Mais um jogo, mais uma vitória folgada obtida com toda a naturalidade. É sobretudo isto que há a destacar: os níveis de confiança estão tão altos que tudo parece acontecer com a maior naturalidade, com a equipa a dar a sensação de fazer tudo de forma simples e de tornar fácil aquilo que se afigura difícil.
Já sabíamos que o Aursnes e o Gonçalo Ramos era ausências certas para este jogo, e por isso as escolhas do Florentino e do Musa para o onze não surpreenderam ninguém. A grande surpresa foi mesmo a presença do Chiquinho em vez do David Neres, uma espécie de recompensa pelo grande jogo que ele fez em Israel depois de ter entrado à meia hora de jogo. O jogo iniciou-se com uma grande ocasião para o Benfica, na qual o Rafa rematou ao lado depois de isolado pelo Musa. Os primeiros minutos foram relativamente equilibrados, como Estoril a tentar manter uma equipa muito compacta, de linhas muito juntas, de forma a evitar o habitual jogo entre linhas que o Benfica pratica. O médio mais recuado juntava-se aos defesas para formar uma linha de cinco, e depois a linha média ficava praticamente encostada aos defesas. O Vlachodimos ainda foi obrigado a fazer uma grande defesa com o pé quando o Estoril conseguiu isolar um jogador à sua frente - não sei se, caso desse golo, o lance seria validado porque pareceu haver um toque com o braço, mas com o Hugo Macron no VAR o mais provável é que fosse mesmo validado. Mas com este Benfica já nos habituamos a esperar que um golo surja em qualquer instante, e por isso quando os comentadores pareciam ir esfregando as mãos de satisfação com a réplica que o Estoril conseguia dar até aos vinte e cinco minutos de jogo, o Grimaldo arrancou um centro largo da esquerda e o Musa, muito à semelhança do que fez em Israel, apareceu na área a antecipar-se a toda a gente e a marcar com um belo cabeceamento. Estavam abertas as comportas e cinco minutos depois, dando sequência a uma pressão constante do Benfica que não abrandou com o golo, o António Silva aumentava a vantagem: canto do Enzo na direita, desvio de calcanhar do Chiquinho na zona do primeiro poste, e finalização também de calcanhar do miúdo para o golo. Mais um lance a demonstrar não só a confiança da equipa, mas o enorme à vontade com que o nosso central ainda júnior joga. Não vou mentir: depois deste golo antecipei logo uma goleada e comecei a fazer contas aos golos que ainda poderíamos marcar. O Estoril ainda criou mais um momento de perigo, num canto, em que o Musa cortou uma bola em cima da linha de forma um pouco desastrada chutando para cima e fazendo-a bater com força na parte inferior da barra. O António Silva evitou a recarga, o Benfica recuperou a bola e conduziu o contra-ataque pelo Rafa e Grimaldo, terminando com um passe para o Enzo e o remate foi defendido quase em cima da linha pelo guarda-redes, com a bola depois a ser afastada por um defesa quando rolava para dentro da baliza. Evitou o Estoril o terceiro golo aqui, mas logo a seguir, a quatro minutos do intervalo, já não conseguiu fazer o mesmo. Novo pontapé de canto, desta vez na esquerda, marcado de forma curta para o Rafa, centro largo para o segundo poste onde o Florentino ganhou e tocou de cabeça para o meio, e o António Silva apareceu completamente sozinho quase em cima da linha para confirmar o golo de cabeça.
O jogo estava ganho, mas quando uma equipa parece divertir-se e ter tanto prazer em jogar sabemos que a procura por mais golos não vai parar. Que diferença para tempos recentes em que nos víamos chegar ao primeiro golo e imediatamente tentar 'gerir' o resultado diminuindo o ritmo e recuando linhas. Por isso o assalto à baliza estorilista continuou, com toda a naturalidade. O Rafa ameaçou, depois foi dele o passe para o Musa atirar ao poste e não havia meio do Benfica sair das imediações da área do Estoril, mesmo que nunca parecesse estar a forçar em demasia - é assim que se faz gestão de esforço, com a bola e a manter o adversário sempre em sentido, não é dando a bola ao adversário e oferecendo-lhe a iniciativa. Após vinte minutos fizemos três trocas de uma vez: Musa, Rafa e Chiquinho pelo Henrique Araújo, Diogo Gonçalves e David Neres, e na primeira vez que tocou na bola o Neres aproveitou um mau passe do Estoril para isolar o João Mário pelo meio, que só com o guarda-redes pela frente finalizou facilmente para fazer o quarto golo. Uma pequena inovação táctica depois destas alterações: o Neres pareceu ser testado a fazer de Rafa e a jogar mais no apoio directo ao avançado, com o João Mário mais pela direita e o Diogo Gonçalves pela esquerda. Não que isto seja uma coisa muito definida, porque os jogadores da frente jogam todos com bastante liberdade e trocam frequentemente de posições. Aos setenta e sete minutos o Henrique Araújo fez aquilo que nos vamos habituando a esperar dele e marcou, isto um minuto depois de ter visto o guarda-redes do Estoril negar-lhe esse golo com uma defesa quase impossível a um remate à queima-roupa, já na pequena área. Um grande golo, por sinal, depois de um cruzamento do Enzo na esquerda em mais um canto marcado de maneira curta para um toque de cabeça do Otamendi do lado oposto colocar a bola na zona frontal, onde o Henrique deu um primeiro toque com o joelho e depois finalizou com um remate à meia volta. Mas o Hugo Macron no VAR tinha que dar sinal de si e resolveu que já iria para casa minimamente satisfeito se nos roubasse um golo. Por isso invalidou a jogada por fora de jogo do Florentino, que não jogou a bola mas estava na zona onde o cruzamento do Enzo fez a bola chegar. Porque é que eu digo que nos roubou o golo? É lembrarmo-nos do golo validado ao Moreirense na Luz a época passada, que toda a gente achou muito bem porque o Rafael Martins não tocou na bola (mas impediu o Otamendi de o fazer), ou mais recentemente do penálti a favor do Porto neste mesmo estádio aos 90+9, que lhes permitiu chegar ao empate, no qual o Fábio Cardoso em posição claramente irregular disputou a bola pelo ar com o defesa do Estoril que acabou por cabeceá-la - mas aí toda a gente achou muito bem que o fora-de-jogo inicialmente assinalado fosse revertido para assinalar penálti para o Porto, porque ele não jogou a bola. Enfim, uma pequena satisfação mesquinha para o Macron, que deve andar aborrecido por já não nos poder presentear com a sua classe dentro do campo. Indiferentes a isto, a cinco minutos do fim trocámos o Grimaldo pelo Ristic e este não quis ficar atrás do Neres e na primeira vez que tocou na bola fez ainda melhor do que uma assistência: para aí a mais de trinta metros da baliza arrancou um míssil de pé esquerdo que só parou no fundo da baliza. O guarda-redes ainda conseguiu tocar na bola, mas ela levava demasiada força para poder ser parada. Já nos descontos, o Estoril chegou ao golo de honra num remate cruzado da direita da nossa defesa, o que acabou com o nosso registo defensivo imaculado fora de casa.
Obviamente que o António Silva é o destaque, não é todos os dias que um defesa marca dois golos. Mas para além disso fez o seu trabalho defensivo com a competência habitual. O entusiasmo à volta dele já é suficiente, era escusado agora começar a marcar golos para que o comecem a comparar com o Humberto Coelho (que viu o Humberto jogar perceberá as comparações). Mais destaques para o João Mário - escrevi aqui várias vezes que não era fã do futebol dele, mas com o Roger Schmidt está um jogador transfigurado e é uma peça chave da equipa - Grimaldo e Florentino. As 'novidades' Musa e Chiquinho também se apresentaram num nível bastante alto, e é muito interessante que jogadores que no início da época eram considerados cartas fora do baralho, como estes dois ou o Diogo Gonçalves, se estejam a transformar em opções válidas. Mais um aspecto a realçar no trabalho do Roger Schmidt. Com outros, o que víamos era que jogadores que não contavam eram encostados e ficavam a ocupar lugares no plantel sem nunca deles tirarmos qualquer partido. Agora, a partir do momento em que ficam no plantel, contam e podem ser opção. O que só pode motivar os jogadores a darem tudo para mostrar ao treinador que também podem conquistar o seu espaço e ajudar.
Não há tempo a perder e amanhã defrontamos o mesmo adversário para a Taça de Portugal. O Estoril terá certamente tirado conclusões do que se passou neste jogo e tentará dificultar ainda mais a nossa tarefa. Faltam dois jogos para a pausa da fantochada no Qatar e não é tempo de abrandar agora. Entretanto, ficámos a lamentar o azar no sorteio da Champions, já que nos calhou o melhor Brugges dos últimos cinquenta anos. Mas desconfio que daqui até Fevereiro o Brugges irá perder imensa qualidade, e se por acaso tivermos a felicidade de os vencer, passarão a ser uma equipa banal.
bola nossa
-----
-----
Diário de um adepto benfiquista
Escolas Futebol “Geração Benfica"
bola dividida
-----
para além da bola
Churrascos e comentários são aqui
bola nostálgica
comunicação social
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.