Depois de três quartos do jogo a ver jogar e a actuar de forma perfeitamente inócua, uma reacção na fase final do jogo permitiu-nos ir para a segunda mão das meias-finais da taça com a eliminatória em aberto. O pouco que jogámos deu para reduzir a derrota à margem mínima e não deu para mais do que isso porque arranjaram forma de nos sonegar um golo.
Jogámos com o mesmo onze que tinha goleado o Portimonense. Depois do resultado é fácil começar por aqui para justificar a derrota, mas eu não vou por esse caminho. Nem acho que a estratégia escolhida fosse errada, o que eu acho é que foi mal implementada. De que serve apresentar uma frente de ataque móvel e rápida se depois não jogamos de forma a explorar essas características? O espaço estava lá, esteve sempre durante os noventa minutos, mas durante quase todo o tempo o Benfica não o conseguiu explorar. As transições não existiram e em vez disso optámos por um jogo sem risco, em que segurávamos a posse de bola e a tínhamos quase sempre que fazer passar pelos pés do João Mário, cheio de passes lateralizados e sem progressão. Ninguém arriscava um passe a explorar o espaço (e ao fim de algum tempo os jogadores da frente deixaram de correr à espera de algum passe que nunca surgiu). O resultado disso foi que apesar da posse de bola ser muito repartida ao intervalo, eu não contei um único remate da nossa parte, ou sequer uma aproximação à baliza adversária com o mínimo de perigo. Foi uma primeira parte literalmente deitada fora. A diferença para o Sporting era óbvia. Eu há muito tempo que considero o Sporting do Amorim uma equipa de processos bastante simples e eficazes. Fazer chegar a bola a zonas de finalização da forma mais rápida e menos complicada possível é uma das chaves. Com o Gyokeres, se for preciso ficam a trocar a bola no seu meio campo até conseguirem uma aberta para colocar a bola no espaço que o sueco vai atacar, e com isso esticam imediatamente o jogo (é semelhante ao que o Benfica fazia no tempo do Lage, com o Seferovic como ponta de lança). Tivemos portanto uma primeira parte entre uma equipa de futebol vertical, e outra de futebol lateral. Depois não ajudou que quase na primeira vez que o Sporting chegou à frente com perigo (só não digo que foi a primeira porque instantes antes um dos artistas da batota que eles têm, o Pedro Gonçalves, já tinha tentado sacar um penálti), aos nove minutos, chegou também ao golo. Incompreensível como deixamos que façam superioridade numérica sobre o Bah na zona do poste direito, e o Pedro Gonçalves cabeceou o cruzamento vindo do outro lado para fazer a bola entrar após embater no poste. Foi uma primeira parte completamente perdida da nossa parte, e o segundo golo do Sporting esteve sempre mais perto de acontecer do que um golo nosso.
Se esperava alguma mudança na segunda parte, o que não esperava era que ela fosse a entrada do Morato. Pouco mudou em relação ao que tínhamos visto na primeira parte, mas logo nos minutos iniciais vimos o outro artista da batota em campo, o Edwards, a tentar sacar mais um penálti. O Fábio Veríssimo, apesar da simulação grosseiríssima por parte do inglês, solícito apontou imediatamente para a marca de penálti. Valeu que o Gyokeres estava em posição irregular no início do lance. Se o jogo continuava como na primeira parte, continuava portanto também muito mais provável um segundo golo do Sporting do que uma reacção nossa, o que voltou a acontecer aos nove minutos. E aconteceu num lance com a chancela do nosso capitão Otamendi. Se o António Silva fez durante praticamente todo o jogo uma marcação quase exemplar ao jogador mais perigoso do Sporting, o Otamendi com a sua mania de tentar antecipar-se e entrar à queima aos lances acumulou erros. Este foi mais um, e deixado sozinho ainda que descaído sobre a nossa esquerda o sueco fez aquilo que sabe, veio para o meio e marcou, com a bola mais uma vez a bater no ferro antes de entrar. Tornava-se agora imperativo marcar um golo, e com uma hora de jogo trocámos o Neres pelo Tengstedt, o que deslocou o Di María mais para a esquerda para actuar como extremo puro. Foi do pé esquerdo dele que, aos sessenta e oito minutos, saiu o cruzamento que permitiu ao Aursnes finalizar para golo, num lance em que surgimos em superioridade numérica na área. E este golo foi suficiente para fazer a confiança do Sporting abanar, e a nossa equipa descobrir que se calhar tentar jogar futebol em vez de simplesmente guardar a bola era capaz de dar mais resultado. A partir do golo o Benfica passou a estar mais por cima do jogo, com o Sporting a responder sobretudo através das bolas longas para o ataque ao espaço por parte do Gyokeres. Quatro minutos depois do primeiro golo, nova jogada pela esquerda, desta vez entre o Di María e o Kökçu, acabou com um remate de trivela do Di María para o golo, após passe do turco. Ninguém do Sporting sequer protestou, muito menos o guarda-redes, porque não havia nada para protestar. Mas o artista Fábio Melo na cabine do VAR encontrou uma desculpa para nos anular o golo, descortinando um fora de jogo posicional do Tengstedt, com a anulação a ser festejada ainda mais ruidosamente pelo povo da casa do que qualquer um dos golos - acho que deviam ter a noção do que seria o final do jogo se o golo tivesse sido validado. Apesar de termos estado por cima até final, com o jogo, ao contrário do que tinha acontecido até então, a ser quase sempre disputado no meio campo do Sporting, não conseguimos encontrar arte ou inspiração para voltar a marcar e nem conseguimos criar jogadas de grande perigo. Mas as coisas até poderiam ter acabado bem piores para nós mesmo no final, não fosse o Paulinho estar fora de jogo na marcação de um livre que resultou num grande golo do Nuno Santos, num remate de primeira de fora da área sem deixar a bola cair.
O nosso melhor em campo foi para mim o António Silva. Já no jogo anterior tinha mostrado ser perfeitamente capaz de lidar com o Gyokeres, ganhando-lhe a grande maioria dos duelos individuais e conseguindo impedir que ele rematasse ou arrancasse em direcção da baliza. Mas tal como no jogo anterior, o sueco fugiu para a zona do Otamendi e encontrou aí o ouro. O número de desarmes, intercepções e remates bloqueados (uma boa parte deles precisamente ao Gyokeres) foram uma demonstração do seu valor. Para além dele, o Aursnes, na sua habitual missão de sacrifício a jogar onde calhar, também fez um bom jogo, sobretudo quando passou para a direita. Marcou um golo que pode vir a ser importante. Muito trabalho por parte do João Neves, e se é para termos obrigatoriamente o João Mário na equipa, consegue ser bem mais útil no meio do que na esquerda.
Não podemos deitar fora uma parte inteira e mais metade de outra sem jogar e esperar resultados de jogos destes. Não consegui perceber a atitude expectante do Benfica, com medo de arriscar, como se ganhássemos alguma coisa em guardar a bola longe de zonas decisivas. Mérito apenas como depois de tanto tempo tão mal, ainda fomos capazes de arranjar capacidade para ir buscar alguma coisa ao jogo e trazer a decisão da eliminatória para nossa casa. Mas num jogo para o campeonato não há segunda mão, e mais uma exibição nestes moldes pode deitar tudo a perder.
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