A qualidade do nosso futebol continua longe dos mínimos exigidos mas conseguimos duas vitórias consecutivas, o que nos tempos que correm tem sido uma raridade. Pelo menos realce para o facto da equipa ter conseguido durante a segunda parte reagir a um golo que na altura veio contra a corrente do jogo e dado a volta ao resultado, o que só pode ser algo que contribua para melhorar a confiança.
Outra raridade: o mesmo onze em dois jogos seguidos. Logo, a mesma táctica também. A entrada do Benfica no jogo nem foi particularmente má: durante os primeiros vinte minutos a iniciativa do jogo pertenceu-nos quase exclusivamente. Depois de uma boa jogada de equipa logo nos primeiros minutos, na qual colocámos vários jogadores no ataque e fizemos a bola circular bem entre eles, sem que no entanto alguém acabasse por finalizar a jogada, a seguir começámos a revelar as nossas habituais dificuldades em jogar contra equipas a jogar fechadas num bloco muito baixo e por isso não conseguíamos criar situações de perigo. Era aquele cenário habitual de demasiados passes laterais ou para trás, com circulação de bola feita de forma lenta e que assim favorecia a equipa que defendia. Ficou-me especialmente na retina o pouco atrevimento do Lázaro na direita, hesitante em avançar mais do terreno de forma a dar uma opção de passe mais arriscado para aquela zona, acabando quase sempre por receber a bola numa situação em que já estava controlado pelo médio daquele lado e por isso a bola voltava sempre a ser devolvida para um colega mais atrasado. O Everton tem sido um dos jogadores em melhor forma ultimamente, e pareceu-me também que o Santa Clara teve isso em atenção, já que raramente lhe concedeu espaço e normalmente fazia mesmo mais do que um jogador cair-lhe imediatamente em cima de forma a que não pudesse arrancar com a bola controlada. Quando o Benfica começou a dar alguns sinais mais positivos e num curto espaço de tempo criou duas grandes ocasiões para marcar - o Darwin, isolado pelo Rafa, atirou ao lado e o Vertonghen, depois de uma recuperação de bola numa zona adiantada, já dentro da área atirou ao poste - o Santa Clara chegou ao golo na primeira situação clara de golo que criou. Uma transição rápida na qual fomos batidos pela direita, e depois quando o passe seguiu para a zona central o Otamendi estava atrasado e colocou o adversário em jogo. O Vlachodimos ainda defendeu o primeiro remate cruzado, mas a bola acabou por sobrar para a recarga de um adversário, que se antecipou ao Grimaldo para marcar. O golo foi inicialmente invalidado pelo auxiliar mas o VAR reverteu a decisão, e a nossa equipa acusou, e bem, o golpe. O futebol que praticámos até ao intervalo foi muito fraco, e até nos arriscámos mesmo a conceder mais um golo que nos colocaria em situação muito complicada.
Voltámos para a segunda parte sem alterações na equipa e também sem melhorias no futebol praticado. Ainda e sempre uma exasperante falta de objectividade, demasiadas lateralizações e jogadas aparentemente sem o objectivo de chegar ao golo, mas sim de apenas manter a posse da bola. Acima de tudo, a sensação com que fico ao ver-nos jogar é a de que quase todos os jogadores têm um enorme receio de falhar, e por isso quase não arriscam nada. Não arriscam um passe de ruptura, um remate espontâneo, às vezes nem sequer um cruzamento e preferem entregar essa responsabilidade ao colega mais próximo - se há coisa que me irrita é ver um lateral ou um extremo a chegar perto da linha de fundo e a fazer a bola voltar para trás. Felizmente que do banco cedo chegou a decisão de que alguma coisa teria que mudar e desta vez acertámos nas substituições, porque elas fizeram efeito imediato. Aos cinquenta e oito minutos trocámos o Paulo Bernardo e o Everton pelo Taarabt e o Yaremchuk. O ucraniano foi colocar-se no centro do ataque e o Darwin caiu para a esquerda. A loucura do Taarabt fez com que finalmente houvesse alguém em campo sem medo de tentar passes de ruptura, e foi com dois desses passes para o Rafa na ponta direita que no espaço de dois minutos marcámos dois golos e demos a volta ao resultado. Primeiro, o Rafa depois de receber a bola veio para dentro e quando estava mesmo a vir para trás e a sair da área sofreu um penálti desastrado, que o Darwin converteu com classe. Logo a seguir fez a bola seguir para o Yaremchuk que, mesmo sobre a linha final, conseguiu fazer um cruzamento em esforço que foi encontrar o Darwin completamente sozinho na zona do segundo poste, e este com a baliza completamente à sua mercê rematou de forma a ainda fazer a bola bater na trave antes de entrar. Com o mais difícil feito, o melhor seria termos marcado um terceiro para nos colocarmos a salvo de surpresas, mas não revelámos muita arte para o fazer - lembro-me apenas de uma situação na qual o Gonçalo Ramos ficou em muito boa posição na área mas acabou por rematar para as mãos do guarda-redes. Depois nos minutos finais acabámos por recuar as linhas, trocámos o Gonçalo Ramos pelo Meïté para tentar segurar mais o meio campo e foi o Santa Clara quem teve mais iniciativa, mas não chegou a criar qualquer tipo de ameaça à nossa baliza. Uma coisa que eu não consegui perceber foi que já mesmo na fase final o Grimaldo ficou em dificuldades físicas, mas mesmo tendo ainda uma substituição por fazer optámos por mantê-lo em campo, tendo o recentemente entrado Diogo Gonçalves recuado para lateral esquerdo e o Grimaldo passado a jogar mais adiantado (fui agora recordado que já tínhamos feito as três interrupções permitidas para substituições, por isso já não seria possível substituí-lo).
O destaque é fácil de fazer: é o Darwin por ter marcado os dois golos que nos permitiram conquistar os três pontos. O Taarabt foi importante para dar um safanão no jogo, mas depois da entrada fulgurante depressa o apanhámos de regresso às asneiras e jogadas sem nexo do costume (embora também tenha sido dele o passe que deixou o Gonçalo Ramos em posição para marcar). O Rafa esteve um pouco melhor neste jogo, já que esteve nas jogadas dos dois golos e na primeira parte já tinha deixado o Darwin isolado em frente ao guarda-redes.
Já que não parece haver maneira de apresentarmos um futebol de qualidade, ao menos que consigamos ir ganhando os jogos com maior ou menor dificuldade. Não me é fácil ultimamente ver os jogos do Benfica, porque os níveis de irritação andam quase sempre altos durante os noventa minutos, e só mesmo a sensação de alívio quando o árbitro apita para o final connosco em vantagem é que acaba por compensar. O caminho faz-se caminhando, e nós parecemos estar a fazê-lo com passos muito pequeninos. Mas vitórias são vitórias, e com elas deverá vir confiança. Que esta vá crescendo e nos ajude a produzir algo mais próximo da qualidade que o Benfica merece.
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