Regressou o futebol a sério, e pouco mudou. Acabámos a última época a festejar, e começamos a nova no mesmo tom. Para que não houvesse estranheza ou choque com grandes mudanças de uma época para a outra, a nova época também começou com o treinador do Porto a ser expulso e a adicionar um novo número ao seu cada vez mais rico repertório.
Sem querer armar-me em especialista, julgo que quase todos os que olharam para o onze inicial do Benfica terão pensado que era um erro. Dois reforços de início, o Kokçu e o Di María, mas uma estranha opção por não jogar com um avançado fixo de início. Já tínhamos visto algo semelhante o ano passado em alguns jogos, quando na ausência do Gonçalo Ramos jogámos com o Gonçalo Guedes na sua posição, mas mesmo assim em termos de presença na área ainda há alguma diferença entre ter ali o Gonçalo Guedes ou o Rafa. Alinhámos portanto com João Mário, Aursnes, Rafa e Di María à frente da dupla Kokçu e João Neves. Não há outra forma de descrevê-lo: durante os primeiros vinte e cinco minutos fomos quase atropelados pelo Porto. O Benfica tem revelado algumas dificuldades em jogar contra equipas agressivas na pressão, e foi isso mesmo que o Porto fez. Raramente conseguimos sair a jogar, chegando ao ponto de termos que optar pela saída com bolas longas, o que sem uma referência no ataque estava quase sempre condenado ao insucesso. O jogo foi por isso quase sempre disputado dentro do nosso meio campo, ainda que o Vlachodimos não tenha sido obrigado a qualquer intervenção mais difícil - o Porto dispôs de duas situações mais perigosas ainda nos minutos iniciais, do Galeno e do Taremi, mas os remates saíram tortos. Era sobretudo pela nossa direita que o Porto nos criava dificuldades, já que o Di María pouco ajudava a defender e o Bah tinha que lidar com a velocidade do Galeno, apoiado frequentemente pelo Zaidu. Coube ao João Neves o papel de pronto-socorro, que com uma energia quase inesgotável andou a tapar buracos e assim ajudava a evitar eventuais desequilíbrios. No ataque, chegámos poucas vezes à frente e por isso o Porto esteve quase sempre confortável no jogo. Só a partir da meia hora é que o jogo começou a mudar, com uma boa parte dos lances a serem conduzidos pelo Di María, mas tínhamos pouca presença na área e por diversas vezes o vi a conduzir a bola a partir da direita e quando levantava a cabeça apenas lá tínhamos o Rafa emparedado entre os defesas do Porto. Mas na fase final da primeira parte o Benfica já conseguia sair a jogar com mais à vontade e manter a bola na sua posse por períodos mais prolongados, o que ia indicando uma viragem no pendor do jogo.
Isto acentuou-se após o intervalo, durante o qual o nosso treinador trocou os amarelados João Mário (que teve uma actuação apagadíssima na primeira parte, somando perdas de bola e mostrando uma intensidade muito aquém da exigível num jogo destes) e Ristic pelo Musa e o reforço Jurasek. Julgo que a entrada do Musa em particular não surpreendeu ninguém e era mais do que esperada. A equipa reorganizou-se com o Aursnes mais sobre a esquerda e o Rafa com uma função mais livre atrás do Musa, tendo optado quase sempre por cair sobre a direita para combinar com o Di María, criando sérios problemas naquele lado da defesa do Porto, onde o Marcano e o Zaidu não mostravam capacidade para responder. O domínio do Benfica na segunda parte foi até estranhamente evidente, porque não é habitual ver o Benfica conseguir jogar tão à vontade contra o Porto. O Porto praticamente nem passava do meio campo; os avançados eram presa fácil para os nossos defesas e era o Benfica quem agora fazia ao Porto aquilo que o Porto tinha feito na fase inicial do jogo, pressionando alto a saída de bola e recuperando frequentemente a bola em zonas adiantadas do campo. Depois da primeira parte descansada que tiveram, a dupla de centrais do Porto e os seus 75 anos conjuntos não pareceu capaz de responder a levar com o Musa em cima na segunda parte, e foram acumulando erros. E com cerca de uma hora de jogo o Benfica deu o primeiro golpe: pressão alta, uma tentativa do Porto sair a jogar a partir da defesa resultou num passe disparatado do Pepê que o Kokçu aproveitou para se antecipar e ganhar a bola, colocando-a de imediato no Di María à entrada da área sobre a direita (e com o Pepe atrasado a deixá-lo em jogo). Depois bastaram dois toques, um para controlar e o outro para rematar cruzado e rasteiro colocando a bola junto ao poste mais distante, com o Diogo Costa a parecer poder ter feito melhor. Se alguém esperaria uma reacção forte do Porto ao golo sofrido (o que também costuma ser habitual) estava enganado. O Porto não só não teve qualquer reacção como continuou a ser dominado e acabou por sofrer o segundo golo seis minutos depois. Pressionado pelo Musa, o Pepe não conseguiu aliviar bem uma bola alta e o Rafa aproveitou para ganhar o lance em antecipação ao Marcano, entrar na área sobre a direita e colocar a bola no Musa, que estava completamente sozinho depois dos centrais do Porto mostrarem uma completa incapacidade para acompanhar o lance (teve que vir o Pepê quase em desespero da direita para tentar o corte). Em frente ao Diogo Costa, o Musa não desperdiçou e deixou o Benfica praticamente com as duas mãos na Supertaça. Uma vez mais, a reacção do Porto foi inexistente. Foi sempre o Benfica quem esteve mais próximo de fazer um terceiro golo (o Rafa e o Musa estiveram bem perto disso) do que o Porto de reduzir. Julgo que na segunda parte a única ocasião de perigo que o Porto criou foi o golo (bem) anulado ao Galeno, já em período de descontos. Até final, tivemos direito a ver o Pepe a esforçar-se para ser expulso, tendo-se conseguido safar a isso depois de dar uma sarrafada por trás ao Rafa, mas não conseguiu resistir a continuar a tentar espalhar a sua classe e depois de, mais uma vez por trás, enfiar uma joelhada gratuita no Jurasek num lance absolutamente inócuo, foi mesmo para a rua. E como se isso não fosse já suficientemente agradável para os benfiquistas, o Sérgio Conceição fechou com chave de ouro ao ser expulso por reclamar de forma exagerada uma simples falta assinalada quase a meio campo contra o Porto, e recusando-se a sair. Presumo que este comportamento na sua vigésima quarta expulsão dê direito a mão pesada do conselho de disciplina e ele leve um jogo de suspensão, com direito a recurso. Qualquer coisa a mais do que isso é perseguição a uma personagem tão cordata, educada e pacificadora do futebol português.
Para mim o primeiro destaque do Benfica vai para o João Neves. Mesmo na fase mais difícil do jogo, na qual o Benfica estava a ser dominado, esteve sempre num nível alto. Acudiu a todos os fogos, ajudou a defender e a recuperar bolas, e quando começou a ter mais espaço conseguiu quase sempre ter grande qualidade nos passes a sair para o ataque. É daqueles jogadores que raramente vamos ver a fazer lances de levantar o estádio, em que finta dois ou três adversários, mas aquilo que ele trabalha durante um jogo é impressionante. O Di María é outro dos destaques e foi sempre o jogador mais perigoso do Benfica. Foi muito bom vê-lo marcar logo no primeiro jogo oficial após o seu regresso. Gostei da actuação dos nossos dois centrais (e fiquei surpreendido com o nível do Otamendi, porque ele já estava há bastante tempo quase sem jogar), a entrada do Musa foi muito importante para ganharmos este jogo, e com a sua entrada também o Rafa subiu muito de rendimento na segunda parte.
Foi muito bom entrar na nova época a ganhar. Sabemos muito bem o tipo de ambiente que seria criado em redor da equipa caso começássemos logo com uma derrota, ainda por cima contra o Porto. Apesar da perda do Gonçalo Ramos em cima da linha de partida, creio que temos motivos para nos sentirmos confiantes em relação à nova época. Temos um treinador e um sistema de jogo com os quais estamos familiarizados, não houve nenhuma revolução na equipa, as contratações foram cirúrgicas e os reforços parecem sê-lo realmente. Acho que para ficar completamente satisfeito só faltava um lateral direito para ser alternativa ao Bah, porque não me sinto muito confiante com o João Victor nessa posição (tenho flashbacks com a altura em que tínhamos o Alcides a ter que jogar na direita). Mas isso se calhar é um problema meu, que tenho sempre que arranjar alguma coisa com que embirrar.
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