Mais uma vez havia quem depositasse esperanças numa escorregadela do Benfica nesta visita ao Funchal, mas mais uma exibição categórica deixou frustradas quaisquer expectativas de um desaire. O Benfica não deu quaisquer hipóteses e não fosse o desperdício até poderia ter resolvido tudo ainda mais cedo e construído uma goleada ainda maior.
Sem Gonçalo Guedes e sem Rafa, o onze titular era fácil de adivinhar. A novidade, se é que se pode chamar-lhe assim porque ele já tinha passado diversas vezes pela posição, foi o David Neres a fazer de Rafa, actuando de forma mais solta nas costas do avançado, mantendo o Aursnes e o João Mário mais sobre as alas. O Marítimo até pareceu entrar cheio de vontade, a querer manter as linhas de pressão altas para não deixar jogar o Benfica, mas mesmo nesses primeiros minutos melhorzinhos deles o Benfica assim que chegou à frente construiu e desperdiçou uma enorme ocasião de golo, com o João Mário a dar o mote para a sua exibição nos minutos seguintes e a atirar para a bancada quando tinha tudo para marcar. Pressionar alto e impedir o Benfica de impor o seu jogo é tudo muito bonito, o mais complicado é conseguir fazer isso de forma consistente ao longo de um jogo. Porque o Benfica esta época é uma máquina diabólica de eficiência, com todos os jogadores a saberem muito bem o que fazer, onde estar e como se movimentar. Não é fácil acompanhar o nosso ritmo, e nem é tanto porque os nossos jogadores corram mais do que os outros (apesar de achar que talvez nunca tenha visto uma equipa do Benfica tão forte fisicamente como esta) mas sim porque não precisam de correr tanto como os outros devido à eficácia dos processos de jogo. O ímpeto do Marítimo deu para uns dez minutos e pouco mais, e a partir daí só deu Benfica. E nos minutos que se seguiram, só deu também desperdício em frente à baliza, sobretudo pelo João Mário, mas também pela inspiração do guarda-redes do Marítimo, que chegou a dar a impressão de estar numa daquelas tardes inspiradas que às vezes os guarda-redes têm. O desacerto do João Mário na finalização foi de tal forma que até um penálti desperdiçou à meia hora de jogo, atirando para a bancada - o penálti resultou de uma falta sobre o Aursnes, já depois do guarda-redes ter defendido o primeiro remate dele. Destaque ainda para uma defesa quase impossível do guarda-redes aos pés do David Neres - e foi este o momento em que pensei que poderíamos estar perante uma daquelas exibições inultrapassáveis, porque nem percebi como é que ele defendeu aquilo. Até que no período de descontos finalmente chegou o merecido golo. Já que o João Mário não parecia estar em dia de acertar na baliza o melhor era assistir, e foi isso que ele fez (honestamente, fê-lo já depois de ter 'estragado' mais uma jogada em que o Chiquinho o colocou em situação de seguir para a baliza e finalizar). O passe para a boca da baliza foi encontrar o David Neres, que finalizou sem dificuldade. E antes do intervalo poderíamos mesmo ter chegado a um segundo golo, mas mais uma vez o guarda-redes correspondeu de forma inspirada a um remate com selo de golo do Grimaldo, depois de uma assistência de calcanhar do Aursnes.
A segunda parte pode resumir-se ao facto do Benfica ter querido e conseguido resolver o assunto rapidamente. Ao contrário do desperdício da primeira parte, bastaram doze minutos para que o Benfica marcasse mais dois golos e colocasse uma pedra sobre o assunto. Ao fim de cinco minutos, o João Mário redimiu-se de todos os falhanços da primeira parte e aproveitou uma indecisão entre o defesa e o guarda-redes num cruzamento rasteiro do Grimaldo para ainda conseguir aparecer ao segundo poste e marcar de ângulo já apertado, atirando a bola para a baliza deserta. Depois, o terceiro golo surgiu numa das melhores jogadas de todo o encontro, que começa ainda na nossa área e toda desenvolvida pela esquerda. A bola é recuperada pelo Otamendi e depois é sempre em progressão com Chiquinho - Neres - Grimaldo - Neres - Aursnes - Grimaldo, toque de calcanhar deste já dentro da área e finalização de primeira do Neres. Dezoito segundos com a bola sempre me movimento e os jogadores em progressão, de uma baliza até à outra. O exemplo perfeito da máquina bem oleada que é esta equipa do Benfica neste momento. A partir daqui, com tudo resolvido, o Benfica basicamente meteu o jogo no congelador. Sem grandes correrias mas mantendo sempre o adversário bem controlado, foi uma questão de ir gerindo o tempo e o esforço até final - não me recordo de uma única ocasião de verdadeiro perigo criada pelo Marítimo, tendo o Vlachodimos tido um final de tarde perfeitamente descansado. Só a oito minutos do final é que o Roger Schmidt mexeu na equipa, com as habituais entradas do João Neves e do Musa, e ambos tiveram ocasiões para marcar, o primeiro depois de um passe do Aursnes o ter deixado na cara do guarda-redes, que foi muito rápido a sair da baliza para lhe negar o golo, e o segundo num remate feito com pouco ângulo que o guarda-redes defendeu com o pé. Mesmo, mesmo a acabar, finalmente a estreia dos reforço nórdicos de Inverno, que ainda foram a tempo de pelo menos tocar na bola. A parte negativa foi que perto do final o Aursnes - que estaria precisamente para ser substituído - acabou por ver um amarelo que o retira do próximo jogo. Alguma vez teria que o ver, antes assim para que não fiquemos com ele e o Florentino à beira da suspensão, e já sabemos que se chegarmos às vésperas da recepção aos perseguidos de Contumil com jogadores em risco, o perigo deles ficarem efectivamente suspensos será muito maior.
O melhor em campo, mesmo apesar dos dois golos do Neres, foi o Aursnes. É mesmo uma das melhores contratações da época, porque ele parece incapaz de fazer o que quer que seja mal feito. Neste jogo, para além de ter enchido o campo, só não acabou com uma mão cheia de assistências porque os colegas não conseguiram aproveitar as bolas que ele lhes ofereceu - foi inclusivamente sobre ele que foi cometido o penálti. Depois, os óbvios destaques para o David Neres com os seus dois golos e o Grimaldo com mais duas assistências - e que bem que ele cada vez mais se entende com o Aursnes, cuja disciplina táctica lhe parece dar ainda mais liberdade para atacar. O João Mário ainda consegue acabar com mais um golo e uma assistência, mas aquele desperdício todo na primeira parte foi demasiado.
Falta menos uma jornada para o final e a almofada de oito pontos mantém-se. Foi extremamente agradável ver a nossa equipa não acusar quaisquer sinais da 'pressão' que a vitória prévia do Porto poderia causar - e nesta nota, adorei a resposta do nosso treinador quando lhe perguntaram mais uma vez sobre o assunto. Também o jogo europeu a meio da semana não deixou qualquer sequela e a nossa equipa apresentou-se no ritmo habitual. Conforme escrevi antes, acho que esta é das equipas do Benfica com melhor preparação física que eu já vi, e é um contraste enorme para tempos relativamente recentes em que por esta fase da época víamos os nossos jogadores, sobretudo os mais utilizados, em evidentes dificuldades físicas. É continuar neste registo, que consistentemente frustra e esvazia a motivação dos que tentam a todo o custo criar instabilidade.
bola nossa
-----
-----
Diário de um adepto benfiquista
Escolas Futebol “Geração Benfica"
bola dividida
-----
para além da bola
Churrascos e comentários são aqui
bola nostálgica
comunicação social
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.