Nova vitória obtida com algum sofrimento em mais um jogo onde a paciência dos adeptos foi posta à prova. Acho que nesta fase o melhor é mesmo começar a aceitar isto como a nova normalidade, e ficarmos pelo menos felizes com o facto de irmos somando os três pontos em jogos destes.
A equipa apresentou-se sem o Otamendi, Gabriel, Rafa e Waldschmidt a titulares (os primeiros três nem no banco estiveram), o que acabou por ser algo surpreendente. Talvez tenha havido alguma cautela adicional a pensar na Supertaça já esta quarta. Jardel, Weigl, Pedrinho e Seferovic foram os escolhidos para esses lugares. A primeira parte nem se pode dizer que tenha sido particularmente má. De forma objectiva, foi um jogo de sentido único, com o Benfica a assumir a despesas totais do jogo. A parte mais positiva foi mesmo que, ao contrário de outros jogos, o adversário não conseguia sair frequentemente com grande facilidade no contra-ataque e assustar de cada vez que passava o meio campo - o Gil Vicente criou apenas uma situação fortuita no ataque, um cabeceamento que passou muito perto do poste da nossa baliza. A parte negativa, a habitual incapacidade do Benfica para criar perigo de forma consistente apesar de ter tanta posse de bola. Como sempre, demasiada insistência em entrar pelo centro - os nossos extremos não actuam como tal - e excessivas lateralizações ou passes para trás. O Benfica neste momento é uma equipa que quase não faz uma transição rápida para o ataque. Isto é para mim um mistério absoluto, até porque é completamente atípico numa equipa treinada pelo Jorge Jesus. As transições rápidas são aliás uma imagem de marca das equipas dele. Os comentadores mencionaram durante a transmissão que o nosso treinador pedia aos jogadores para jogarem a bola no pé. Isto para mim é capaz de ser parte do problema. O Benfica simplesmente não tenta atacar o espaço, ou seja, não há passes para o espaço vazio a pedir desmarcações - algo que a equipa fazia na perfeição durante aquele período com o Bruno Lage em que jogámos o futebol mais entusiasmante dos últimos anos. Os passes são feitos para os pés de um colega que está parado à espera que a bola lá chegue. É difícil criar desequilíbrios assim. São várias as situações que vejo em que bastaria um passe de primeira para a frente para desmarcar um colega, mas o primeiro instinto dos jogadores quando recebem a bola parece ser controlá-la, e depois procurar uma linha de passe para o lado ou para trás. Parece haver receio de falhar e procura-se quase sempre a opção mais segura. Aliás, o receio de falhar também ficou expresso em situações de desequilíbrio que conseguimos criar, onde um jogador nosso ficou em posição para rematar (na maior parte das vezes o Darwin) e nem sequer olhou para a baliza, preferindo procurar um colega a quem entregar a responsabilidade do remate - e fê-lo sempre mal. Perto do final da primeira parte o Gil Vicente ficou reduzido a dez e pensei que a nossa tarefa poderia ficar um pouco mais facilitada.
Mas não ficou. Ao intervalo entrou o Taarabt para, com a sua habitual capacidade para jogar simples, desembrulhar o nosso jogo (para quem não esteja familiarizado com a opinião que tenho dele, estou a ser irónico) e o que vimos foi um Gil Vicente muitíssimo mais perigoso a jogar com dez. Deu logo sinal com um contra-ataque conduzido apenas por dois jogadores (contra cinco nossos) que terminou num remate de fora da área defendido pelo Vlachodimos. Pouco depois, uma sequência de três pontapés de canto em que o mesmo jogador ganha sempre a bola de cabeça na zona do primeiro poste. No primeiro, o Vlachodimos defendeu por instinto e evitou um golo quase certo. No segundo, a bola foi com estrondo à barra e na recarga o Vlachodimos ainda teve que se aplicar, embora a bola fosse para fora. E no terceiro cabeceou para fora. Quase na resposta, e naquele momento até se pode dizer que contra a corrente do jogo, o Benfica marcou. Uma rara situação de desequilíbrio na ala direita, causada pela subida do Gilberto e combinação com o Pizzi, resultou num cruzamento para a zona do segundo poste. O Everton cabeceou com pouca força e a bola morreria nas mãos do guarda-redes, mas na tentativa de intercepção um defesa do Gil Vicente acabou por desviá-la para a própria baliza. Não esmoreceu o Gil Vicente, que respondeu de imediato com nova saída rápida para o contra-ataque e a melhor ocasião de golo do jogo. O Vlachodimos defendeu o primeiro remate cruzado mas não conseguiu segurar a bola, e depois fez nova defesa miraculosa por instinto à recarga, ainda que o jogador do Gil Vicente que fez a recarga já estivesse a ser estorvado pelo Grimaldo. Depois repetiu-se a história e o Benfica voltou a marcar quase na resposta. Outra vez pelo lado direito, desta vez foi o Seferovic quem teve um bom trabalho individual e ultrapassou um defesa para centrar de pé direito e o Everton encostar de cabeça ao segundo poste. Este golo acabou por significar na prática o fim do jogo, apesar de ainda faltarem vinte e cinco minutos para o final do mesmo. O Gil Vicente já não teve impeto para ir à procura de algo do jogo, e o Benfica não mostrou grande vontade de se esforçar muito para obter mais. O tempo foi quase todo passado com os nossos jogadores a fazer a bola circular de pé para pé e sem grandes acelerações, que na quarta há novo jogo.
O homem do jogo para mim é o Vlachodimos. Evitou dois golos certos e com isso sérios problemas para a nossa equipa. Para variar não sofremos golos, e bem lhe podemos agradecer por isso. Depois o Everton merece também destaque, já que marcou um golo e meio, e parece ser dos jogadores com menos receio de arriscar no remate quando tem oportunidade para isso. É que o Darwin parece estar a passar pelo processo de adaptação ao Benfica, no qual transformamos um avançado explosivo e de remate fácil num jogador que tem medo de ser feliz. Também uma menção para o Gilberto, que continuo a achar que está a mostrar claros sinais de evolução. Está mais agressivo e interventivo nas subidas ao ataque, e ontem foi responsável pela assistência para o primeiro golo, tendo tido ainda um remate perigoso na primeira parte.
Segue-se a Supertaça, prova onde temos um péssimo registo contra o nosso adversário da próxima quarta-feira. Pode ser que a nossa equipa consiga surpreender, e quando falo em surpreender até estou a pensar mais em nós próprios do que no adversário. E confesso que nem é tanto a qualidade do futebol que terá que mudar muito se queremos vencer, porque a qualidade do futebol apresentada pelo nosso adversário também anda muito longe da ideal. O que terá certamente que mudar, e muito, é a atitude da equipa: será necessário muito mais garra e vontade de ganhar do que a que temos visto ultimamente. E isso normalmente é uma coisa que não falta aos jogadores do nosso adversário sempre que jogam contra nós. Um bom resultado e uma exibição convincente neste jogo pode ser o impulso que falta para afastar esta inércia que parece consumir a nossa equipa.
bola nossa
-----
-----
Diário de um adepto benfiquista
Escolas Futebol “Geração Benfica"
bola dividida
-----
para além da bola
Churrascos e comentários são aqui
bola nostálgica
comunicação social
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.