inacreditável uma ocasião para colocar-nos em vantagem, quando em posição privilegiadíssima em frente à baliza recebeu um passe do Pizzi depois de uma boa troca de bola pela direita que envolveu também o Diogo Gonçalves e um passe de calcanhar do Rafa, e conseguiu rematar por cima. Redimiu-se apenas quatro minutos depois: solicitado por um passe do Taarabt para as costas da defesa, ganhou em velocidade e força pelo meio de dois defesas que o tentavam estorvar e à saída do guarda-redes marcou. Em desvantagem o Portimonense finalmente subiu um pouco as linhas e foi uma festa para o Benfica. Na altura em que o Benfica chegou ao terceiro golo, o que aconteceu um pouco menos de quinze minutos depois do segundo, já entretanto tinha desperdiçado três ocasiões soberanas para marcar, a mais escandalosa delas quando o Darwin apareceu isolado em frente ao guarda-redes e em vez de finalizar decidiu tentar fazer a assistência para o Seferovic, saindo-lhe o passe para trás do colega e perdendo-se assim a jogada. O golo, esse nasceu de uma incursão do Diogo Gonçalves pela direita, com o Rafa a deixar passar a bola para o Seferovic receber junto da marca de penálti e finalizar de pé direito, colocando a bola bem no ângulo superior. O jogo ficava cada vez mais resolvido para o nosso lado. As ameaças do Portimonense eram sempre pelo suspeito do costume (Beto) mas até este foi perdendo gás à medida que o jogo caminhava para o final. Aos setenta e três minutos o Seferovic bisou, marcando outra vez de pé direito. Grande passe do Grimaldo desde a esquerda a fazer a bola cruzar rasteira toda a área para o Seferovic aparecer sozinho na zona do segundo poste a empurrar. Com o jogo completamente controlado fomos fazendo várias substituições, entrando o Pedrinho, o Gilberto e o Everton, e foi este último quem fixou o resultado final na última jogada do encontro. Escapou à defesa descaído pela direita (bom passe do Pedrinho), evitou o guarda-redes e acabou por marcar de ângulo quase fechado, com um defesa quase a conseguir cortar a bola em cima da linha.
O Seferovic volta a ser o homem do jogo após mais um bis. A entrada do Darwin foi talvez o factor mais importante para dar a volta ao jogo, mas não o posso considerar o homem do jogo depois de ter falhado dois golos feitos. Bom jogo dos nossos laterais, com o Grimaldo a somar duas assistências e o Diogo Gonçalves uma. Também gostei do jogo do Vertonghen, e de vê-lo subir no terreno com a bola controlada. E gosto sempre de ver o Rafa, que com as suas acelerações e movimentações é sempre um jogador de quem se pode esperar que crie desequilíbrios no ataque.
Confesso que não estava com a confiança em alta para este jogo, depois do que (não) jogámos contra o Gil Vicente e tendo em conta o momento actual do Portimonense, tendo por isso ficado agradavelmente surpreendido com o resultado e o futebol apresentado em alguns momentos do jogo. Não fosse o apagão do último jogo e neste momento não só continuaríamos com o segundo lugar ao nosso alcance como até o primeiro já não seria uma completa miragem, face à quantidade de pontos desperdiçados pela gente do Lumiar. Mas isto é de facto aquilo a que o Benfica esta época me habituou: não saber o que esperar. Não conseguirmos ser uma equipa mais consistente é aquilo que mais tem contribuído para o insucesso.
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